Bouyer, G.C.; Sznelwar, L.I. e Costa, M.J.B. (2006). Subjetivação e sofrimento no trabalho: o "si" que "se" produz na atividade. Memorandum, 11, 43-58. Retirado em / / , da World Wide Web http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a11/bouyer01.htm

Subjetivação e sofrimento no trabalho: o "si" que "se" produz na atividade

Subjectivation and Suffering in Work: The Production of "Self" in the Activity

Gilbert Cardoso Bouyer
Universidade Federal de Ouro Preto
Brasil
 
Laerte Idal Sznelwar
Universidade
de São Paulo
Brasil
 
Maria José Birro Costa
Brasil
 

Resumo
A presente pesquisa revelou que alguns meios para lidar com o sofrimento no trabalho envolvem a adoção consciente, por parte do trabalhador, de certas técnicas voltadas para a sua própria interioridade. Diferem das estratégias coletivas de defesa, elucidadas pela Psicodinâmica do Trabalho, por envolverem a construção consciente de sentido para experiências angustiantes e ansiedade; senso de valorização do sofrimento e das vivências dolorosas com vítimas agonizantes ou fatais; dessensibilização e busca de nova relação consigo mesmo no trabalho. Resultam de formas de subjetivação, dinamizadas na exterioridade dos indivíduos e re-elaboradas na interioridade mediadora do contato com o real do trabalho.

Palavras-chave: técnicas-de-si; subjetivação; dessensibilização; sofrimento

Abstract
This research reveals that some ways of dealing with suffering in work involve the worker’s conscious adoption of certain techniques related to his/her own inner self. They differ from the communal strategies of defense, elucidated by the Psychodynamics of Work, because they imply the conscious construction of sense for the anxious and tormenting experiences; a sense of valorization of suffering and life experiences with terminal or agonizing victims; the non-sensitiveness and quest for a new relationship with the self in work.  They are the result of forms of subjectivation, activated in the individual’s exteriorization and re-elaborated in the inner self that mediates the contact with the real portion of work.

 Keywords: self-techniques; subjectivation; non-sensitiveness, suffering

 

Introdução

A demanda inicial da presente pesquisa resultou das questões bastante objetivas com as quais alguns pesquisadores interessados nas formas de subjetivação (que, conforme Deleuze & Guattari (1976), não se restringem ao modo edipiano de produção da subjetividade) se depararam. Na verdade, que forma de subjetivação é esta, denominada sofrimento no trabalho, que conduz o sujeito a novos contatos consigo e com o real do trabalho, resultando em índices de eficiência produtiva atrelados à sua subjetividade?

Como melhorar a “qualidade” de um serviço especial, da qual pode depender a vida de um ser humano? Quais são os “critérios de eficácia” de um “serviço de resgate” a vítimas de acidentes de trânsito? Este serviço é prestado por equipes de profissionais organizadas e geridas pelos corpos de bombeiros de duas grandes metrópoles nacionais (Belo Horizonte e São Paulo), que percorrem as rodovias mais movimentadas dos respectivos estados de Minas Gerais e São Paulo quando acionadas, em caráter de urgência, em função de acidentes e catástrofes envolvendo veículos de quaisquer espécies.

Ao partirem da demanda inicial, entretanto, os pesquisadores foram lançados num complexo terreno que envolve as subjetividades humanas dos “prestadores de serviço” (trabalhadores que socorrem vítimas no asfalto).

Ou seja, ao buscar encontrar “critérios de eficácia” de um serviço peculiar, “indicadores de qualidade”, “métodos de melhoria da eficiência operacional”, “condições de possibilidade” das ações no trabalho de socorrer vítimas, etc, viram-se, os pesquisadores, envoltos em outras questões de natureza bem diferente, mas intrinsecamente atreladas a estes critérios, indicadores e métodos exteriores. A surpresa e o espanto tomaram conta da equipe de pesquisa (mais do que das equipes de resgate quando se deparavam com alguns acidentes trágicos de imensa gravidade...) quando se deu conta de que não era possível compreender “critérios de eficácia”, “métodos” empregados, “qualidade” e “eficiência operacional” sem adentrar a dimensão psicológica dos seres humanos que prestam um “serviço” de vida ou morte. Na verdade, a técnica... que salva vidas, os métodos... que fazem um salvamento ser eficiente, os atos... que se mostram eficazes na luta contra a morte que ronda um acidentado pertencem, todos, ao terreno obscuro das subjetividades dos profissionais do resgate (aqui, denominados de “resgatistas”).

Em diversas situações, a qualidade de um serviço se manifesta na satisfação (subjetiva) de um cliente, nas reclamações ou elogios, na qualidade das relações-de-uso (Zarifian, 1999) estabelecidas com os dispositivos empregados e/ou produtos.

No entanto, o presente trabalho investigou um tipo de serviço cuja “qualidade” pode determinar a vida ou a morte de um “cliente em especial”. Trata-se do trabalho de resgate às vítimas de acidentes de trânsito, realizado por resgatistas do corpo de bombeiros. Um resgatista é o profissional com formação em curso técnico de enfermagem (nível médio), que tem, como conjunto de atribuições, prestar os primeiros socorros e auxiliar no transporte de feridos ou mortos até os locais apropriados (hospitais, unidades de pronto-atendimento, centros de atendimento de urgência ou necrotérios).

O trabalho dos resgatistas consiste, segundo os critérios formais prescritos (tarefas), em prestar socorro rápido às vítimas, utilizando técnicas de primeiros socorros, sem discriminar os acidentados segundo o seu estado aparente.

Mas, para além dos critérios formais prescritivos de “boa qualidade no serviço de vida ou morte”, esta pesquisa buscou investigar, no trabalho real, quais são os verdadeiros critérios e técnicas, subjacentes aos aspectos objetivos e tangíveis das tarefas prescritas, que determinam a “boa qualidade do serviço”, em seus critérios de eficácia (atrelados às subjetividades dos trabalhadores), como rapidez e precisão dos atos de socorro, agilidade dos atos efetivados sobre o corpo de um acidentado, estabelecimento de prioridades condizentes com as demandas da situação (em tempo hábil), comunicação e intercompreensão com os demais membros da equipe de resgate. Verificou-se que a eficácia manifestada nestes atos objetivos (eficácia dos atos no trabalho de resgate) é determinada por mecanismos (técnicas) adaptativos voltados para a dimensão subjetiva do trabalhador (aqui, com a conotação de “si”, de “interioridade”).

Neste projeto, as análises do trabalho conduziram ao contato com uma realidade imperceptível ao observador do senso comum, elucidando uma nova noção de técnica (técnica-de-si), dotada de dimensões psíquicas e afetivas orientadas pelo indivíduo para a sua própria subjetividade, conforme será explicado nas próximas páginas. Esta noção de técnica ainda é pouco ou nada explorada nas referências sobre atividades de serviços (qualidade, organização do trabalho, tecnologias, etc), embora já seja de domínio de várias correntes da psicologia, sociologia e filosofia pós-estruturalistas.

