A Prática profissional do webjornalismo e o jornal laboratório on-line

Nívia Rodrigues Pereira


A transmissão de informações através dos meios de comunicação ganha novas peculiaridades graças ao advento e à participação, cada vez mais onipresente, da internet, que se apresenta como um dos media com maior potencial de agregação e interação com outros meios e com os sujeitos que o utilizam. Com essa infinidade de recursos, o exercício do fazer jornalístico sofreu modificações que obrigaram as faculdades a se adaptarem, criando o jornal-laboratório on-line. Porém, a aplicação das características do webjornalismo (1) deve ser investigada para que se constate sua eficácia na prática acadêmica.

Segundo Palácios (et al, 2002), as pontecialidades oferecidas pela web para o jornalismo são: multimidialidade, interatividade, hipertextualidade, personalização, memória e instantaneidade. A metodologia adotada neste estudo se constitui da elucidação das características supracitadas e, posteriormente, da análise do jornal-laboratório on-line Ponto Eletrônico (2), de forma a servir como um roteiro de observação para a verificação do papel do objeto empírico como ferramenta de aprendizagem do jornalismo para a internet.

O corpus é constituído das páginas e das ferramentas utilizadas na sexta-feira, 2 de setembro de 2005. Neste dia da semana estão disponíveis informações recém-atualizadas, pois “Matérias Especiais” é alimentada às segundas, quartas e sextas e “Entrevista da Semana” às quintas-feiras. Foi utilizada também entrevista com a coordenação do veículo como instrumento de coleta de dados.

1. As especifidades do webjornalismo

1.1. A(s) linguagem(ns) da internet

Criada com o objetivo de atuar como meio de comunicação seguro, a internet surgiu para atender às demandas militares do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD). Temendo a Guerra Fria na década de 60, o país investiu nesse projeto, que tinha como conceito criar uma rede sem a necessidade de um computador central, permitindo que todos os pontos tivessem o mesmo status. Apenas na década de 90, com a popularização dos computadores devido à queda dos preços e a praticidade dos softwares, a internet ganhou o mundo e difundiu o conceito de ciberespaço.

Considerado um instrumento de trocas simbólicas interligando sujeitos dispersos espacialmente, o ciberespaço permite a exposição e a difusão de idéias, criando oportunidades de participação através de uma conexão mundial via computadores. A circulação contínua de conteúdos, possível graças a vários fatores como facilidade de publicação e acesso, a falta de uma legislação específica consolidada, a instantaneidade e a agilidade do veículo, estimulam a participação dos sujeitos sociais conectados à rede.

A hipertextualidade é apresentada como uma das características mais notórias da internet. O hipertexto representa uma série de nós, e cada nó traz consigo uma infinita possibilidade de conexões. As informações estão ligadas de forma multilinear e, por isso, não seguem uma regra, podendo agregar conceitos como diversidade e multiplicidade.

Pierre Lévy considera que a primeira vez em que se tratou da idéia de hipertexto foi com Vannevar Bush no artigo intitulado As we may think, de 1945. Em seu artigo, o matemático e físico afirmou que uma parte considerável das formas comunicacionais utilizadas na comunidade científica é artificial, pois segue uma lógica hierárquica de ordenação.
 

A mente humana não funciona desta forma, mas através de associações. Ela pula de uma representação para outra ao longo de uma rede intricada, desenha trilhas que se bifurcam, tece uma trama infinitamente mais complicada do que os bancos de dados de hoje (...) (Lévy, 1993:28).
Tanto Bush como Lévy incluem com destaque o conceito de “rede” quando analisam o modo de associação utilizada pelo hipertexto e o comparam ao modo de operação da mente humana. Para os autores, ambas as formas utilizam-se de associações intrincadas e que alteram, entre outras variáveis, conforme o interesse e o conteúdo cognitivo de cada indivíduo. Arlindo Machado compartilha de opinião semelhante: “A informática, portanto, impõe o desafio de aprender a construir o pensamento e expressá-lo socialmente através de um conjunto integrado de meios de expressão(...), sem hierarquias e sem a hegemonia de um código sobre os demais” (Machado, 2001:108).

