18 de maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil

Em um texto originalmente publicado no ano de 1890 chamado “O tratamento psíquico (O tratamento anímico)”, Freud nos conduz pelos meandros de sua argumentação sobre os males que escapam ao entendimento puramente anatomofisiológico. É nesse contexto que somos apresentados à potência da palavra. Aqui, Freud chega mesmo a dizer, em referência a fala do analista, que “as palavras de nossos discursos cotidianos são magia empalidecida”. As palavras carregam em si a preciosidade do sentido. São elas as responsáveis pelas conexões que estabelecemos com o outro e com a alteridade que nos habita. A magia da palavra transforma, modela, confere vida. No entanto, à realização da palavra se une a instauração do silêncio. Silêncio esse que também produz significações, dada sua devida importância no próprio encadeamento do sentido. Entretanto, existe um silêncio tão profundo e primeiro que palavra nenhuma o alcança. Diante disso que nos cala, a palavra se comprime ao caroço, presa aos grilhões da violenta literalidade que ceifa da própria linguagem seu percurso criativo. Assim o evento traumático se produz, na urdidura da violência sexual. A lida com o traumatismo sexual infantojuvenil é delicada, laboriosa e heterogênea por excelência, atravessada por determinantes biológicos, psíquicos, sociais, etc. Lida que bem poderia ser ilustrada pelas palavras de Arthur Rimbaud quando, em um de seus escritos, ele nos diz que “escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens”.

Nesse 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil, o Projeto CAVAS/UFMG reitera seu compromisso com o enfrentamento da violência sexual infantojuvenil. Seguimos construindo práticas de intervenção a partir das atividades de ensino, pesquisa e extensão fornecidas pela universidade pública. Reafirmamos os preceitos constitucionais que estabelecem esse como um dever da família, da sociedade e do Estado. Também aproveitamos a oportunidade para parabenizar a todos os profissionais que lidam com a problemática da exploração sexual infantojuvenil em seus ofícios, agradecendo pela importante atuação de enfrentamento e pelos laços estreitos que, eventualmente, são estabelecidos com as atividades do Projeto CAVAS/UFMG. Acreditamos na força dos vínculos e das redes de apoio na produção de frentes de atuação mais profícuas. Que o estabelecimento dessas redes de apoio nos fortaleça, e que escrevamos silêncios, como disse Rimbaud, diante daquilo que nos paralisa em sua mudez ensurdecedora.

Texto: Matheus Ferreira de Castro (Projeto CAVAS/UFMG)