Celebrando a crítica, criticando a celebridade

Maria Lúcia de Almeida Afonso, orientada pela professora fundadora do Gris, Vera França, defendeu a dissertação  “As mulheres que Andressa Urach pode ser: celebridade, valores e gênero no Brasil contemporâneo”. A defesa aconteceu no dia 31 de maio, última sexta-feira, no auditório Baesse (4º andar da Fafich). A banca foi composta pelas professoras Paula Simões (PPGCOM UFMG) e Lígia Lana (PUC Rio).

A dissertação “dedica-se a investigar quais são os valores acionados por Andressa Urach na cena pública, antes e depois de sua conversão religiosa, realizando um estudo comparativo entre estas duas fases distintas de sua trajetória pública.” Maria Lúcia observou a celebridade em programas de auditório, no reality show “A Fazenda 6, e no vídeo “Dúvidas sobre relação sexual”, o mais visto no canal do YouTube “Andressa Urach Oficial”.

A pesquisadora iniciou a apresentação comentando as manifestações da véspera, 30 de maio: “me entristece muito que tenhamos que gritar pelo óbvio, educação para todos”. Em seguida, justificou sua escolha por estudar Andressa Urach, ratificando como uma celebridade aparentemente menor pode revelar valores compartilhados socialmente. Fartamente acompanhado de imagens, seguiu-se um relato biográfico de Urach: o abandono parental, a maternidade solitária, o trabalho com prostituição, o concurso Miss Bumbum, a polêmica com o jogador Cristiano Ronaldo, a quase morte com a aplicação de hidrogel, a conversão religiosa, e o início na vida política. Na análise, o destaque foi para a mudança de uma valorização do corpo para a valorização da família patriarcal: ela muda de circuito, mas mantém-se em ampla medida enquanto objeto e submissa no espaço público. Maria Lúcia apresentou Urach como alguém típica de uma sociedade neoliberal individualista, sociedade ainda fortemente marcada pelo machismo. Andressa planejou e executou tanto sua saída da pobreza quanto o sucesso profissional, aceitando convenções sociais sobre o que se espera de ser mulher.

Na arguição da banca, a professora Lígia Lana contou do próprio interesse na figura de Andressa Urach, inclusive tendo escrito há alguns anos sobre a vice-Miss Bumbum. O que mais chama a atenção é a ambiguidade: “ela é ao mesmo tempo transgressora e relacionada ao status quo“.

A professora Paula Simões, coordenadora do Gris, ressaltou que, com a mudança de valores , veio a mudança de público da celebridade. “O que ela está oferecendo hoje? Ela é muito seguida por mulheres e está tendo essa adesão afetiva.”

As duas arguidoras elogiaram a apresentação e ressaltaram a importância de se olhar para as figuras populares, sem abrir mão de uma perspectiva crítica. A orientadora Vera França comentou o quanto Urach, mesmo encarnando valores muito conservadores, acaba inspirando compaixão devido aos sofrimentos pelo qual passou.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *