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A hilética na
fenomenologia: a propósito de alguns escritos de Angela Ales Bello
The hyletics in phenomenology: on some
writings of Angela Ales Bello
Nicoletta Ghigi
Università degli Studi di Perugia
Italia
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Resumo
Ales Bello considera a hilética fenomenológica em relação às
análises do pré-categorial em culturas “outras”. A arqueologia
fenomenológica nos guia na produção hilética, chegando ao
encontro hilética / noética. Na corporeidade a dimensão hilética
é primária exprimindo a necessidade de verdade do logos
arcaico. Husserl o distingue do ocidental notando que a
necessidade de verdade da razão ingênua é a mesma, que a força
impulsiva “a-lógica” da resposta hilética de modo algum é
improdutiva do ponto de vista lógico. Chega-se à esfera hilética
onde os instrumentos “racionais” emudecem e onde se permite que
falem objetos e estados de ânimo suscitados. Esta passividade do
ego é evidente na experiência mística, que une a todos sob um
mesmo Erleben - o da sacralidade - incluindo o estranho
sem diferenciações. Na empatia há uma abertura que não elude as
diferenças mas as contêm, como dimensão do mundo-da-vida ao qual
a hilética está ligada.
Palavras-chave:
hilética; noética; arqueologia fenomenológica; mundo da vida;
Angela Ales Bello |
Abstract
The paper concerns the question of phenomenological hyletic.
Ales Bello considers it in relation to the analyses on the
pre-categorial referring it to the "other" cultures. By a
phenomenological archaeology driving into the hyletical
production, i.e. into the Erlebnis, it is possible for
Ales Bello to find the primary need of truth of the "archaic
logos". Husserl distiguishes an archaic from a "new"
logos, saying that the naïve reason is always the
same; so that an impulsive force always remains logical. The
hyletical sphere is also catchable where the "rational"
possibility quits, as Stein said, where we let to speak the
objects. By this ego-passivity we can find the way to meet the
mystical experience which joins us into the same Erleben,
the sacrality which includes the "other one". By empathy, Ales
Bello finds the possibility to include every difference as the
same need, in the same Lebensewelt.
Keywords:
hyletic; noetic;
phenomenological archaeology;
life-world;
Angela Ales Bello |
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I) O pré-categorial
como lugar de manifestação espontânea da esfera hilética
I. 1. Do
eurocentrismo ao pluricentrismo: o método arqueológico
Partindo da análise
husserliana (1) que distingue as esferas noética e hilética, mas
diferenciando-se de Husserl quando considerava as análises noéticas
indubitavelmente mais fecundas que as hiléticas (cf. Husserl, 1913/2002,
p.217), Angela Ales Bello (1999) sustenta que nas culturas “outras”
(contemporâneas, arcaicas chamadas de “primitivas”) o momento hilético
assume tamanha importância a ponto de ser predominante e mais “produtivo”
do que o momento noético.
De fato, utilizando
a relação noética-hilética, pode-se constatar que o momento hilético, a
ser entendido como noema de uma noética não egocentrada (contrariamente ao
que acontece na mentalidade ocidental, na qual a noética é egocentrada) e
então impessoal enquanto vivido coletivamente, tem uma função “atrativa”
extraordinária. (Idem, p.106).
Aqui, o que
principalmente “fala” em lugar dos conceitos da nossa cultura (o processo
de objetivação) é o conjunto dos dados hiléticos, ou seja, de sons, cores,
visões que se manifestam na realidade com tamanha força e potência a ponto
de já serem parte ativa e a autônoma da realidade, como “presenças
animadas”.
Ora, para podermos
descer a esta dimensão e chegar a afirmar sua peculiaridade é necessário
antes de tudo abandonar aquela atitude objetivante (abstrativo-conceitual)
própria da nossa cultura, que nos impede de enxergar a produtividade do
momento hilético.
Colocando-nos na
ótica européia constatamos que em nosso século deu-se um importante
deslocamento de perspectiva: de uma visão eurocêntrica para uma
pluricêntrica. Isto comporta um grave e ineludível problema que no início
do nosso século havia dado muito trabalho a numerosos pensadores, dentre
os quais Wilhelm Dilthey e Edmund Husserl: é possível sair da própria
cultura? Se possível, com quais instrumentos? (Ales Bello, 1998, p.106).
Responder a estas
interrogações significa colocar-se em uma dimensão radical, a saber,
colocar nossas estruturas cognoscitivas à parte e reconstruir todo o
processo de formação da nossa consciência sem os suportes cognoscitivos do
nosso tempo; e isso equivale a realizar uma verdadeira redução
do mundo e da
natureza à nossa experiência do mundo e da natureza, à experiência
considerada nas suas estruturas universais, que garantem sua realidade e
possibilidade como experiência de cada um em particular, mas aos mesmo
tempo como experiência que envolve a todos os indivíduos. (Ales Bello,
1998a, p.19).