A via empírica da pesquisa encontrou amparo nas teorias de Deleuze & Guattari (1976), cuja matriz epistemológica apóia-se, nitidamente, no pensamento de Michel Foucault (1976), que afirmam não existir um mecanismo universal de estruturação do sujeito, mas sim diferentes formas, múltiplas..., ou modos de subjetivação, responsáveis pela formação das subjetividades. O Édipo que produz sujeito não é uma forma universal, mas uma das possíveis. Dentre elas, aqui, tem-se, segundo os dados da presente investigação científica, o sofrimento no trabalho como uma forma (ou modo) de subjetivação por excelência, no mesmo nível que o modo edipiano de produção da subjetividade.

Os mecanismos de adaptação ao sofrimento no trabalho consistem nos processos de subjetivação via técnicas de si, os quais viabilizam o exercício eficaz da atividade. Mediam a interação entre as subjetividades produzidas pelas formas de subjetivação, i.e. sofrimento, e o real do trabalho exterior aos trabalhadores. As formas de subjetivação assumem, neste roteiro, a conotação dos elementos “de fora, situados na exterioridade, dinamizadas por relações de forças e jogos de verdade” (Deleuze, 1986) que sujeitam (sujeição/subjetivação), que conformam, modelam e disciplinam as subjetividades (as quais assumem o lugar de interioridade).

2. Problemática de pesquisa e sua relação com a história de uma disciplina científica que trata do Sofrimento no Trabalho...

 

Colocar o trabalho no centro mesmo da psicologia, ocupando um espaço similar ao da sexualidade, como operador de uma inteligibilidade essencial à análise das condutas humanas e processos envolvidos tanto na saúde mental quanto nas patologias. Essas são algumas idéias de Christophe Dejours (1999), que iniciam seu esforço por esclarecer as relações entre Psicodinâmica do Trabalho e psicologia. Avançando para além das abordagens da alienação, Dejours reconhece que a “Psicodinâmica...” veio iniciar um viés de interpretação, dantes inexistente na Psicopatologia do Trabalho, em sintonia com uma tradição compreensiva das ciências hermenêuticas.  O foco de observação do pesquisador francês desloca-se para a racionalidade das condutas em seu agir expressivo e em sua significação, sobretudo visando a “sua inteligibilidade, sua compreensão e condições de possibilidade da ação contra o sofrimento infligido ao outro e suportado por outro” (Dejours, 1999, p. 126).

Antes de tudo, a Psicodinâmica do Trabalho adota uma abordagem de compreensão e de inteligibilidade das condutas pelo próprio sujeito, em um nítido esforço de interpretação.

Uma trajetória epistemológica, portanto, da disciplina que partiu da discussão sobre o patológico chegando ao “problema” científico da noção de normalidade quando, então, adentrou na tradição compreensiva das ciências humanas.

O proficiente programa de compreensão e interpretação, iniciado por Christophe Dejours, encontra-se, hoje, em fase de consolidação. A sua Psicodinâmica... tem o mérito de buscar expandir o escopo da antiga Psicopatologia do Trabalho (em suas estreitas relações com os aspectos de morbidez e alienação do trabalho), de forma a englobar as coordenadas de uma “psicologia da interpretação” (Clot, 1995).

No entanto, uma orientação ainda pouco explorada pela Psicodinâmica do Trabalho, em suas pesquisas que intentam construir uma “interpretação” e uma “compreensão” do sofrimento no trabalho seria a de reduzir o peso das interpretações e compreensões do observador sobre o objeto “sofrimento” para ceder terreno às “interpretações” e “compreensões” construídas pelos que sofrem no trabalho. O presente programa de pesquisa (grupos de pesquisa distintos ocupados no estudo de resgatistas do corpo de bombeiros, auxiliares de enfermagem de hospital universitário e professores do ensino superior privado) adotou esta segunda opção, à luz dos trabalhos até então existentes que, de uma forma ou de outra, filiam-se à Psicopatologia... e/ou à mais recente Psicodinâmica do Trabalho.

O termo: “Psicodinâmica do Trabalho” surgiu da incompatibilidade do seu antecessor “Psicopatologia do Trabalho” com os aspectos da dialética entre subjetividade e atividade, que não se situassem no espaço das manifestações mórbidas (Clot, 1995).

Emergiu, assim, uma nova disciplina, seguindo o percurso desenvolvido por Dejours (1999), desde seus trabalhos envolvendo também outras disciplinas e pesquisadores franceses (Dejours, Veil & Wisner, 1985) sintonizados com os estudos do trabalho humano. O próprio Dejours (conforme citado por Clot, 1995) reconhecera que o conceito de Psicopatologia do Trabalho era muito estreito para englobar fenômenos que não se reduzissem às manifestações mórbidas. Ou seja, não poderia apreender, além da morbidez, a própria dinâmica interna das situações que talvez solicitassem a observação, por exemplo, do prazer no trabalho.

Uma tentativa, portanto, de avançar no terreno das contradições entre dinâmica subjetiva e atividade, além da morbidez em situações de trabalho. Mais que uma redefinição para o nome da disciplina,  trata-se de uma evolução epistemológica no sentido de conhecer as relações entre sofrimento e prazer na atividade, ou seja, uma verdadeira renovação no conhecimento da psicologia do trabalho (Clot, 1999).

Ainda, fez-se necessário uma conceituação que não representasse apenas a visão do psiquismo humano segundo a aproximação da tradição freudiana calcada numa psicopatologia da vida cotidiana, mas sim do trabalho como atividade que solicita do indivíduo tornar-se sujeito: Sujeito de si, sujeito de seu “si” em seu trabalho, ou seja, que este “...agente torne-se sujeito de sua história. Em outras palavras, no trabalho e além dele, ser sujeito (tomar as rédeas do si...) de seus atos é também chegar a esfacelar uma contenção (deste si) e se emancipar do curso de suas atividades ” (Clot, 1999:26).

Aproximou-se, o pesquisador francês Christophe Dejours, ao longo dos seus anos de contato com as vias empírica e teórica do universo do trabalho humano, das teses da fenomenologia social e de aspectos de intersubjetividade até então pouco ou nada explorados nos primórdios da sua antiga disciplina (Psicopatologia do Trabalho). É o que relata Clot (1999) a seu respeito. O próprio pesquisador francês veio, então, a afirmar que “o sujeito pensa sua relação com o trabalho e interpreta sua situação e suas condições, socializa-a em atos intersubjetivos, reage e se organiza mentalmente, afetivamente e psiquicamente em função de suas interpretações” (Dejours & Abdoucheli,  1993,p. 209).

Com base nas afirmações do próprio Cristophe Dejours ao longo de sua carreira, Clot (1999) faz menção à evolução desta mesma carreira, e do próprio pesquisador, desde os estudos iniciais da antiga Psicopatologia... até à “nova disciplina”, taxando tal evolução como uma salutar transição da “psicopatologia da alienação” (objeto da Psicopatologia do Trabalho) para uma “psicologia da interpretação” (um dos objetos da Psicodinâmica do Trabalho).

A Psicopatologia do Trabalho, segundo Clot (1999), contrasta com a Psicodinâmica do Trabalho no escopo de abrangência. Nesta última, o campo de investigações expandiu-se, de tal modo a incluir noções de normalidade e prazer no trabalho e, também, incipientes tentativas de compreender as interpretações que o trabalhador elabora para sua própria atividade. São tentativas apoiadas nas tradições das disciplinas hermenêuticas, ainda abertas a possíveis avanços e contribuições nos domínios teórico e epistemológico (Dejours, 1999), como é o propósito do presente trabalho de pesquisa.