França, porém, levanta uma questão pertinente sobre o tema: “É possível pensar a sociedade, senão como rede?” (França, 2002:59). A observação da autora remete a outro questionamento: seria o conceito de hipertexto, realmente, uma característica peculiar do veículo internet ou todas as relações de comunicação pressupõem formas de interconexão? A autora acrescenta que
 

(...) ao falar do contemporâneo, das profundas transformações que temos assistido nas últimas décadas, precisamos ter claro que o elemento distintivo não é bem este; o novo não é a configuração em rede (...) – mas estaria antes no desenho e extensão das redes, na diversidade dos cruzamentos, na quantidade / qualidade dos elementos conectados ou desconectados, na sua dinâmica espaço-temporal. (França, 2002:59).
Outras mídias também fazem uso deste recurso em modalidades de estruturas narrativas. É o caso do CD-ROM, que utiliza uma acessibilidade fechada ou restrita. Já a internet possibilita uma acessibilidade aberta, considerando o número extraordinário de conexões. Essa seria uma das diferenças palpáveis entre o uso da rede na internet e o uso em outros veículos de comunicação no que tange ao entrecruzamento de dados.

O receptor utiliza os links de forma a direcionar seu olhar, a melhorar o seu entendimento do texto e, ao mesmo tempo, a sanar suas dúvidas frente ao material pesquisado. Isso é possível, pois tem um leque de notícias ao seu dispor no momento em que o consulta, sem a necessidade de buscá-las em outros meios. Ou seja, a internet, através do hipertexto, se mostra como uma mídia de convergência com outros veículos e com outros formatos de representação, podendo vincular diversas informações em diferentes unidades comunicacionais (palavras, sons, vídeos, fotografias, infográficos, desenhos, etc).

1.2. O jornalismo na internet

Em uma de suas obras, Bernard Miège explica que
 

o desenvolvimento das (novas) tecnologias da informação e da comunicação nos leva a uma interrogação sobre as mudanças que desencadeiam ou são obrigadas a acompanhar no âmbito das estruturas de mediação. (Miége, 2000: 76-77).
Com a internet não seria diferente. O desenvolvimento das tecnologias desencadeia também uma série de apontamentos na área da comunicação social, pois interfere diretamente nos dispositivos e no modo de produção da notícia. A mediação da comunicação e a difusão da informação na internet, se dão pela influência na forma como as informações são produzidas e dispostas. Caso contrário, temos o que o Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (JOL) (3) da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom – Ufba) convencionou chamar de webjornalismo de primeira ou segunda geração.
Por primeira geração entende-se a transposição do conteúdo impresso para a internet, sem qualquer adaptação; a segunda geração compreende os textos ligados às produções impressas, porém já trazendo alguma autonomia de conteúdo e algumas adaptações na transposição; a terceira geração, considerada como ideal, compreende a exploração e aplicação das potencialidades do meio.

Muito se discute sobre essas potencialidades e características intrínsecas oferecidas pela internet ao webjornalismo. Palácios (et al. 2002), em seus estudos, enumera multimidialidade, interatividade, hipertextualidade, personificação, memória e instantaneidade.

A multimidialidade representa a convergência dos formatos (imagem, texto e som) na narrativa. A reconfiguração dos limites de combinações desses formatos requer a adaptação dos jornalistas que se dedicam ao dispositivo. Toda operação deve ser pensada de forma a não cansar o leitor, desde a produção da pauta até a forma de disposição da matéria na página.

Em um processo interativo, o usuário pode continuamente intervir e controlar o curso das atividades fornecendo entradas de comandos à medida que observa os efeitos anteriores. No caso dos veículos on-line que realmente adotam os recursos de interatividade, existe uma ruptura com os conceitos previamente estabelecidos sobre o produtor da notícia e o leitor/internauta, na medida em que ambos produzem e publicam informações, além de assumirem também o papel de receptores da notícia.

A linguagem hipertextual apresenta uma forma de organização de dados de modo não-linear, possibilitando ao receptor a composição de diferentes seqüências de leituras através da navegação proporcionada pelos links. A notícia no veículo on-line é revigorada pelo hipertexto, já que o sujeito tem a possibilidade de contextualizar o acontecimento. A fala ganha maior legitimidade no contexto e, muitas vezes, é a reflexividade que oferece essa validação. O sujeito pode utilizar-se de um comportamento reflexivo na busca por esclarecimentos e legitimação da retórica apresentada.

A hipertextualidade gera várias considerações, a favor e contra, ao uso da pirâmide invertida (4) no texto jornalístico, mas quando se trata do uso desta técnica em fait divers (5) a opinião é semelhante. (...) praticamente todos os autores concordam que estas hard news devem ser construídas numa estrutura piramidal, baseada num título e num lead fortes, conclusivos, que vão direto ao assunto, ao que é notícia. (Zamith, 2005:06).

