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Aspectos históricos e contemporâneos na investigação do
self
Historical and contemporary aspects of self investigation
Mariane L. de Souza
William B. Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Brasil
Resumo
Em consonância com o reavivamento do debate em torno
da consciência nas últimas décadas, o presente artigo
propõe um foco no processo reflexivo da consciência,
tratado na literatura científica internacional como o
estudo do self.
Uma análise histórica da teorização psicológica
do self é contrastada com os resultados mais
recentes da investigação empírica na área da
psicologia do desenvolvimento. Aponta-se como as noções
de narratividade, corpo e interação têm transformado a
teorização psicológica do self, delineando uma
nova problemática direcionada para uma perspectiva
comunicacional. Argumenta-se que o problema do self
pode ser reformulado em termos de uma relação entre
consciência e suas formas de expressão, a partir do qual
se define self como um processo de interação
comunicativa entre consciência e corpo situado no mundo.
Palavras-chave:
self; consciência; expressividade; comunicação |
Abstract
Consonant
with the revival of the debate on consciousness in the
last decades, this article focuses on the
consciousness’ reflexive process, handled as the self’s
study in the scientific milieu. A historical account
on the psychological theorization of the self
is contrasted with recent results of empirical
research in developmental psychology. It is suggested
that notions of narrative, body and interaction have
been transforming the psychological theorization of self,
drawing a new problematic directed towards a
communication approach. It is argued that the problem
of the self may be reformulated in terms of a
relationship between consciousness and its ways of
_expression, which defines self as a process of
communicational interaction between consciousness and
body.
Keywords:
self;
consciousness; expressiveness; communication
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A
consciência é novamente um tema central em Psicologia. O advento das ciências
cognitivas resgatou o interesse por esse processo básico, origem da própria
psicologia enquanto disciplina científica. A partir da década de 1990,
diversos estudos voltaram seu foco para o processo reflexivo da consciência,
tratado na literatura científica internacional como o estudo do self
(1) (conferir especialmente Gallagher & Shear,
1999). Nesta área, especificamente, pesquisa e teoria têm recebido um
considerável aporte de contribuições, embora esta última ainda não
possa fornecer um entendimento conclusivo sobre o tema e a primeira ainda
não tenha condições de verificar empiricamente a validade de algumas
hipóteses formuladas. O resultado dessa abertura instigante do campo de
pesquisa é a proliferação de dados empíricos, obtidos principalmente
através da pesquisa neurobiológica nos últimos anos. Como conseqüência
para a pesquisa psicológica, coloca-se o desafio de integrar essas inúmeras
evidências em uma síntese que permita uma melhor compreensão da consciência
humana. Essa compreensão integradora implica, necessariamente, o
entendimento de certas questões fundamentais amplamente difundidas nos
debates multidisciplinares sobre o problema do self. Tais questões
procuram responder, essencialmente, qual a relação entre o self e
suas bases biológicas ou cerebrais e como estabelecer a relação
natureza versus criação, isto é, como definir a intensidade do
efeito da cultura no self.
O
foco principal deste artigo é estabelecer um contraste entre as respostas
que a teorização psicológica tem formulado às questões do self
ao longo de sua história como disciplina científica; e os resultados
mais recentes da investigação empírica, na área da psicologia do
desenvolvimento. O texto está divido em dois blocos, cada qual recobrindo
um período histórico específico e cronologicamente seqüencial. O
primeiro bloco rastreia a formação de uma idéia psicológica do self,
desde o período pré-científico da especulação psicológica do eu, no
século XVIII, até os meados da década de 1950, quando o self
estabelece-se definitivamente como um fenômeno central na teorização
psicológica. O percurso histórico assim esboçado é o resultado de uma
articulação entre três diferentes pontos-de-vista: o americano
(Hilgard, 1987), o europeu (Canguilhem, 1968/1994) e o social psicológico
(Gergen, 1984). O segundo bloco focaliza os principais resultados
levantados pela investigação psicológica do self na última década,
com especial ênfase na teoria ecológica do desenvolvimento e sua concepção
do self como produto de uma interação entre o indivíduo e o
meio.
A
idéia psicológica do self: do eu interior à ação humana
O termo
psicologia entendido como ciência do eu aparece primeiramente na obra do
filósofo alemão Christian Wolff (1679-1754) (2), precedendo em quase duas décadas
a primeira obra dada a público de Rousseau, o descobridor do novo self
interior de substância moral, nos termos de Solomon (1988). No final do
mesmo século XVIII em que surgiu como ciência do eu, a psicologia
tornou-se a técnica do diário íntimo e a ciência do sentido íntimo
através da obra de Maine de Biran (1766-1824) (Canguilhem, 1968/1994).
A
concepção biraniana do eu contrapôs ao materialismo da época um
psiquismo humano fundamentado na experiência. A experiência foi definida
como um método de observação interna que implicava tanto a noção de
dinamismo da consciência quanto a noção do eu como atividade do espírito.
