Introdução
A demanda inicial da
presente pesquisa resultou das questões bastante objetivas com as quais
alguns pesquisadores interessados nas formas de subjetivação (que,
conforme Deleuze & Guattari (1976), não se restringem ao modo edipiano de
produção da subjetividade) se depararam. Na verdade, que forma de
subjetivação é esta, denominada sofrimento no trabalho, que conduz
o sujeito a novos contatos consigo e com o real do trabalho,
resultando em índices de eficiência produtiva atrelados à sua
subjetividade?
Como melhorar a
“qualidade” de um serviço especial, da qual pode depender a vida de um
ser humano? Quais são os “critérios de eficácia” de um “serviço de
resgate” a vítimas de acidentes de trânsito? Este serviço é prestado por
equipes de profissionais organizadas e geridas pelos corpos de bombeiros
de duas grandes metrópoles nacionais (Belo Horizonte e São Paulo), que
percorrem as rodovias mais movimentadas dos respectivos estados de Minas
Gerais e São Paulo quando acionadas, em caráter de urgência, em função de
acidentes e catástrofes envolvendo veículos de quaisquer espécies.
Ao partirem da
demanda inicial, entretanto, os pesquisadores foram lançados num complexo
terreno que envolve as subjetividades humanas dos “prestadores de
serviço” (trabalhadores que socorrem vítimas no asfalto).
Ou seja, ao buscar
encontrar “critérios de eficácia” de um serviço peculiar,
“indicadores de qualidade”, “métodos de melhoria da eficiência
operacional”, “condições de possibilidade” das ações no
trabalho de socorrer vítimas, etc, viram-se, os pesquisadores, envoltos em
outras questões de natureza bem diferente, mas intrinsecamente atreladas a
estes critérios, indicadores e métodos exteriores. A
surpresa e o espanto tomaram conta da equipe de pesquisa (mais do que das
equipes de resgate quando se deparavam com alguns acidentes trágicos de
imensa gravidade...) quando se deu conta de que não era possível
compreender “critérios de eficácia”, “métodos” empregados,
“qualidade” e “eficiência operacional” sem adentrar a
dimensão psicológica dos seres humanos que prestam um “serviço” de vida ou
morte. Na verdade, a técnica... que salva vidas, os métodos...
que fazem um salvamento ser eficiente, os atos... que se mostram
eficazes na luta contra a morte que ronda um acidentado pertencem, todos,
ao terreno obscuro das subjetividades dos profissionais do resgate (aqui,
denominados de “resgatistas”).
Em diversas
situações, a qualidade de um serviço se manifesta na satisfação
(subjetiva) de um cliente, nas reclamações ou elogios, na qualidade das
relações-de-uso (Zarifian, 1999) estabelecidas com os dispositivos
empregados e/ou produtos.
No entanto, o
presente trabalho investigou um tipo de serviço cuja “qualidade”
pode determinar a vida ou a morte de um “cliente em especial”. Trata-se do
trabalho de resgate às vítimas de acidentes de trânsito, realizado por
resgatistas do corpo de bombeiros. Um resgatista é o profissional com
formação em curso técnico de enfermagem (nível médio), que tem, como
conjunto de atribuições, prestar os primeiros socorros e auxiliar no
transporte de feridos ou mortos até os locais apropriados (hospitais,
unidades de pronto-atendimento, centros de atendimento de urgência ou
necrotérios).
O trabalho dos
resgatistas consiste, segundo os critérios formais prescritos (tarefas),
em prestar socorro rápido às vítimas, utilizando técnicas de primeiros
socorros, sem discriminar os acidentados segundo o seu estado aparente.
Mas, para além dos
critérios formais prescritivos de “boa qualidade no serviço de vida ou
morte”, esta pesquisa buscou investigar, no trabalho real, quais são
os verdadeiros critérios e técnicas, subjacentes aos aspectos
objetivos e tangíveis das tarefas prescritas, que determinam a “boa
qualidade do serviço”, em seus critérios de eficácia (atrelados às
subjetividades dos trabalhadores), como rapidez e precisão dos atos de
socorro, agilidade dos atos efetivados sobre o corpo de um acidentado,
estabelecimento de prioridades condizentes com as demandas da situação (em
tempo hábil), comunicação e intercompreensão com os demais membros da
equipe de resgate. Verificou-se que a eficácia manifestada nestes atos
objetivos (eficácia dos atos no trabalho de resgate) é determinada
por mecanismos (técnicas) adaptativos voltados para a dimensão
subjetiva do trabalhador (aqui, com a conotação de “si”, de
“interioridade”).
Neste projeto, as
análises do trabalho conduziram ao contato com uma realidade imperceptível
ao observador do senso comum, elucidando uma nova noção de técnica (técnica-de-si),
dotada de dimensões psíquicas e afetivas orientadas pelo indivíduo para a
sua própria subjetividade, conforme será explicado nas próximas páginas.
Esta noção de técnica ainda é pouco ou nada explorada nas referências
sobre atividades de serviços (qualidade, organização do trabalho,
tecnologias, etc), embora já seja de domínio de várias correntes da
psicologia, sociologia e filosofia pós-estruturalistas.
A via empírica da
pesquisa encontrou amparo nas teorias de Deleuze & Guattari (1976), cuja
matriz epistemológica apóia-se, nitidamente, no pensamento de Michel
Foucault (1976), que afirmam não existir um mecanismo universal de
estruturação do sujeito, mas sim diferentes formas, múltiplas..., ou modos
de subjetivação, responsáveis pela formação das subjetividades. O Édipo
que produz sujeito não é uma forma universal, mas uma das possíveis.
Dentre elas, aqui, tem-se, segundo os dados da presente investigação
científica, o sofrimento no trabalho como uma forma (ou modo) de
subjetivação por excelência, no mesmo nível que o modo edipiano de
produção da subjetividade.
Os mecanismos de
adaptação ao sofrimento no trabalho consistem nos processos de
subjetivação via técnicas de si, os quais viabilizam o exercício
eficaz da atividade. Mediam a interação entre as subjetividades produzidas
pelas formas de subjetivação, i.e. sofrimento, e o real do trabalho
exterior aos trabalhadores. As formas de subjetivação assumem, neste
roteiro, a conotação dos elementos “de fora, situados na exterioridade,
dinamizadas por relações de forças e jogos de verdade” (Deleuze, 1986)
que sujeitam (sujeição/subjetivação), que conformam, modelam e disciplinam
as subjetividades (as quais assumem o lugar de interioridade).
2. Problemática
de pesquisa e sua relação com a história de uma disciplina científica que
trata do Sofrimento no Trabalho...
