Nepomuceno, D.M. & Campos, R.H.F.(2004). Fontes para difusão das idéias psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e 1930. Memorandum, 6, 114-123. Retirado em    /         /      da World Wide Web: http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos06/nepcampos01.htm

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Fontes para difusão das idéias psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e 1930

Sources for the diffusion of psychological ideas in Minas Gerais from 1830 to 1930

 Denise Maria Nepomuceno
Regina Helena de Freitas Campos
Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil

Resumo

Essa pesquisa apresenta um levantamento bibliográfico de fontes de difusão das idéias psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e 1930. As palavras-chave utilizadas foram: psicologia, psychologia, moral, moraes, moralidade, hygiene, higiene, aluno, estudante, alumnos, professor, mestre, educador, manual, programas, programmas, inteligência, instrução, educação e escola. Bibliotecas pesquisadas: Arquivo Público Mineiro, Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Sistema de Bibliotecas da UFMG e suas Coleções especiais, Biblioteca da UFSJ e suas obras raras, Biblioteca Municipal de São João Del Rey e Sistema de Bibliotecas da PUC-MG. Os 244 títulos localizados foram analisados por idioma, acervos e datas. O acervo com o maior número de títulos foi a Biblioteca Pública, com 53,79% da pesquisa bibliográfica. Os idiomas encontrados foram o francês, português, espanhol e inglês. O número de publicações aumenta a partir de 1920, o que pode ser explicado pelas reformas de ensino então realizadas e pelo próprio desenvolvimento cultural do país.

Palavras-chave: fontes; história da psicologia;
   Minas Gerais.

Abstract

Bibliographical search of sources for the diffusion of psychological ideas in Minas Gerais (1830-1930). The keywords used were: psychology, psychologia, moral, morality, hygiene, student, alumnae, teacher, master, educator, manual, programs, syllabus, intelligence, instruction, education and school. The libraries chosen were: Minas Gerais Public Archives, State of Minas Gerais Public Library, System of Libraries of the Federal University of Minas Gerais and their Special Collections, Library of the Federal University of São João Del Rey, City Library of São João Del Rey and System of Libraries of the Catholic University of Minas Gerais. The 244 titles that were found were analyzed according to language, date of publication and collection to which each of them belongs. The number of publications increases from 1920 onwards, and this can be explained by the educational reforms then enforced and by the cultural development of the country.

Keywords: sources; history of psychology; Minas Gerais.

 

Esta pesquisa teve por objetivo fazer o levantamento bibliográfico de fontes de difusão das idéias psicológicas em Minas Gerais entre 1830 e 1930, visando a elaboração de um catálogo de fontes primárias (1) para a historiografia da Psicologia em Minas Gerais. Considera-se que idéias psicológicas são conceitos relacionados à descrição e/ou interpretação da natureza humana em seus aspectos psicológicos, isto é, relativos ao funcionamento da mente, do pensamento e dos afetos, elaborados no período anterior ao advento da psicologia científica, antes do final do século XIX. Fazem parte também do campo das idéias psicológicas a psicologia filosófica e a própria psicologia científica. Assim, o conceito “idéias psicológicas” é um conceito genérico, destinado a delimitar o campo de reflexão e de elaboração de diferentes concepções sobre o psicológico ao longo da história da cultura.

O período escolhido para o levantamento bibliográfico coincide com o período institucional de desenvolvimento e difusão de teorias psicológicas no Brasil, que, segundo Pessotti (1988), inicia-se no século XIX, logo após a Independência, e termina no final da década de 1920. O que caracteriza este período é a instalação das primeiras instituições de ensino superior no país, nas áreas do Direito e da Medicina, e de uma rede de escolas normais e de instituições de assistência à saúde mental. Nessas instituições é que o ensino de conteúdos relacionados à psicologia se inicia, especialmente nas Faculdades de Medicina e escolas normais, enquanto a psicologia filosófica é ensinada sobretudo nos seminários (Massimi, 1990). Em Minas Gerais, este padrão será também observado: ensino de conteúdos relacionados à psicologia nos seminários e escolas normais durante o século XIX, e, a partir da fundação das primeiras escolas de nível superior, nas áreas do Direito (1892) e da Medicina (1911), as idéias psicológicas são difundidas nos cursos de Criminologia e de Psiquiatria (Campos, 1992; Assis, 2004).