Somente nesta nova
perspectiva, segundo Ales Bello, escavando nos vividos mesmos, é
possível identificar os elementos constitutivos de toda experiência
cognoscitiva, os quais têm por base uma natureza hilética forte e
ineludível para a constituição do Erlebnis. Justamente como o
arqueólogo que vai em direção as origens de uma civilização escavando suas
estratificações, é preciso, então, repercorrer o caminho através do qual o
material cognoscitivo se sedimentou nas várias culturas e, enfim, avaliar
como, na constituição do Erlebnis, os elementos preponderantes têm
papel e importância diferentes nas diversas civilizações: por exemplo, “o
resíduo dessa escavação é, para Husserl, um núcleo egocentrado, enquanto
que para dimensões culturais diferentes da nossa ele se apresenta como
impessoal e coletivo” (Alles Bello, 1999, p.108).
Seguindo as análises
fenomenológicas em seu método arqueológico, ou seja, operando segundo uma
arqueologia fenomenológica, é possível continuar esse
caminho husserliano dentro da esfera material (2) - que assume uma
predominância (fora da perspectiva fisicista ou estritamente empirista) -
para chegar a ressaltar regressivamente as estruturas originárias.
Trata-se, portanto,
de uma indagação regressiva envolvendo cada uma dessas operações voltadas
a determinar o sentido de alguma coisa até reconduzi-las às fontes
últimas, às matrizes, às Archai e a partir destas remontar às
unidades óbvias de sentido que fundamentam as validades essenciais do
nosso mundo. (Ales Bello, 1998a, p.18).
Para tanto, todavia,
é preciso ir até o fundo da epoché husserliana, isto é, até a
gênese da objetividade ou a gênese do processo de objetivação, eliminando
antes de tudo “o preconceito da objetividade que caracteriza as ciências
exatas e que faz parte da concreção (Konkretion)” (Ales Bello
1986a, p.106). (3) Nesta direção, uma vez evidenciada a natureza dos
Erlebnisse e sua estrutura noético-hilética, é possível identificar os
traços “no nível mais profundo, da diferença entre logos ocidental
e o logos arcaico” (Ales Bello, 1993, p.11), ou seja, entre duas
maneiras diversas de entender e explicar, com pretensões de verdade, a
realidade. (4)
I. 2. O logos
arcaico e “o mundo-da-vida dos primitivos”
Com tais regressões,
o método fenomenológico permite-nos realizar reduções progressivas e
atingir, como já foi dito, a origem das estruturas mesmas. Neste âmbito,
segundo Ales Bello, é útil voltar-se às reflexões antropológicas e às
observações de Lévy-Bruhl, o qual, na análise das mentalidades primitivas,
consegue colocar uma luz completamente nova sobre o processo de
constituição da realidade nestas populações.
Lévy-Bruhl teoriza,
como se sabe, a lei da participação; e com a enunciação desta “lei” ele
tinha intenção, sob a influência da cultura positivista, de identificar as
conotações fundamentais da mentalidade primitiva, a qual por um lado não
pode ser considerada a-lógica e portanto inferior à nossa, e por outro
apresenta algumas conotações que a tornam diferente. Ele ficava
impressionado pelo fato que nas representações coletivas da mentalidade
primitiva, os objetos, o seres, os fenômenos, podem ser si mesmos e
“outro” de si, que eles emitem e recebem forças, qualidade, ações
místicas. (Ales Bello, 1993a, p.5). (5)
O que,
fundamentalmente, a antropologia pode oferecer ao método arqueológico é
mostrar como acontece a percepção da realidade segundo um “conhecimento de
tipo intuitivo”, em uma dimensão pré-categorial, vale dizer, em uma
lógica completamente diversa da ocidental, baseada em “cadeias de
procedimentos lógico-demonstrativos”, sobre os quais se fundamenta “a
elaboração das ciências dos sistemas filosóficos” (Ales Bello, 1985,
p.141).
Ora – é preciso
esclarecer –,
o pré-categorial,
longe de ser o material informe ainda não elaborado no nível consciente
(...), representa um vasto continente de expressividade humana delineável
através de uma operação regressiva de tipo diacrônico, mas também de uma
exploração sincrônica no interior de nossas vivências. (Ales Bello, 1993a,
p.5). (6)
Este material, que
numa ótica científica ainda não tem forma ou cor alguma, na esfera
imediata e instintiva, ao invés, contém as estratificações originárias e
imprescindíveis para a capacidade cognoscitiva e para a formação do
categorial.
De fato, a maneira
primitiva de relacionar-se com as coisas, de percebê-las e de conhecê-las
– que Ales Bello define como de tipo empático e não
abstrato-conceitual – se apresenta à análise científica antropológica do
pensamento ocidental como contraditória e não explicativa de alguma lei ou
de alguma gnoseologia. Mas, na realidade, o fato que as formações
cognoscitivas tenham uma caracterização completamente diferente da
objetivista a que estamos habituados e que tudo isso faz com que sejam por
nós taxadas de a-lógicas ou precisando de correções, nada mais é
que o limite de nossa visão dos fatos.
