Nepomuceno, D.M. & Campos, R.H.F.(2004). Fontes para difusão das idéias
psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e 1930. Memorandum, 6,
114-123. Retirado em / / da World Wide Web: http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos06/nepcampos01.htm
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Fontes para
difusão das idéias psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e 1930
Sources for the diffusion of
psychological ideas in Minas Gerais from 1830 to 1930
Denise
Maria Nepomuceno
Regina Helena de Freitas Campos
Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil
Resumo
Essa pesquisa apresenta um levantamento bibliográfico de fontes de
difusão das idéias psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e
1930. As palavras-chave utilizadas foram: psicologia,
psychologia, moral, moraes, moralidade, hygiene,
higiene, aluno, estudante, alumnos, professor, mestre,
educador, manual, programas, programmas, inteligência,
instrução, educação e escola. Bibliotecas pesquisadas: Arquivo
Público Mineiro, Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa,
Sistema de Bibliotecas da UFMG e suas Coleções especiais,
Biblioteca da UFSJ e suas obras raras, Biblioteca Municipal de
São João Del Rey e Sistema de Bibliotecas da PUC-MG. Os 244
títulos localizados foram analisados por idioma, acervos e
datas. O acervo com o maior número de títulos foi a Biblioteca
Pública, com 53,79% da pesquisa bibliográfica. Os idiomas
encontrados foram o francês, português, espanhol e inglês. O
número de publicações aumenta a partir de 1920, o que pode ser
explicado pelas reformas de ensino então realizadas e pelo
próprio desenvolvimento cultural do país.
Palavras-chave:
fontes;
história da psicologia;
Minas Gerais. |
Abstract
Bibliographical search of sources for the diffusion of
psychological ideas in Minas Gerais (1830-1930). The keywords
used were: psychology, psychologia, moral, morality, hygiene,
student, alumnae, teacher, master, educator, manual, programs,
syllabus, intelligence, instruction, education and school. The
libraries chosen were: Minas Gerais Public Archives, State of
Minas Gerais Public Library, System of Libraries of the Federal
University of Minas Gerais and their Special Collections,
Library of the Federal University of São João Del Rey, City
Library of São João Del Rey and System of Libraries of the
Catholic University of Minas Gerais. The 244 titles that were
found were analyzed according to language, date of publication
and collection to which each of them belongs. The number of
publications increases from 1920 onwards, and this can be
explained by the educational reforms then enforced and by the
cultural development of the country.
Keywords:
sources; history of psychology; Minas Gerais. |
-
Esta pesquisa teve por objetivo fazer o
levantamento bibliográfico de fontes de difusão das idéias psicológicas
em Minas Gerais entre 1830 e 1930, visando a elaboração de um catálogo
de fontes primárias
(1)
para a
historiografia da Psicologia em Minas Gerais. Considera-se que idéias
psicológicas são conceitos relacionados à descrição e/ou interpretação
da natureza humana em seus aspectos psicológicos, isto é, relativos ao
funcionamento da mente, do pensamento e dos afetos, elaborados no
período anterior ao advento da psicologia científica, antes do final do
século XIX. Fazem parte também do campo das idéias psicológicas a
psicologia filosófica e a própria psicologia científica. Assim, o
conceito “idéias psicológicas” é um conceito genérico, destinado a
delimitar o campo de reflexão e de elaboração de diferentes concepções
sobre o psicológico ao longo da história da cultura.
O período escolhido para o levantamento
bibliográfico coincide com o período institucional de desenvolvimento e
difusão de teorias psicológicas no Brasil, que, segundo Pessotti (1988),
inicia-se no século XIX, logo após a Independência, e termina no final da
década de 1920. O que caracteriza este período é a instalação das
primeiras instituições de ensino superior no país, nas áreas do Direito e
da Medicina, e de uma rede de escolas normais e de instituições de
assistência à saúde mental. Nessas instituições é que o ensino de
conteúdos relacionados à psicologia se inicia, especialmente nas
Faculdades de Medicina e escolas normais, enquanto a psicologia filosófica
é ensinada sobretudo nos seminários (Massimi, 1990). Em Minas Gerais, este
padrão será também observado: ensino de conteúdos relacionados à
psicologia nos seminários e escolas normais durante o século XIX, e, a
partir da fundação das primeiras escolas de nível superior, nas áreas do
Direito (1892) e da Medicina (1911), as idéias psicológicas são difundidas
nos cursos de Criminologia e de Psiquiatria (Campos, 1992; Assis, 2004).