Após o início dos trabalhos empíricos desta pesquisa, demandados para o alcance de uma “melhoria da qualidade, produtividade e eficiência do serviço em questão” (de acordo com os jargões do senso comum e das disciplinas e profissionais da gestão de serviços), verificou-se a necessidade de uma pesquisa bibliográfica que se baseasse na rigorosa análise das trajetórias históricas das duas disciplinas (Psicopatologia... e Psicodinâmica...), conforme está descrito no tópico “Metodologia”, deste mesmo texto.

Traços comuns de abordagem e de orientação metodológica foram desta forma maciçamente encontrados, em contraste com algumas escassas distinções de métodos em contextos diversos.

Percebeu-se, durante as revisões sistemáticas em alguns desses diferentes estudos que abordaram o sofrimento no trabalho, desde Le Guillant & Begoin (1957) que, quer estivessem filiados à Psicodinâmica... ou à Psicopatologia do Trabalho, eles traziam algo em comum:

1 - Faziam referência ao sofrimento e possíveis defesas contra ele sem referência à consciência que os próprios indivíduos possuem dele e, possivelmente, das defesas adotadas. Ou seja, não englobavam uma abordagem a respeito das possíveis percepções e interpretações conscientes, dos trabalhadores, do seu próprio sofrimento no trabalho. Isso despertou uma primeira questão: “Defesa do sofrimento” e “consciência” são dimensões mutuamente excludentes?

2 - As abordagens que tais estudos traçavam do sofrimento, embora partindo da subjetividade dos indivíduos, não mencionavam o sentido que os próprios indivíduos geralmente constróem (conforme verificado nas investigações do presente programa de pesquisa) para sua vivência singular do sofrer no trabalho. Isso, juntamente com os primeiros dados empíricos ora obtidos, despertou uma segunda questão: Por que os trabalhadores constróem um sentido para o seu próprio sofrimento em atividade?

O quadro... começava a se configurar, tornando mais claros os seus contornos, e a demanda inicial convidava, então, a uma reelaboração e/ou inclusão de temas estranhos à gestão de serviços e operações...

3. Objetos da presente investigação científica: Sofrimento, subjetivação (formas de...; processos de...) e  “técnicas de si” no trabalho de resgate

Se existe, de fato, um sentido intrínseco e racional para o sofrimento, não se sabe e não se buscou responder tal questão no presente estudo. O que ora se postula, com base nos dados empíricos coletados e analisados ao longo de três anos, é que os trabalhadores conscientemente elaboram um sentido para o sofrimento percebido no trabalho, segundo um viés interpretativo, como meio de lidar, na dimensão da subjetividade, com a própria experiência do sofrimento determinado pela atividade. Processo, portanto, de subjetivação, por meio de uma espécie de “conjuração subjetiva” do sofrimento, que viabiliza continuidade da própria atividade de trabalho.

Elementos objetivos da atividade concreta, que geram o sofrimento, podem ser caracterizados, no presente contexto, como “formas de subjetivação” ou, em outras palavras, como “componentes exteriores” (Deleuze, 1986) que conduzem à elaboração de técnicas, orientadas para a interioridade, que viabilizam as condições de eficácia da ação, conforme será discutido nas próximas páginas.

Não cabe, aqui, a discussão inócua da existência de um sentido intrínseco, teleológico ou causal, para o sofrimento gerado pelo trabalho. Se realizados independentemente das interpretações dos trabalhadores, quaisquer discussões e estudos tornar-se-iam esvaziados de razão científica, abrigando metafísicas e digressões místicas para possíveis fundamentos universais (especulativos) de um suposto sentido independente ou razão “pura” para o sofrimento. Parece, esta última opção, mais condizente com os campos de saber ligados às doutrinas religiosas, mas incompatível com a práxis científica.

Coube, ao presente estudo, investigar outras construções subjetivas, articuladas no domínio da consciência, tecidas com a substância “sofrimento no trabalho”. O “processo de subjetivação” daí resultante funciona como instrumento mediador entre o mundo exterior e o mundo interior, na medida em que permite, ao trabalhador, “conjurar” esta substância do “sofrer em atividade” e continuar trabalhando...

O objeto desta investigação não foi, todavia, verificar ou rejeitar a hipótese de um sentido pautado por aspectos positivos ou mórbidos do sofrimento, mas compreender as construções de sentido que são feitas por aqueles que vivenciam a experiência de sofrer em atividade, enquanto meios de “conjuração” do próprio sofrimento ou espécime de “subversão” muda e intangível.

O termo subjetivação ou processo de subjetivação sintetiza, coerentemente, no domínio conceitual, estes processos de subversão íntima das vivências do sofrer (via técnicas de si). Ocorrem na dimensão das subjetividades dos trabalhadores, embora se originem no exterior. Partem, portanto, da “dobra do real ou lado de fora”, empregando os termos de Deleuze (1986),  gerados e mantidos que são pelos elementos concretos de uma atividade de trabalho situada nos contextos nos quais imperam as dimensões do trágico, do não-racional (imprevisto, abrupto e violento) e do impensado.

São, portanto,  formas exteriores, definidas por “formas de subjetivação” (Birman, 2000; Deleuze, 1986; Foucault, 1975, 1981, 1984; Motta, 2004) e, também, de “sujeição”, literalmente como sinônimos segundo estes autores, as quais incluem o sofrimento imposto pelo convívio com a dimensão da tragédia em suas manifestações físicas objetivas (ferimentos de grande extensão, manifestações de agonia e de dor pelas vítimas, ansiedade, angústia e sensação de impotência, produzidas pelas dificuldades e “constraintes” impostas aos atos de remoção de ferragens e destroços de veículos para o posterior atendimento dos feridos, etc).

A Figura 1 ilustra o quadro conceitual delineado pela presente pesquisa para a produção da subjetividade na atividade de resgate.

Fig. 1: Produção da Subjetividade na Atividade de Resgate
** Técnicas de si, conforme definições de Birman (2000) e Foucault (1976, 1981)

4. Por uma outra noção de técnica:  técnicas de si no trabalho de resgate

Para entender este conceito das “técnicas de si”, enquanto meio de conjuração íntima do sofrimento no trabalho de resgate, verificado também como condição de eficácia na atividade dos resgatistas, primeiramente, é preciso desmistificar o próprio conceito de técnica. Após isso, serão apresentados e discutidos os fundamentos teóricos destas técnicas que se dirigem às interioridades dos indivíduos, promovendo a re-elaboração das subjetividades (processos de subjetivação).

Tais fundamentos são verdadeiras construções epistemológicas realizadas pelas múltiplas disciplinas que adentraram no tema, com suas ramificações de desconstrução das categorias de sujeito na filosofia e delimitação de uma genealogia do sujeito moderno e das formas modernas de subjetivação (enquanto sujeição, na exterioridade) apoiadas no pós-estruturalismo e nas ciências hermenêuticas. Mais recentemente, com os trabalhos de Lacan e Foucault, a psicanálise veio beber nas fontes das “técnicas de si” (Birman, 2000; Foucault, 1981), assim como vertentes da psicologia social e da psicossociologia. Portanto, desde a sua definição (Foucault, 1981, 1984; Birman, 2000) até suas implicações na clínica psicoterápica, a noção das técnicas de si exigiu expurgar a visão reducionista e fisicalista que regia a noção de técnica em geral.

