Novos fenômenos, novos conceitos

A banca de qualificação do doutorado de Fernanda de Faria Medeiros, realizada em 19 de junho de 2019, contou com a participação das professoras Laura Guimarães Corrêa e Joana Ziller de Araujo Josephson. Orientada pela professora Vera Regina Veiga França, fundadora do Gris, a pesquisadora investiga a cultura das mídias e o universo das celebridades, com ênfase na atuação de influenciadores digitais.

Ao discutir redes sociais digitais e sites como Instagram e YouTube, a professora Joana Ziller contribui com o trabalho sugerindo o uso do conceito “plataforma”. Vera França destacou uma discussão conceitual importante na comunicação, a partir de outras três palavras usadas para tratar estes e outros fenômenos estudados no campo: suporte, meio, dispositivo e plataforma.

Meio, também chamado de “mídia”, é um conceito consagrado no campo e no senso comum, mas seu sentido é mais amplo do que parece.

“Meio diz respeito a ambiente (“ela vive num meio inóspito”), mas também àquilo que se intercala e conecta uma coisa a outra (“a ponte é o único meio de chegar até lá”), às operações necessárias para se alcançar alguma coisa ou alguém (“a mímica foi o meio de me fazer entender”), aos procedimentos que permitem chegar a um determinado fim (“o trabalho é um meio de obter reconhecimento”). Meio compreende espaço (a sala de cinema, o ar), matéria (o papel, a película), instrumentos, ou artefatos (a câmera, o telefone), mas também a tecnologia de construção e operação desses instrumentos (saberes, habilidades e operações), bem como as linguagens que essas tecnologias possibilitam criar. (FRANÇA, SIMÕES, 2017, p. 140). 

Para tratar dos meios chamados digitais, o conceito de “meio” parece insuficiente. Vera França provocou em reunião do Gris com um jogo de palavras: “meio é meio neutro”.

Dispositivo é um conceito muito utilizado contemporaneamente. Na origem da palavra, seu significado remetia à economia doméstica, à administração da casa. Mais tarde, pelo uso de filósofos cristãos como Santo Agostinho, o sentido passou a ser associado ao domínio espiritual. É com Michel Foucault que o termo se consagra no linguajar acadêmico, dizendo da organização, da ordenação e do poder. Na Comunicação, há propostas como a do autor brasileiro José Luiz Braga, de utilizar “dispositivo” enquanto “teoria intermediária” da comunicação: nem um grande modelo explicativo, tampouco um conceito excessivamente particular.

Por fim, o termo suporte, de certa forma, pode ser considerado o precursor de “plataforma”. Certos fenômenos anteriores à popularização da internet, como a ascensão de celebridades, ganham novas configurações específicas em cada uma das plataformas digitais. Na tese de Fernanda Medeiros, podemos observar aí as celebridades que a pesquisadora chama de “dois ponto zero”.

Referência: FRANÇA, V., SIMÕES, P. Curso básico de teorias da comunicação. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

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