Trata-se de uma pesquisa de orientação internalista, pois focaliza-se a evolução dessa área de conhecimento e de investigação científica a partir das contribuições originais dos autores. Segundo Massimi, Campos e Brozek (1996), essa leitura historiográfica é “...sem dúvida muito fecunda, sobretudo ao evidenciar os problemas teóricos fundamentais da psicologia moderna e ao proporcionar uma leitura epistemológica da evolução histórica da Psicologia” (p.45).

A escolha de Minas Gerais como foco da pesquisa se justifica pela grande expressão que a vida intelectual mineira teve no contexto brasileiro, pelo menos desde fins do século XVIII. Assim, pode-se considerar que o ensino da Psicologia filosófica ou da nascente Psicologia científica nas escolas mineiras, ao longo do século XIX e início do século XX, é representativo da situação do ensino nos demais estados brasileiros no período, pelo menos nos núcleos mais urbanizados.

Rodrigues (1986) caracteriza o desenvolvimento cultural mineiro, na primeira metade do século XIX, como uma referência no processo de formação da consciência da nacionalidade brasileira. Durante o ciclo do ouro, formou-se uma civilização urbana em Minas, caracterizada por um

povo que se reunia em irmandades e corporações de ofícios, (...) representado no Senado da Câmara, (...) que pagava impostos, que via diante de si juízes e soldados, povo que era “repúblico”, pois a coisa pública estava presente, e muito latinamente num Senado a construir chafarizes como se fora Roma. (Torres, s/d, citado por Rodrigues, 1986, p.23).

O mesmo autor, em pesquisa nos jornais provinciais da época, dá conta da existência de cadeiras de Filosofia Racional e Moral nas Escolas Régias Mineiras, desde o início do século XIX, em Mariana, a partir de 1828 em Ouro Preto, em 1830 em São João Del Rey. Em 1841, existiam 9 cadeiras de Filosofia funcionando no Estado (Rodrigues, 1986, p.39). A partir de 1850 criam-se colégios leigos em Diamantina, Barbacena, Sabará, Baependi, São João Del Rey, Mariana e Ouro Preto, onde o ensino da Filosofia abriga a difusão de idéias psicológicas. Também nos Seminários de Mariana, Diamantina e do Caraça o ensino da Filosofia estará presente.

No decorrer do século XIX, a principal influência filosófica em Minas Gerais provém da corrente de pensamento denominada em Portugal de “empirismo mitigado”. Trata-se “de uma tentativa de conciliar o empirismo ao racionalismo, evitando tanto os excessos do sensualismo quanto as dificuldades do pensamento racionalista” (Campos, 1992, p.22). Essa orientação eclética visava conciliar o pensamento tradicionalista católico com os princípios empiristas.

Em obras filosóficas dessa época, foram encontrados livros que tratam especialmente da Psicologia, como o livro de José Antonio dos Santos, Esqueleto das Faculdades e Origem das Idéias do Espírito Humano (1845), e o livro de R. J. Ferreira Bretas, Novo Esqueleto das Faculdades e origem das idéias do espírito humano (1854). Com abordagens diferentes os autores dedicam-se principalmente ao estudo das faculdades, da moral e da ética.

Em termos gerais, o período de 1830 a 1930 se caracteriza, no Brasil, pela elaboração  de produções intelectuais locais nas Faculdades de Medicina de Salvador e do Rio de Janeiro, relatadas nas teses de final de curso elaboradas pelos estudantes, e pela difusão da Psicologia nas escolas normais e seminários. Ao longo do século XIX, temas psicológicos são ensinados aos futuros professores primários como parte das disciplinas de Pedagogia e de Higiene, ou nas áreas de educação intelectual e moral. A partir de 1916, a matéria “psicologia infantil” passa a integrar explicitamente a cadeira de Pedagogia e Higiene (Boschi, 2000). Em 1925, a Psicologia torna-se uma cadeira autônoma, no Curso Normal, com programa voltado para o estudo do desenvolvimento psicofisiológico, intelectual, sócio-afetivo e moral. Com a reforma de ensino de 1927/28 (Reforma Francisco Campos), a cadeira é desdobrada em Psicologia Infantil e Higiene Escolar, para o Curso Normal de 1º Grau, e Psicologia Educacional (em dois anos), para o 2º Grau, com previsão de exercícios práticos de aplicação dos conhecimentos psicológicos visando “melhor conhecimento do aluno”, como propunha Édouard Claparède (1873-1940) (Boschi, 2000; Nepomuceno, 2002).

