Tradicionalmente, na psicologia e
na psicanálise, tem havido ênfase no estudo da subjetividade, do
psiquismo, da realidade interna ou do mundo interno. O comum tem sido
conceber o homem independentemente do seu meio, de seu acontecer e de suas
ações no mundo. Trata-se de um vértice que isola o ser humano e que
compreende as suas diversas manifestações psíquicas sempre a partir de
uma problemática subjetiva.
O fato é que esse tipo de
recorte leva-nos a perder de vista fenômenos importantes na compreensão
da condição humana.
Quando Winnicott afirmou que não
existe um bebê sem a sua mãe, estava assinalando um princípio para
a compreensão do self, que na verdade está presente a cada
momento do processo maturacional: não existe o self sem o
outro, o self acontece no mundo.
O acontecer humano demanda a
presença de um outro. As primeiras organizações psíquicas do bebê, a
entrada na temporalidade, a abertura da dimensão espacial, a
personalização só se constituem e ganham realização pela presença de
alguém significativo.
Hanna Arendt (1997) ensina-nos
que a realidade do mundo é garantida pela presença dos outros. O mundo
consiste nas coisas, que devem a sua existência aos homens e que, por sua
vez, também condicionam os autores humanos. Assim, tudo o que adentra o
mundo humano torna-se parte da condição humana. O trabalho e seu
produto, o artefato humano, emprestam permanência e durabilidade ao
caráter efêmero do tempo humano. A cada nascimento, o novo começo pode
fazer-se sentir no mundo, porque o recém-chegado possui a capacidade de
iniciar algo novo: agir. Adentramos no mundo ao nascer e o deixamos
para trás ao morrer. O mundo transcende a duração de nossa vida, tanto
no passado como no futuro. Ele preexistia à nossa chegada e sobreviverá
à nossa breve permanência. O nascimento humano e a morte de seres
humanos não são ocorrências simples e naturais, mas referem-se a um
mundo ao qual vêm e do qual partem indivíduos únicos, entidades
singulares, impermutáveis e irrepetíveis.
Tenho encontrado, no pensamento
de Arendt, intuições fecundas para a compreensão e abordagem clínica
das perturbações do self no mundo. O seu olhar rompe com uma
visão que considera o mundo uma manifestação natural, aponta para a
singularidade de cada ser humano, reconhece a importância dos outros para
o acontecer humano e enfatiza o valor da ação como forma de o bebê
surgir no mundo. O mundo compreendido por essa perspectiva, ganha sua
permanência pela memória transgeracional, que se fixa nos objetos
culturais, nos mitos e nos ritos sagrados e profanos.
Na situação clínica, tenho
ouvido inúmeras vezes pacientes falando de um tipo de sofrimento de uma
maneira bastante próxima àquelas formulações utilizadas por Arendt
para referir-se à condição humana.
Sem dúvida, pode-se afirmar que
é preciso entrar no mundo para que o indivíduo sinta-se vivo e
existente, mas tem de ser de uma maneira singular e pessoal. Não basta,
para o acontecer do self do bebê, que o mundo esteja pronto com
suas estéticas, com seus códigos, com seus mitos. A criança precisa,
pelo gesto, transformar esse mundo em si mesma. É preciso que o mundo,
inicialmente, seja ela mesma, para que ela possa apropriar-se dele e
compartilhá-lo com outro. O bebê, dessa forma, faz-se singularidade pelo
gesto criativo que a leva a encarnar a memória de seu grupo cultural de
maneira peculiar.
A realidade compartilhada é
construção de muitos, é campo em que existe a construção de todos.
Com Arendt, poderíamos afirmar que a Existência é o que aparece a
todos. Tudo o que deixa de ter essa aparência surge e se esvai como um
sonho, realidade subjetiva, mas desprovida da realidade do mundo
compartilhado com outros.
A "mãe suficientemente
boa" também não existe sem os outros. Ela não existe sem um campo
sociocultural, que lhe dê possibilidades de exercer suas funções. A boa
maternagem, assim como suas falhas, têm origem na mãe, no pai, nos
ancestrais, na situação social em que a mãe se encontra, nas
características da sua cultura e de sua época. Trata-se de um fenômeno
de grande complexidade, pois cada gesto materno presentifica a memória do
que é o cuidado materno naquele grupo cultural.