Segundo o pressuposto fisicalista, na análise das técnicas deve ser eliminada toda referência à interioridade, ou seja, os resíduos de uma metafísica indesejável. A técnica é, então, entendida como filiada apenas ao domínio das ciências da natureza e das ciências exatas aplicadas.

Entretanto, quando a base epistemológica da antropologia propõe uma re-conceituação do estudo das técnicas (tecnologia), este surge como uma ciência humana das técnicas. Isso descarta a visão restritiva que considera técnica como sinônimo do emprego de dispositivos maquinais.

Sob a antropologia, a tecnologia não pode ser separada do homem que age na técnica e, assim, numa perspectiva bastante distinta, pertence, sim, ao campo das ciências humanas. Pois é sobre o real que a técnica, qualquer que seja, incide enquanto ato situado numa cultura e fruto de uma história na sociedade.

A técnica é um ato tradicional eficaz (Mauss, 1934/1980), o que descarta a exigência da presença dos dispositivos maquinais. O ato técnico supõe um manejo que é próprio do corpo e da mente de quem age. E a tecnologia não se refere aos objetos técnicos, mas sim à história das condutas e habilidades humanas (Mauss 1934/1980; Haudricourt, 1987; Böhle & Milkau, 1991). Traz à tona, assim, tanto uma crítica da racionalidade dos conceitos de técnica e de tecnologia, quanto um novo conceito, o de atividade subjetivante (Böhle & Milkau, 1991), no qual a exigência objetiva da atividade e o processo subjetivo se equilibram um sobre o outro.

Integrar essa abordagem de tecnologia ao ato que envolve interioridade do sujeito remete-nos a uma genealogia do sujeito moderno (Dreyfus & Rabinow, 1995). Isso parece indispensável à compreensão do “serviço” prestado pelos resgatistas do corpo de bombeiros no socorro às vítimas de acidentes de trânsito. Salvar uma vida, conforme constatado nas análises realizadas, requer mobilizar um conjunto de técnicas que dizem respeito à interioridade/subjetividade do trabalhador e permitem-no orientar a sua atividade, objetivamente, de forma a prestar um ‘serviço” de cuja “qualidade” (e/ou eficácia) depende a sobrevivência da vítima, em determinadas situações.

As técnicas de si possuem um contorno teórico próprio, que as distinguem de certas proposições de Habermas (1984). É possível distinguir três tipos principais de técnicas, segundo Habermas, e apontadas por Foucault (1981, 1984): As técnicas que permitem produzir e transformar as coisas; as técnicas que permitem utilizar sistemas de signos e, por último, as técnicas que permitem determinar as condutas dos indivíduos e estabelecer certas finalidades ou objetivos.   São, portanto: As técnicas de produção; as técnicas de significação / comunicação; as técnicas de dominação, respectivamente.

Foucault (1981) propõe, então, um quarto tipo de técnicas, não abordadas por Habermas em sua extensa obra, mas presente em todas as sociedades (e o extenso trabalho do Foucault historiador-filósofo, para além da hermenêutica e do estruturalismo, o permitiu afirmar isso): 

Fui me dando conta, pouco a pouco, de que existe, em todas as sociedades, um outro tipo de técnicas: aquelas que permitem, aos indivíduos, realizar, por eles mesmos, um certo número de operações em seu corpo, em sua alma, em seus pensamentos, em suas condutas, de modo a produzir neles uma transformação, uma modificação, e a atingir um certo estado de perfeição, de felicidade, de pureza, de poder sobrenatural. Chamamos essas técnicas de técnicas de si (Foucault, 1981, p. 3).

A genealogia do sujeito, conforme proposta de Foucault, deve analisar não apenas as técnicas de dominação mas também as técnicas de si e a interação entre umas e outras.

Pode-se falar do estudo das constituições do sujeito e da subjetividade como focos das observações de si, das análises de si, focos de uma busca intensa por compreensão e interpretação de si (bastante apoiadas pela hermenêutica ou, melhor dizendo, pela “hermenêutica do sujeito moderno”): Ou seja, como se dão os procedimentos pelos quais o sujeito é levado a

se observar, se analisar, se decifrar e se reconhecer como campo de saber possível. Trata-se, em suma, da história da subjetividade, se entendermos essa palavra como a maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona consigo mesmo (Motta, 2004, p. LI).

Ou, conforme afirma Birman (2000), a formulação de tecnologias de si que englobassem as ditas técnicas... significa que a subjetividade não é nem um dado nem um ponto de partida, mas algo que é produzido. É o ponto de chegada de um processo complexo.

Pode-se, então, falar da subjetividade no plural, incluindo aquela produzida pelo sofrimento amalgamado às formas de subjetivação situadas no “lado de fora” (Deleuze, 1986): subjetividades, que são produzidas por tecnologias (Foucault, 1975, 1976) ou formas alojadas na exterioridade ou no lado de fora (conforme definições de Deleuze) de produção de si mesmo.

5. Elucidação de conceitos principais envolvidos na pesquisa

Portanto, usar o termo “formas de subjetivação”  (Foucault, 1984; Birman, 2000) e “tecnologias exteriores que produzem o sujeito” (Foucault, 1975) é afirmar que existe uma dimensão exterior, ou lado de fora de Deleuze (1986), de produção da subjetividade, que sujeita, que impõe, que disciplina, que modela e que conforma, resultante de:

...um longo e tortuoso processo de modelagem e remodelagem (que molda via sujeição e disciplina), historicamente regulado. Isso implica dizer que não existiria o sujeito, rigorosamente falando, mas apenas as formas de subjetivação (no lado de fora de Deleuze e, anteriormente, de Foucault (1969)). Engendradas por certas tecnologias de si, as formas de subjetivação (de sujeição, exteriores, disciplinares) revelariam então a inconsistência ontológica do sujeito que estaria aqui em pauta (Birman, 2000, p. 81).

Tem-se, então, o enunciado das subjetividades como produtos das formas de subjetivação. Ou, 

Esta afecção de si, esta convenção do longínquo e do próximo vai assumir importância cada vez maior, constituindo um espaço do lado de dentro, que estará inteiro copresente no espaço do lado de fora, na linha da dobra. [...] É todo o lado de dentro que se encontra ativamente presente no lado de fora sobre o limite dos estratos (Deleuze, 1988, p. 126-127).

O que está sendo dito, então, é que a subjetividade é produzida pelas técnicas de si conforme a determinação dessas formas de subjetivação (como o sofrimento) dadas na exterioridade.

A subjetividade passa a ser concebida como interioridade e consciência de si.

O projeto foucaultiano consistiu, assim, na desconstrução das categorias de sujeito e de verdade, agora substituídas pelas categorias de formas de subjetivação e de técnicas de si.

Subjetividade é, então, resultado de algo produzido por formas exteriores (de subjetivação), i.e. elementos da atividade geradores da experiência mais íntima do sofrimento no trabalho (Figura 1).

No trabalho de resgate a vítimas de acidentes de trânsito, não se pode falar da atividade, ou dos aspectos objetivos dos atos mobilizados numa ação de socorro, sem que se faça referência à subjetividade do trabalhador que age sobre um corpo estendido no asfalto, muitas vezes oscilante entre a vida e a morte. Sua eficácia no trato com o outro depende, antes de tudo, do amadurecimento de técnicas de contato consigo mesmo que, sobremaneira, permitem neutralizar a morbidez psíquica do sofrimento, latente numa atividade que expõe o indivíduo à dimensão do trágico.