Trata-se de uma pesquisa de orientação internalista,
pois focaliza-se a evolução dessa área de conhecimento e de investigação
científica a partir das contribuições originais dos autores. Segundo
Massimi, Campos e Brozek (1996), essa leitura historiográfica é “...sem
dúvida muito fecunda, sobretudo ao evidenciar os problemas teóricos
fundamentais da psicologia moderna e ao proporcionar uma leitura
epistemológica da evolução histórica da Psicologia” (p.45).
A escolha de Minas Gerais como foco da pesquisa se
justifica pela grande expressão que a vida intelectual mineira teve no
contexto brasileiro, pelo menos desde fins do século XVIII. Assim, pode-se
considerar que o ensino da Psicologia filosófica ou da nascente Psicologia
científica nas escolas mineiras, ao longo do século XIX e início do século
XX, é representativo da situação do ensino nos demais estados brasileiros
no período, pelo menos nos núcleos mais urbanizados.
Rodrigues (1986) caracteriza o desenvolvimento
cultural mineiro, na primeira metade do século XIX, como uma referência no
processo de formação da consciência da nacionalidade brasileira. Durante o
ciclo do ouro, formou-se uma civilização urbana em Minas, caracterizada
por um
povo que se
reunia em irmandades e corporações de ofícios, (...) representado no
Senado da Câmara, (...) que pagava impostos, que via diante de si juízes e
soldados, povo que era “repúblico”, pois a coisa pública estava presente,
e muito latinamente num Senado a construir chafarizes como se fora Roma.
(Torres, s/d, citado por Rodrigues, 1986, p.23).
O mesmo autor, em pesquisa nos jornais provinciais
da época, dá conta da existência de cadeiras de Filosofia Racional e Moral
nas Escolas Régias Mineiras, desde o início do século XIX, em Mariana, a
partir de 1828 em Ouro Preto, em 1830 em São João Del Rey. Em 1841,
existiam 9 cadeiras de Filosofia funcionando no Estado (Rodrigues, 1986,
p.39). A partir de 1850 criam-se colégios leigos em Diamantina, Barbacena,
Sabará, Baependi, São João Del Rey, Mariana e Ouro Preto, onde o ensino da
Filosofia abriga a difusão de idéias psicológicas. Também nos Seminários
de Mariana, Diamantina e do Caraça o ensino da Filosofia estará presente.
No decorrer do século XIX, a principal influência
filosófica em Minas Gerais provém da corrente de pensamento denominada em
Portugal de “empirismo mitigado”. Trata-se “de uma tentativa de conciliar
o empirismo ao racionalismo, evitando tanto os excessos do sensualismo
quanto as dificuldades do pensamento racionalista” (Campos, 1992, p.22).
Essa orientação eclética visava conciliar o pensamento tradicionalista
católico com os princípios empiristas.
Em obras filosóficas dessa época, foram encontrados
livros que tratam especialmente da Psicologia, como o livro de José
Antonio dos Santos, Esqueleto das Faculdades e Origem das Idéias do
Espírito Humano (1845), e o livro de R. J. Ferreira Bretas, Novo
Esqueleto das Faculdades e origem das idéias do espírito humano
(1854). Com abordagens diferentes os autores dedicam-se principalmente ao
estudo das faculdades, da moral e da ética.