Pela experiência de
onipotência, o bebê cria a sua mãe, e isso lhe possibilita a sua
entrada no mundo. É um momento em que, por seu gesto, ele recria o mundo
preexistente, transformando-o, por intermédio de sua mãe, à sua (do
bebê) imagem e semelhança. Este também é o ponto em que se constitui a
dimensão étnica de seu self, pois, na medida em que o bebê toma
o corpo materno como o próprio, organiza-se segundo os aspectos étnicos
da comunidade em que nasceu. O corpo do bebê constitui-se, nesse
registro, a memória étnica de seu grupo cultural. Cada ser humano é a
memória étnica de todos os seus ancestrais. Esses elementos étnicos se
desenvolvem e ganham sofisticação, ao longo do desenvolvimento, pelo
convívio da criança com as pessoas em seu meio ambiente, pela
apropriação do ethos, refletido na corporeidade, nas emoções e
atitudes, desses outros significativos. (vide Devereux, 1978 e Kardiner
& Linton, 1939)
Observa-se que pacientes que não
encontraram essa experiência identificam-se com uma coisa, um vegetal, um
animal, um alienígena, quando não organizaram uma psicose, como forma de
proteção, frente à agonia impensável, decorrente da impossibilidade de
criar um mundo ao qual possam pertencer.
Este é o ponto de partida para
que o self venha, ao longo da história do indivíduo, a alcançar
as diferentes nuances do habitar o mundo.
Se o encontro inicial é
importante pelo estabelecimento das dimensões étnicas do self e
pela criação do mundo pelo gesto do bebê, em um momento posterior, a
criança poderá destruir a sua criação do mundo, pois poderá
encontrá-lo em sua durabilidade e realidade não subjetiva. O mundo
revela-se como permanente e capaz de ser apropriado pela criança e
também de acolher o gesto inaugurante-transformador, através do qual ela
poderá inserir-se na realidade compartilhada de maneira original.
É grande o número de casos
clínicos em que, por exemplo, uma criança com um comportamento
compulsivo e destruidor busca a possibilidade de inscrever-se na
subjetividade do outro, buscando, assim, lugar no mundo humano. Todo gesto
humano, genuinamente criativo, transmite e rompe a memória do povo.
Transmite, pois em sua etnia, passa adiante a etnia do povo; rompe, pois a
ação criativa insere o novo, o singular na história de todos.
Se a inscrição no mundo não
pôde ser realizada pela interação e comunicação com alguém
significativo, certamente tenderá a acontecer de forma impulsiva e
desorganizada, que expressa o desespero sem nome, vivido pelas pessoas que
não tiveram aqueles acontecimentos em suas histórias.
Milner (1987) apresenta um caso
em que pôde perceber o sentido da destrutividade de um paciente como
expressão da necessidade que ele tinha de encontrar a maleabilidade do
mundo externo, para que pudesse se reencontrar em sua criatividade
original. Milner conclui, em seu artigo, que esse tipo de destrutividade
não podia ser considerada simplesmente como uma regressão defensiva, mas
como uma fase recorrente no desenvolvimento da relação criativa com o
mundo.
Quando lidamos com seres humanos,
estamos trabalhando com seres que buscam intensamente, com os meios
disponíveis, a sua possibilidade de humanizar-se. Penso que o artigo de
Milner ilustra essa questão de maneira bastante clara.
Indivíduos que não puderam
viver esse tipo de experiência não sentem que podem ter fecundidade no
mundo. Sentem que não podem ter uma ação no mundo que os transforme de
forma pessoal, vivem uma impotência básica, uma castração do ser,
decorrente de um despencamento da história humana.
Winnicott (1975a) tratou dessa
questão de maneira brilhante, ao abordar o que denominou "Uso de um
objeto". Ele assinala que a passagem de relacionar-se com o objeto
para usar o objeto assenta-se sobre a capacidade do sujeito de destruir o
objeto, para, desta forma, tirá-lo da área de seu controle onipotente.
Segundo ele, isso é parte do caminho para o estabelecimento do princípio
de realidade. Eu diria que é mais do que isso. Trata-se do momento em que
a pessoa entra na possibilidade de não só criar o mundo, como fez no
estado subjetivo, mas de criar no mundo, pois
o indivíduo entra, por esse meio, no mundo.