Colocar o
trabalho no centro mesmo da psicologia, ocupando um espaço similar ao da
sexualidade, como operador de uma inteligibilidade essencial à análise das
condutas humanas e processos envolvidos tanto na saúde mental quanto nas
patologias. Essas são algumas idéias de Christophe Dejours (1999), que
iniciam seu esforço por esclarecer as relações entre Psicodinâmica do
Trabalho e psicologia. Avançando para além das abordagens da
alienação, Dejours reconhece que a “Psicodinâmica...” veio iniciar
um viés de interpretação, dantes inexistente na Psicopatologia do
Trabalho, em sintonia com uma tradição compreensiva das ciências
hermenêuticas. O foco de observação do pesquisador francês desloca-se
para a racionalidade das condutas em seu agir expressivo e em sua
significação, sobretudo visando a “sua inteligibilidade, sua
compreensão e condições de possibilidade da ação contra o sofrimento
infligido ao outro e suportado por outro” (Dejours, 1999, p. 126).
Antes de
tudo, a Psicodinâmica do Trabalho adota uma abordagem de
compreensão e de inteligibilidade das condutas pelo próprio sujeito, em um
nítido esforço de interpretação.
Uma
trajetória epistemológica, portanto, da disciplina que partiu da discussão
sobre o patológico chegando ao “problema” científico da noção de
normalidade quando, então, adentrou na tradição compreensiva das
ciências humanas.
O
proficiente programa de compreensão e interpretação,
iniciado por Christophe Dejours, encontra-se, hoje, em fase de
consolidação. A sua Psicodinâmica... tem o mérito de buscar
expandir o escopo da antiga Psicopatologia do Trabalho (em suas
estreitas relações com os aspectos de morbidez e alienação do trabalho),
de forma a englobar as coordenadas de uma “psicologia da interpretação”
(Clot, 1995).
No
entanto, uma orientação ainda pouco explorada pela Psicodinâmica do
Trabalho, em suas pesquisas que intentam construir uma
“interpretação” e uma “compreensão” do sofrimento no trabalho
seria a de reduzir o peso das interpretações e compreensões do observador
sobre o objeto “sofrimento” para ceder terreno às
“interpretações” e “compreensões” construídas pelos que sofrem
no trabalho. O presente programa de pesquisa (grupos de pesquisa distintos
ocupados no estudo de resgatistas do corpo de bombeiros, auxiliares de
enfermagem de hospital universitário e professores do ensino superior
privado) adotou esta segunda opção, à luz dos trabalhos até então
existentes que, de uma forma ou de outra, filiam-se à Psicopatologia...
e/ou à mais recente Psicodinâmica do Trabalho.
O termo:
“Psicodinâmica do Trabalho” surgiu da incompatibilidade do seu
antecessor “Psicopatologia do Trabalho” com os aspectos da
dialética entre subjetividade e atividade, que não se situassem no espaço
das manifestações mórbidas (Clot, 1995).
Emergiu,
assim, uma nova disciplina, seguindo o percurso desenvolvido por Dejours
(1999), desde seus trabalhos envolvendo também outras disciplinas e
pesquisadores franceses (Dejours,
Veil & Wisner, 1985)
sintonizados com os estudos do trabalho humano. O próprio Dejours
(conforme citado por Clot, 1995) reconhecera que o conceito de
Psicopatologia do Trabalho era muito estreito para englobar fenômenos
que não se reduzissem às manifestações mórbidas. Ou seja, não poderia
apreender, além da morbidez, a própria dinâmica interna das situações que
talvez solicitassem a observação, por exemplo, do prazer no trabalho.
Uma
tentativa, portanto, de avançar no terreno das contradições entre dinâmica
subjetiva e atividade, além da morbidez em situações de trabalho. Mais que
uma redefinição para o nome da disciplina, trata-se de uma evolução
epistemológica no sentido de conhecer as relações entre sofrimento e
prazer na atividade, ou seja, uma verdadeira renovação no conhecimento da
psicologia do trabalho (Clot, 1999).
Ainda, fez-se necessário uma
conceituação que não representasse apenas a visão do psiquismo humano
segundo a aproximação da tradição freudiana calcada numa psicopatologia da
vida cotidiana, mas sim do trabalho como atividade que solicita do
indivíduo tornar-se sujeito: Sujeito de si, sujeito de seu “si” em seu
trabalho, ou seja, que este “...agente torne-se sujeito de sua
história. Em outras palavras, no trabalho e além dele, ser sujeito
(tomar as rédeas do si...) de seus atos é também chegar a esfacelar uma
contenção (deste si) e se emancipar do curso de suas atividades
” (Clot, 1999:26).
Aproximou-se, o pesquisador francês Christophe Dejours, ao longo dos seus
anos de contato com as vias empírica e teórica do universo do trabalho
humano, das teses da fenomenologia social e de aspectos de
intersubjetividade até então pouco ou nada explorados nos primórdios da
sua antiga disciplina (Psicopatologia do Trabalho). É o que relata
Clot (1999) a seu respeito. O próprio pesquisador francês veio, então, a
afirmar que “o sujeito pensa sua relação com o trabalho e interpreta
sua situação e suas condições, socializa-a em atos intersubjetivos, reage
e se organiza mentalmente, afetivamente e psiquicamente em função de suas
interpretações” (Dejours & Abdoucheli, 1993,p. 209).
Com base
nas afirmações do próprio Cristophe Dejours ao longo de sua carreira, Clot
(1999) faz menção à evolução desta mesma carreira, e do próprio
pesquisador, desde os estudos iniciais da antiga Psicopatologia...
até à “nova disciplina”, taxando tal evolução como uma salutar
transição da “psicopatologia da alienação” (objeto da
Psicopatologia do Trabalho) para uma “psicologia da
interpretação” (um dos objetos da Psicodinâmica do Trabalho).
A
Psicopatologia do Trabalho, segundo Clot (1999), contrasta com a
Psicodinâmica do Trabalho no escopo de abrangência. Nesta
última, o campo de investigações expandiu-se, de tal modo a incluir noções
de normalidade e prazer no trabalho e, também, incipientes tentativas de
compreender as interpretações que o trabalhador elabora para sua própria
atividade. São tentativas apoiadas nas tradições das disciplinas
hermenêuticas, ainda abertas a possíveis avanços e contribuições nos
domínios teórico e epistemológico (Dejours, 1999), como é o propósito do
presente trabalho de pesquisa.
Após o
início dos trabalhos empíricos desta pesquisa, demandados para o alcance
de uma “melhoria da qualidade, produtividade e eficiência do serviço em
questão” (de acordo com os jargões do senso comum e das disciplinas e
profissionais da gestão de serviços), verificou-se a necessidade de
uma pesquisa bibliográfica que se baseasse na rigorosa análise das
trajetórias históricas das duas disciplinas (Psicopatologia... e
Psicodinâmica...), conforme está descrito no tópico “Metodologia”,
deste mesmo texto.