 

Método

A consulta à literatura secundária permitiu selecionar inicialmente alguns títulos. Entre os livros mencionados por Rodrigues (1986) como referências importantes no ensino de Filosofia em Minas Gerais. Como representativos do debate filosófico ocorrido em Minas no século XIX, são de especial interesse para o estudo das idéias psicológicas os seguintes volumes:

·        Verney, Luís Antonio (1713-1792). Verdadeiro método de estudar. Lisboa: Sá da Costa, 1950 (reedição crítica organizada por Antonio Salgado Júnior do clássico editado em Nápoles, em 1746. O original parece ter sido amplamente difundido em Portugal, nos séculos XVIII e XIX, e no Brasil, no século XIX, como introdução às idéias iluministas);

·        Bretas, Rodrigo José Ferreira (1815-1866). Novo Esqueleto das Faculdades e origem das idéias do espírito humano, segundo os princípios de Mr. Laromiguière ou da psychologia vigente. Ouro Preto: Typographia do Bom Senso, 1854.

·        Genovesi, Antonio (1713-1769, conhecido como “O Genuense”). As Instituições da Lógica. Rio de Janeiro: Documentário, PUC-RJ; Brasília: Conselho Federal de Cultura, 1977 (reedição da obra As instituições da lógica, traduzida do original italiano por Miguel Cardoso e editada pela Real Impressão da Universidade de Coimbra em 1786. Na edição portuguesa o nome do autor (Genovesi) aparece como Antonio Genuense. A obra parece ter sido indicada pelo Marquês de Pombal como leitura introdutória à ciência moderna aos alunos da Universidade de Coimbra. Através de estudantes brasileiros em Coimbra, a obra chegou ao Brasil);

·        Santos, José Antonio dos. Esqueleto das Faculdades e Origem das Idéias do Espírito Humano. Mariana: Typographia Episcopal, 1847.

·        Santos, Joaquim Felício dos (1828-1895). Ensaios filosóficos. Rio de Janeiro: Tipografia da Gazeta da Noite, 1880.

·        Americus (Miguel Calmon Du Pin, 1794-1865). Idéias elementares sob um sistema de educação nacional. O Universal. 1826 (n. 90, 10 de fevereiro, p. 360; n. 92, 15 de fevereiro, p. 367-368; n. 93, 17 de fevereiro, p. 371-372; n. 94, 20 de fevereiro, p. 376; n. 95, 22 de fevereiro, p. 379-380; n. 96, 24 de fevereiro, p. 389-384; n. 97, 27 de fevereiro, p. 387-388; n. 98, 1 de março, p. 391-392; n. 99, 3 de março, p. 394-396).

·        Franco, Augusto (1876-1906). Estudos e escritos. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1906.

 Outros títulos, desta vez representativos da psicologia científica, parecem ter integrado as bibliotecas dos professores mineiros nas primeiras décadas do século XX. A Profª Alexina de Magalhães Pinto preparou em 1907 uma Lista de Bons Livros, de acordo com os programas de instrução pública mineiros, para uso dos educadores. A lista foi reeditada em 1908 e 1912 (Magalhães Pinto, 1912), e dela constam, na área da Psicologia, alguns títulos, com referências um pouco incompletas. No quadro abaixo reproduzimos a referência como consta na Lista, seguida da obra à qual provavelmente se refere:

 Quadro I: Referências bibliográficas em Psicologia listadas por Magalhães Pinto (1912), títulos aos quais se referem, e dados sobre os autores.

 Constam ainda da bibliografia sugerida as biografias de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), pedagogo suíço considerado precursor do movimento de renovação escolar conhecido como “Escola Nova”, e de Horace Man (1796-1859), conhecida liderança do movimento pela educação pública nos Estados Unidos da América, no século XIX. São citadas as biografias elaboradas por Jules-Gabriel Compayré (1843-1913), Auguste Pinloche (1856-?) e Roger de Guimps (1802-1894), provavelmente as seguintes:

 Compayré, Gabriel (1902) Les grands éducateurs. Pestalozzi et l´éducation élémentaire. Paris: P. Delaplane, 126 p.