Em termos gerais, o período de 1830 a 1930 se
caracteriza, no Brasil, pela elaboração de produções intelectuais locais
nas Faculdades de Medicina de Salvador e do Rio de Janeiro, relatadas nas
teses de final de curso elaboradas pelos estudantes, e pela difusão da
Psicologia nas escolas normais e seminários. Ao longo do século XIX, temas
psicológicos são ensinados aos futuros professores primários como parte
das disciplinas de Pedagogia e de Higiene, ou nas áreas de educação
intelectual e moral. A partir de 1916, a matéria “psicologia infantil”
passa a integrar explicitamente a cadeira de Pedagogia e Higiene (Boschi,
2000). Em 1925, a Psicologia torna-se uma cadeira autônoma, no Curso
Normal, com programa voltado para o estudo do desenvolvimento
psicofisiológico, intelectual, sócio-afetivo e moral. Com a reforma de
ensino de 1927/28 (Reforma Francisco Campos), a cadeira é desdobrada em
Psicologia Infantil e Higiene Escolar, para o Curso Normal de 1º
Grau, e Psicologia Educacional (em dois anos), para o 2º Grau,
com previsão de exercícios práticos de aplicação dos conhecimentos
psicológicos visando “melhor conhecimento do aluno”, como propunha Édouard
Claparède (1873-1940) (Boschi, 2000; Nepomuceno, 2002).
Método
A consulta à literatura secundária permitiu
selecionar inicialmente alguns títulos. Entre os livros mencionados por
Rodrigues (1986) como referências importantes no ensino de Filosofia em
Minas Gerais. Como representativos do debate filosófico ocorrido em Minas
no século XIX, são de especial interesse para o estudo das idéias
psicológicas os seguintes volumes:
·
Verney, Luís Antonio (1713-1792). Verdadeiro método de
estudar. Lisboa: Sá da Costa, 1950 (reedição crítica organizada por
Antonio Salgado Júnior do clássico editado em Nápoles, em 1746. O original
parece ter sido amplamente difundido em Portugal, nos séculos XVIII e XIX,
e no Brasil, no século XIX, como introdução às idéias iluministas);
·
Bretas, Rodrigo José Ferreira (1815-1866). Novo
Esqueleto das Faculdades e origem das idéias do espírito humano, segundo
os princípios de Mr. Laromiguière ou da psychologia vigente. Ouro
Preto: Typographia do Bom Senso, 1854.
·
Genovesi, Antonio (1713-1769, conhecido como “O Genuense”).
As Instituições da Lógica. Rio de Janeiro: Documentário, PUC-RJ;
Brasília: Conselho Federal de Cultura, 1977 (reedição da obra As
instituições da lógica, traduzida do original italiano por Miguel
Cardoso e editada pela Real Impressão da Universidade de Coimbra em 1786.
Na edição portuguesa o nome do autor (Genovesi) aparece como Antonio
Genuense. A obra parece ter sido indicada pelo Marquês de Pombal como
leitura introdutória à ciência moderna aos alunos da Universidade de
Coimbra. Através de estudantes brasileiros em Coimbra, a obra chegou ao
Brasil);
·
Santos, José Antonio dos. Esqueleto das Faculdades e
Origem das Idéias do Espírito Humano. Mariana: Typographia Episcopal,
1847.
·
Santos, Joaquim Felício dos (1828-1895). Ensaios
filosóficos. Rio de Janeiro: Tipografia da Gazeta da Noite, 1880.
·
Americus (Miguel Calmon Du Pin, 1794-1865). Idéias
elementares sob um sistema de educação nacional. O Universal.
1826
(n. 90, 10
de fevereiro, p. 360; n. 92, 15 de fevereiro, p. 367-368; n. 93, 17 de
fevereiro, p. 371-372; n. 94, 20 de fevereiro, p. 376; n. 95, 22 de
fevereiro, p. 379-380; n. 96, 24 de fevereiro, p. 389-384; n. 97, 27 de
fevereiro, p. 387-388; n. 98, 1 de março, p. 391-392; n. 99, 3 de março,
p. 394-396).
·
Franco, Augusto (1876-1906). Estudos e escritos.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1906.