Esse novo método de tratar o homem interior não é resultado da observação
sensorial ou do processo racional, mas apenas possível na forma de um
sentimento interior (Mueller, 1968). O resultado é a apreensão do eu
vivente como fato primitivo, isto é, a apercepção imediata que nos dá
a certeza dele. Esse eu revela-se como uma força capaz de dominar os órgãos
e torná-los instrumentos de suas decisões, estando presente em cada um
de nossos atos voluntários (Maine de Biran, 1799/1954). Contudo, a noção
de esforço voluntário, origem da insistência de Maine de Biran no
sentimento de liberdade, leva sua psicologia, em última instância, a
desembocar em um misticismo cristão e a desacreditar toda a escola em
vista do novo espírito científico que começava a se impor no campo da
psicologia (Rosenfeld, 1993).
Maine
de Biran deve ser reconhecido, portanto, como o promotor de uma psicologia
metafísica que representou a passagem do naturalismo do século XVIII (do
qual Rousseau foi o único grande adversário) para uma forma de
espiritualismo que substituiu o método indutivo de Francis Bacon
(Mueller, 1968). No contexto da investigação psicológica do self,
a relevância de sua obra reside no fato de suas idéias representarem um
importante esforço de escapar ao reducionismo materialista, através da
postulação da experiência como método de observação do eu.
Nos
séculos XIX e XX, com o grande aporte de conhecimento advindo de estudos
anatômicos, fisiológicos e biológicos, passou-se a delinear o projeto
de uma psicologia científica que implicava o afastamento da especulação
filosófica (Canguilhem, 1968/1994). Isto é, a busca de uma idéia de
homem para além dos dados biológicos e sociológicos torna-se cada vez
menos relevante. O trabalho de Wundt (1832-1920) encerra de vez qualquer
possibilidade de uma concepção espiritualista metafísica do eu ou do self,
resgatando o materialismo reformulado em uma nova proposta de entendimento
do fenômeno.
No
seu projeto de uma psicologia experimental, Wundt sugeriu que se definisse
a psicologia como a ciência da consciência, preferindo desprezar as
antigas definições de psicologia como ciência da mente ou da alma
(Wundt, 1904). A mente, na concepção wundtiana, passou a ser definida não
como um objeto, mas como um processo consciente que se produz de acordo
com as leis de causalidade (Wolman, 1970). O processo consciente é
constituído por elementos que são as idéias (procedentes do meio
externo) e os sentimentos e impulsos (procedentes do organismo). Enquanto
as idéias se compõem de sensações distintas em qualidade e intensidade
que são conduzidas por nervos aferentes, os sentimentos não procedem de
nenhum órgão sensorial. A volição (responsável pelos impulsos) é uma
espécie de sentimento de decisão ou resolução, que conduz a uma ação
manifesta. Ela representa as necessidades do organismo e sua tendência a
um comportamento intencional. A unidade total do eu, por sua vez, é ao
mesmo tempo a base e a essência das volições.
Embora
Wundt reconhecesse que essa unidade do eu definida como caráter era o
ponto culminante de sua psicologia volitiva, reservou o estudo do caráter
à psicologia prática, pois para a nova psicologia experimental era difícil
enfrentar os problemas da individualidade (Hilgard, 1987). Quando os psicólogos
experimentais voltaram-se para o estudo das funções cognitivas e para as
medidas de diferenças individuais nestas funções, ficou evidente a
influência de diversas outras diferenças que não as apontadas nos
testes mentais. Mas essas diferenças, concebidas como variações de caráter,
eram parte do folclore do passado e, portanto, estudadas por aqueles cuja
identificação principal não era com a psicologia. O resultado, afirma
Hilgard (1987), foi deixar a encargo dos psicólogos do século XX o
desenvolvimento de uma psicologia da personalidade e do self.
No
século XX, portanto, o self foi abordado de diversas formas e por
diferentes linhas de pensamento que buscaram responder principalmente às
questões sobre a personalidade, mas que também propuseram interpretações
voltadas para o contexto social, combinando uma já existente psicologia
do desenvolvimento com a psicologia social que estava emergindo (Hilgard,
1987). Uma apreciação adequada dessa diversidade de perspectivas na
investigação psicológica contemporânea do self e suas influências
nas áreas de pesquisa atuais é oferecida pelo trabalho esclarecedor de
Gergen (1984). O autor identifica três principais pilares na pesquisa
contemporânea do self: o primeiro pilar é constituído pela obra
seminal de William James (1890/1990) sobre o senso de identidade e a
configuração da auto-estima; o segundo, pela teoria psicanalítica
representada, principalmente, pelos autores que posteriormente
reformularam os conceitos freudianos, e o terceiro, pelo interacionismo
simbólico de George Herbert Mead (1934) e Charles Horton Cooley (1902).
William
James (1842-1910) forneceu a primeira sistematização do conceito de self
em psicologia, dividindo-o em três partes: seus constituintes, os
sentimentos e emoções que eles provocam e as ações que eles incitam
(James, 1890/1990). A vida empírica do self é constituída por três
distintos selves – material, social e espiritual –, divididos
em duas classes – auto-aspirações (self-seeking)
e auto-avaliações (self-estimation).