 Compayré, Gabriel (1907) Les grands éducateurs. Horace Mann et l´école publique aux États-Unis. Paris: P. Delaplane, 121 p.

 Guimps, Charles-Frédéric-Louis-Roger de (Baron). Histoire de Pestalozzi, de sa pensée et de son oeuvre, par Roger de Guimps. Lausanne: G. Bridel, 1874, 548 p.

 Pinloche, Auguste (1856-?). Pestalozzi et l’éducation populaire moderne. Paris: F. Alcan, 1902, 217 p.

 A autora não lista livros em português, “por achar que os livros supramencionados os substituem com vantagens”. E acrescenta uma observação divertida (“calo-me para não maldizer”), deixando subentendida a crítica à produção local (Magalhães Pinto, 1912, p.55-6).

Esses títulos serviram como uma iniciação, especialmente os livros publicados por Claparède (1873-1940) (2), no período estudado, para a seleção de palavras chaves a serem usadas na pesquisa bibliográfica. As palavras foram as seguintes: psicologia, psychologia, moral, moraes, moralidade, hygiene, higiene, aluno, estudante, alumnos, professor, mestre, educador, manual, programas, programmas, inteligência, instrução, educação, escola e colégio.

O uso de palavras escritas em português arcaico, como alumnos, se justifica  pelo fato de que muitas vezes os livros, entre 1830 a 1930, são cadastrados por palavras que mantém uma fidelidade ao original, nesse caso, por exemplo, procurar pelo título Dissertações moraes, utilizando a palavra moral seria inútil.

As bibliotecas escolhidas para pesquisa, pelo conteúdo de seus acervos foram: o Arquivo Público Mineiro, a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Coleção Mineiriana, Patrimonial e Obras Raras), Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais e Coleções especiais da Biblioteca Universitária da UFMG, Biblioteca da Universidade Federal de São João del Rey e Biblioteca Batista Caetano (obras raras da UFSJ), Biblioteca Municipal de São João Del Rey, Biblioteca do Centro de Referência do Professor e Sistemas de Bibliotecas Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

A pesquisa foi feita nos sites das bibliotecas que possuem acervos informatizados ou em processo de informatização, e em bases de dados locais, informatizadas ou não.

 

Resultados

Os resultados foram organizados em listas. Cada busca bibliográfica nos diferentes acervos resultou em uma lista de títulos em ordem alfabética. No final da pesquisa, organizou-se uma grande lista em ordem cronológica com todos os títulos encontrados.

Ao total 264 títulos foram encontrados, sendo que 20 destes se repetiram, resultando portanto 244 títulos originais. O acervo com maior número de títulos foi o da  Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, onde constam 142 exemplares, um total de 53,79% da pesquisa bibliográfica. O acervo com o menor número de títulos foi o da Biblioteca Municipal São João Del Rey, com 1,14%. Isto se explica pelo fato de sua coleção de obras raras, a Biblioteca Batista Caetano, ter sido transferida para a Universidade Federal de São João Del Rey. No Centro de Referência do Professor, não foi encontrado nenhum livro para a pesquisa. A tabela abaixo descreve o número de títulos encontrados em cada acervo e sua respectiva porcentagem em relação ao número total de títulos da pesquisa bibliográfica.

Tabela 01: Títulos encontrados por acervo

 

A próxima análise dos dados refere-se ao idioma dos títulos encontrados. O gráfico abaixo permite caracterizar por idioma os títulos localizados em cada acervo (3).

Gráfico 01: Idioma dos títulos por acervo

 

Pode-se observar na figura 1, que os idiomas predominantes são o francês, português, espanhol e inglês. Foram encontrados também manuais em latim, alemão e italiano, mas em pequena quantidade.

Em grande maioria os documentos encontrados estão escritos em francês ou em português. Na Biblioteca Pública Luiz de Bessa e na Universidade Federal de São Del Rey encontramos um número maior de volumes em língua francesa, no primeiro 50% dos títulos encontrados são em francês. Enquanto que, nas coleções da Biblioteca Universitária da UFMG, no sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais, na Biblioteca Municipal de São João Del Rey, no Arquivo Público Mineiro e no Sistema de Bibliotecas da PUC-MG o português é o idioma predominante.