Traços
comuns de abordagem e de orientação metodológica foram desta forma
maciçamente encontrados, em contraste com algumas escassas distinções de
métodos em contextos diversos.
Percebeu-se, durante as revisões sistemáticas em alguns desses diferentes
estudos que abordaram o sofrimento no trabalho, desde Le Guillant & Begoin
(1957) que, quer estivessem filiados à Psicodinâmica... ou à
Psicopatologia do Trabalho, eles traziam algo em comum:
1
-
Faziam referência ao sofrimento e possíveis defesas contra ele sem
referência à consciência que os próprios indivíduos possuem dele e,
possivelmente, das defesas adotadas. Ou seja, não englobavam uma abordagem
a respeito das possíveis percepções e interpretações conscientes, dos
trabalhadores, do seu próprio sofrimento no trabalho. Isso despertou uma
primeira questão: “Defesa do sofrimento” e “consciência” são dimensões
mutuamente excludentes?
2
-
As abordagens que tais estudos traçavam do sofrimento, embora partindo da
subjetividade dos indivíduos, não mencionavam o sentido que os
próprios indivíduos geralmente constróem (conforme verificado nas
investigações do presente programa de pesquisa) para sua vivência
singular do sofrer no trabalho. Isso, juntamente com os primeiros dados
empíricos ora obtidos, despertou uma segunda questão: Por que os
trabalhadores constróem um sentido para o seu próprio sofrimento em
atividade?
O
quadro... começava a se configurar, tornando mais claros os seus
contornos, e a demanda inicial convidava, então, a uma reelaboração e/ou
inclusão de temas estranhos à gestão de serviços e operações...
3. Objetos
da presente investigação científica: Sofrimento, subjetivação (formas
de...; processos de...) e “técnicas de si” no trabalho
de resgate
Se existe,
de fato, um sentido intrínseco e racional para o sofrimento, não se sabe e
não se buscou responder tal questão no presente estudo. O que ora se
postula, com base nos dados empíricos coletados e analisados ao longo de
três anos, é que os trabalhadores conscientemente elaboram um sentido para
o sofrimento percebido no trabalho, segundo um viés interpretativo, como
meio de lidar, na dimensão da subjetividade, com a própria experiência do
sofrimento determinado pela atividade. Processo, portanto, de
subjetivação, por meio de uma espécie de “conjuração subjetiva” do
sofrimento, que viabiliza continuidade da própria atividade de trabalho.
Elementos
objetivos da atividade concreta, que geram o sofrimento, podem ser
caracterizados, no presente contexto, como “formas de subjetivação”
ou, em outras palavras, como “componentes exteriores” (Deleuze,
1986) que conduzem à elaboração de técnicas, orientadas para a
interioridade, que viabilizam as condições de eficácia da ação,
conforme será discutido nas próximas páginas.
Não cabe,
aqui, a discussão inócua da existência de um sentido intrínseco,
teleológico ou causal, para o sofrimento gerado pelo trabalho. Se
realizados independentemente das interpretações dos trabalhadores,
quaisquer discussões e estudos tornar-se-iam esvaziados de razão
científica, abrigando metafísicas e digressões místicas para possíveis
fundamentos universais (especulativos) de um suposto sentido independente
ou razão “pura” para o sofrimento. Parece, esta última opção, mais
condizente com os campos de saber ligados às doutrinas religiosas, mas
incompatível com a práxis científica.
Coube, ao
presente estudo, investigar outras construções subjetivas, articuladas no
domínio da consciência, tecidas com a substância “sofrimento no
trabalho”. O “processo de subjetivação” daí resultante funciona
como instrumento mediador entre o mundo exterior e o mundo interior, na
medida em que permite, ao trabalhador, “conjurar” esta substância
do “sofrer em atividade” e continuar trabalhando...
O objeto
desta investigação não foi, todavia, verificar ou rejeitar a hipótese de
um sentido pautado por aspectos positivos ou mórbidos do sofrimento, mas
compreender as construções de sentido que são feitas por aqueles
que vivenciam a experiência de sofrer em atividade, enquanto meios de
“conjuração” do próprio sofrimento ou espécime de “subversão”
muda e intangível.
O termo
subjetivação ou processo de subjetivação sintetiza,
coerentemente, no domínio conceitual, estes processos de subversão
íntima das vivências do sofrer (via técnicas de si). Ocorrem na
dimensão das subjetividades dos trabalhadores, embora se originem no
exterior. Partem, portanto, da “dobra do real ou lado de fora”,
empregando os termos de Deleuze (1986), gerados e mantidos que são pelos
elementos concretos de uma atividade de trabalho situada nos contextos nos
quais imperam as dimensões do trágico, do não-racional (imprevisto,
abrupto e violento) e do impensado.
São,
portanto, formas exteriores, definidas por “formas de subjetivação”
(Birman, 2000; Deleuze, 1986; Foucault, 1975, 1981, 1984; Motta, 2004)
e, também, de “sujeição”, literalmente como sinônimos segundo
estes autores, as quais incluem o sofrimento imposto pelo convívio com a
dimensão da tragédia em suas manifestações físicas objetivas (ferimentos
de grande extensão, manifestações de agonia e de dor pelas vítimas,
ansiedade, angústia e sensação de impotência, produzidas pelas
dificuldades e “constraintes” impostas aos atos de remoção de
ferragens e destroços de veículos para o posterior atendimento dos
feridos, etc).
A Figura 1
ilustra o quadro conceitual delineado pela presente pesquisa para a
produção da subjetividade na atividade de resgate.
-
Fig. 1: Produção da
Subjetividade na Atividade de Resgate
-
**
Técnicas de si, conforme definições de Birman (2000) e Foucault (1976,
1981)
4. Por uma outra noção de técnica: técnicas de si no
trabalho de resgate
Para
entender este conceito das “técnicas de si”, enquanto meio de
conjuração íntima do sofrimento no trabalho de resgate, verificado também
como condição de eficácia na atividade dos resgatistas, primeiramente, é
preciso desmistificar o próprio conceito de técnica. Após isso, serão
apresentados e discutidos os fundamentos teóricos destas técnicas
que se dirigem às interioridades dos indivíduos, promovendo a
re-elaboração das subjetividades (processos de subjetivação).
Tais
fundamentos são verdadeiras construções epistemológicas realizadas pelas
múltiplas disciplinas que adentraram no tema, com suas ramificações de
desconstrução das categorias de sujeito na filosofia e delimitação de uma
genealogia do sujeito moderno e das formas modernas de
subjetivação (enquanto sujeição, na exterioridade) apoiadas no
pós-estruturalismo e nas ciências hermenêuticas. Mais recentemente, com os
trabalhos de Lacan e Foucault, a psicanálise veio beber nas fontes das
“técnicas de si” (Birman, 2000; Foucault, 1981), assim como vertentes
da psicologia social e da psicossociologia. Portanto, desde a sua
definição (Foucault, 1981, 1984; Birman, 2000) até suas implicações na
clínica psicoterápica, a noção das técnicas de si exigiu expurgar a
visão reducionista e fisicalista que regia a noção de técnica em
geral.