Não se pode, também, tentar distinguir critérios de eficácia neste “serviço” sem que se considere a competência mobilizada na atividade, intimamente atrelada ao exercício dessas habilidades já amadurecidas pelas  técnicas de si anteriormente discutidas.

Nesse aspecto, o novo conceito ora elucidado na própria atividade de trabalho, denominado “dessensibilização”, revela a importância do processo de subjetivação no trabalho, resultante das técnicas de si, para  eficácia e qualidade do serviço prestado.

Pesquisadores envolvidos neste mesmo programa de pesquisa, investigando outros tipos de serviços que também envolvem, enquanto promotores do intercâmbio direto de subjetividades na ação, as atividades subjetivantes (Böhle & Milkau, 1991), têm verificado a presença do mesmo fenômeno subjetivo da “dessensibilização” ora abordado. Isso ocorreu no caso das  análises do trabalho, feitas com os professores de instituições privadas de ensino superior e, também, no caso dos auxiliares de enfermagem lotados em um hospital universitário (estudos ainda em estágio desenvolvimento, por este mesmo programa de pesquisa).

Em cada um destes casos, até o momento, foi constatado que o fragmento resultante do processo de subjetivação disparado pelo trabalho, denominado “dessensibilização” (definição e discussões mais detalhadas são oferecidas no subtópico “7.Dados e Análises” deste mesmo texto) é o elemento mediador entre o “lado de fora” do real (aspectos objetivos da atividade diante do trágico) e a interioridade do trabalhador. É fruto de mecanismos de adaptação às componentes de morbidez das tarefas, constituindo-se no elemento que viabiliza a ação, inclusive como condição de eficácia, e permite lidar com o sofrimento e o stress vividos na atividade de trabalho.

O fenômeno da dessensibilização é resultado dos “processos de subjetivação”, determinados pelas formas de subjetivação da exterioridade (situadas no ambiente de trabalho, como as “contraintes” da atividade, os elementos objetivos geradores do sofrimento, as restrições impostas pela organização do trabalho), em contextos de convívio com a dimensão do trágico. Optou-se, portanto, por enfocar estas formas... e estes processos de subjetivação que determinam os modos de vivenciar o sofrimento na atividade.

Esse tipo de “codificação da interioridade”, conforme descrito por Deleuze (1986), ou produção de subjetividades, com todos os seus procedimentos de individualização e modulação, resulta de relações exteriores ao indivíduo, que o conduzem a sua própria identidade mediante consciência e conhecimento de si. A mesma atividade, atada irremediavelmente ao convívio com o trágico, impulsiona processos de subjetivação pela vivência da dor. A dessensibilização é um dos resultados desses processos, condição de viabilidade da própria atividade real de resgate.

6. Métodos de pesquisa

Os métodos de entrevista empregados aproximam-se da observação participante (Becker, 1997). Inicialmente, foram utilizados, também, questionários visando uma observação estruturada (Laville & Dionne, 1999) que buscou  consolidar dados bastante objetivos, como grau de instrução dos observados, sexo, idade, naturalidade, renda mensal, condições de moradia e situação familiar.

 As entrevistas não-estruturadas, segundo o modelo de observação participante (Becker, 1997), tiveram o objetivo de elucidar as razões e motivos das ações dos resgatistas.

De acordo com a Análise Ergonômica do Trabalho / AET (Wisner, 1987, 1994), o discurso dos trabalhadores a respeito da atividade de trabalho deve ser mediado pelos traços objetivos da própria atividade. Sendo uma grande parte da atividade regulada de forma subconsciente, unicamente a observação exterior e sistemática das ações visíveis não  possibilita um acesso à consciência dos trabalhadores e às suas estratégias mentais. Assim, a AET veio a contribuir de modo a fornecer um contorno mais nítido e objetivo para as verbalizações dos resgatistas incitadas pelos métodos familiares à  psicossociologia do trabalho.

Técnicas da Psicossociologia (Enriquez, 1994), que permitem dar espaço amplo ao discurso dos trabalhadores, foram empregadas nas sessões realizadas com pequenos grupos de dois ou três resgatistas, simultaneamente entrevistados.

O discurso, até certo grau “livre”, mediado pelo entrevistador e com condições de contorno dadas tanto pelas situações do trabalho quanto pelas vivências no trabalho (nos mesmos moldes das entrevistas de natureza psicossociológica), muitas vezes foi regredindo a momentos pretéritos, às vezes longinquamente situados na história de cada resgatista em sua atividade. Pode-se, então, dizer que, por permitir elucidar melhor o objeto investigado, via estes resgates de situações vivenciadas no tempo pretérito da trajetória histórica (na atividade de trabalho) de cada trabalhador, o método da história de vida (Becker, 1997; Laville & Dionne, 1999) não se desprendeu, e não se isolou, do discurso ora desencadeado pelas entrevistas situadas no domínio da psicossociologia. Significa, portanto, que numa primeira fase, discurso psicossociológico e discurso de história de vida caminharam integrados um ao outro.

Numa Segunda fase da pesquisa, a maior parte das questões, em situações posteriores a estas grandes discussões (inspiradas por técnicas de incitação do discurso oriundas da psicossociologia (Enriquez, 1994) e sem descartar as “histórias de vida”, conforme anteriormente discutido), foi formulada, desta vez, de forma contextualizada (Wisner, 1987), referindo-se a situações concretas (Wisner, 1994) que haviam ocorrido momentos antes, ou durante o desenrolar dos atos na atividade de trabalho.

Procurou-se, nesta segunda grande fase, adentrar num outro “corpus metodológico”, no qual é imprescindível manter o verbo no presente e remeter o sujeito ao seu próprio comportamento, de acordo com aquilo que fora observado. Questões do tipo “o que você está fazendo na...”; “como você soube que...”; “quando é que você auxilia ... o que fez você decidir por esta intervenção...” etc., foram largamente empregadas, conforme métodos propostos por Wisner (1987, 1994). O contexto impera nesta segunda fase. A objetividade, a reconstituição minuciosa das situações, as observações sistemáticas juntam-se e buscam conduzir as falas, o discurso, culminando em momentos graves de confrontação daquilo que se diz com aquilo que se observa e que se tem, concretamente, numa situação real contextualizada.

Para falar de uma terceira fase da pesquisa, que na verdade ocorreu simultaneamente às outras duas fases, é preciso ressaltar que os próprios dados empíricos iniciais convidaram a uma pesquisa bibliográfica bastante aprofundada, iniciando uma relação constante e recíproca entre vias empírica e teórica, que perdurou, ininterruptamente, por todo o período de investigações. Esta terceira fase, simultânea às fases primeira e segunda, aqui denominada pesquisa bibliográfica, consistiu em:

(a) - Revisão bibliográfica que priorizou autores e obras de respaldo nos temas em questão,   dando maior atenção aos estudos originais em seus próprios idiomas e àqueles que trouxeram resultados significativos para a evolução dos campos abordados;

(b) - Entrevistas, debates, discussões e orientações obtidas dos próprios pesquisadores (sobretudo os franceses...), em encontros pessoais, como os realizados, por exemplo, com o próprio Cristophe Dejours.