Nesse sentido,
somente a epoché, ou seja, “colocar entre parênteses tudo o que já
nos é dado, que constitui o nosso mundo em sentido cultural”, nos permite
“assumir aquela capacidade de ver própria de uma abordagem
pré-científica.” (Ales Bello 1993a, p.8). Assim, por exemplo, da análise
comparada entre arqueologia fenomenológica e antropologia emerge o
significativo dado que, em tais culturas, não há distinção entre as
categorias que nós tão sutilmente procuramos diferenciar uma de outra:
espiritual / material, corpóreo / psíquico, sujeito / objeto etc. “Ao
contrário, na mentalidade arcaica não há propriamente um sujeito que se
relaciona com a realidade”, e a materialidade é “entendida como aquele
conjunto de cores, sons, formas, dos quais a natureza competentemente se
manifesta” (Idem, p.9). Por esta razão, o mundo-da-vida dos primitivos,
conectado desde o interior à natureza, se diferencia profundamente do
nosso mundo que, ao invés, é desancorado dela na dicotomia entre
subjetividade e objetividade.
I. 3. A corporeidade
Vamos nos deter,
então, analisando mais de perto esta dimensão material, tão rica, nas
nossas reflexões sobre hilética.
Como vimos, tanto o
componente hilético ou material (os elementos sensoriais, os dados
perceptivos, as emoções, os sentimentos etc) quanto o noético ou
propriamente intencional fundamentado sobre aquele (“A vivência tem
necessidade do momento hilético para manifestar-se” - Ales Bello, 1999,
p.109) são “componentes reais das experiências” ou vivências (Ales Bello,
1998a, p.84). Por essa razão, as análises sobre o Erlebnis devem se
concentrar, antes de mais nada, na exploração diacrônico-sincrônica
da realidade material.
Ora, na
materialidade (entendida em sentido bem genérico) Ales Belo identifica
três realidades diversas que globalmente vão constituí-la: carne, matéria
e corpo. Matéria tem, antes de tudo, dois significados: “um associado à
visão ocidental, definível como categorial, fundamentada essencialmente em
um processo de objetivação e idealização (...) e outro entendido como
noema de uma noese não egocentrada, isto é, como um núcleo estritamente
conexo a uma intencionalidade que permite a manifestação mesma da noese”
(Ales Bello, 1999, p.109). Neste sentido, Ales Bello se refere ao primeiro
significado de matéria como o de carne; e ao segundo como corpo
espiritualmente vivo, lançando assim uma luz sobre uma concepção de
corpo já aberta ao espírito e vice-versa, ao invés de separá-los como dois
momentos temporalmente distintos.
A noção de corpo
como unido a uma alma (yuch,
Geist) (7), ou seja, do Leib que se diferencia claramente do
Körper (cadáver), é uma unidade de causalidade física e de campos
sensoriais [o que Husserl (1952/2002a) chamava de localizações
(8)], isto é, todo o conjunto de sensações que investem a corporeidade,
desde o exterior, e que, filtrados pela consciência, tornam-se sentimentos
sensoriais e, então, Erlebnisse. Os campos sensoriais que, por sua
vez, são resultado da união entre os dados sensíveis (cor, som etc) da
percepção externa (não egológica) e os sentimentos sensíveis (por exemplo,
o estado de bem-estar ou mal-estar) da percepção interna (egológica), dão
origem, nesta síntese, aos dados hiléticos. “A inteira consciência de um
homem fica num certo modo ligada a seu corpo vivo através de sua base
hilética” (Husserl, 1952/2002a, p.155).
Por este motivo, o
“corpo vivo” é a sede do encontro entre a esfera hilética e a
subjetivo-intencional (noética), distintas no tocante à intencionalidade.
Não que a hilética não manifeste uma intencionalidade (uma explícita
tensão a) mas a distinção está no fato de a subjetiva ser uma
intencionalidade resultante da volição do sujeito (egológica), enquanto a
hilética é a localização de um ricochete que o objeto dirige a nós:
“E nestes ricochetes é como se objeto nos dissesse: aqui há algo mais a
ser visto, vire-me de todos lados, percorra-me com o olhar, chegue mais
perto, abra-me, fracione-me.” (Husserl, 1918-26/1993, p.35).
A localização
(esfera hilética com as sensações várias) acontece no corpo, faz com que o
corpo possa assumir sobre si a irradiação à qual a realidade
objetual o solicita: trata-se, em outros termos, explica Ales Bello, de
uma intencionalidade passiva e latente. “Esta intencionalidade atual se
resolve em afeição porque, justamente como afeição, é dirigida a algum
dado que pode ser efetivo ou potencial” (Ales Bello, no prelo).