Outros títulos, desta vez representativos da
psicologia científica, parecem ter integrado as bibliotecas dos
professores mineiros nas primeiras décadas do século XX. A Profª Alexina
de Magalhães Pinto preparou em 1907 uma Lista de Bons Livros, de
acordo com os programas de instrução pública mineiros, para uso dos
educadores. A lista foi reeditada em 1908 e 1912 (Magalhães Pinto, 1912),
e dela constam, na área da Psicologia, alguns títulos, com referências um
pouco incompletas. No quadro abaixo reproduzimos a referência como consta
na Lista, seguida da obra à qual provavelmente se refere:
Quadro
I:
Referências bibliográficas em Psicologia listadas por Magalhães Pinto
(1912), títulos aos quais se referem, e dados sobre os autores.
Constam
ainda da bibliografia sugerida as biografias de Johann Heinrich Pestalozzi
(1746-1827), pedagogo suíço considerado precursor do movimento de
renovação escolar conhecido como “Escola Nova”, e de Horace Man
(1796-1859), conhecida liderança do movimento pela educação pública nos
Estados Unidos da América, no século XIX. São citadas as biografias
elaboradas por Jules-Gabriel Compayré (1843-1913), Auguste Pinloche
(1856-?) e Roger de Guimps (1802-1894), provavelmente as seguintes:
Compayré, Gabriel (1902) Les grands éducateurs. Pestalozzi et
l´éducation élémentaire. Paris: P. Delaplane, 126 p.
Compayré, Gabriel (1907) Les grands éducateurs. Horace Mann et
l´école publique aux États-Unis.
Paris: P. Delaplane, 121 p.
Guimps, Charles-Frédéric-Louis-Roger de (Baron). Histoire de
Pestalozzi, de sa pensée et de son oeuvre, par Roger de Guimps.
Lausanne: G. Bridel, 1874, 548 p.
Pinloche, Auguste (1856-?).
Pestalozzi et l’éducation populaire
moderne.
Paris: F. Alcan, 1902, 217 p.
A autora
não lista livros em português, “por achar que os livros supramencionados
os substituem com vantagens”. E acrescenta uma observação divertida
(“calo-me para não maldizer”), deixando subentendida a crítica à produção
local (Magalhães Pinto, 1912, p.55-6).
Esses títulos serviram como uma iniciação,
especialmente os livros publicados por Claparède (1873-1940)
(2), no período estudado, para a
seleção de palavras chaves a serem usadas na pesquisa bibliográfica. As
palavras foram as seguintes: psicologia, psychologia, moral,
moraes, moralidade, hygiene, higiene, aluno, estudante,
alumnos, professor, mestre, educador, manual, programas, programmas,
inteligência, instrução, educação, escola e colégio.
O uso de palavras escritas em português arcaico,
como alumnos, se justifica pelo fato de que muitas vezes os
livros, entre 1830 a 1930, são cadastrados por palavras que mantém uma
fidelidade ao original, nesse caso, por exemplo, procurar pelo título
Dissertações moraes, utilizando a palavra moral seria inútil.
As bibliotecas escolhidas para pesquisa, pelo
conteúdo de seus acervos foram: o Arquivo Público Mineiro, a Biblioteca
Pública Estadual Luiz de Bessa (Coleção Mineiriana, Patrimonial e Obras
Raras), Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais e
Coleções especiais da Biblioteca Universitária da UFMG, Biblioteca da
Universidade Federal de São João del Rey e Biblioteca Batista Caetano
(obras raras da UFSJ), Biblioteca Municipal de São João Del Rey,
Biblioteca do Centro de Referência do Professor e Sistemas de Bibliotecas
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
A pesquisa foi feita nos sites das bibliotecas que
possuem acervos informatizados ou em processo de informatização, e em
bases de dados locais, informatizadas ou não.
Resultados
Os resultados foram organizados em listas. Cada
busca bibliográfica nos diferentes acervos resultou em uma lista de
títulos em ordem alfabética. No final da pesquisa, organizou-se uma grande
lista em ordem cronológica com todos os títulos encontrados.