Foi possível alcançar, então, algumas constatações que contribuíram para a re-configuração do quadro operacional (Laville & Dionne, 1999) da presente pesquisa.

Estas constatações emergiram do modo sistemático como a abordagem do sofrimento foi avaliada na extensa gama de trabalhos revistos, ou seja, focalizando: a) este mesmo objeto em todos os trabalhos e b) seus métodos de pesquisa, também em todos os trabalhos que foram revistos.

7. Dados e análises

Os dados provenientes de observações, entrevistas e autoconfrontações permitiram elaborar a definição de “dessensibilização” como  sendo o resultado de processos de “subjetivação” (Motta, 2004; Deleuze, 1986) adaptativos às características de morbidez das tarefas, pelo qual o sujeito é poupado das variações bruscas de estado emocional associadas aos eventos do seu ambiente de trabalho (no caso em questão, contato com acidentes trágicos, com dilaceramentos de grande extensão nos tecidos do corpo da vítima; morte agonizante desta durante atendimento; decapitações; amputações; lesões de grande extensão em órgãos internos; manifestações de agonia, desespero e de grande dor por parte de algumas vítimas).

A dessensibilização resulta da vivência de várias situações eventuais pautadas pela dimensão do trágico, como as anteriormente citadas. É condição de eficiência da ação, pois envolve a ausência de oscilações de estado emocional que, segundo os próprios resgatistas, inviabilizariam o que eles denominam de “trabalho bem feito”.

É a vivência constante da experiência do trágico que conduz o indivíduo à construção de um sentido, subjetivamente, para poder lidar com a angústia e o sofrimento provocados pela atividade de socorro às vítimas. 

A primeira vez que eu vi uma pessoa arrebentada no asfalto eu disse para mim mesmo que a vida não vale nada. Lutar, correr, educar os filhos para depois acabar assim, como barata que a gente pisa no banheiro de casa. Meu coração disparou, fiquei tonto, o estômago embrulhou na hora. Pensei nos meus filhos. Tive medo deles acabarem assim um dia ou me verem assim também [...] Hoje, ver essas coisas não me toca mais. Não sinto nada. Acho que fiquei calejado. Deus sabe o que faz. Há alguma explicação pra essa gente acabar assim. (Resgatista).

O senso de qualidade do serviço de socorro e o alcance da eficácia do salvamento são determinados pelo domínio das habilidades e técnicas de controle de si mesmo. Algumas técnica de si objetivamente caracterizadas pelas observações sistemáticas e pelas análises dos discursos foram a atenção consciente às próprias reações emocionais e reflexão-na-ação: 

Duro era ter que fazer o que tinha de ser feito (primeiros socorros) estando a gente mesmo em descontrole total. Fui medir uma pulsação uma vez e eu mesmo não sabia se era da vítima ou a minha, de tanto que meu coração batia e fazia até meus dedos pulsarem de nervoso. A única saída para continuar no trabalho era aprender a manter a calma, o controle. (Resgatista).

O “bom resgatista”, para os colegas, é aquele que se tornou “insensível” (dessensibilizado) e que se mantêm sem grandes flutuações de estado interior (emocional), o que se reflete nos traços objetivos de seu comportamento, conforme observado nas investigações (agilidade e destreza nos gestos; pausas para avaliação da situação seguidas de decisões firmes; fisionomia tranqüila indicada pela ausência de rubror, de sudorese e de tremores de membros superiores; domínio da fala e coordenação clara da linguagem verbal e do pensamento analítico (estratégias mentais) em situações de tragédia). As técnicas de si caracterizadas para ser considerado um “sujeito bom de resgate” são objetivamente dadas por: 1) atenção consciente ao próprio estado; 2) respiração atenta e controlada durante os atos de socorro e 3) atenção consciente ou uso da atenção-consciência em situação:

 

Eu tremia mais do que vara verde. Era um sufoco porque pra amarrar uma faixa custava uma eternidade até eu conseguir controlar minha própria tremedeira e suadeira. Teve uma psicóloga, que trabalhou com a gente, que ensinou a respirar, a fazer uns exercícios de yoga antes de começar o dia. Não sei se ajudou, mas eu hoje não paro mais de respirar nos casos mais graves como acontecia antes, que eu ficava sem ar. Respiro fundo, isso é bom mesmo, mas também pego com Deus, e vamos com força total porque a vida tá nas nossas mãos. (Resgatista).

O útimo fragmento de verbalização, como inúmeros outros obtidos e analisados, indica que o sentido consciente que o próprio trabalhador elabora para o seu sofrimento relaciona-se diretamente ao conteúdo de sua atividade. Com suas “contraintes”, também refletidas numa tomada de consciência dos estímulos que geram a experiência do sofrer, as componentes de angústia e sofrimento da atividade são percebidas e avaliadas pelo trabalhador. A ação é antecedida, permeada e sucedida por auto-afirmações (como nos próximos fragmentos de discurso...) orientadas para a própria interioridade e mediadas por um exercício de significação, conforme observado sistematicamente nas falas e em alguns atos exteriores.

Mais que esta tomada de consciência, os dados mostram que as reações adaptativas resultam da utilização, pelo trabalhador, de verdadeiras “estratégias” ou técnicas, ora denominadas “técnicas de si” (Birman, 2000), que permitem lidar com os elementos mórbidos da atividade e da organização do trabalho numa dimensão consciente. “Técnicas” que se voltam para a subjetividade e, intencionalmente articuladas, permitem uma verdadeira construção de sentido para o sofrimento. 

Aprender ficar na calma não foi fácil. Passei a ver que dó, remorso, pena me atrapalhavam porque eu estava com vontade de ser Deus para salvar e a gente não é Deus. O que me ajudou a ficar mais “light” com a desgraça foi não me revoltar mais contra Deus e pensar que tudo tem uma razão, um sentido. Na verdade, eu pus na minha cabeça que Deus sabe o que faz. Eu repetia isso todo dia, na hora de por o pé dentro da ambulância no início do turno. (Resgatista).

A subjetivação, então, se dá pelos meios que levam o resgatista a fazer a experiência de si, numa relação consigo mesmo. A subjetividade, portanto, não é um dado nem um ponto final, mas algo que é produzido nesse processo de subjetivação dentro da atividade. A própria noção de sujeito, aqui, surge unicamente no campo de referências do observador, pois nada mais é que um produto das formas de subjetivação do trabalho em um contexto de ação na tragédia.

Ou seja, a subjetividade é engendrada por relações que colocam o sujeito como resultado de um complexo processo, no qual o sofrimento é a força motriz que induz a essas relações com a dimensão da interioridade, dimensão de si mesmo.

Convidam a uma simbolização desta parcela do real denominada “sofrimento”, gerando uma significação para o que se começa a perceber na dimensão da interioridade. O “outro” que subjetiva é o sofrimento enquanto “outro”. O sofrimento é, portanto, uma “forma de subjetivação” por excelência, no mesmo nível que as relações de poder ou formas de “sujeição”. Subjetivação ou sujeição a forças externas; poder que age sobre o corpo e sofrimento que sujeita o “espírito” à experiência (de dor...) mais íntima, consigo mesmo, mediante simbolização do real, significação, construção de sentido.