O alojamento do self no
mundo prossegue em movimentos cada vez mais sofisticados. Eventualmente, o
indivíduo terá uma história que poderá ser narrada e datada, nesse
ponto a memória acontece como elemento que permite que a pessoa possa
organizar uma identidade. Esse é o ponto em que a memória representada
começa a fazer parte do sentido de si.
Um outro aspecto fundamental na
organização do self é a fundação do privado e do público.
Muitos pacientes não conseguem ter uma vida privada; essa possibilidade
não aconteceu em suas histórias, apesar de ansiarem pelo senso do
privado.
Se o indivíduo não pode
destruir o mundo para encontrá-lo em sua permanência, não pode também
repudiar o que não faz parte de sua subjetividade. Essas são pessoas que
experimentam a onipresença dos pais e, em decorrência disso, vivem
também a onipresença dos outros. Para elas não há espaço, tempo ou
recolhimento privados.
É comum, na situação clínica,
quando a confiança está estabelecida na situação transferencial, esses
pacientes procurarem criar o senso de privacidade através de faltas,
atrasos, mutismo, segredos. É claro que interpretar esses fenômenos como
resistência ou atuação é repetir, na situação analítica, a falha
ambiental, agora pela onipresença avassaladora do analista que proíbe o
privado. Esses comportamentos poderiam ser considerados resistência ou
atuação, já que sempre é possível ao paciente falar para seu analista
dos anseios que possa ter de alcançar o espaço privado.
Penso que a questão é outra.
Quando falamos de self, de sua constituição e de suas
organizações, a questão não é mais a palavra, mas é o gesto.
É a ação no mundo, como assinala Arendt. A palavra tem a sua eficácia
para a abertura de possibilidades de ser, se ela tiver a função de
gesto, de ação no mundo. Cabe ao analista discriminar as situações em
que a ação é uma atuação, ou seja, movimento ao qual o paciente se
segura para não cair no terror sem nome da ação, que é abertura de
possibilidade de acontecência no mundo. Memória singularizada!
Alguns pacientes, sem poder criar
o privado, buscam no isolamento uma saída para a angústia de sentir-se
invadido pela presença constante dos outros em seu espaço íntimo.
Freqüentemente, essa solução defensiva traz um outro tipo de angústia:
o horror de jamais ser encontrado.
Quando, pelo trabalho de
análise, o isolamento pode ser superado, e o indivíduo abre-se para o
mundo, há a ocorrência de um temor intenso de estar excessivamente
exposto, sem defesas para lidar com a presença transbordante do outro.
Até que o gesto criador da privacidade possa acontecer, é freqüente o
aparecimento de terrores noturnos e também de sintomas psicossomáticos,
tais como: dermatites ou alergias intensas. É como se, ao nível do
corpo, estivessem se apresentando as poucas defesas possuídas pelo
analisando frente à presença excessiva do outro.
Arendt (1997) discute a questão
do social e do privado afirmando que uma existência vivida inteiramente
em público torna-se superficial, pois retém a sua visibilidade, mas
perde a qualidade de vir à tona a partir de um terreno mais sombrio. .
Terreno que deve permanecer oculto, a fim de não perder sua profundidade
em sentido muito real e não subjetivo. Concordo totalmente com essas
colocações. Assim, cada ser humano é memória singularizada, mas é
também esquecimento-descanso É a partir de questões como essas que
podemos perceber como o processo de realização de si mesmo é de grande
complexidade, pois, para que ocorra, é preciso que, a cada momento do
processo maturacional, novas dimensões de sentido de si sejam criadas
pelo indivíduo.
Na questão do estabelecimento do
público e do privado como sentido de si mesmo, está um dos pontos
contundentes da natureza humana, ou seja a criação da singularidade de
si no mundo com outros e a criação dos "muitos" em si no campo
da singularidade do self. Uma vez que o self esteja bem
constituído, em um registro, a pessoa é única e singular, enquanto, em
outro, ela é muitos. Esses "muitos" são seus ancestrais, sua
história com todos que a auxiliaram com suas presenças atuais ou
simbólicas na constituição de si mesma.