O processo de personificação, ou customização de conteúdo, permite ao leitor/ internauta configurar o site de forma a ter acesso diferenciado não somente às notícias que sejam do seu maior interesse, mas também de forma a tornar a sua navegação mais agradável, com a customização do lay out, por exemplo.

A memória representa um elemento constitutivo da informação na web, pois é por seu  intermédio que, muitas vezes, as características de hipertextualidade e interatividade ganham corpo. Textos, imagens, sons e gráficos, entre outros recursos anteriormente utilizados, podem ser novamente acessados graças ao uso dos links, contextualizando informações recém publicadas. Para isso, é necessário que a arquitetura de informação contemple o trânsito facilitado dos dados de forma que o internauta tenha, à sua disposição, elementos bem distribuídos atribuindo funcionalidade e agilidade em meio aos recursos.

E, por fim, o sexto elemento apresentado por Palácios: instantaneidade. A agilidade na produção e publicação propiciada pelo dispositivo, gera a atualização contínua do conteúdo. Porém, a objetividade da notícia depende proporcionalmente da confiabilidade das fontes e da checagem das informações. A característica da instantaneidade deve ser utilizada com ressalvas: publicações instantâneas devem ser evitadas caso os dados apresentados possam conter inverdades (Aroso, 2005).
 

2. O jornal laboratório como prática acadêmica

2.1. O papel do jornal-laboratório

As atividades práticas oferecidas pelas faculdades de jornalismo devem, conceitualmente, ser vistas com um instrumento básico de ensino já que têm a possibilidade de ligar os estudantes à profissão: não somente às ferramentas de como fazê-la, mas também às questões ideológicas e editoriais. Os jornais-laboratório assumem esta função na medida em que contribuem diretamente para a formação dos futuros profissionais de jornalismo apresentando as especificidades dos diversos veículos de comunicação e as variadas funções que podem ser desempenhadas por esse profissional.

A implantação dos laboratórios e equipamentos experimentais reduz o distanciamento da realidade e propcia a realização de projetos que se assemelham / confrontam com os padrões convencionais da comunicação industrial (Melo, 1986: 209). Melo levanta um dado importante quando aborda a necessidade da produção de projetos que tragam novas formas de se fazer comunicação. Os veículos laboratoriais representam também espaços de experimentação e de estímulo à visão crítica perante a comunicação atualmente produzida. Devem aliar a produção sistematizada, como no cotidiano profissional, e a produção lúdica que possibilita a experimentação e o descobrimento de novas práticas (Melo, 1986). Desta forma, ensino e pesquisa se unem fortalecendo a troca de experiências entre os docentes, que já possuem experiência acadêmica e profissional, e os discentes, que contribuem com novos olhares e com a dinâmica da vida social.

Essa fusão de práticas requer constantes aferições junto aos alunos participantes e ao público do veículo visando garantir seu caráter pedagógico. A atividade prática deve também ser desenvolvida de forma conjunta com várias disciplinas possibilita o conhecimento multidiciplinar da comunicação. Essa forma de saber contribui para a sua formação dos estudantes dando uma resposta à especialização imposta pelo mercado.

2.2. Uma análise do Ponto Eletrônico

O Ponto Eletrônico foi lançado no quarto trimestre de 2002 com o intuito de oferecer aos alunos do 7º período de Jornalismo da Universidade Fumec, o conhecimento prático do fazer jornalístico para a web. A escolha do objeto se deu pela participação da autora deste trabalho no processo de idealização e concepção do projeto. Esta monografia representa uma reavaliação do trabalho realizado. A versão estudada é a terceira adequação sofrida pelo Ponto Eletrônico e está disponível na internet desde outubro de 2004.

O site é composto por seis macro-seções com conteúdo de texto jornalístico que são “Notícias da Hora”, “Acontece na Comunicação”, “Editorial”, “Matérias Especiais”, “TV Ponto” e  “Erramos”. Além das seções “Expediente”, “Fale Conosco”, “Fórum”, “Link” e “Fotos”. A seção “Notícias da Hora” é atualizada de segunda a sexta-feira e traz notas sobre dez editorias (Política, Educação, Cidade, Cultura, Ciência, Esporte, Mundo, Saúde, Polícia e Economia), sendo que cada uma possui link na capa do site. Essa é a seção com atualização mais freqüente. Em “Acontece na Comunicação” estão disponíveis notas sobre o mercado jornalístico. “Editorial” apresenta textos opinativos produzidos pelos alunos, “Matérias Especiais” traz matérias subdivididas em níveis de publicação, “TV Ponto” veicula matérias em vídeo e “Erramos” retifica informações publicadas erroneamente.