Aparentemente esses dados podem sugerir que os títulos em psicologia de 1830 a 1930 eram, em sua maioria, escritos em português, mas para essa análise é necessária uma classificação dos títulos encontrados por idioma ao longo do período especificado, como mostra a tabela a seguir.

Tabela 02: classificação dos dados por idioma e data.

 

A tabela acima permite observar a influência de títulos publicados no exterior na difusão de temas psicológicos em Minas Gerais entre 1830 e 1930. Para melhor visualização elaborou-se o gráfico a seguir:

Gráfico 02: freqüência dos idiomas por décadas

 

Os dados demonstram uma predominância de publicações em francês, em todo o período considerado, sendo que o número de livros em francês apresenta crescimento até 1860, sofrendo uma pequena oscilação e voltando a crescer até 1880. Em uma década, sofre uma queda brusca, repete o movimento de crescimento e queda, alcançando seu ápice em 1920, onde começa novamente a decrescer.

Os títulos em português, por sua vez, aparecem em 1850, alcançando seu ápice também em 1920. Os outros dois idiomas (inglês e espanhol), quantitativamente menos expressivos, aparecem somente a partir de 1900.

Mesmo considerando a possibilidade de que muitos manuais utilizados na época tenham se perdido ao longo do tempo, pode-se afirmar que a influência francesa foi significativa na Psicologia mineira no período delimitado. Medeiros e Albuquerque (1924), afirma na 2ª edição do livro Testes, um dos livros encontrados na pesquisa, que “...entre nós, no domínio intellectual, nada entra sinão vindo da França.” (Medeiros e Albuquerque, 1924, p.8). Apesar disso, os manuais escritos em português também são significativos no período de 1830 a 1930, resultando em 36,47% dos títulos encontrados. Deve-se considerar, contudo, que alguns desses manuais são traduzidos do francês e de outras línguas.

De modo geral, o número de publicações aumenta a partir de 1920, 31,15% dos títulos são dessa década. Este período coincide com a expansão dos sistemas de ensino primário, secundário e superior no estado, e com as reformas educacionais promovidas a partir de 1928 por Francisco Campos, fortemente influenciadas pelos avanços da Psicologia científica (Campos, 1980).

 

Considerações finais

A pesquisa bibliográfica permitiu o levantamento de um número significativo (244) de fontes primárias para a história da Psicologia e em particular para história da Psicologia mineira. De modo geral, verifica-se que a influência francesa em Minas foi predominante em todo período, como mostra a figura 2, 46,72% dos títulos localizados são franceses. Mas, uma produção na língua portuguesa também pode ser observada a partir de 1850. Os títulos em português ganham corpo a partir de 1890, se comparados aos títulos franceses. Esse é um dado interessante que vem legitimar, dando uma dimensão quantitativa, um discurso acadêmico de que no final do século XIX a educação mineira sofreu fortes influências francesas.

Como um desdobramento dessa pesquisa (4), será realizada a leitura dessas fontes com o preenchimento de fichas. Essas fichas contêm: o número de chamada do documento, sua localização ou nome acervo, o título, título original (em caso de tradução), nome do autor (es), nome do tradutor (es) (em caso de tradução), local de edição, editora, ano de publicação, número de páginas, o sumário da publicação, um pequeno resumo, dados sobre o autor, caracterização da forma do documento (se ele é manuscrito, impresso, microfilmado ou outros) e observações.

Esse trabalho nos permitirá o mapeamento mais detalhado das idéias psicológicas em Minas Gerais no período mencionado, e, a partir daí, inúmeras inferências sobre as mesmas poderão ser feitas, podendo inspirar pesquisas mais aprofundadas sobre o movimento das idéias psicológicas em Minas.

A pesquisa bibliográfica estará disponível na Sala Helena Antipoff, no 3o andar da Biblioteca Central da Universidade Federal de Minas Gerais, para aqueles interessados no assunto, e em breve na internet, no site http://www.bu.ufmg.br.