Nossa cultura está tão
impregnada pela idolatria da individualidade que perde de vista que o
homem é um ser singular que abriga o coletivo. A consciência dessa
dimensão paradoxal do self humano é mantida por outras culturas,
nas quais o mito da individualidade não foi tão prevalente. Na filosofia
russa, por exemplo, temos vários autores como Khomiakov (1804-1860),
Solovyov (1853-1900), Florensky (1882-1937), entre outros, que formularam
essas questões, por se tratarem de aspectos bastante presentes na
consciência do povo russo. Solovyov (1995) afirma:
O
ser humano para ser real necessita ser, ao mesmo tempo, um e muitos,
entretanto, não é meramente a essência comum e universal de todos os
seres humanos, tomada deles como uma abstração. O ser humano é
universal, mas também individual, é uma entidade que contém todos os
indivíduos humanos em si. Cada um de nós, todo ser humano, é
essencialmente e realmente enraizado e também partilha do universal ou
absoluto ser humano (1). (nossa tradução,
p.118)
Na clínica do self, os
dois diferentes registros, o do singular e o do coletivo, como aspectos
fundamentais na realização do si-mesmo. Na ausência de um dos pólos,
há um sofrimento e uma vivência de não existência e de não
realização do self. Esses são aspectos que ecoam na célebre
frase de Winnicott (1990): "é uma alegria estar escondido, mas um
desastre não ser encontrado".
Com a evolução do self, à
medida que a pessoa caminha rumo ao campo social, há a necessidade de que
o indivíduo possa articular, ao mesmo tempo, a vida privada e a vida
social, para encontrar, no campo social, inserções que preservem o seu
estilo de ser e a sua história. É o momento da participação na
sociedade por meio do trabalho, do discurso, da obra , da ação
política, ou seja, da capacidade criativa acontecendo no mundo com os
outros. Pela ação criativa no mundo, o homem colabora com a durabilidade
do mundo, com a transmissão e enriquecimento da memória de seu grupo e
com o processo histórico da sociedade. Este é um fenômeno que precisa
acontecer de maneira que o indivíduo realmente apresente a si mesmo nas
ações no campo social.
Aqui também se pode observar, na
situação clínica, o sofrimento decorrente da impossibilidade de a
pessoa criar o seu lugar na sociedade pela singularidade de seu gesto. O self
em seu processo de devir se detém, e o indivíduo experimenta o
não-ser no abismo que se abre entre ele e o campo social. É claro que,
para que o ser humano possa criar o seu self no registro social, é
necessário que as etapas anteriores de sua constituição tenham
acontecido. No entanto, há fenômenos, nesse momento do processo, que
podem jogar o indivíduo na ansiedade impensável, apesar das etapas
anteriores terem ocorrido de maneira satisfatória.
Simone Weil (1996) tem
colocações muito lúcidas a respeito dessas questões. Ela nos ensina
que o ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural
na existência de uma coletividade, que conserva vivos certos tesouros do
passado e certos pressentimentos do futuro. Ela alerta para as
decorrências do desenraizamento, que podem se dar por desemprego, má
qualidade de situação de trabalho, imigração, falta de instrução.
Para ela, o desenraizamento é a mais perigosa doença das sociedades
humanas, pois multiplica a si própria. Os desenraizados, segundo ela, só
têm dois comportamentos possíveis: ou caem numa inércia de alma
equivalente à morte ou se lançam em uma atividade que perpetua o
desenraizamento, podendo originar situações de intensa violência. O
desenraizado está deslocado do tempo e da história, sem contato com a
memória étnica e com a memória cultural de seu povo.
Em nossa época, esse tipo de
problemática é bastante sério. Nossa cultura manifesta-se, na
atualidade, de uma maneira que já não mais reflete a medida humana.
Recriar o mundo e o campo social torna-se mais complicado, pois, pela
invasão da técnica como fator hegemônico da organização social, o ser
humano só mais raramente encontra a medida do seu ser, que permita o
estabelecimento do objeto subjetivo a cada um dos níveis de realidade
para a constituição e o devir de seu self.
Em nosso tempo, as variantes do
desenraizamento multiplicam-se em diversas direções, pela qualidade do
trabalho realizado pelo indivíduo, pelas características do campo
social, pelo tipo de organização do espaço urbano e rural, pela
aceleração do tempo apresentado pelos meios de comunicação, pela
mundialização das formas de vida. Santos (1997) mostra que a proximidade
física é indispensável à reprodução da estrutura social. A crescente
separação entre as classes agrava a distância social. Os homens vivem
cada vez mais amontoados em aglomerações monstruosas, mas estão
isolados uns dos outros.