Segundo o
pressuposto fisicalista, na análise das técnicas deve ser eliminada toda
referência à interioridade, ou seja, os resíduos de uma metafísica
indesejável. A técnica é, então, entendida como filiada apenas ao domínio
das ciências da natureza e das ciências exatas aplicadas.
Entretanto, quando a base epistemológica da antropologia propõe uma
re-conceituação do estudo das técnicas (tecnologia), este surge
como uma ciência humana das técnicas. Isso descarta a visão
restritiva que considera técnica como sinônimo do emprego de dispositivos
maquinais.
Sob a
antropologia, a tecnologia não pode ser separada do homem que age na
técnica e, assim, numa perspectiva bastante distinta, pertence, sim, ao
campo das ciências humanas. Pois é sobre o real que a técnica, qualquer
que seja, incide enquanto ato situado numa cultura e fruto de uma história
na sociedade.
A técnica
é um ato tradicional eficaz (Mauss, 1934/1980), o que descarta a
exigência da presença dos dispositivos maquinais. O ato técnico supõe um
manejo que é próprio do corpo e da mente de quem age. E a tecnologia não
se refere aos objetos técnicos, mas sim à história das condutas e
habilidades humanas (Mauss 1934/1980; Haudricourt, 1987; Böhle & Milkau,
1991). Traz à tona, assim, tanto uma crítica da racionalidade dos
conceitos de técnica e de tecnologia, quanto um novo conceito, o de
atividade subjetivante (Böhle & Milkau, 1991), no qual a exigência
objetiva da atividade e o processo subjetivo se equilibram um sobre o
outro.
Integrar
essa abordagem de tecnologia ao ato que envolve interioridade do sujeito
remete-nos a uma genealogia do sujeito moderno (Dreyfus & Rabinow, 1995).
Isso parece indispensável à compreensão do “serviço” prestado pelos
resgatistas do corpo de bombeiros no socorro às vítimas de acidentes de
trânsito. Salvar uma vida, conforme constatado nas análises realizadas,
requer mobilizar um conjunto de técnicas que dizem respeito à
interioridade/subjetividade do trabalhador e permitem-no orientar a sua
atividade, objetivamente, de forma a prestar um ‘serviço” de cuja
“qualidade” (e/ou eficácia) depende a sobrevivência da vítima, em
determinadas situações.
As
técnicas de si possuem um contorno teórico próprio, que as distinguem
de certas proposições de Habermas (1984). É possível distinguir três tipos
principais de técnicas, segundo Habermas, e apontadas por Foucault (1981,
1984): As técnicas que permitem produzir e transformar as coisas;
as técnicas que permitem utilizar sistemas de signos e, por último,
as técnicas que permitem determinar as condutas dos indivíduos e
estabelecer certas finalidades ou objetivos. São, portanto: As
técnicas de produção; as técnicas de significação / comunicação;
as técnicas de dominação, respectivamente.
Foucault
(1981) propõe, então, um quarto tipo de técnicas, não
abordadas por Habermas em sua extensa obra, mas presente em todas as
sociedades (e o extenso trabalho do Foucault historiador-filósofo, para
além da hermenêutica e do estruturalismo, o permitiu afirmar isso):
Fui me
dando conta, pouco a pouco, de que existe, em todas as sociedades, um
outro tipo de técnicas: aquelas que permitem, aos indivíduos, realizar,
por eles mesmos, um certo número de operações em seu corpo, em sua alma,
em seus pensamentos, em suas condutas, de modo a produzir neles uma
transformação, uma modificação, e a atingir um certo estado de perfeição,
de felicidade, de pureza, de poder sobrenatural. Chamamos essas técnicas
de técnicas de si (Foucault, 1981, p. 3).
A
genealogia do sujeito, conforme proposta de Foucault, deve analisar não
apenas as técnicas de dominação mas também as técnicas de si
e a interação entre umas e outras.
Pode-se
falar do estudo das constituições do sujeito e da subjetividade como focos
das observações de si, das análises de si, focos de uma
busca intensa por compreensão e interpretação de si (bastante
apoiadas pela hermenêutica ou, melhor dizendo, pela “hermenêutica do
sujeito moderno”): Ou seja, como se dão os procedimentos pelos quais o
sujeito é levado a
se
observar, se analisar, se decifrar e se reconhecer como campo de saber
possível. Trata-se, em suma, da história da subjetividade, se entendermos
essa palavra como a maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si
mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona consigo mesmo
(Motta, 2004, p. LI).
Ou,
conforme afirma Birman (2000), a formulação de tecnologias de si
que englobassem as ditas técnicas... significa que a subjetividade
não é nem um dado nem um ponto de partida, mas algo que é produzido. É o
ponto de chegada de um processo complexo.
Pode-se,
então, falar da subjetividade no plural, incluindo aquela produzida pelo
sofrimento amalgamado às formas de subjetivação situadas no
“lado de fora” (Deleuze, 1986): subjetividades, que são
produzidas por tecnologias (Foucault, 1975, 1976) ou
formas alojadas na exterioridade ou no lado de fora (conforme
definições de Deleuze) de produção de si mesmo.
5.
Elucidação de conceitos principais envolvidos na pesquisa
Portanto,
usar o termo “formas de subjetivação” (Foucault, 1984; Birman,
2000) e “tecnologias exteriores que produzem o sujeito” (Foucault,
1975) é afirmar que existe uma dimensão exterior, ou lado de fora
de Deleuze (1986), de produção da subjetividade, que sujeita, que impõe,
que disciplina, que modela e que conforma, resultante de:
...um
longo e tortuoso processo de modelagem e remodelagem (que molda via
sujeição e disciplina), historicamente regulado. Isso implica dizer que
não existiria o sujeito, rigorosamente falando, mas apenas as formas de
subjetivação (no lado de fora de Deleuze e, anteriormente, de Foucault
(1969)). Engendradas por certas tecnologias de si, as formas de
subjetivação (de sujeição, exteriores, disciplinares) revelariam então a
inconsistência ontológica do sujeito que estaria aqui em pauta (Birman,
2000, p. 81).
Tem-se,
então, o enunciado das subjetividades como produtos das formas de
subjetivação. Ou,
Esta
afecção de si, esta convenção do longínquo e do próximo vai assumir
importância cada vez maior, constituindo um espaço do lado de dentro, que
estará inteiro copresente no espaço do lado de fora, na linha da dobra.
[...] É todo o lado de dentro que se encontra ativamente presente no lado
de fora sobre o limite dos estratos (Deleuze, 1988, p. 126-127).