A afeição é,
de fato, o que precede a ação receptiva, como uma
representação com uma direção, a qual, segundo Husserl,
“impressiona o eu - e nisto está implícito: uma tendência se dirige ao eu,
que reage com o voltar-se correspondente a ela. A representação assume
assim a forma da representação tenaz, na qual o olhar do eu é dirigido
para o elemento objetual” (Husserl, 1918-26/1993, p.130).
Ora, tal
representação de fundo [em outro lugar Husserl (1929-35/1973) fala
também em Triebintentionalität pela sua natureza impulsiva ou,
melhor, não egológica] (9) é filtrada junto com a visão do objeto pela
sensibilidade aos estímulos, própria do corpo. O corpo, de fato, é
uma coisa material
que enquanto campo de localizações de sensações (Lokalizationsfeld)
e de impulsos do sentimento, enquanto conjunto de órgãos de sentido,
enquanto elemento fenomênico e contraparte de qualquer percepção de coisas
(...) é uma base fundamental para a dadidade real da psique e do eu. (Husserl,
1952/2002a, p.159).
Por esta razão, Ales
Bello considera que toda vivência intencional (enquanto estritamente
conexa ao corpo - e então à esfera hilética - através da afeição,
da recepção de estímulos) não pode ser desvinculada de sua origem
constitutivamente hilética. “O Erlebnis pode se manifestar
somente através da hyle que ele contém como sua própria componente
real. Não há um Erlebnis que, como tal, possa ser privado da
hyle” (Conci & Ales Bello, 1994, p.115).
II. Experiência
sacra como reveladora do momento hilético
II. 1. A encarnação
Essas reflexões
sobre a corporeidade permitem colocarmo-nos diante do Erlebnis a
partir de vista diverso, ou seja, antes da sua caracterização egológica,
quando o que virá vivência ainda é, como o chama Stein, um simples
registro daquilo que os objetos dirigem a nós. Nesta fase o objeto
está diante de nós e suscita em nós estados de ânimo e sensações (também
táteis se o tocamos) que o corpo registra sem filtros egológicos. Stein
associa esta passividade do ego à experiência mística que, como Ales Bello
(2002a) escreve, para ela é “uma experiência de-centrada com relação ao
eu” (p.107). A experiência mística, de fato, “é caracterizada pela
absoluta manifestação, pela absoluta iniciativa de Deus, que penetra no
ser humano transformando-o, dilatando os seus contornos, fazendo apreender
diretamente e sem mediações a Sua presença”. (Idem, p.109). A
peculiaridade dessa experiência está justamente no seu caráter de
imediato, em que intelecto e vontade - faculdades da mediação - podem
somente “ficar olhando” (Idem, p.107). (10)
Analogamente, nas
análises arqueológicas (basilares nesta reflexão sobre a hilética e,
portanto, em nossas referências ao “mundo da vida dos primitivos”) tal
receptividade se traduz como escuta, espera das solicitações e das
manifestações por parte do próprio objeto; vale dizer, como uma espécie de
dinamismo ou potência do objeto.
É potência porque
mantém vivo tudo, é fonte de vida e de regeneração da vida quando a morte
a ameaça. Não se pode distinguir entre “coisa” e potência: uma coisa, se é
potente, é a potência, uma vez que se apresenta como plena manifestação da
potência mesma. (Ales Bello, 1999, p.107).
O sentido último, o
intento essencial do homem é o de conhecer a natureza para poder
dominá-la, mas a cada tentativa descobre que a natureza possui uma força,
uma potência que lhe escapa, que não consegue submeter à sua vontade.
Trata-se então de uma força atrativa
que na experiência
arcaica do sagrado é notada em um lugar extraordinário - por exemplo, uma
fonte, uma alta montanha, uma árvore isolada ou de formato peculiar, uma
gruta, e assim por diante - manifestador do sagrado, reconhecido como tal
porque a ele se liga o estado de bem-estar que se dirige para a alegria
(Ales Bello, 2001, p.274).
Mas, sublinha Ales
Bello, esta pura receptividade não é, de modo algum, passiva, porque
justamente na atração o momento hilético já fornece as “suas
‘formas’ ” e se configura “de modo a atrair a sacralidade em sentido
noético, porque altamente manifestador da Potência” (Idem). O homem
recebe, então, as mensagens da divindade (e nisto é emblematicamente
portador da dimensão hilética) e em relação a ela elabora (e é esta a fase
noética primitiva) uma possível caracterização humana da divindade, para
poder torná-la tangível, presente. Nesse sentido insere-se o aspecto da
encarnação ou epifania da divindade, como a possibilidade que divino venha
ao encontro do ser humano.