Ao total 264 títulos foram encontrados, sendo que
20 destes se repetiram, resultando portanto 244 títulos originais. O
acervo com maior número de títulos foi o da Biblioteca Pública Estadual
Luiz de Bessa, onde constam 142 exemplares, um total de 53,79% da pesquisa
bibliográfica. O acervo com o menor número de títulos foi o da Biblioteca
Municipal São João Del Rey, com 1,14%. Isto se explica pelo fato de sua
coleção de obras raras, a Biblioteca Batista Caetano, ter sido transferida
para a Universidade Federal de São João Del Rey. No Centro de Referência
do Professor, não foi encontrado nenhum livro para a pesquisa. A tabela
abaixo descreve o número de títulos encontrados em cada acervo e sua
respectiva porcentagem em relação ao número total de títulos da pesquisa
bibliográfica.
Tabela 01: Títulos encontrados por acervo
A próxima análise dos dados refere-se ao idioma
dos títulos encontrados. O gráfico abaixo permite caracterizar por idioma
os títulos localizados em cada acervo
(3).
Gráfico 01: Idioma dos títulos por acervo
Pode-se observar na figura 1, que os idiomas
predominantes são o francês, português, espanhol e inglês. Foram
encontrados também manuais em latim, alemão e italiano, mas em pequena
quantidade.
Em grande
maioria os documentos encontrados estão escritos em francês ou em
português. Na Biblioteca Pública Luiz de Bessa e na Universidade Federal
de São Del Rey encontramos um número maior de volumes em língua francesa,
no primeiro 50% dos títulos encontrados são em francês. Enquanto que, nas
coleções da Biblioteca Universitária da UFMG, no sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal de Minas Gerais, na Biblioteca Municipal de São João
Del Rey, no Arquivo Público Mineiro e no Sistema de Bibliotecas da PUC-MG
o português é o idioma predominante.
Aparentemente esses dados podem sugerir que os
títulos em psicologia de 1830 a 1930 eram, em sua maioria, escritos em
português, mas para essa análise é necessária uma classificação dos
títulos encontrados por idioma ao longo do período especificado, como
mostra a tabela a seguir.
Tabela 02: classificação dos dados por idioma e data.
A tabela acima permite observar a influência de
títulos publicados no exterior na difusão de temas psicológicos em Minas
Gerais entre 1830 e 1930. Para melhor visualização elaborou-se o gráfico a
seguir:
Gráfico 02: freqüência dos idiomas por décadas
Os dados demonstram uma predominância de
publicações em francês, em todo o período considerado, sendo que o número
de livros em francês apresenta crescimento até 1860, sofrendo uma pequena
oscilação e voltando a crescer até 1880. Em uma década, sofre uma queda
brusca, repete o movimento de crescimento e queda, alcançando seu ápice em
1920, onde começa novamente a decrescer.
Os títulos em português, por sua vez, aparecem em
1850, alcançando seu ápice também em 1920. Os outros dois idiomas (inglês
e espanhol), quantitativamente menos expressivos, aparecem somente a
partir de 1900.
Mesmo considerando a possibilidade de que muitos
manuais utilizados na época tenham se perdido ao longo do tempo, pode-se
afirmar que a influência francesa foi significativa na Psicologia mineira
no período delimitado. Medeiros e Albuquerque (1924), afirma na 2ª edição
do livro Testes, um dos livros encontrados na pesquisa, que
“...entre nós, no domínio intellectual, nada entra sinão vindo da França.”
(Medeiros e Albuquerque, 1924, p.8). Apesar disso, os manuais escritos em
português também são significativos no período de 1830 a 1930, resultando
em 36,47% dos títulos encontrados. Deve-se considerar, contudo, que alguns
desses manuais são traduzidos do francês e de outras línguas.
De modo geral, o número de publicações aumenta a
partir de 1920, 31,15% dos títulos são dessa década. Este período coincide
com a expansão dos sistemas de ensino primário, secundário e superior no
estado, e com as reformas educacionais promovidas a partir de 1928 por
Francisco Campos, fortemente influenciadas pelos avanços da Psicologia
científica (Campos, 1980).
