Safra, G. (2001) Rei, Sacerdote, Profeta: historicidade, religiosidade e subjetividade. Memorandum, 1, 33-40. Retirado em   /  /  , do World Wide Web: http://www.fafich.ufmg.br/ ~memorandum/ artigos01/ safra01.htm.

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Nota Bene: o presente artigo foi concebido em um âmbito de debate, estabelecendo analogias e diferenças entre horizontes culturais diversos. Sugere-se a leitura confrontada de três artigos publicados neste número 1 da revista Memorandum: "Empenhado na mudança do milênio: identidade, história e profecia em uma comunidade rural tradicional", "Identidade, Tempo, Profecia na Visão de Padre Antônio Vieira", "Rei, Sacerdote, Profeta: historicidade, religiosidade e subjetividade".
 
 
Rei, Sacerdote, Profeta:
historicidade, religiosidade e subjetividade
 
King, Priest, Prophet: history, religiosity and subjectivity
 
Gilberto Safra
Instituto de Psicologia da USP
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Brasil
 

Resumo

Vladimir Solovyov (1853-1900), pensador russo, desenvolveu um sistema de pensamento, no qual não há distinção entre filosofia e religião, já que para ele não era possível enfocar o ser humano sem levar em conta a sua busca pelo divino. Solovyov nos auxilia a discutir a subjetividade humana a partir das concepções de historicidade e de sagrado como vértices organizadores do self. Neste trabalho, estaremos utilizando essas perspectivas a fim de discutirmos a subjetividade de Zé Leal, habitante do Morro Vermelho, Minas Gerais, usando entrevista feita por Prof. Dr. Miguel Mahfoud. Solovyov afirma que a singularidade de uma pessoa é a hipóstase da história da natureza humana. Zé Leal apresenta uma subjetividade em que essa perspectiva é flagrante. Nela o tempo é vivido existencialmente, de maneira que a história é sempre re-apresentada e re-significada pelas pessoas que fazem parte dela.

Palavras chaves: senso religioso; self; Soloyov; teologia bizantina.

Abstract

Vladimir Solovyov (1853-1900), russian thinker, developed a thought system, in which there is not distinction between philosophy and religion, for him it was not possible to focus the human being without considering his search for the divine. Solovyov helps us to discuss the human subjectivity with the historicity conceptions and with the sense of sacred as organizing elements of the self. In this work, we will use these perspectives in order to discuss Zé Leal's subjectivity, inhabitant of Morro Vermelho, Minas Gerais, using the interview made by Miguel Mahfoud, PhD, in 12/12/1999. Solovyov points that the person's singularity is the hypostasis of the history of the human nature. Zé Leal lives his personality as hypostasis of his ancestral's life. That kind of personality happens in a sense of existential time, when the history is always re-presented and re-signified by the people that are part of it.

Keywords: religious sense; self; Solovyov; Byzantine Theology.

 

Esse trabalho procurará comentar o depoimento de Zé Leal, habitante de Morro Vermelho, Minas Gerais, a partir da entrevista realizada pelo Prof. Dr. Miguel Mahfoud, em 12/12/1999. Para realizar esse objetivo irei utilizar as formulações que venho desenvolvendo sobre a constituição do self, a partir da clínica psicanalítica em diálogo com Donald Winnicott (1896-1971) e a filosofia russa, principalmente com o filósofo Vladimir Solovyov (1853-1900).

Winnicott, psicanalista inglês, dizia que o homem é um exemplar do tempo. Mas o que é tempo para o ser humano? Desde o início de sua vida o indivíduo confronta-se com o sentido de temporalidade, ora como algo alheio ao seu sentido de ser, ora como um elemento sintônico ao ritmo que inaugura uma subjetividade. O homem vive no tempo, relaciona-se com o tempo, é tempo. É freqüente encontrarmos pessoas que fazem do tempo um ser devorador, um ser que ameaça com a finitude da existência humana. No entanto, o ser humano amadurece com suas experiências ao longo do tempo e nesse processo "Cronos" torna-se elemento amigo. Rumi (séc. XIII), pensador persa, afirmava que embora o ramo parecesse ser a causa do fruto, o fruto era na verdade a causa do ramo. Temos nestas colocações a consciência de que o ser humano busca a maturação e a realização de si mesmo. É nesse processo que o indivíduo acontece no mundo de maneira singular.