O que está
sendo dito, então, é que a subjetividade é produzida pelas técnicas de
si conforme a determinação dessas formas de subjetivação (como
o sofrimento) dadas na exterioridade.
A
subjetividade passa a ser concebida como interioridade e consciência de
si.
O projeto
foucaultiano consistiu, assim, na desconstrução das categorias de sujeito
e de verdade, agora substituídas pelas categorias de formas de
subjetivação e de técnicas de si.
Subjetividade é, então, resultado de algo produzido por formas
exteriores (de subjetivação), i.e. elementos da atividade geradores
da experiência mais íntima do sofrimento no trabalho (Figura 1).
No
trabalho de resgate a vítimas de acidentes de trânsito, não se pode falar
da atividade, ou dos aspectos objetivos dos atos mobilizados numa ação de
socorro, sem que se faça referência à subjetividade do trabalhador que age
sobre um corpo estendido no asfalto, muitas vezes oscilante entre a vida e
a morte. Sua eficácia no trato com o outro depende, antes de tudo, do
amadurecimento de técnicas de contato consigo mesmo que,
sobremaneira, permitem neutralizar a morbidez psíquica do sofrimento,
latente numa atividade que expõe o indivíduo à dimensão do trágico.
Não se
pode, também, tentar distinguir critérios de eficácia neste “serviço” sem
que se considere a competência mobilizada na atividade, intimamente
atrelada ao exercício dessas habilidades já amadurecidas pelas
técnicas de si anteriormente discutidas.
Nesse
aspecto, o novo conceito ora elucidado na própria atividade de trabalho,
denominado “dessensibilização”, revela a importância do processo de
subjetivação no trabalho, resultante das técnicas de si, para eficácia e
qualidade do serviço prestado.
Pesquisadores envolvidos neste mesmo programa de pesquisa, investigando
outros tipos de serviços que também envolvem, enquanto promotores do
intercâmbio direto de subjetividades na ação, as atividades
subjetivantes (Böhle & Milkau, 1991), têm verificado a presença do
mesmo fenômeno subjetivo da “dessensibilização” ora abordado. Isso
ocorreu no caso das análises do trabalho, feitas com os professores de
instituições privadas de ensino superior e, também, no caso dos auxiliares
de enfermagem lotados em um hospital universitário (estudos ainda em
estágio desenvolvimento, por este mesmo programa de pesquisa).
Em cada um
destes casos, até o momento, foi constatado que o fragmento resultante do
processo de subjetivação disparado pelo trabalho, denominado
“dessensibilização” (definição e discussões mais detalhadas são
oferecidas no subtópico “7.Dados e Análises” deste mesmo texto) é o
elemento mediador entre o “lado de fora” do real (aspectos
objetivos da atividade diante do trágico) e a interioridade do
trabalhador. É fruto de mecanismos de adaptação às componentes de morbidez
das tarefas, constituindo-se no elemento que viabiliza a ação, inclusive
como condição de eficácia, e permite lidar com o sofrimento e o stress
vividos na atividade de trabalho.
O fenômeno
da dessensibilização é resultado dos “processos de subjetivação”,
determinados pelas formas de subjetivação da exterioridade
(situadas no ambiente de trabalho, como as “contraintes” da
atividade, os elementos objetivos geradores do sofrimento, as restrições
impostas pela organização do trabalho), em contextos de convívio com a
dimensão do trágico. Optou-se, portanto, por enfocar estas formas...
e estes processos de subjetivação que determinam os modos de
vivenciar o sofrimento na atividade.
Esse tipo
de “codificação da interioridade”, conforme descrito por Deleuze
(1986), ou produção de subjetividades, com todos os seus procedimentos de
individualização e modulação, resulta de relações exteriores ao indivíduo,
que o conduzem a sua própria identidade mediante consciência e
conhecimento de si. A mesma atividade, atada
irremediavelmente ao convívio com o trágico, impulsiona processos de
subjetivação pela vivência da dor. A dessensibilização é um dos
resultados desses processos, condição de viabilidade da própria atividade
real de resgate.
6. Métodos de
pesquisa
Os métodos
de entrevista empregados aproximam-se da observação participante
(Becker, 1997). Inicialmente, foram utilizados, também, questionários
visando uma observação estruturada (Laville & Dionne, 1999) que
buscou consolidar dados bastante objetivos, como grau de instrução dos
observados, sexo, idade, naturalidade, renda mensal, condições de moradia
e situação familiar.
As
entrevistas não-estruturadas, segundo o modelo de observação participante
(Becker, 1997), tiveram o objetivo de elucidar as razões e motivos das
ações dos resgatistas.
De acordo
com a Análise Ergonômica do Trabalho / AET (Wisner, 1987,
1994), o discurso dos trabalhadores a respeito da atividade de trabalho
deve ser mediado pelos traços objetivos da própria atividade. Sendo uma
grande parte da atividade regulada de forma subconsciente, unicamente a
observação exterior e sistemática das ações visíveis não possibilita um
acesso à consciência dos trabalhadores e às suas estratégias mentais.
Assim, a AET veio a contribuir de modo a fornecer um contorno mais nítido
e objetivo para as verbalizações dos resgatistas incitadas pelos métodos
familiares à psicossociologia do trabalho.
Técnicas
da Psicossociologia (Enriquez, 1994), que permitem dar espaço amplo
ao discurso dos trabalhadores, foram empregadas nas sessões realizadas com
pequenos grupos de dois ou três resgatistas, simultaneamente
entrevistados.
O
discurso, até certo grau “livre”, mediado pelo entrevistador e com
condições de contorno dadas tanto pelas situações do trabalho
quanto pelas vivências no trabalho (nos mesmos moldes das
entrevistas de natureza psicossociológica), muitas vezes foi regredindo a
momentos pretéritos, às vezes longinquamente situados na história de cada
resgatista em sua atividade. Pode-se, então, dizer que, por permitir
elucidar melhor o objeto investigado, via estes resgates de situações
vivenciadas no tempo pretérito da trajetória histórica (na atividade de
trabalho) de cada trabalhador, o método da história de vida
(Becker, 1997; Laville & Dionne, 1999) não se desprendeu, e não se isolou,
do discurso ora desencadeado pelas entrevistas situadas no domínio da
psicossociologia. Significa, portanto, que numa primeira fase, discurso
psicossociológico e discurso de história de vida caminharam
integrados um ao outro.
Numa
Segunda fase da pesquisa, a maior parte das questões, em situações
posteriores a estas grandes discussões (inspiradas por técnicas de
incitação do discurso oriundas da psicossociologia (Enriquez, 1994) e sem
descartar as “histórias de vida”, conforme anteriormente
discutido), foi formulada, desta vez, de forma contextualizada (Wisner,
1987), referindo-se a situações concretas (Wisner, 1994) que haviam
ocorrido momentos antes, ou durante o desenrolar dos atos na atividade de
trabalho.