 

Referências bibliográficas

 Assis, Raquel M. (2004) Psicologia, Educação e Reforma dos Costumes: lições da Selecta Catholica (1846-1847). Belo Horizonte: Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (Tese de Doutorado).

 Boschi, M.F.L. (2000). O Ensino de Psicologia para Educadores em Minas Gerais (1920-1940). Belo Horizonte: Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais (Dissertação de Mestrado).

 Campos, R.H.F. (1980). Psicologia e Ideologia: um estudo da formação da Psicologia educacional em Minas Gerais. Belo Horizonte: Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (Dissertação de Mestrado).

 Campos, R.H.F. (1992). Notas para uma história das idéias psicológicas em Minas Gerais. Em C.R. Drawin e outros. Psicologia: possíveis olhares, outros fazeres. Belo Horizonte: Conselho Regional de Psicologia - 4a Região (MG/ES), pp. 11-64.

 Dictionary of American Biography. (1958) New York: Charles Scribner´s Sons.

 Ferrater Mora, J. (2001) Dicionário de Filosofia. São Paulo: Ed. Loyola.

 Magalhães Pinto, A. (1912). Lista de Bons Livros. 3ª ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais.

 Massimi, M.; Campos, R.H.F. e Brozek, J. (1996). Historiografia da Psicologia: métodos. Em R.H.F. Campos (Org.). História da Psicologia: pesquisa, formação, ensino. São Paulo: Educ. (Coletâneas Anpepp, 15), pp. 29-56.

 Medeiros-e-Albuquerque, J.J.C.C. (1924). Tests: introdução ao estudo dos meios scientificos de julgar a intelligencia e a applicação dos alumnos. 2ªed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves. 

 Nepomuceno, D.M. (2002). Édouard Claparède e a psicologia experimental: problemas e soluções educacionais. Monografia, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. 

 Paim, A. (1977). Introdução. Em A. Genovesi  (1977). As Instituições de Lógica. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Conselho Federal de Cultura, Editora Documentário, pp. 9-11.

 Rodrigues, J.C. (1986). Idéias filosóficas e políticas em Minas Gerais no século XIX. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP.

 Serrão, J. (Org.) (1971) Dicionário de História de Portugal. v. VI. Lisboa: Iniciativas Editoriais.

 

Notas

(1) Literatura primária refere-se aos livros originais em diversos idiomas (Brozek e Guerra, 1996).(volta).

(2) Durante o período dessa pesquisa bibliográfica, realizamos um estudo mais aprofundando da vida e obra de Édouard Claparède, o que resultou na monografia Édouard Claparède e a psicologia experimental: problemas e soluções educacionais (Denise, 2002), sob a orientação de Regina Helena de Freitas Campos.(volta).

(3) Siglas dos acervos no eixo x são as seguintes: Coleções da Biblioteca Universitária da UFMG (BU UFMG), Sistema de bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Biblioteca da Universidade Federal de São João Del Rey e Biblioteca Batista Caetano - obras raras da UFSJ (UFSJ), Biblioteca Municipal de São João Del Rey (B. Municipal S.J.D. Rey), Coleção Mineiriana da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Mineiriana), Patrimonial da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Patrimonial) Obras Raras da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Obras raras B. Pública) Arquivo Público Mineiro (Arquivo Público), e Sistemas de biblioteca Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC). (volta).

(4) A equipe é composta, além das autoras, pela professora da PUC-MG Raquel Martins de Assis e duas orientadas Fernanda Luiza Simões Rosa e Karine Teixeira Pedrosa, graduandas em Psicologia na PUC- MG. (volta).

  

Nota sobre as autoras
Denise Maria Nepomuceno é estudante de Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista de Iniciação Científica – CNPq. Contato: R. Frei Cristóvão, 88- João Pinheiro. 30.530-510 Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: denisenep@ufmg.br

Regina Helena de Freitas Campos é professora de Psicologia da Educação e História da Psicologia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista de pesquisa do CNPq, presidente do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff. Contato: Rua Professor Saul Macedo 111 – Belvedere. 30320-490 Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: regihfc@terra.com.br.

Data de recebimento: 23/09/2003
Data de aceite: 14/04/2004

  Memorandum 6, abril/2004
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP.
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos06/nepcampos01.htm

 

 

 

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