Há diferentes sentidos de tempo para o ser humano: o tempo cósmico, o tempo histórico, o tempo existencial (Berdyaev, 1944). O tempo cósmico caracteriza-se pelo movimento cíclico e rítmico, esse é o tempo da morte que aparenta o ser humano com os fenômenos naturais e coloca-o sobre o determinismo da necessidade. O tempo histórico é fruto da ação humana, fundada na liberdade, constituindo o gesto humano como criativo. O ser humano cria obras que atravessam gerações superando dessa maneira o reino da necessidade e da determinação. O tempo existencial é aquele que se apresenta ao homem em termos do "eterno agora" e a ação humana nesse registro de temporalidade liberta-se do tempo cósmico e histórico, supera a determinação. Paradoxalmente, com a ação no tempo existencial o homem coloca o seu fruto no registro histórico. O tempo existencial é o tempo do SER, em que o ser humano vive o fruir do agora. No momento da experiência existencial a pessoa não se coloca as facetas do passado, do presente e do futuro, isso só é feito a posteriori. É no tempo existencial que também acontecem as experiências do sagrado, nas quais o momento é parte de um tempo sacralizado e o gesto se faz litúrgico. Dessa forma, a ação humana é experimentada como abrindo a possibilidade do Divino acontecer no mundo: ação que abre o lugar da epifania! Com Winnicott estaríamos frente o gesto constitutivo do ser, em Solovyov a ação que abre a experiência sagrada, o momento em que reverbera o ser.

Zé Leal, habitante de Morro Vermelho, Minas Gerais, entrevistado pelo Prof. Dr. Miguel Mahfoud (cf. Mahfoud, 2001), nos brinda, por meio de suas experiências e concepções, com esclarecimentos fecundos quanto às vivências de temporalidade e de constituição do ser humano em experiência de sacralidade.

A comunidade de Morro Vermelho vive de maneira em que o registro do sagrado é fundante. Tudo acontece em tempo, e lugar sagrado. As vidas das pessoas acontecem ao redor da Igreja e das datas religiosas. Essa é uma maneira de conceber a vida bastante distante daquela que conhecemos e que caracteriza o mundo ocidental na pós-modernidade. A fim de refletir sobre essa modalidade de experiência introduzirei um conceito discutido pelo filósofo russo Vladimir Solovyov (1853-1900). Ele desenvolveu um sistema de pensamento, a partir da Teologia Bizantina (1) e da filosofia russa, no qual não há distinção entre filosofia e religião, já que para ele não era possível enfocar o ser humano sem levar em conta a sua busca pelo divino.

Solovyov pode nos auxiliar a discutir a subjetividade humana a partir das concepções de historicidade e de sagrado como vértices organizadores da personalidade do ser humano. Referindo-se à consciência religiosa ele assinala a necessidade de estudarmos a fé religiosa, a experiência religiosa e o pensamento religioso de alguém, para compreendermos a subjetividade e a consciência religiosa dessa pessoa. Ele nos re-apresenta o conceito de sobornost (2) em que a singularidade de uma pessoa é a hipóstase da história da natureza humana. Zé Leal apresenta uma subjetividade em que essa perspectiva é flagrante, ele vive a sua personalidade como hipóstase da vida de seus ancestrais. Ele vive com a consciência profunda de que ele é parte de sua geração e de que ela tem uma missão frente às anteriores, em relação aos ancestrais e também frente aos que virão. Se a história aqui é sagrada, a ação humana perpetua o registro da sacralidade de toda uma comunidade. É nessa perspectiva que Zé Leal compreende o seu destino e o destino de seu povo. Essa forma de subjetivação coloca um modo de temporalização em que o tempo acontece no eterno-agora, de maneira que a história é sempre re-apresentada e re-significada pelas pessoas que fazem parte dela. Assim cada ação humana é ação litúrgica: revela a sacralidade do viver humano. Esse tipo de visão contrasta com a maneira como o mundo ocidental concebe a vida humana. Entre nós o que impera é o individualismo e cada pessoa vive desenraizada de seus ancestrais e de seus contemporâneos levando à dessacralização, não só do cotidiano, mas também da vida humana. A pessoa é reificada, a natureza humana se esgarça e a violência no cotidiano revela o não-sentido da vida na atualidade. São fenômenos que começaram a surgir, principalmente, a partir do racionalismo e da revolução industrial, onde se origina uma concepção de indivíduo como um ser isolado, levando ao aparecimento de noções de funcionamento como paradigma de entendimento da psicologia humana. O homem fica aparentado com as máquinas. Essa concepção de indivíduo leva à compreensão do ser humano simplesmente como força de trabalho.