Procurou-se, nesta segunda grande fase, adentrar num outro “corpus
metodológico”, no qual é imprescindível manter o verbo no presente e
remeter o sujeito ao seu próprio comportamento, de acordo com aquilo que
fora observado. Questões do tipo “o que você está fazendo na...”; “como
você soube que...”; “quando é que você auxilia ... o que fez você
decidir por esta intervenção...” etc., foram largamente empregadas,
conforme métodos propostos por Wisner (1987, 1994). O contexto impera
nesta segunda fase. A objetividade, a reconstituição minuciosa das
situações, as observações sistemáticas juntam-se e buscam conduzir as
falas, o discurso, culminando em momentos graves de confrontação daquilo
que se diz com aquilo que se observa e que se tem, concretamente, numa
situação real contextualizada.
Para falar
de uma terceira fase da pesquisa, que na verdade ocorreu simultaneamente
às outras duas fases, é preciso ressaltar que os próprios dados empíricos
iniciais convidaram a uma pesquisa bibliográfica bastante aprofundada,
iniciando uma relação constante e recíproca entre vias empírica e teórica,
que perdurou, ininterruptamente, por todo o período de investigações. Esta
terceira fase, simultânea às fases primeira e segunda, aqui denominada
pesquisa bibliográfica, consistiu em:
(a) -
Revisão bibliográfica que priorizou autores e obras de respaldo nos temas
em questão, dando maior atenção aos estudos originais em seus próprios
idiomas e àqueles que trouxeram resultados significativos para a evolução
dos campos abordados;
(b) -
Entrevistas, debates, discussões e orientações obtidas dos próprios
pesquisadores (sobretudo os franceses...), em encontros pessoais, como os
realizados, por exemplo, com o próprio Cristophe Dejours.
Foi
possível alcançar, então, algumas constatações que contribuíram para a
re-configuração do quadro operacional (Laville & Dionne, 1999) da
presente pesquisa.
Estas
constatações emergiram do modo sistemático como a abordagem do sofrimento
foi avaliada na extensa gama de trabalhos revistos, ou seja, focalizando:
a) este mesmo objeto em todos os trabalhos e b) seus métodos de pesquisa,
também em todos os trabalhos que foram revistos.
7. Dados e
análises
Os dados
provenientes de observações, entrevistas e autoconfrontações permitiram
elaborar a definição de “dessensibilização” como sendo o resultado
de processos de “subjetivação” (Motta, 2004; Deleuze, 1986)
adaptativos às características de morbidez das tarefas, pelo qual o
sujeito é poupado das variações bruscas de estado emocional associadas aos
eventos do seu ambiente de trabalho (no caso em questão, contato com
acidentes trágicos, com dilaceramentos de grande extensão nos tecidos do
corpo da vítima; morte agonizante desta durante atendimento; decapitações;
amputações; lesões de grande extensão em órgãos internos; manifestações de
agonia, desespero e de grande dor por parte de algumas vítimas).
A
dessensibilização resulta da vivência de várias situações eventuais
pautadas pela dimensão do trágico, como as anteriormente citadas. É
condição de eficiência da ação, pois envolve a ausência de oscilações de
estado emocional que, segundo os próprios resgatistas, inviabilizariam o
que eles denominam de “trabalho bem feito”.
É a
vivência constante da experiência do trágico que conduz o indivíduo à
construção de um sentido, subjetivamente, para poder lidar com a angústia
e o sofrimento provocados pela atividade de socorro às vítimas.
A primeira
vez que eu vi uma pessoa arrebentada no asfalto eu disse para mim mesmo
que a vida não vale nada. Lutar, correr, educar os filhos para depois
acabar assim, como barata que a gente pisa no banheiro de casa. Meu
coração disparou, fiquei tonto, o estômago embrulhou na hora. Pensei nos
meus filhos. Tive medo deles acabarem assim um dia ou me verem assim
também [...] Hoje, ver essas coisas não me toca mais. Não sinto nada. Acho
que fiquei calejado. Deus sabe o que faz. Há alguma explicação pra essa
gente acabar assim. (Resgatista).
O senso de
qualidade do serviço de socorro e o alcance da eficácia do salvamento são
determinados pelo domínio das habilidades e técnicas de controle de
si mesmo. Algumas técnica de si objetivamente caracterizadas pelas
observações sistemáticas e pelas análises dos discursos foram a atenção
consciente às próprias reações emocionais e reflexão-na-ação:
Duro era
ter que fazer o que tinha de ser feito (primeiros socorros) estando a
gente mesmo em descontrole total. Fui medir uma pulsação uma vez e eu
mesmo não sabia se era da vítima ou a minha, de tanto que meu coração
batia e fazia até meus dedos pulsarem de nervoso. A única saída para
continuar no trabalho era aprender a manter a calma, o controle. (Resgatista).
O “bom
resgatista”, para os colegas, é aquele que se tornou “insensível” (dessensibilizado)
e que se mantêm sem grandes flutuações de estado interior (emocional), o
que se reflete nos traços objetivos de seu comportamento, conforme
observado nas investigações (agilidade e destreza nos gestos; pausas para
avaliação da situação seguidas de decisões firmes; fisionomia tranqüila
indicada pela ausência de rubror, de sudorese e de tremores de membros
superiores; domínio da fala e coordenação clara da linguagem verbal e do
pensamento analítico (estratégias mentais) em situações de tragédia). As
técnicas de si caracterizadas para ser considerado um “sujeito
bom de resgate” são objetivamente dadas por: 1) atenção consciente ao
próprio estado; 2) respiração atenta e controlada durante os atos de
socorro e 3) atenção consciente ou uso da atenção-consciência em
situação:
Eu tremia
mais do que vara verde. Era um sufoco porque pra amarrar uma faixa custava
uma eternidade até eu conseguir controlar minha própria tremedeira e
suadeira. Teve uma psicóloga, que trabalhou com a gente, que ensinou a
respirar, a fazer uns exercícios de yoga antes de começar o dia. Não sei
se ajudou, mas eu hoje não paro mais de respirar nos casos mais graves
como acontecia antes, que eu ficava sem ar. Respiro fundo, isso é bom
mesmo, mas também pego com Deus, e vamos com força total porque a vida tá
nas nossas mãos. (Resgatista).
O útimo
fragmento de verbalização, como inúmeros outros obtidos e analisados,
indica que o
sentido consciente que o próprio trabalhador elabora para o seu sofrimento
relaciona-se diretamente ao conteúdo de sua atividade. Com suas “contraintes”,
também refletidas numa tomada de consciência dos estímulos que geram a
experiência do sofrer, as componentes de angústia e sofrimento da
atividade são percebidas e avaliadas pelo trabalhador. A ação é
antecedida, permeada e sucedida por auto-afirmações (como nos próximos
fragmentos de discurso...) orientadas para a própria interioridade e
mediadas por um exercício de significação, conforme observado
sistematicamente nas falas e em alguns atos exteriores.