Considerações finais
A pesquisa bibliográfica permitiu o levantamento de
um número significativo (244) de fontes primárias para a história da
Psicologia e em particular para história da Psicologia mineira. De modo
geral, verifica-se que a influência francesa em Minas foi predominante em
todo período, como mostra a figura 2, 46,72% dos títulos localizados são
franceses. Mas, uma produção na língua portuguesa também pode ser
observada a partir de 1850. Os títulos em português ganham corpo a partir
de 1890, se comparados aos títulos franceses. Esse é um dado interessante
que vem legitimar, dando uma dimensão quantitativa, um discurso acadêmico
de que no final do século XIX a educação mineira sofreu fortes influências
francesas.
Como um desdobramento dessa pesquisa
(4),
será realizada a leitura dessas fontes com o preenchimento de fichas.
Essas fichas contêm: o número de chamada do documento, sua localização ou
nome acervo, o título, título original (em caso de tradução), nome do
autor (es), nome do tradutor (es) (em caso de tradução), local de edição,
editora, ano de publicação, número de páginas, o sumário da publicação, um
pequeno resumo, dados sobre o autor, caracterização da forma do documento
(se ele é manuscrito, impresso, microfilmado ou outros) e observações.
Esse trabalho nos permitirá o mapeamento mais
detalhado das idéias psicológicas em Minas Gerais no período mencionado,
e, a partir daí, inúmeras inferências sobre as mesmas poderão ser feitas,
podendo inspirar pesquisas mais aprofundadas sobre o movimento das idéias
psicológicas em Minas.
A pesquisa bibliográfica estará disponível na Sala
Helena Antipoff, no 3o andar da Biblioteca Central da
Universidade Federal de Minas Gerais, para aqueles interessados no
assunto, e em breve na internet, no site http://www.bu.ufmg.br.
Referências
bibliográficas
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Iniciativas Editoriais.
Notas
(1) Literatura primária refere-se aos livros originais
em diversos idiomas (Brozek e Guerra, 1996).(volta).
(2) Durante o período dessa pesquisa bibliográfica,
realizamos um estudo mais aprofundando da vida e obra de Édouard Claparède,
o que resultou na monografia Édouard Claparède e a psicologia
experimental: problemas e soluções educacionais (Denise, 2002), sob a
orientação de Regina Helena de Freitas Campos.(volta).
(3)
Siglas dos acervos no eixo x são as seguintes: Coleções da Biblioteca
Universitária da UFMG (BU UFMG), Sistema de bibliotecas da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Biblioteca da Universidade Federal de São
João Del Rey e Biblioteca Batista Caetano - obras raras da UFSJ (UFSJ),
Biblioteca Municipal de São João Del Rey (B. Municipal S.J.D. Rey),
Coleção Mineiriana da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Mineiriana),
Patrimonial da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Patrimonial)
Obras Raras da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Obras raras B.
Pública) Arquivo Público Mineiro (Arquivo Público), e Sistemas de
biblioteca Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC).
(volta).
(4)
A equipe é composta, além das autoras, pela professora da PUC-MG Raquel
Martins de Assis e duas orientadas Fernanda Luiza Simões Rosa e Karine
Teixeira Pedrosa, graduandas em Psicologia na PUC- MG.
(volta).
Nota sobre as autoras
Denise Maria Nepomuceno é
estudante de Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais, bolsista de Iniciação Científica – CNPq. Contato: R. Frei
Cristóvão, 88- João Pinheiro. 30.530-510 Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail:
denisenep@ufmg.br
Regina
Helena de Freitas Campos
é professora de Psicologia da Educação e História da Psicologia na
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista de
pesquisa do CNPq, presidente do Centro de Documentação e Pesquisa Helena
Antipoff. Contato: Rua Professor Saul Macedo 111 – Belvedere. 30320-490
Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail:
regihfc@terra.com.br.
Data de
recebimento: 23/09/2003
Data de aceite: 14/04/2004
Memorandum 6,
abril/2004
Belo
Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP.
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos06/nepcampos01.htm
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