O homem é história; não existe a pessoa singular sem os seus ancestrais. Cada ser humano é a singularização da história do homem e apresenta em sua vida o que é a construção de muitos. Zé Leal vendo-se como parte da história das gerações entende a sua ação como participante e criando a história sagrada de Morro Vermelho.

Solovyov afirmava que cada individualidade humana é chamada a ser rei, sacerdote e profeta. Rei, pois a vida de cada sujeito humano se assenta na liberdade sobre a qual a sua ação criativa rege e abre o seu mundo pessoal. Cada pessoa o constitui e o administra segundo suas escolhas e possibilidades, participando da construção de seu destino em comunidade com os outros humanos. Sacerdote, pois a mesma ação que rege o mundo pessoal abre o espaço sagrado, de maneira que o gesto humano é ação litúrgica instaurando o fenômeno sacro na história da comunidade. Vejamos como Zé Leal explicita essa questão em sua fala:

A gente tá pensando de oito até meia-noite a gente vai fazer tipo um louvor e vigília ao Santíssimo Sacramento. De oito a meia-noite. Meia-noite vai instalar a cruz, eu já andei conversando com o marceneiro, estão fazendo uma cruz, e essa cruz agora, nós tamo com a idéia de datar ela, datar assim 2000. Porque é aquilo que eu falo, o Morro Vermelho, ele, ele, nós não temo data de início dele. Quer dizer, então, com essa passagem agora do, do, para o 2000, se Deus quiser, né?, nós vamos ter data; quer dizer uma data de como é começando, tipo assim, 2000. Então chega ano que vem, a gente faz uma festa de novo, aí passa 2001, então nós vamos ter... Eu falo na cruz calendário, agora que existe calendário. Quer dizer, pra ser um trabalho de nossa geração, né? Todo ano fazer esse capricho de trocar o número. Então, eu tava imaginando aí como é que eu fazia essa cruz calendário. Aí o marceneiro já me deu uma pista, que ele falou assim, ó: "a gente faz ela normal, aí fura ela e vai pondo um número, esse número que a gente conta; quer dizer, aí assim vai trocando ele". Então eu achei isso importante e fácil de fazer, né? Tipo assim, agora nós como 2000, quando for, se Deus quiser, ano que vem, aí a gente tira o zero e põe 2001. E assim por diante. Aí ela vai ficar como uma cruz calendária. A gente não vai deixar ela como aquela que a gente fala que os nossos antepassados fizeram, né? por na entrada do século 900, século XX, mas num, num datou ela. E essa minha, eu tô mais audacioso: eu quero ela, classificá-la de cruz calendário. Pra gente ir comandando as datas do novo milênio, é doravante, né?, se Deus quiser.

Zé Leal anseia instalar a Cruz, uma Cruz calendária. Essa é uma ação que repete os feitos dos ancestrais – celebração sacra do milênio, gesto litúrgico que insere a geração de Zé Leal na história da comunidade.

O homem eventualmente se faz profeta, segundo Solovyov, pois aquele que é hipóstase da história de sua comunidade pressente o futuro de seu povo em sua interioridade. Dessa forma, a ação presente semeia o germe do amanhã. Também nessa perspectiva Zé Leal explicita a sua experiência quando afirma:

Ô, Miguel, vez em quando eu falo assim que eu sou um homem de visão. Visão é o seguinte: ou seja visão é ocê enxerga longe, enxerga um pouco o amanhã, né? Que vez em quando, eu uso falar com... assim: o ontem a gente viu, o hoje a gente vê e o amanhã, a gente prevê. Então, por exemplo, o povo num, num sabe muito distinguir, tipo assim, no Velho Testamento, principalmente, Deus escolhia um homem pra ser o profeta no meio daquele povo lá. Então o profeta ficava falando coisas que ainda ia acontecer de bom para o povo, outra hora é de castigo, né?, se o povo num mudasse de vida; mas o povo não levava isso muito em conta, o que os profetas falavam, né?, mas no final... Tipo eu baseei muito no profeta Isaías, principalmente, que ele profetizava que a Virgem iria dar à luz a um filho, né? Quer dizer, pra todo mundo, se pensar assim, era uma coisa de gente que num sabia nada do que tava falando, né?: "Ah, a Virgem vai dar uma luz, vai gerando um filho, e permanecer virgem". Quer dizer, ele fala, quer dizer, essa Virgem vem quando... Quer dizer, o profeta Isaías é do Velho Testamento. O que ele falou foi acontecer no Novo, que é Nossa Senhora, né? que deu à luz a Jesus Cristo. Então, o que ele andou falando, foi acontecer no Novo Testamento. Quer dizer, o amanhã, o imprevisto. Então, vez em quando eu falo isso. É, eu tenho essas características de preparar um pouco o amanhã. O amanhã é assim, a gente vai falando mesmo, mas o povo não vai muito dando crédito àquilo que a gente fala; às vezes fala assim: "Ah, num deve de escutar muito o que o Zé Leal fala não, que tem hora ele fala coisa que (R) com coisa, que no final num, num dá não. Então o povo vê umas coisas... Então, isso aí: é, eu julgo assim; igual o Novo Testamento, por exemplo, esse ato profético, por exemplo, nós já recebemos ele é no batismo; é o contrário do Velho Testamento. O Velho Testamento deu um... pra ser o profeta, né? E no Novo Testamento, ao sermos batizados, Jesus já nos dá o dom, que os padres mesmo falam: após ser batizado, nós recebemos o perdão. Sacerdote, profeta e rei. Quer dizer, então, é um dom que Deus tem; é pra gente preparar o amanhã. Esse amanhã, eu sou um dos que anda falando muito nele aí e o povo mesmo pouco; dá muito, dá muito pouca atenção no que a gente fala, porque o amanhã, a gente num sabe o que vai acontecer. Mas, Deus que... E eu tenho uma convicção que, nessa mudança, Deus vai fazer uma seleção de povos. Vai fazer seleção de povos. Quer dizer, aqueles que souber ouvir Deus, né? Ele será protegido, mas eu tenho uma impressão que tem uma mudança radical nesse novo milênio. Não deva ser agora no 2000, porque o 2000 ainda é falho de apuração: a tudo poderá acontecer é do 2001 pra frente. Mas o 2000 já é alguma coisa de extraordinário, vão se chegando, a gente passando, se Deus quiser, né? de um século para o outro, começando um novo ano. Eu mesmo eu tô trabalhando para acontecer, se Deus quiser, coisas boas, né?

Pela ação litúrgica, o fazer do sacerdote; pelo prever, profetizando, Zé Leal anseia cooperar com o fim da história, buscando um mundo redimido em que o sagrado e o profano deixem de existir como categorias. Zé Leal faz teologia: o mundo, para ele é lugar decaído pela ação pecaminosa do homem. Morro Vermelho é a origem, lugar sagrado por excelência, vértice a partir do qual o mundo pode ser redimido. Essa é a visão de Zé Leal.

É interessante observar como as perspectivas do sagrado em Zé Leal aproximam-se das concepções da teologia bizantina. Esta apresenta uma visão em que Deus é transcendente em sua essência e imanente em suas energias, de modo que, Deus contém o mundo, sem estar contido nele. Trata-se de uma perspectiva teológica em que o paradigma da criação, da cultura, da vida humana é a ação litúrgica. Nela o homem é co-criador com Deus, o fato decorrente desse vértice é que tudo que leva o espírito humano perto da verdade entrará no Reino Divino. Tudo que o homem expressa na arte, descobre na ciência, na vida, será integrado ao Reino. Quando a cultura encontra sua origem litúrgica, mesmo ocorrendo fora da liturgia propriamente dita, adquire o registro do sagrado.

O paradigma fundamental dessa teologia é o ícone, assim a cultura terrena é o ícone do Reino dos Céus. Perder a ação e o olhar que tornam sacro o viver humano é perder a própria natureza humana. Dostoievski (1995) dizia que se o homem perdesse sua fé na possibilidade de ser integrado no Divino, perderia até mesmo sua forma externa.

O homem bizantino cultiva a natureza, nomeia os seres e as coisas e os humaniza. A relação do homem com o criador é constitutiva de seu próprio ser.

São Máximo, o Confessor, (1985) afirma que a natureza é investida de energias e trazem certa condensação do mundo espiritual. A matéria é epifenômeno do espírito. Visão que se aproxima das formulações de Mircea Eliade.

Gregório Palamas (1983) comenta que o homem eleva a si mesmo sem ser separado da matéria, que o acompanha desde o início. Toda a vida humana, no mundo, na matéria é litúrgica. Um pedaço de ser transforma-se em hierofania, em epifania do sagrado. Na aparência nada mudou, mas em níveis profundos há uma interpenetração do princípio santificador e do objeto.