Todavia - adverte
Ales Bello -, tal aspecto se distingue, como duas diferentes
caracterizações, do modo pelo qual nos referimos a ela:
Para uma lógica que
distingue espírito e corpo, o espírito se encarna e então se dá; a idéia
de assumir o corpo como um elemento alheio que vem a ser vivificado está
na base do conceito de “encarnação”. Para uma lógica diferente, que vê o
sagrado como presente e permeando momentos particularmente “potentes”,
deve-se falar - como justamente Mircea Eliade o faz - em epifania do
sagrado, hierofania ou epifania do divino, teofania. (Ales Bello, 1999,
p.110).
Tudo isso se
encontra também na religião cristã: “Jesus deixa o seu corpo como ‘comida’
e o seu sangue como ‘bebida’.” (Idem, p.113).
Mas, como veremos,
para Ales Bello o conceito de encarnação é importante sobretudo porque
deixa entrever a diversidade entre a mentalidade pré-categorial (que não
faz distinção entre corpo realmente tangível e corpo imaginado como tal e
para a qual, então, a presença-existência do divino se dá ainda que não
esteja realmente presente) e a mentalidade categorial (que
considera a esfera hilética somente como mero material a ser atualizado)
nas formações conceituais. Essa reflexão permite re-percorrer
fenomenologicamente de trás para frente o caminho da formação das
vivências ligadas à percepção de tipo imaginativo e, nesta direção,
reconhecer o plano hilético como efetivamente manifestador e plenamente
relevante.
II. 2. A
“fenomenologia da experiência religiosa”
A originalidade da
esfera hilética se reproduz, então, com as mesmas características mas em
diversas formas - emblematicamente na experiência religiosa das diversas
civilizações. Também neste caso o método arqueológico permite que
escavemos mais a fundo nos fluxos das vivências, evidenciando as
diferenças, mas também os pontos de contato entre as diversas experiências
religiosas.
Percorrendo, então,
o caminho descrito pela história das religiões podemos confrontar, a
título exemplo, dois momentos distantes entre eles: as chamadas religiões
primitivas ou arcaicas e uma religião histórica, positiva como a cristã.
(...) No primeiro caso trata-se de sacralização da natureza; no outro, da
afirmação da transcendência de Deus entendido de modo pessoal. (Ales Bello,
1998, p.102). (11)
Justamente porque a
experiência religiosa do sagrado, como vimos, nos leva a um nível
pré-categorial e, então, evidencia uma estrutura completamente diferente
da conceituação própria da nossa mentalidade, é possível encontrar nela os
elementos hiléticos que estão na origem do processo cognoscitivo e da
constituição dos Erlebnisse. Neste sentido é preciso, porém,
identificar no método arqueológico, numa arqueologia das vivências
religiosas, as figuras que caracterizam a visão do mundo religioso,
mantendo-as como distintas das formações categoriais, próprias dos
processos de objetivação, típicos, por exemplo, do Cristianismo. (12)
Para compreender de
onde nasce essa diferença é oportuno retomar uma sugestão husserliana
relativa à identificação das duas componentes da vivência, a saber, a
hilética ou material e a noética ou intencional. Examinando a dosagem de
cada uma delas na experiência do sagrado arcaico, do sagrado complexo e do
pensamento categorial, descobre-se o progressivo enfraquecimento da
componente hilética que, porém, tem uma função de guia na concepção do
sagrado. (Ales Bello, 1998, p.102).
Em outros termos, é
da distinção, como se viu, entre as coisas e a realidade sagrada (entre o
espírito e a matéria) que a humanidade começou a tomar distância da
natureza e imaginar uma realidade estranha, completamente diferente
de si, que o ultrapassa. Contrariamente, na esfera pré-categorial há
identidade entre a matéria e o pensamento da matéria, vale dizer, entre o
momento hilético e o momento noético; esta unidade dos momentos faz com
que a hilética mesma seja realidade viva e, ao mesmo tempo, simbolização
do divino.
Os binômios,
teorizados em fases sucessivas pelo pensamento filosófico, não têm
qualquer razão de ser na mentalidade arcaica, onde religioso é já o que se
manifesta em toda sua força e potência sem ser alusão a outra coisa, sem
remeter a algo alheio: “Cada coisa que se apresenta mostra si mesma na
plenitude de sua materialidade (...) e manifesta si mesma em si
como potência e sacralidade e não como mero ‘sinal’ do sagrado” (Ales
Bello, 2000a, p.22). (13)
A coisa é o
fenômeno: a divindade é a realidade; o corpo é o espírito, sem distinção
alguma, sem remeter a coisa alguma. Neste sentido Ales Bello afirma que
nas culturas arcaicas é possível encontrar na dimensão sagrada um caráter
de tudo permear.
Na visão sagrada o
mundo é povoado por entidades realíssimas - não considerados, certamente,
como “objetos”, uma vez que se está bem distante de um processo de
objetivação, como já indicamos -; por isto não vale a distinção entre
natureza e espírito, e nem entre ação e contemplação, porque as vivências
elementares são tão ligadas a estruturas de cinestesia da corporeidade e
portanto tão conotadas pela hyle cinestésica que tudo é movimento,
ação. (Ales Bello, 1999, p.106).