Mais que
esta tomada de consciência, os dados mostram que as reações adaptativas
resultam da utilização, pelo trabalhador, de verdadeiras “estratégias” ou
técnicas, ora denominadas “técnicas de si” (Birman, 2000), que
permitem lidar com os elementos mórbidos da atividade e da organização do
trabalho numa dimensão consciente. “Técnicas” que se voltam para a
subjetividade e, intencionalmente articuladas, permitem uma verdadeira
construção de sentido para o sofrimento.
Aprender
ficar na calma não foi fácil. Passei a ver que dó, remorso, pena me
atrapalhavam porque eu estava com vontade de ser Deus para salvar e a
gente não é Deus. O que me ajudou a ficar mais “light” com a desgraça foi
não me revoltar mais contra Deus e pensar que tudo tem uma razão, um
sentido. Na verdade, eu pus na minha cabeça que Deus sabe o que faz. Eu
repetia isso todo dia, na hora de por o pé dentro da ambulância no início
do turno. (Resgatista).
A
subjetivação, então, se dá pelos meios que levam o resgatista a fazer a
experiência de si, numa relação consigo mesmo. A subjetividade,
portanto, não é um dado nem um ponto final, mas algo que é produzido nesse
processo de subjetivação dentro da atividade. A própria noção de sujeito,
aqui, surge unicamente no campo de referências do observador, pois nada
mais é que um produto das formas de subjetivação do trabalho em um
contexto de ação na tragédia.
Ou seja, a
subjetividade é engendrada por relações que colocam o sujeito como
resultado de um complexo processo, no qual o sofrimento é a força motriz
que induz a essas relações com a dimensão da interioridade, dimensão de
si mesmo.
Convidam a
uma simbolização desta parcela do real denominada “sofrimento”, gerando
uma significação para o que se começa a perceber na dimensão da
interioridade. O “outro” que subjetiva é o sofrimento enquanto “outro”.
O sofrimento é, portanto, uma “forma de subjetivação” por
excelência, no mesmo nível que as relações de poder ou formas de
“sujeição”. Subjetivação ou sujeição a forças externas; poder que age
sobre o corpo e sofrimento que sujeita o “espírito” à experiência (de
dor...) mais íntima, consigo mesmo, mediante simbolização do real,
significação, construção de sentido.
Houve
época que eu quis largar, mas minha esposa segurou a barra. Eu via sangue
a noite toda e não conseguia dormir. Fui no médico e ele mandou tomar
Rivotril de 2 mg e Daforin (fluoxetina, antidepressivo). Olhava para o meu
corpo e pensava que ele é nada perto da força de um caminhão, de um carro
e até de uma moto. (Resgatista).
Observa-se
que as técnicas de si, por sua vez, são instrumentos que,
efetivamente, “subvertem” ou “conjuram” o próprio
sofrimento, uma vez que se dirigem para a interioridade do trabalhador,
remodelando o prisma subjetivo com vistas a mediar o contato pungente com
o real (ou seja, com o sofrimento oriundo de sua dimensão trágica).
O corpo
tinha de ser de ferro. A gente tinha que ser de ferro. Mas, de tanto
pensar bobagem, eu acabei foi jogando os remédios do médico na privada e
falando f... para o corpo, f... para essa gente: Quem mandou ser
imprudente no trânsito? Não fui eu. Do jeito que tava, eu tava era pirando
e a imprudência de quem se arrebenta é problema deles. Pro inferno, ... (Resgatista).
Técnicas,
portanto, de produção de si, no interior da experiência do
sofrimento no trabalho. O si insensível, indiferente, vítreo em seu
ostracismo emocional e afetivo, foi produzido com estas configurações
típicas da dessensibilização (mecanismos de adaptação à
atividade...), pela própria natureza da atividade trágica, como meio de se
proteger do sofrimento associado à impotência de combate ao trágico.
Ou seja,
mecanismos intencionais que articulam, na esfera da subjetividade (com a
conotação de interioridade, consciência de si, segundo Birman
(2000)), no nível consciente, os próprios elementos do real geradores do
sofrimento, ora convertidos em instrumentos de modificação do próprio
sujeito, a ele próprio dirigidos e orientados pelas técnicas de si.
Subversão
ou conjuração “interior” do sofrimento, aqui, aproxima-se daquilo
que foi encontrado, nas investigações ora realizadas, para bem longe da
proteção da consciência por mecanismos de defesa individuais e coletivos.
Uma espécie de “humor trágico” foi um dos elementos encontrados no plano
coletivo do trabalho quando, em algumas situações, a sátira com a própria
situação agonizante da vítima fora utilizada como meio de se defender da
angústia e da sensação de impotência gerada por situações pautadas pelo
irremediável e pelo irreversível.
De fato,
os termos “subversão ou conjuração íntima” parecem traduzir
fielmente estas erupções coletivas, típicas de um fenômeno insólito
manifesto nos âmbitos social e psicológico de uma atividade de trabalho
singular. Trata-se da parte visível da controversa técnica de si
mediante a qual os resgatistas se protegem pela mobilização do humor em
situação de tragédia:
“- Putz...
Esse daí tomou uma cacetada feia,, rapaz” (Resgatista, dentro da
ambulância em movimento, falando com outro colega de trabalho, a respeito
de um motociclista acidentado, com fratura de crânio, sendo transportado
em estado inconsciente p/ hospital).
“-Também
,vai ser burro assim lá na china, viu... Os caras sabem que tem que usar
capacete e não usam, pô...” (Resposta do colega).
“-Por quê
você acha que esse daí
(vítima) não usou capacete? É porque ele é um chifrudo e o
chifre não deixa o capacete entrar na cabeça. Só pode ser por isso. A
esposa deve pôr o Ricardão pra dentro de casa assim que ele sai pra
trabalhar...” (Risos em geral dentro da ambulância; o coletivo
de trabalho “subverte” sua própria angústia enquanto a vítima agoniza
inconsciente).
Nas
entrevistas de autoconfrontação, emergiu no discurso a consciência de que
é rir ou
então se sentir um zero, um nada e ficar com cara de tolo. [...] Prefiro
rir e ter gás pro próximo (próximo acidente) do que ficar um banana chorão
enquanto as pessoas morrem sem eu poder ter força pra socorrer por que
fiquei acuado com a cabeça rachada de um motoqueiro.(Resgatista).
Outras
técnicas... envolvem valorizar o trabalho com a tragédia e o
sofrimento que ele produz no trabalhador. Algo, sim, bem próximo de
técnicas que permitem construir sentido para o sofrimento e buscar um
senso de valorização dos elementos da atividade que o geram, com
consciência plena disso.
