Certa feita, um renomado professor de psicologia da universidade brasileira sugeriu a um grupo de outros jovens professores que retirassem do título da proposta de um curso de Mestrado em Psicologia, em construção, a palavra prática. Poderia soar como coisa menor, menos acadêmica, para os circunspectos ouvidos dos então avaliadores de plantão da CAPES (maior agência de fomento de pós-gradução do país).

Coisas de uma certa circu(i)nvolução da academia.

Nós, ao contrário, além de insistirmos na palavra, damos-lhe destaque. Queremos retomar o velho e bom sentido grego de Prática, praktké, como ciência ou episteme prática, em oposição à ciência puramente especulativa. No próprio Houaiss encontramos muitos sinônimos e variantes de prática: “aprendizado, conhecimento, costume, estudo, exercício, experiência, hábito, saber, tarimba, tirocínio, traquejo, treino; ver tb. sinonímia de ação, conversa, costume e exposição”. Nos termos grifados, o que se evidencia é a aproximação, e de modo algum oposição, entre logos, razão e ação, que se juntam nas idéias de praktké e práxis. Práxis, que Marx, séculos mais tarde, elevará à condição de ação propriamente humana, isto é, ação social e política por meio da qual os homens se constituem como seres autônomos, livres, reflexivos.

Mais que mera idéia em voga, a Interdisciplinaridade que propomos é uma forma, não apenas de fazer dialogar diferente disciplinas, mas de fazer avançar nossas práticas no sentido de uma transversalidade, interpenetração e transformação dos saberes, aproximando as disciplinas do chamado senso-comum e do bom senso, das tradições, das ficções, das artes, da poesia. A diversidade de saberes incorporados tem sido fundamental para a reconstrução crítica do campo da Saúde Mental coletiva. Só o esforço coletivo e a postura intelectual realmente aberta permitem re-configurar um campo de práticas sociais tão problemático e, ao mesmo tempo, tão determinante para uma vida, individual e coletiva, com mais bem-estar e menos exclusão social.

Finalmente, queremos pôr em diálogo jovens e veteranos da Academia com outros profissionais de serviços, com a clínica cotidiana, e com os usuários, familiares e voluntários da saúde mental. Certamente, temos muitas experiências e histórias a trocar.

Assim definimos o Projeto PRISMA: tal como o objeto que refrata a luz nas sete cores básicas do arco-íris, possibilitando infinitas combinações, queremos juntar e refratar modos diferentes de conceber, refletir e difundir nossas práticas e paixões teóricas, clínicas, investigativas, políticas e artísticas em torno de um novo lugar para a subjetividade. Sadia ou adoecida, racional ou tresloucada, bem comportada ou irreverente. Cientes, contudo, do risco de um ecletismo vazio, sustentamos posições e escolhas teóricas que se evidenciam nos subprojetos em desenvolvimento.