A noção de sagrado aqui se articula na noção de participação. Nada no mundo é sagrado exceto por participação. A ação humana sendo litúrgica possibilita que todo o cosmos possa ser sacralizado.

As questões levantadas por Zé Leal são essenciais para refletirmos sobre a nossa situação cultural. Nela o sentido de sacralidade é rompido e essa perda leva o homem à perda de aspectos fundamentais ao devir de seu self. Trata-se de uma situação que, em seu extremo, pode levar à coisificação da pessoa humana, à perda da criatividade primária e à cisão entre a capacidade de criar imagens subjetivas - a imaginação - e a capacidade discursiva, necessária ao pensamento lógico. Como parte desse processo surgem em nosso meio novas formas de sofrimento psíquico decorrentes do esfacelamento da natureza humana. Para aqueles que sofrem esse tipo de evento a vida transforma-se em um perambular sem rumo, onde a beleza da experiência humana se esvai. Zé Leal nos convida a um olhar sobre o mundo que desvela o sagrado, o belo, o constitutivo em um único gesto: homem litúrgico!

Referências Bibliográficas:

Berdyaev, N. (1944). Slavery and Freedom. (R. M. French, Trad.). New York: Charles Scribner’s Sons.

Dostoievski, F. M. (1995). Os Irmãos Karamazov (O. Mendes, Trad.). Rio de Janeiro: Aguillar.

Mahfoud, M. (2001). Empenhado na mudança do milênio: identidade, história e profecia em uma comunidade rural tradicional. Memorandum, 1, 2-12.

Máximo Confessor (1985). Maximus Confessor-Selected Writings. (G. C. Berthold, Trad.). New York: Paulist Press.

Palamas, G. (1983). The Triads (N. Gendle, Trad.). New Jersey: Paulist Press.

Khomiakov, A. (1998). The Church is one. On spiritual unity. A slavophile reader (B. Jakim, Trad.). New York: Lindisfarne Books.

Solovyov, V. (1914). Cheteniya o Bogochelovechesteve. Sobraniye sochineni. [Conferências sobre a Divina Humanidade]. St, Petersburg.

Notas

(1) A Teologia bizantina têm como alegoria fundamental a águia de duas cabeças, representando o poder temporal e religioso em um único corpo. Na arte esse princípio aparece no ícone, pedaço do mundo transfigurado pela graça. O mundano e o profano aqui tendem a serem superados como categoria, já que o que a religiosidade bizantina almeja é a sacralização da vida em sua totalidade. A sensorialidade é presença do sagrado. Os teólogos bizantinos crêem dessa forma com a ação criativa humana participar da Ressurreição do Cristo. Essa é a razão porque nas igrejas orientais cristãs a Festa da Ressurreição é a principal comemoração religiosa. Essa perspectiva diferencia-se das assumidas por outras vertentes do cristianismo. Por exemplo, a noção de mundo transfigurado pelo divino não é esposada pelo protestantismo, que se divorcia das imagens e adota uma concepção cristã mais transcendente, próxima do vértice religioso do antigo testamento. Na igreja romana, houve uma ênfase na Paixão do Cristo, abrindo às portas para um desenvolvimento de uma religiosidade mais ascética, com orientação mais platônica, em que a sensorialidade precisa ser superada. (voltar)

(2) O conceito de sobornost é fundamental da filosofia russa, foi formulado pela primeira vez no séc XVIII por Khomiakov (1846) que o definiu como a unidade de todos os seres humanos na liberdade, essa unidade implica na preservação da singularidade de cada ser humano. Sobor em russo é a raiz que traz o significado de assembléia, de comunhão, de associação. Nesse trabalho optei em não traduzir o conceito para o português. Preferi seguir a maneira como esse conceito vem sendo tratado na literatura acadêmica ao redor do mundo. O termo é preservado em russo transliterado, em texto na língua francesa, inglesa, alemã e espanhola. Esse procedimento é utilizado porque o termo sobornost é de difícil tradução está tão inserido na cosmovisão russa que os diferentes autores têm preferido mantê-lo em russo. (voltar)

Nota sobre o autor

Psicólogo, doutor em psicologia, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil.

 

Data de recebimento: 24/09/2001
Data de aceite: 23/10/2001
 
Memorandum, Out/2001
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP. 
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos01/ safra01.htm

 

 

 

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