Por um
lado é bom (trabalhar no resgate) porque a gente passa a ficar mais
calmo, a não se agitar com coisas fortes, a entender melhor que a vida é
aqui e agora, [...] a vida é um beijo que dou na minha mulher na hora que
saio, é o almoço de domingo com a família. Isso é que é a vida da gente,
porque a gente não é nada e pode se acabar a qualquer momento. O que fica
é só isso e isso é que vale por tudo. (Resgatista).
Diante
daqueles aspectos que não podem, de forma alguma, ser modificados pelo
trabalho real, a subversão subjetiva ou conjuração do sofrimento (como
ocorreu no caso das técnicas de uso do “humor sarcástico” dentro da
ambulância) ocorre conscientemente, intencionalmente e repleta de sentido
para os indivíduos que sofrem, como alternativa possível.
Sangue não
vale nada, carne não vale nada, corpo não vale nada, cérebro não vale de
nada porque no asfalto é tudo uma mesma meleca. O que fica é o amor que
tenho pelos meus filhos, a alegria do sorriso de Marta (esposa). Quero que
ela lembre só disso. Eu não quero que me veja no chão aos pedaços, porque
ali não sou eu. Eu sou aquele que ria, brincava e que cobria as crianças
na cama toda noite, mesmo com o calorão (risos...). Pensar assim foi o que
me ajudou, porque quando vejo hoje uma pessoa naquele estado acabado...
(refere-se genericamente às vítimas de acidentes trágicos) penso que ali
não está nada além de restos do que era mesmo importante. O importante não
está ali, por que o importante foi o de bom, o bem que ele fez pra esposa
dele e pros filhos dele. (Resgatista).
Há uma
tomada de consciência dos elementos causadores do sofrimento e uma
mobilização de técnicas, voltadas para sua própria interioridade (si),
que permitem construir sentido e senso de valor para o sofrer no trabalho.
Isso é que permite continuar trabalhando. Algo, portanto, bem diferente
daqueles mecanismos ou estratégias defensivas tradicionalmente apontadas
pelos estudos da Psicodinâmica do Trabalho.
Quem quer
ver e fazer isso que a gente faz? Mas a gente tem que ver algo de bom
senão não agüenta. Eu consegui ver o que é a vida, e valorizar coisas que
nós vivemos todos os dias, [...] foi assim, é..., vendo um monte de gente
morta que não pode mais viver nada disso. (Resgatista).
8.
Conclusões
Dessensibilização
e construção consciente de sentido para angústia, sofrimento
e ansiedade do trabalho são instrumentos mediadores da complexa relação
subjetividade-atividade no serviço de resgate. Estes dois instrumentos
permitem lidar com o sofrimento da atividade de trabalho dos resgatistas e
viabilizam a ação de acordo com os parâmetros de qualidade e eficiência
característicos de um “bom serviço de resgate”.
As
técnicas... que garantem a eficácia de um “serviço” de resgate
pertencem à dimensão das subjetividades dos resgatistas. São, antes de
tudo, técnicas-de-si modificadoras das próprias subjetividades e
resultantes de formas de subjetivação (sujeição...) exteriores
(incluindo o próprio sofrimento). Trata-se de um processo histórico de
imersão numa atividade de trabalho peculiar (resgate), mediante o qual
essas formas... produzem, modelam e conformam (processos de
subjetivação) as subjetividades, culminando com os estágios da
dessensibilização e da construção consciente de sentido para o
sofrimento gerado pelo trabalho de resgatar vítimas. Isso é que viabiliza
o exercício da atividade na “normalidade”, com eficácia e “qualidade”.
Conclui-se, portanto, que defesa contra o sofrimento e
consciência não são instâncias mutuamente excludentes, mas sim
mutuamente construtivas. Em outras palavras, a defesa contra o
sofrimento no trabalho é conscientemente construída, de forma voluntária e
intencional, pelos trabalhadores. A construção de sentido para o
sofrimento é um meio consciente de viabilizar a própria atividade. Para
continuar trabalhando no contexto pautado pela dimensão do trágico, com
toda angústia, ansiedade, dor e sofrimento que ela agrega, a “saída”
encontrada pelo trabalhador para se adaptar e continuar “trabalhando
normalmente” é construir sentido para o que se situa no campo do
imprevisto, do trágico, do irracional. Constrói-se sentido e
dessensibiliza-se para ser eficaz, servir com qualidade, garantir o
trabalho num serviço de vida ou morte.
Uma nova
compreensão do sofrimento psíquico, então, emergiu da orientação dada aos
trabalhos de pesquisa efetuados com as equipes de resgate. Observou-se,
neste caso, que o sofrimento reflete-se na consciência do trabalhador,
sendo percebido e interiorizado, gerando modificações no prisma de visão
de mundo, refletidas inclusive na vida exterior ao trabalho.
Longe de
encontrar mecanismos de defesa, surgiu, no horizonte das investigações,
uma espécie de “subversão consciente” do sofrimento via “técnicas de si”.
O sofrimento ora se apresenta em um novo contexto diferente daquele em que
figuravam mecanismos inconscientes e coletivos de defesa do aparelho
psíquico e de negação dos riscos da atividade.
O que se
constatou, por ora, foi um trabalhador dotado de percepção e de plena
consciência das causas de seu sofrimento no trabalho e dos meios (técnicas)
de adaptação à atividade.
Um
contexto, portanto, de tomada de consciência plena e adoção intencional da
atitude de subversão voltada para a própria interioridade (aqui, com a
conotação de subjetividade, consciência de si...). A defesa do
funcionamento psíquico surge, nesse contexto, pelo emprego dessas
técnicas... voltadas para si, destinadas também a uma construção de
sentido. Trata-se, portanto, de uma real “estratégia
defensiva”, bem consciente e individual, para aquilo que não há como
ser mudado na realidade do trabalho concreto no asfalto.
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Nota
sobre o autor
Gilbert
Cardoso Bouyer
é doutorando em Ergonomia pela Universidadse de São Paulo, mestre em
Ergonomia pela Universidade Federal de Minas Gerais; professor da
Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil. Contato:
gilbertcb@uol.com.br
Laerte
Idal Sznelwar
é Doutor em Ergonomia (pelo CNAM, França), Professor Adjunto do
Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, Brasil. Contato:
laertesz@usp.br
Maria José
Birro Costa
é Psicóloga clínica, especialista em Saúde Mental e Trabalho e Mestre em
Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil.
Contato:
mjbirro@terra.com.br
Data de recebimento: 02/12/2005
Data de aceite: 30/06/2006
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Memorandum 11, out/2006
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP
-
ISSN 1676-1669
-
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a11/bouyer01.htm