O que se disse então
em relação ao corpo e à encarnação é necessário para bem compreender o
conceito de identidade e de indiferenciação entre realidade material (hilética)
e crença (aspecto noético) do sagrado.
II. 3. A diferença
À luz destas
considerações fica evidente que a distinção entre as diversas mentalidades
e as diversas culturas localiza-se no diferente modo de conceber o
relacionamento com o estranho: no caso das mentalidades arcaicas, a
experiência do alheio é conceituada nem categorizada; nela está incluído,
como se viu, também o momento religioso e a experiência do sagrado. No
caso das mentalidades desenvolvidas, ao invés, o estranho se configura
como diametralmente oposto ao eu, como o externo.
A diferença se
delineia, então, como “o momento último da regressão” (Ales Bello, Brezzi
& Iannotta, 2001, p.8) o aspecto sobre o qual é preciso colocar a atenção
para poder compreender fenomenologicamente, até o fundo, o relacionamento
eu / mundo e sua originária natureza hilético-material.
Para isso, Ales
Bello propõe uma reflexão sobre a diversidade entre modo de conceber
socialmente o sujeito na nossa cultura e o modo de dirigir-se a ele em
outras culturas, asiáticas, africanas, ameríndias, “nas quais a emergência
indivíduo é desconhecida” (Idem). De fato, nossa cultura egocêntrica, toda
reflexão tem origem a partir do eu, do sujeito e do que o sujeito vê e
consegue imaginar. A experiência do estranho tem uma conotação plausível
somente com referência a este ponto de partida, ou seja, a partir do eu.
Desse conceito de
estranheza em nossa ótica cientificista surge - como conseqüência e a ele
estritamente associado - o conceito de diversidade, pelo qual conseguimos
diversificar o que não registramos com nosso, como diferente de nós.
Mesmo o conceito de
diversidade, que vimos ser completamente estranho à ótica pré-científica,
produz uma espécie de barreira social entre as diversas culturas, uma vez
que nelas predomina o sentido de pertença à própria cultura e à
conceituação desta como o ideal, como a referência absoluta,
contrariamente a uma visão não-conceitualista que registra uma pertença
idêntica à única realidade mundana, ainda que se apresente nas diversas
culturas.
Portanto, sustenta
Ales Belo, permanecendo ancorados no processo de idealização
não é possível
colocar-se no nível de culturas “outras”; de fato, são consideradas como
ainda paradas em um estágio inferior de um processo evolutivo ou são
condenadas sem possibilidades salvação. Eis porquê uma leitura
fenomenológica mais atenta pode apresentar-se como um instrumento que,
procurando regredir a um terreno comum, nos conduz a um resultado
totalmente diferente; de fato, a possibilidade da comunicação reside na
capacidade de “ler”, através das vivências, o conteúdo vivido como
estranho e então compreendê-lo na sua valência propriamente humana, mesmo
que não mais ou ainda não faça parte da nossa visão de mundo. (Idem,
pp.13-14).
II. 4. Do sentir
outro à unificação: “colocar entre parênteses” o pólo subjetivo
Ler a vivência
alheia através da própria vivência, vale dizer “dar-se conta da
experiência vivida alheia” (Idem, p.10), significa participar
empaticamente e reconhecer realmente o outro. Husserl define
esse ato como Einfühlung (entropatia, empatia), que, como “tema da
teoria transcendental da experiência do estranho”, “fundamenta
uma teoria transcendental do mundo objetivo” (Husserl, 1931/1994,
p.115) como uma unificação das diferentes estranhezas ainda que, como
sublinha Ales Bello, a empatia deve ser somente o primeiro passo
para a realização dessa finalidade.
Desse modo o
programa husserliano de buscar uma unidade estrutural na multiplicidade
pode ser realizado, respeitando justamente a tese que ele sempre sustentou
de que a análise fenomenológica das estruturas afetivas e cognitivas
humanas não se fundamenta na empatia. Na verdade, o seu objetivo, antes de
mais nada, consiste em nos dizer o que é a empatia, ou seja, aquele modo
particular de compreensão dos seres humanos que os leva a se reconhecerem
mutuamente como seres humanos. Em outras palavras, a compreensão do mundo
da experiência alheia pode ser atribuída também à empatia e à repetição do
percurso dos processos práticos de aprendizagem, como ocorre no processo
educativo infantil, mas o estudioso deve utilizar o nachverstehen
que consiste propriamente no exame objetivo da estrutura das experiências
vivências das diversas culturas. (Ales Bello, 1998a, p.91).
O sentir empático
permite distinguir meu sentir originário do sentir não-originário de uma
outra pessoa que está vivendo experiências e estados de ânimo que eu
reconheci e encontro em mim, na minha vivência; este reconhecimento do ser
psicofísico alheio, como foi denominado por Edith Stein (1917/1998), se dá
mediante atos de empatia. Mas esse encontrar em si o sentir
não-originário deve ser incorporado à vivência, ou seja, ao modo pelo qual
cada indivíduo singularmente considerado se relaciona com a realidade e a
filtra segundo códigos e regras individuais. Para isto é preciso uma
análise dos sentir, uma consciência e o saber da vivência.
