TESES

AS SERPENTES E O BASTÃO: TECNOCIÊNCIA, NEOLIBERALISMO E INEXORABILIDADE
Juri Castelfranchi
Tese de Doutorado em Sociologia apresentada ao Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, sob orientação do Prof. Laymert Garcia dos Santos.
Ano: 2008

RESUMO
Neste trabalho são analisadas as práticas e o discurso da tecnociência contemporânea, definida não apenas como fusão entre ciência e tecnologia mas como acontecimento que funciona no interior de uma específica economia de poder e que é caracterizado pela interação e a retroalimentação mútua do capitalismo, da ciência e da tecnologia. São mapeados movimentos e rupturas no funcionamento da tecnociência, examinando a fonte dos financiamentos para a pesquisa, o ethos dos cientistas, as formas de apropriação do conhecimento e as políticas de C&T à luz dos conceitos foucaultianos de governamentalidade e dispositivo. O discurso tecnocientífico atual é analisado a partir do monitoramento de documentos oficiais e declarações públicas de cientistas-empreendedores, policy-makers, ONGs etc. O cruzamento de tais elementos mostra que ciências, técnicas e capitalismo funcionam entrelaçados. Em alguns casos, impulsionando-se mutuamente: cada parte se apoia nos sucessos, na autoridade, nos efeitos de verdade e na potência das outras. Noutros casos, há dissonâncias e atritos. Os resultados da pesquisa indicam que a tecnociência atual é, ao mesmo tempo, piramidal e reticular, inexorável e modulável. De um lado, retrata si mesma como fundamentada num saber a-político, neutral, objetivo, universal, que “cai” na sociedade quando aplicado, divulgado, transformado em objeto técnico e em mercadoria. A tecnociência aparece como o bonde que não podemos perder, cuja marcha é automática e cuja regulação deve ser deixada com os especialistas. Por outro lado, no neoliberalismo a tecnociência precisa receber inúmeros feedbacks, escutar as demandas do mercado e as preocupações do cidadão. Conclui-se que a tecnociência atual é um dispositivo de geometria variável modulado por parâmetros que nem sempre podem ser estabelecidos no interior de uma tecnocracia. Funciona ativando mecanismos de despolitização e de invisibilização dos conflitos; e constitui-se como implacável politicamente através de repetidas performances voltadas para a mobilização da população e a afirmação de inevitabilidade. No entanto, sua configuração atual é um acontecimento apoiado em terrenos (epistêmicos, econômicos e sociais) movediços.

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DISSERTAÇÕES

FRONTEIRAS ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO: DARWINISMO E CATOLICISMO NO BRASIL DOS SÉCULOS XIX E XX
Brunah Schall
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia.
Ano: 2004

RESUMO
Desde a publicação de A Origem das Espécies, em 1859, até os dias atuais as ideias de Darwin sobre a evolução das espécies despertaram ao redor do mundo diversas reações de cientistas e religiosos. A discussão sobre a pertinência da ideia da evolução conduziu a um debate sobre as fronteiras entre ciência e religião, o qual foi o foco deste trabalho. O Brasil fez parte desse debate, não de maneira a contribuir com argumentos originais significativos, mas incorporando ideias de intelectuais estrangeiros, as quais foram levadas à imprensa de circulação popular. A partir da pesquisa em periódicos encontrados no portal da Hemeroteca Digital Brasileira e no acervo digital do jornal O Globo foi possível identificar os principais personagens e Contextos envolvidos no debate e as questões recorrentes que levaram ao descarte ou a integração do pensamento darwiniano pelo pensamento católico. Perpassam por essas questões as maneiras como cientistas e religiosos disputam a autoridade sobre o conhecimento e seu ensino e como esses definem as fronteiras entre seus domínios em busca de garantir um poder de influencia social. Entretanto, as opiniões dos dois lados muitas vezes se cruzam, e as fronteiras que os separam se modificam de acordo com o contexto. Além disso, mesmo ao se posicionarem como opostos ao darwinismo, católicos mantiveram uma visão favorável à ciência como um todo. Assim, propõe-se que o darwinismo não foi necessariamente um tópico de conflito entre cientistas e religiosos, mas sim entre os que consideravam ideias evolutivas compatíveis com a religião e aqueles que as percebiam como opostos excludentes.