Tendo clareza de que o self
acontece em um meio ambiente, é evidente que as fragmentações culturais
favorecem o aparecimento de fendas na constituição do si-mesmo.
Winnicott (1975) assinala que,
quando se fala de alguém, está se falando dessa pessoa com a soma de
suas experiências culturais. A cultura, para ele, é o campo em que se
pode encontrar experiências sobre a vida de outras gerações e também o
lugar em que se pode inserir as próprias experiências, como
contribuição para outros. Ele dá grande importância aos mitos, que
são produtos da tradição oral, pois por eles o relato de uma história
se dá junto com a transmissão da tradição. É nela que a singularidade
da criatividade do indivíduo pode acontecer: "Não é
possível ser original, exceto tendo por base a tradição". O
interjogo entre originalidade e a aceitação da tradição como base para
a capacidade inventiva é um exemplo do interjogo entre separação e
união, indivíduo e comunidade. (vide Solovyov citado anteriormente)
O campo cultural dá continuidade
à vida da espécie humana, que transcende a vida pessoal. É interessante
observar como, na maturidade do self, assim como foi necessário ao
indivíduo realizar a sua inserção na vida social, será também
fundamental que ele sinta que pode contribuir para a herança cultural da
humanidade. Isso é realizado por meio dos filhos, da arte, da ciência,
da religião, da história, da ação política. Aqui o que parece
importar não é tanto a vida singular e pessoal, mas a vida do Homem,
através das gerações.
Neste ponto, é comum a pessoa
buscar outras culturas com o objetivo de ampliar as formulações sobre a
vida realizada por outros seres humanos. Nenhum grupo social ou cultural
dá conta da diversidade da experiência humana. Assim, o contato com o
diferente funciona como o outro, com quem é possível estabelecer-se
novos objetos subjetivos para a constituição de outros aspectos da
experiência de ser e de vir-a-ser.
Os objetos culturais atravessam o
tempo e permitem que se dialogue com os seres humanos de outras épocas,
para o contínuo relacionar-se com os mistérios da vida e da morte.
O indivíduo desenraizado vive
uma permanente nostalgia: anseia pelo que nunca aconteceu! Há uma busca
no fundo de cada ser humano que o leva a buscar em um outro, o encontro
que lhe dê acesso à memória que desconhece. Esse acesso lhe garantiria
a participação no mundo humano. Estar sem a memória étnica ou sem a
memória dos ancestrais é estar em solidão medonha, em terror sem eco!
É só a partir desses diferentes
fenômenos que possibilitam o acontecer humano que o ser humano em suas
relações com o outro deseja. Esse é o campo em que emerge
um outro registro de memória: o vivido recalcado.
A memória é mãe do homem, o
que lhe dá acesso à vida com outros, e é também, na morte, as pegadas
de sua partida!
Referências Bibliográficas
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H. (1997). A condição humana. 8 ed. (R. Raposo, Trad.). Rio de
Janeiro: Forense Universitária. (Original publicado em 1958)
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Winnicott,
D. W. (1990).
Comunicação e falta de comunicação levando ao estudo de certos
opostos. Em O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre
a teoria do desenvolvimento emocional. 3 ed. (I. C. S. Ortiz, Trad.). Porto
Alegre: Artes Médicas. (Original publicado em 1963)
Notas
(1) To be actual,
such a being (human being) must be both one and many and therefore is not
merely the universal comon essence of all human individuals, taken in
abstraction from them. Such a being is universal but also individual, an
entity that actually contains all human individuals within itself. Every
one of us, every human being, is essentially and actually rooted in and
partakes of the universal, or absolute, human being. (voltar)
Nota sobre o autor
Psicólogo, doutor em psicologia, professor do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Brasil.
- Data de
recebimento: 05/03/2002
- Data de aceite:
26/03/2002
-
- Memorandum,
Abr/2002
- Belo Horizonte: UFMG;
Ribeirão Preto: USP.
- http://www.fafich.
ufmg.br/~memorandum/artigos02/safra02.htm