Assim, a
investigação fenomenológica tem condições de evidenciar que sentir
empaticamente reúne as nossas individualidades mantendo-as distintas e
que, então, isso pode constituir a objetividade mais geral abrangendo
todos os sujeitos; o mundo objetivo de que fala Husserl.
Mas, segundo Ales
Bello, justamente à luz desta a unificação dos sujeitos, é oportuno
cumprir uma ulterior redução do objetivo, ou seja, dos pressupostos, que
nos impedem de ver a realidade na sua imediatidade.
É notório que
Husserl insistiu em colocar entre parênteses ou na redução o conceito de
objetivo, representado pelas teorias tanto as filosóficas como também, e
principalmente, as científicas; mas, a partir de uma perspectiva
fenomenológica radical, é necessário submeter à crítica também o próprio
resíduo da redução, como já dissemos, ou seja, o pólo subjetivo, pelo fato
de nos encontrarmos mais uma vez diante de uma objetivação. (Ales Bello,
1998a, p.89).
Desta maneira, uma
vez reconhecida unidade do subjetivo (vale dizer, dos sujeitos
singulares em uma única subjetividade constituída por multíplices
alteridades), torna-se muito mais acessível a leitura daquelas
civilizações que têm uma visão hilética do mundo “baseada nas vivências
elementares das ações”, ou seja, que se deixam conduzir pela
materialidade na sua “função atrativa” (Idem), propriamente
como a uma intencionalidade escondida, que opera no mundo.
Fazendo um paralelo,
podemos comparar essa intencionalidade passiva da materialidade com aquilo
que Husserl, nas Meditações, chama de “intencionalidade implícita”
ou “indireta”, referindo-se exatamente à empática revelação “na qual o
alter ego se anuncia e se verifica no plano do nosso ego
transcendental”. (Husserl, 1931/1994, p.114).
Colocar entre
parênteses o pólo subjetivo é necessário justamente porque nos permite a
exposição de um novo resíduo que sobra depois de ter excluído do campo de
observação as existências, ou seja, o estrato animador subjacente:
a intencionalidade que está na base de toda formação, de toda
constituição.
Conclusão: a
descoberta da dimensão hilética como terreno comum e como superação das
diferenças
Recapitulando
brevemente o caminho até aqui percorrido seguindo as análises de Ales
Bello, podemos ressaltar o seguinte: assim como as considerações sobre os
pré-categoriais nas “culturas outras” nos conduziram, por meio de uma
arqueologia fenomenológica, à originária estrutura dos Erlebnisse
e, então, à corporeidade como lugar do encontro entre as esferas hilética
e noética e, daqui, encontrou-se no mundo dos primitivos uma emblemática
preeminência da esfera hilética na experiência do sagrado, assim também as
considerações sobre dimensões sacras nos mostraram como o momento hilético
é preponderante e, em suma, presente em toda civilização e, então, em cada
um, justamente nas suas expressões religiosas.
Analisando, em
seguida, o modo como a experiência religiosa se desenvolveu no curso da
história, colocou-se em evidência como o conceito de estranheza - e
conseqüentemente o primado absoluto da subjetividade como único porto
seguro, como algo indubitável - empobreceu e suplantou a riqueza da
dimensão hilética.
Todavia,
reabilitando a experiência empática do alheio que a análise fenomenológica
fornece e realizando uma ulterior colocação entre parênteses sobre
validade absoluta da subjetividade, pôde-se recuperar o plano hilético
como plano o objetivo dos sujeitos, como sua unificação em um único mundo:
o primordial, o pré-categorial.
Agora, transpondo
tudo isso para o plano antropológico e considerando as diferentes maneiras
com que a dimensão hilética é tomada nas diversas culturas, podemos
ressaltar que justamente ela nos une em uma única cultura no liame
ineludível que constitutivamente mantemos com a natureza, seja no momento
pré-categorial (no qual, como foi dito, o objeto atrai a nossa atenção),
seja no momento categorial, no qual a abstração procede como conceituação
somente em virtude do horizonte hilético ali subentendido.
A este respeito,
partindo da premissa que a diferença “não exclui a unidade” (Ales Bello,
Brezzi & Iannotta, 2001, p.25), Ales Belo sustenta que mediante os
mencionados instrumentos da arqueologia fenomenológica e da empatia é
possível realizar, por um lado, uma abertura intelectual às culturas
“outras”, como se viu, tão importantes para compreender a nós mesmos e,
por outro lado, uma reconstrução fenomenológica das formações mentais da
humanidade na sua postura cognoscitiva (e isso equivale à continuidade do
caminho iniciado pela reflexão husserliana). Somente depois de chegar a
ter a visão desta abertura é possível realizar valorações.
