Esse boom é nosso

Na última quarta-feira, 29 de maio, Mayra Bernardes Medeiros de Carvalho defendeu a dissertação: “Esse boom é nosso? Discursos sobre transição capilar na publicidade de cosméticos”. A banca foi formada pelo professor Pablo Moreno (PUC Minas) e pelas professoras Ângela Marques e Vera França (PPGCOM UFMG). A dissertação foi orientada pela professora Laura Guimarães Corrêa.

Analisando ações de divulgação dos produtos Seda Boom em 2017, a pesquisa investigou “o processo de transição capilar enquanto questão político-identitária de mulheres negras e sua relação com a publicidade de cosméticos capilares”. Na defesa, Mayra observou como youtubers crespas e cacheadas que discursam pela autoaceitação são escolhidas embaixadoras da marca – mas aparecem sequer tendo falas nos comerciais da Seda veiculados no YouTube. A publicidade tende também a apagar a duração dos procedimentos e o sofrimento relacionado à transição capilar, bem como manter “valores e padrões estéticos regulatórios ainda rígidos para os corpos e cabelos dessas mulheres”.

Primeiro arguidor, Pablo Moreno destacou como o crescimento de pesquisas com a palavra-chave “mulheres negras”, apurado no levantamento bibliográfico da pesquisadora, está relacionado às políticas de ações afirmativas. “Quando a Universidade investe, os resultados chegam”. Pablo também destacou que a presença de pessoas negras estudando temas relacionados à negritude e ao consumo causam incômodo na academia, majoritariamente branca, e como essa presença é importante para a produção de conhecimento.

Ângela Marques, professora e coordenadora do PPGCOM UFMG, destacou a contribuição do grupo de pesquisa da discente e da orientadora para o Programa de Pós Graduação: “o Coragem tem um papel extremamente importante para essas questões [de gênero e raça”]. O Coragem, Grupo de Pesquisa em Comunicação, Raça e Gênero, surgiu a partir da necessidade de consolidar o estudo interseccional das mídias e das práticas comunicativas, sobretudo nas áreas da publicidade, do audiovisual e também nos movimentos sociais. O grupo se reúne mensalmente na sala 3047 da Fafich, mesma sala do Gris.

Última arguidora, a professora titular do PPGCOM UFMG e fundadora do Gris, Vera França, destacou como no passado a racialidade na ciência foi estudada de um ponto de vista negativo e discriminatório, e como o mesmo tema tem sido abordado a partir de outra perspectiva, tornando-se uma arma política. Procurando responder à pergunta que intitula a dissertação, França propôs que, a despeito dos silenciamentos que a publicidade opera observados na dissertação, o “boom” é sim das mulheres negras – não só na publicidade, mas em todos os espaços conquistados com luta.

Visivelmente emocionada, Laura Guimarães Corrêa, orientadora da dissertação e líder do Coragem, agradeceu a parceria com a orientada e a presença do público – que lotou a sala 3020 da Fafich.

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