As potencialidades que o web propcia ao jornalismo, enumeradas por Palácios (et al. 2002) e anteriormente conceituadas, devem ser percebidas nos jornais-laboratório que tem como pretensão proporcionar aos graduandos a experiência da prática profissional. Multimidialidade, interatividade, hipertextualidade, personificação e memória estão presentes no jornal-laboratório on-line Ponto Eletrônico? Para responder a este questionamento foi realizada uma análise nas páginas, nas seções e nas ferramentas utilizadas no site na sexta-feira, dia 2 de setembro de 2005.

Multimidialidade

Os recursos multimídia conduzem a uma nova forma de se pensar a produção jornalística graças à possibilidade de uso de múltiplas plataformas visando a complementaridade das informações. Depois do texto, a fotografia é o recurso mais utilizado nos jornais on-line brasileiros (Palácios et al, 2002) e o mesmo pode ser observado no objeto. Além da presença de fotografias nas matérias, o endereço traz uma seção exclusiva para imagens denominada “Fotos”. O site apresenta também a “TV Ponto”, que possibilita a visualização de vídeos de dois minutos disponibilizados no Windows Media Player. Mas, as seções destinadas a vídeos e fotos não possuem atualização constante, sendo que a última entrada na seção de vídeos tem data de julho de 2004 e a seção de fotos faz referência a um evento de outubro de 2004. Quanto ao áudio, existe um link relacionado à Rádio Fumec que não disponibiliza arquivos. Outros materiais em áudio não foram localizados no corpus.

Segundo Jorge Rocha coordenador do jornal-laboratório, existe um início de trabalho com a rádio e a televisão da Fumec para o uso do audiovisual aliado ao texto criando um material “enxuto, porém, expansivo”.

Interatividade

Os sujeitos participantes do projeto de jornal-laboratório têm um canal aberto de interação por intermédio dos mecanismos oferecidos pela própria web. A metáfora da rede pode ser aplicada graças ao emaranhado de relações que as tecnologias telemáticas possibilitam.
 

Diante de um computador conectado à internet e a aceder a um produto jornalístico, o usuário estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação, através do hipertexto; e c) com outras pessoas – autores ou outro (s) leitor (es). (Palácios et al., 2002: 160).
Palácios (et al. 2002) cita as interações do usuário com o computador (a) e com o texto (b). No que tange a interação com outras pessoas (c), o jornal-laboratório on-line possibilita, basicamente, três tipos de relação: 1) alunos – alunos, considerando que os alunos interagem entre si durante o processo de produção e atualização do veículo, e ainda no convívio acadêmico cotidiano; 2) aluno – público, essa interação se dá por intermédio de recursos como e-mail e newsletter; 3) alunos – públicos, nesse caso, os alunos interagem entre si, os públicos interagem entre si e os dois grupos (alunos e públicos) também interagem graças a ferramentas como fóruns de discussão.

Dos quatro principais recursos de interação enumerados por Palácios (et al. 2002) (e-mail (6), fórum, chat e enquete com resultados) apenas o chat não foi encontrado. O fórum existe e, no corpus analisado, aparece vinculado à “Entrevista do Mês”. Três meses após a análise do corpus apenas a mesma matéria aparecia relacionada ao fórum, não possibilitando ao internauta interagir, de forma constante, com os editores do site e com outros leitores.

Hipertextualidade

O uso da hipertextualidade apenas como ferramenta de interligação de pontos dispersos em um site, ou em vários, já não é suficiente para a estrutura do webjornalismo.
 

O usuário, ainda que orientado por uma hierarquia sugerida, tem um poder de decisão muito maior do que na leitura de um produto impresso. Dá-se uma forma de interação, em que as conexões antes permitidas apenas pra os ditos emissores, agora também podem ser feitas pelos ditos receptores (usuários)(...). Portanto a hierarquização de conteúdos, que passa ser sugerida no menu (pelos sentidos horizontes ou vertical e disposição na tela) na conexão entre as seções, nos links que podem aparecer no texto linear ou nas imagens, ganha outra dimensão. O link (...) operacionaliza a escolha do usuário e impõe os limites das fronteiras do texto.(Seixas,2003: 88).
Rocha explica que as narrativas da seção “Matérias Especiais” são pensadas na característica da hipertextualidade. A matéria especial “Cota de exibição de filmes nacionais é polêmica”, que constitui o corpus, é dividida em três partes, sendo duas intituladas “Leia Também”. As matérias secundárias complementam as informações do texto principal, sendo que as três divisões podem ser lidas de forma independente, sem alterar o entendimento do conteúdo. Foram encontrados oito links para páginas externas nos três textos, que também representam uma forma de complementação dos dados e informações disponibilizados.