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HÍBRIDOS E MUTANTES: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ACONSELHAMENTO GENÉTICO E EUGENIA
Bruno Lucas Saliba de Paula
Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação do Prof. Yurij Castelfranchi.
Ano: 2014

RESUMO
O objetivo deste trabalho é identificar pontos de continuidade e de ruptura entre eugenia e aconselhamento genético. Para isso, analisamos os contextos em que essas práticas se sucedem, parte dos aspectos e efeitos discursivos a eles associados, bem como as especificidades de seus modos de funcionamento. Por um lado, ambos compartilham um regime de veridicção em que a ciência moderna desempenha um papel central, já que o que é verdadeiro e o que legitima a tomada de decisões é o que emana da ciência. Além disso, traços da biopolítica associada à eugenia – como a parceria entre estado e indivíduos na busca pelo bem estar da nação e a fundamentação tanto da ação governamental quanto das escolhas individuais num cálculo de tipo econômico, de custos e benefícios – também são importantes para o aconselhamento genético. Por outro lado, enquanto a eugenia era exercida por estados que disciplinavam as condutas individuais e regulavam as populações para “melhorar a raça humana”, o aconselhamento genético relaciona-se a um período de redução dos encargos estatais, cabendo aos indivíduos a atenção à saúde e o gerenciamento dos riscos que podem acometê-los. Governo, mercado e especialistas apenas modulam (eventualmente adotando posturas punitivas, quando algum fluxo destoa das dinâmicas do controle) o campo de probabilidades e riscos aberto por aqueles que, como “empreendedores de si mesmos”, voluntariamente administram seu capital genético. Nesse sentido, há uma afinidade entre as racionalidades do aconselhamento genético, da governamentalidade neoliberal e da sociedade de controle. Não obstante, ao mesmo tempo em que desencadeia processos de autovigilância e de autocontrole, o neoliberalismo abre brechas para que seja exercida um novo tipo de cidadania, “biológica” ou “genética”, que estaria a ser experimentada, por exemplo, por associações de portadores de determinadas doenças, por surdos que usam a genética para ter filhos surdos, ou por pacientes-clientes que cada vez mais engajam-se, como stakeholders, na busca por financiamentos e melhorias para os tratamentos de suas doenças. Essas expressões de cidadania revelam-se importantes objetos de estudos na medida em que evidenciam potencialidades e rupturas nas trajetórias sociotécnicas e em que permitem identificar os modos e efeitos das resistências à tecnocracia e à democracia representativista.

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FRAGMENTOS DE REVOLTA: APONTAMENTOS SOBRE A INSURGÊNCIA DE BLACK BLOCS EM BELO HORIZONTE
Victor Fernandes
Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação do Prof. Yurij Castelfranchi
Ano: 2016

RESUMO
O objetivo deste trabalho é investigar as insurgências de black blocs na cidade de Belo Horizonte nos anos de 2013 e 2014. Mais especificamente, voltamos nossa atenção para os processos que possibilitaram as manifestações dos blocos, buscando apreender o sentido atribuído às suas ações por alguns de seus participantes. Para isto, em primeiro lugar localizamos as manifestações de black blocs belo-horizontinos na interseção entre as definições e análises correntes sobre este tipo de ação direta e o contexto histórico, político e social brasileiro no qual black blocs emergiram. Segundo, analisamos dados provenientes de entrevistas semiestruturadas com alguns de seus militantes, contrapondo-os às nossas percepções em campo como observadores participantes em protestos, assembleias de ativistas, eventos de sociabilidade etc. Black blocs em Belo Horizonte, até certo ponto, são passíveis de serem analisados por meio dos quadros conceituais propostos pela literatura especializada, apresentando-se como uma tática militante, autônoma e horizontal de autodefesa para manifestantes, que sob a proteção do anonimato engajam-se em ações simbólicas de crítica ao sistema políticoeconômico vigente. Por outro lado, os blocos insurgentes na capital mineira herdam um histórico de lutas sociais específico, sendo atravessados por dinâmicas ideológicas, de classe e identidade que pouco têm que ver com suas versões estadunidenses, canadenses e européias. Além disso, processos de transformação social recentes, associados em grande medida à emergência de novos parâmetros orientadores de avaliações pessoais e políticas, e a ascensão e popularização de tecnologias de informação e comunicação, têm levado black blocs à mobilização por vias outras que não a dos tradicionais grupos de afinidade.

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