Houve época que eu quis largar, mas minha esposa segurou a barra. Eu via sangue a noite toda e não conseguia dormir. Fui no médico e ele mandou tomar Rivotril de 2 mg e Daforin (fluoxetina, antidepressivo). Olhava para o meu corpo e pensava que ele é nada perto da força de um caminhão, de um carro e até de uma moto. (Resgatista).

Observa-se que as técnicas de si, por sua vez, são instrumentos que, efetivamente, “subvertem” ou “conjuram” o próprio sofrimento, uma vez que se dirigem para a interioridade do trabalhador, remodelando o prisma subjetivo com vistas a mediar o contato pungente com o real (ou seja, com o sofrimento oriundo de sua dimensão trágica). 

O corpo tinha de ser de ferro. A gente tinha que ser de ferro. Mas, de tanto pensar bobagem, eu acabei foi jogando os remédios do médico na privada e falando f... para o corpo, f... para essa gente: Quem  mandou ser imprudente no trânsito? Não fui eu. Do jeito que tava, eu tava era pirando e a imprudência de quem se arrebenta é problema deles. Pro inferno, ... (Resgatista).

Técnicas, portanto, de produção de si, no interior da experiência do sofrimento no trabalho. O si insensível, indiferente, vítreo em seu ostracismo emocional e afetivo, foi produzido com estas configurações típicas da dessensibilização (mecanismos de adaptação à atividade...), pela própria natureza da atividade trágica, como meio de se proteger do sofrimento associado à impotência de combate ao trágico.

Ou seja, mecanismos intencionais que articulam, na esfera da subjetividade (com a conotação de interioridade, consciência de si, segundo Birman (2000)), no nível consciente, os próprios elementos do real geradores do sofrimento, ora convertidos em instrumentos de modificação do próprio sujeito, a ele próprio dirigidos e orientados pelas técnicas de si.

Subversão ou conjuração “interior” do sofrimento, aqui, aproxima-se daquilo que foi encontrado, nas investigações ora realizadas, para bem longe da proteção da consciência por mecanismos de defesa individuais e coletivos. Uma espécie de “humor trágico” foi um dos elementos encontrados no plano coletivo do trabalho quando, em algumas situações, a sátira com a própria situação agonizante da vítima fora utilizada como meio de se defender da angústia e da sensação de impotência gerada por situações pautadas pelo irremediável e pelo irreversível.

De fato, os termos “subversão ou conjuração íntima” parecem traduzir fielmente estas erupções coletivas, típicas de um fenômeno insólito manifesto nos âmbitos social e psicológico de uma atividade de trabalho singular. Trata-se da parte visível da controversa  técnica de si mediante a qual os resgatistas se protegem pela mobilização do humor em situação de tragédia:

“- Putz... Esse daí tomou uma cacetada feia,, rapaz” (Resgatista, dentro da ambulância em movimento, falando com outro colega de trabalho, a respeito de um motociclista acidentado, com fratura de crânio, sendo transportado em estado inconsciente p/ hospital).

“-Também ,vai ser burro assim lá na china, viu... Os caras sabem que tem que usar capacete e não usam, pô... (Resposta do colega).

“-Por quê você acha que esse daí (vítima) não usou capacete? É porque ele é um chifrudo e o chifre não deixa o capacete entrar na cabeça. Só pode ser por isso. A esposa deve pôr o Ricardão pra dentro de casa assim que ele sai pra trabalhar... (Risos em geral dentro da ambulância; o coletivo de trabalho “subverte” sua própria angústia enquanto a vítima agoniza inconsciente).

Nas entrevistas de autoconfrontação, emergiu no discurso a consciência de que

 

é rir ou então se sentir um zero, um nada e ficar com cara de tolo. [...] Prefiro rir e ter gás pro próximo (próximo acidente) do que ficar um banana chorão enquanto as pessoas morrem  sem eu poder ter força pra socorrer por que fiquei acuado com a cabeça rachada de um motoqueiro.(Resgatista).

Outras técnicas... envolvem valorizar o trabalho com a tragédia e o sofrimento que ele produz no trabalhador. Algo, sim, bem próximo de técnicas que permitem construir sentido para o sofrimento e buscar um senso de valorização dos elementos da atividade que o geram, com consciência plena disso. 

Por um lado é bom (trabalhar no resgate) porque a gente passa a ficar mais calmo, a não se agitar com coisas fortes, a entender melhor que a vida é aqui e agora, [...] a vida é um beijo que dou na minha mulher na hora que saio, é o almoço de domingo com a família. Isso é que é a vida da gente, porque a gente não é nada e pode se acabar a qualquer momento. O que fica é só isso e isso é que vale por tudo. (Resgatista).

Diante daqueles aspectos que não podem, de forma alguma, ser modificados pelo trabalho real, a subversão subjetiva ou conjuração do sofrimento (como ocorreu no caso das técnicas de uso do “humor sarcástico” dentro da ambulância) ocorre conscientemente, intencionalmente e repleta de sentido para os indivíduos que sofrem, como alternativa possível.

 

Sangue não vale nada, carne não vale nada, corpo não vale nada, cérebro não vale de nada porque no asfalto é tudo uma mesma meleca. O que fica é o amor que tenho pelos meus filhos, a alegria do sorriso de Marta (esposa). Quero que ela lembre só disso. Eu não quero que me veja no chão aos pedaços, porque ali não sou eu. Eu sou aquele que ria, brincava e que cobria as crianças na cama toda noite, mesmo com o calorão (risos...). Pensar assim foi o que me ajudou, porque quando vejo hoje uma pessoa naquele estado acabado... (refere-se genericamente às vítimas de acidentes trágicos) penso que ali não está nada além de restos do que era mesmo importante. O importante não está ali, por que o importante foi o de bom, o bem que ele fez pra esposa dele e pros filhos dele. (Resgatista).

Há uma tomada de consciência dos elementos causadores do sofrimento e uma mobilização de técnicas, voltadas para sua própria interioridade (si), que permitem construir sentido e senso de valor para o sofrer no trabalho. Isso é que permite continuar trabalhando. Algo, portanto, bem diferente daqueles mecanismos ou estratégias defensivas tradicionalmente apontadas pelos estudos da Psicodinâmica do Trabalho.

Quem quer ver e fazer isso que a gente faz? Mas a gente tem que ver algo de bom senão não agüenta. Eu consegui ver o que é a vida, e valorizar coisas que nós vivemos todos os dias,  [...] foi assim, é..., vendo um monte de gente morta que não pode mais viver nada disso. (Resgatista).

8. Conclusões

Dessensibilização e construção consciente de sentido para angústia, sofrimento e ansiedade do trabalho são instrumentos mediadores da complexa relação subjetividade-atividade no serviço de resgate. Estes dois instrumentos permitem lidar com o sofrimento da atividade de trabalho dos resgatistas e viabilizam a ação de acordo com os parâmetros de qualidade e eficiência característicos de um “bom serviço de resgate”.

As técnicas... que garantem a eficácia de um “serviço” de resgate pertencem à dimensão das subjetividades dos resgatistas. São, antes de tudo, técnicas-de-si modificadoras das próprias subjetividades e resultantes de formas de subjetivação (sujeição...) exteriores (incluindo o próprio sofrimento). Trata-se de um processo histórico de imersão numa atividade de trabalho peculiar (resgate), mediante o qual essas formas... produzem, modelam e conformam (processos de subjetivação) as subjetividades, culminando com os estágios da dessensibilização e da construção consciente de sentido para o sofrimento gerado pelo trabalho de resgatar vítimas. Isso é que viabiliza o exercício da atividade na “normalidade”, com eficácia e “qualidade”.