Personalização

No que tange à personalização, o objeto empírico não oferece recursos (7) que possibilitem ao internauta / leitor adequar o site às informações disponibilizadas de acordo com os seus interesses como configurar o endereço como tela de abertura do navegador, hierarquizar informações, nem tão pouco fazer mudanças no lay out. Existe um ícone para assinatura de newsletter. A assinatura solicitada em 19 de setembro de 2005 gerou uma mensagem automática solicitando que aguardasse o recebimento das notícias, porém, nenhuma outra mensagem foi recebida.

Memória

A memória no webjornalismo é, muitas vezes, imprescindível para a aplicação de características como hipertextualidade e multimidialidade. Internautas e produtores de conteúdo se valem dela para complementação de informações e esclarecimento de dúvidas frente ao material disponibilizado. Com a convergência de formatos de representação e a crescente facilidade de digitalização, a memória agrega ainda mais valor ao conteúdo.

No Ponto Eletrônico, Rocha aconselha que cada editoria tenha algum tipo de interligação, pois é uma forma de verificar se a produção jornalística está acompanhando os fatos. Explica ainda que a memória é trabalhada na seção “Matéria Especial” de forma a relacionar as matérias. No corpus não foi localizado o uso da memória na seção especificada. O site possui um banco de notícias em cada seção, de forma que é possível conhecer os títulos publicados anteriormente e, caso tenha interesse, resgatar o material. Porém, não existe sistema de busca por palavra ou assunto.

3. Conclusão

Mais do que esgotar todas as questões referentes ao tema, esta monografia deve ser vista como um estudo inicial da temática nela contida principalmente no que se refere a escassez de pesquisas e trabalhos publicados sobre jornais-laboratório e, mais especificamente, sobre os veículos on-line.

Ao elucidar os cinco tópicos apresentados por Palácios (et al. 2002) e aplica-los no objeto empírico, é possível perceber que os recursos de multimidialidade, personalização e memória ainda são mal explorados pelo site. O recurso da interatividade pode sofrer adequações de forma a melhorar e dinamizar os processos de troca entre os vários produtores de conteúdos. De acordo com essa breve análise, o uso da hipertextualidade é o recurso melhor empregado, pois oferece ao internauta a possibilidade de enriquecer o conteúdo apresentado, dentro ou fora do site. A falta de pesquisas junto ao público do site e aos alunos que participam do projeto também foi sentida.

Conclui-se, então, que adequações são necessárias para se aliar a teoria e a prática de forma a propiciar aos estudantes de Jornalismo um conhecimento mais amplo das especificidades do veículo internet e para contribuir com a criação de um senso crítico sobre a produção jornalística atual.

Notas

(1)   Neste trabalho é usado o termo webjornalismo para designar o jornalismo produzido exclusivamente para a web, que representa uma parte especifica da internet, de acordo com Mielniczuk (2003). Esse, segundo a autora, seria o menor recorte de delimitação do tema dentro do jornalismo eletrônico.

(2)   http://www.pontoeletronico.fumec.br

(3)   http//www.facom.ufba.bf/jol

(4)   A pirâmide invertida (...) consiste na hierarquização das informações do mais para o menos importante. Os acontecimentos não são relatados por ordem cronológica, mas sim por ordem de importância. (Zamith, 2005:01)

(5)   Termo usado no jornalismo para designar notícias pequenas e rápidas.

(6)   As mensagens enviadas ao site foram remetidas do e-mail periodista@bol.com.br criado exclusivamente para a troca de dados com o Ponto Eletrônico.  No dia 5 de setembro de 2005 foi enviada uma mensagem ao site para atestar o uso do e-mail como canal de interação. A mensagem solicitava informações sobre o surgimento do site e a possibilidade de participação. A resposta foi enviada no dia seguinte (6 de setembro de 2005) porém indicava outros dois endereços para os quais a mensagem devia ser encaminhada. O texto foi enviado ao e-mail principal do site: pontoeletronico@fch.fumec.br .

(7)   Rocha afirmou que está sendo pensada uma nova versão do Ponto Eletrônico que disponibilize recursos de personalização e multimidialidade, entre outros. A previsão inicial é que esse projeto estivesse na internet ainda neste 2º semestre de 2005.

4. Bibliografia consultada

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