É claro que, uma vez
apreendido o nexo entre unidade e diferença, é possível uma tomada de
posição valorativa. De fato, todo ser humano, mesmo quem cultiva uma
atitude fenomenológica de “espectador desinteressado”, pertence ao seu
mundo da vida, à sua dimensão cultural, que fornecem critérios
valorativos. (Idem, p.26).
Mas, na valoração, é
necessário considerar que o que nos une é a mesma esfera hilética, da qual
participamos globalmente como seres humanos inscritos em um mesmo mundo da
vida, no qual, por sua vez, foram estruturadas as categorias de diferença
e alteridade, de qualquer modo sucessivas à imediatice do momento hilético.
Portanto,
compreender a natureza da diferença no interior da unidade ou da unidade
das diferenças entre as multíplices manifestações culturais e as
conseqüentes formas de pensamento é, segundo Ales Bello, antes de qualquer
valoração, a finalidade de toda reflexão humana que queira ter por objeto
a realidade humana nas suas diversas expressões, e por causa desta sua
estrutura multiforme, deve buscar no critério da acolhida as
próprias inelimináveis premissas.
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Notas
(1) Artigo traduzido do italiano por Miguel Mahfoud, com revisão de Marina
Massimi.(volta)
(2)
Husserl descreve esta metodologia arqueológica no Manuscrito C 16
IV.(volta)
(3) A
propósito disto, veja-se Alles Bello (1982): L’oggettività come
pregiudizio: analisi di inediti husserliani sulla scienza.(volta)
(4)
Esclarecedora, a propósito disto, é a questão da metáfora: para Ales Bello
(1984) o processo metafórico é estranho às civilizações primitivas “porque
estas culturas são ‘realistas’ e não ‘simbólicas’.” (p.106).(volta)
(5)
Seguindo esta análise, Ales Bello (1993b) ressalta em outro lugar que os
primitivos possuem uma própria visão do mundo “na qual a hileticidade tem
um papel essencial e a noeticidade emerge na esfera afetiva que a hyle
anima e intenciona” (p.49).(volta)
(6) Cf.
um interessante estudo de Ales Bello sobre a condição de pré-dado do
instinto em alguns inéditos husserlianos, como o Manuscrito E III 10:
Human world-animal world: an interpretation of instict in some late
husserlian manuscrips. (Ales Bello, 2000).(volta)
(7)
Relevantes são as diferenciações pospostas por Edith Stein que Ales Bello
(2001a) analisa em The study of the soul between psychology and
phenomenology in Edith Stein ressaltando que “o conjunto
psíquico-espiritual é diferente da corporeidade e, para usar um termo
unitário, pode-se dizer alma” (p.51).(volta)
(8) Cf. Husserl,
1952/2002a: Idéias II, §§36-39.(volta)
(9) “Ich
habe, scrive Husserl, nicht sie als ichliche (in weitesten Sinn
Willensintentionalität) charakterisiert”,
mas
“als
in einer ichlosen (‘Passivität’) fundierte eingeführt”
(Husserl, 1929-35/1973, p.595). Tradução para língua italiana do
Manuscrito E III 5, intitulado
“Teleologia
universal”
encontra-se no Apêndice de Tempo e verità nella fenomenologia di
Husserl, de E. Paci (1961) à p.261.(volta)
(10) Cf
também Ales Bello (2002): Piacere, gioia, beatitudine: la felicità tra
tempo ed eternità.(volta)
(11) Com
relação a essas quetões, para Ales Bello são iluminantes os estudos de van
der Leeuw (1933/1965) em Phänomenologie der Religion.(volta)
(12)
Esta religião é fenômeno de tipo “categorial”, uma vez que “tende a
clarificar os fundamentos baseados na experiência de fé com uma busca
racional conduzida com suportes teoréticos de distinções e definições”
(Ales Bello, 1996, p.77).(volta)
(13)
Esta forma de realismo das culturas primitivas, “na confiança espontânea
segundo a qual o que se manifesta é realmente tal e qual se manifesta”
(Ales Bello, 1986, p.695) é definida por Conci (1985, p.7) como “realismo
segnico”.(volta)
Nota
sobre a autora
Nicoletta
Ghigi
é filósofa, Doutora em Filosofia e Ciências Humanas pela Universidade de
Perúgia (Itália), especialista em fenomenologia husserliana desenvolvendo
pesquisas sobre manuscritos inéditos do Arquivo Husserl (Lovaina,
Bélgica), professora de Filosofia Teorética na
Università
degli Studi di Perugia
(Itália). É colaboradora dos periódicos Aquinas,
Dialeghestai, Analecta husserliana.
Contatos:
nicoletta_ghigi@hotmail.com
Data
de recebimento: 20/02/2003
Data
de aceite: 16/04/2003
Memorandum
4, abr/2003
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP.
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos04/ghigi01.htm
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