Conclui-se, portanto, que defesa contra o sofrimento e consciência não são instâncias mutuamente excludentes, mas sim mutuamente construtivas. Em outras palavras, a defesa contra o sofrimento no trabalho é conscientemente construída, de forma voluntária e intencional, pelos trabalhadores. A construção de sentido para o sofrimento é um meio consciente de viabilizar a própria atividade. Para continuar trabalhando no contexto pautado pela dimensão do trágico, com toda angústia, ansiedade, dor e sofrimento que ela agrega, a “saída” encontrada pelo trabalhador para se adaptar e continuar “trabalhando normalmente” é construir sentido para o que se situa no campo do imprevisto, do trágico, do irracional. Constrói-se sentido e dessensibiliza-se para ser eficaz, servir com qualidade, garantir o trabalho num serviço de vida ou morte.

Uma nova compreensão do sofrimento psíquico, então, emergiu da orientação dada aos trabalhos de pesquisa efetuados com as equipes de resgate. Observou-se, neste caso, que o sofrimento reflete-se na consciência do trabalhador, sendo percebido e interiorizado, gerando modificações no prisma de visão de mundo, refletidas inclusive na vida exterior ao trabalho.

Longe de encontrar mecanismos de defesa, surgiu, no horizonte das investigações, uma espécie de “subversão consciente” do sofrimento via “técnicas de si”. O sofrimento ora se apresenta em um novo contexto diferente daquele em que figuravam mecanismos inconscientes e coletivos de defesa do aparelho psíquico e de negação dos riscos da atividade.

O que se constatou, por ora, foi um trabalhador dotado de percepção e de plena consciência das causas de seu sofrimento no trabalho e dos meios (técnicas) de adaptação à atividade.

Um contexto, portanto, de tomada de consciência plena e adoção intencional da atitude de subversão voltada para a própria interioridade (aqui, com a conotação de subjetividade, consciência de si...). A defesa do funcionamento psíquico surge, nesse contexto, pelo emprego dessas técnicas... voltadas para si,  destinadas também a uma construção de sentido.  Trata-se, portanto, de  uma real “estratégia defensiva”, bem consciente e individual, para aquilo que não há como ser mudado na realidade do trabalho concreto no asfalto.

Referências bibliográficas

Becker, H.S. (1997).  Métodos de pesquisa em ciências sociais. (E. Marco, Trad.). São Paulo: Hucitec. (Publicação original em 1993). 

Birman, J. (2000).  Entre cuidado e saber de si: sobre Foucault e a Psicanálise. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará.

 

Böhle, F. & Milkau, B. (1991). Vom Handrad zum Bildschirm.  München: Institut für Sozialwissenschaftliche Forschung.

 

Clot, Y. (1995). Le travail sans l’homme? Pour une psychologie des milieux de travail et de vie. Paris: Edition La Découverte. 

Clot, Y. (1999). Psychologies du travail: une histoire possible. Em Y. Clot (Org.). Les histories de la psychologie du travail; approche pluri-disciplinaire. (2.ed., pp.19-27). Paris: Octares Editions. 

Dejours, C. (1999). Psychologie clinique du travail et tradition compréhensive. Em Y. Clot (Org). Les histories de la psychologie du travail; approche pluri-disciplinaire. (2.ed., pp.195-219). Paris: Octares Editions. 

Dejours, C., Veil, C. & Wisner, A. (1985). Psychopathologie du travail. Paris: Entreprise moderne d’édition. 

Dejours, C. & Abdoucheli, E. (1993).  Itinéraire théorique en psychopathologie du travail. Revue Prévenir, 20(1), 127-147

Deleuze, G. & Guattari, F. (1976). O antiédipo. (J.M. Varela & M.M. Carrilho, Trad.s) Rio de Janeiro: Imago. (Publicação original em 1972). 

Deleuze, G. (1988). Foucault. (C. S. Martins, Trad.). São Paulo: Brasiliense. (Original publicado em 1988).

 

Dreyfus, H. & Rabinow, P. (1995). Michel Foucault: beyond structuralism and hermeneutics. Chicago: The University of Chicago.

 

Enriquez, E. (1994). La Psychosociologie au carrefour. Revue Internationale de Psychosociologie, 1(1), 5-15.

 

Foucault, M. (1969). L’Archéologie du savoir. Paris: Gallimard. (Bibliothèque des sciences humaines).

 

Foucault, M. (1975). Surveiller et Punir: naissance de  la prision. Paris: Gallimard.

 

Foucault, M. (1976). Histoirie de la sexualité: la volouté de savoir. Paris: Gallimard. (Histoirie de la sexualité, 1).

 

Foucault, M. (1981). Sexuality and solitude. London Review of Books, 9(3), 3-6.

 

Foucault, M. (1984). Histoire de la sexualité; l’usage de plaisir. Paris: Gallimard. (Histoire de la sexualité, 2). 

Habermas, J. (1984). The theory of communicative action; reason and rationalization on society. Vol. 1. Boston: Beacon Press. 

Haudricort, A. G. (1987). La technologie, science humaine. Paris: Maison des Sciences de l´Homme.

 

Laville, C. & Dionne, J. (1999).  A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. (H. Monteiro e F. Settineri, Trad.s). Porto Alegre: Artes Médicas. (Publicação original de 1997).

 

Le Guillant, L. & Begoin, J. (1957). La névrose des mécanographes. Bulletin de Psychologie, 10(9), 500-510.

 

Mauss, M. (1980). Les techniques du corps. Em M. Mauss, Sociologie et Anthropologie. (pp. 364-385) Paris: PUF. (Original publicado em 1934).

 

Motta, M. B. (2004). Apresentação. Em M. B. Motta, Foucault: ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Ditos & Escritos, 5).

 

Wisner, A. (1987). Por dentro do trabalho: ergonomia, método e técnica. (F. G. Vezzá, Trad.). São Paulo: FDT; Oboré. (Original publicado em 1976). 

Wisner, A. (1994). Situated cognition and action: implications for ergonomic work analysis and anthropotechnology. Paris: CNAM. 

Zarifian, P. (1999). Objectiv compétence. Paris: Liasons.

 

Nota sobre o autor

Gilbert Cardoso Bouyer é doutorando em Ergonomia pela Universidadse de São Paulo, mestre em Ergonomia pela Universidade Federal de Minas Gerais; professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil. Contato: gilbertcb@uol.com.br

Laerte Idal Sznelwar é Doutor em Ergonomia (pelo CNAM, França), Professor Adjunto do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Brasil. Contato: laertesz@usp.br

Maria José Birro Costa é Psicóloga clínica, especialista em Saúde Mental e Trabalho e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Contato: mjbirro@terra.com.br

 

Data de recebimento: 02/12/2005
Data de aceite: 30/06/2006

 
Memorandum 11, out/2006
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP
ISSN 1676-1669
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a11/bouyer01.htm

 

 

 

 Português

 English

Envie seu comentário sobre este artigo e sobre a revista Memorandum. Clique aqui

Indique este artigo