Entretanto, o self tem um quarto constituinte que não é empírico,
denominado “Ego puro” (pure Ego).
O self material abrange o próprio corpo, nossas roupas, nossos
familiares e mesmo nossas propriedades. O self social de um indivíduo
é o reconhecimento que ele obtém de seus pares, isto é, um indivíduo
tem tantos eus sociais quantos indivíduos que o conhecem e carregam uma
imagem dele em suas mentes. A ascensão e a queda de status
social provocam mudanças emocionais semelhantes ao aumento e diminuição
do self emocional. O self espiritual abrange todas as
faculdades ou disposições psíquicas do indivíduo, funcionando como o
centro da ação e da adaptação. O ego puro é o senso de identidade
pessoal, o senso de uma “mesmidade” (sameness)
percebida através do pensamento e predicativa das coisas sobre as quais
se pensa. Essa identidade pessoal não existe como um fato, mas sim como
um sentimento do mesmo (James, 1890/1990):
O
senso de nossa própria identidade pessoal, então, é exatamente como
qualquer uma de nossas outras percepções de semelhança entre fenômenos.
É uma conclusão fundada ou em uma semelhança fundamental, ou na
continuidade anterior à mente, do fenômeno comparado (p. 215).
Enquanto
o “mim” (me) empírico pode
ser definido como um agregado de coisas objetivamente conhecidas, o
“eu” (I) que as conhece não
pode ele mesmo ser um agregado e tampouco ser considerado como uma
entidade metafísica como a alma vista como fora do tempo. Ele é um
pensamento, diferente a cada momento daquele pensamento anterior, mas
“apropriativo” desse último pensamento anterior. Com o conceito de
pensamento (Thought), James
(1890/1990) enfatizou as distinções entre sua concepção de um “princípio
interno de unidade pessoal” (p. 220) e a alma da teoria espiritualista
(com suas origens em Platão e Aristóteles), a consciência de si da
teoria associacionista (com origem em Locke e Hume, e apogeu em J. S.
Mill) e, finalmente, o eu puro da teoria transcendentalista (com origem em
Kant).
As
idéias de James sobre o self tiveram continuidade no trabalho de
sua discípula Mary Calkins (1860-1930), que lutou por uma psicologia do self
durante muitos anos. Calkins (1915) defendeu a clarificação, ampliação
e enriquecimento da descrição psicológica do self “pelos esforços
de todos os psicólogos trabalhando em todos os ramos da ciência” (p.
497). Entretanto, a forte oposição de Titchener (1867-1927), que negava
a legitimidade da descoberta do self através de uma psicologia
descritiva introspectiva, e o crescente domínio do comportamentalismo
removeram a psicologia do self do foco central da psicologia acadêmica
(Hilgard, 1987). A obra de Mary Calkins teve melhor repercussão entre os
filósofos.
Paralelamente
à interpretação introspeccionista e funcionalista de Calkins, surgiu
uma abordagem do self que enfatizava o contexto social no qual o self
se desenvolveu, proposta pelos sociólogos e pelo evolucionista James Mark
Baldwin (1861-1934). Essa abordagem constitui o segundo pilar da investigação
contemporânea, identificado por Gergen (1984) no trabalho dos sociólogos
Charles Horton Cooley (1864-1929) e George Herbert Mead (1863-1931).
Baldwin (1895) propôs uma dialética do crescimento pessoal no qual a
percepção que a criança tem dela mesma começa em uma tenra idade. Ao
observar o que aconteceu com seu próprio corpo assim que começou a
movimentar objetos, a criança gradualmente passa a distinguir ela mesma
das outras. O nascimento do self social ocorre quando a criança
torna-se consciente de que o corpo das outras pessoas teve experiências
tais como as suas.
Embora
fosse um sociólogo, Cooley sustentou uma visão de desenvolvimento muito
próxima à de Baldwin (Hilgard, 1987). Conforme o primeiro autor, algo do
mais primitivo sentimento de si depende da habilidade de controlar os
objetos visíveis, os braços e pernas, os brinquedos, etc. Com o tempo,
emerge um looking-glass self, isto é, um self-espelho que nos faz ver a nós
mesmos como os outros nos vêem.
Cooley
(1902) definiu o self social como qualquer idéia ou sistema de idéias
retirado da vida comunicativa que a mente mantém como se fosse seu próprio
sistema. Enquanto conectado com o pensamento de outras pessoas, essa idéia
de si (self idea) é
sempre uma consciência do aspecto peculiar ou diferenciado da vida de
alguém. Essa referência social, em uma série de casos, toma a forma de
uma imaginação sobre como o nosso self – isto é, qualquer idéia
de que nos apropriamos – aparece em uma mente particular. Por conseqüência,
o tipo de sentimento de si que nós temos é determinado pela atitude em
relação a essa idéia que foi atribuída àquela outra mente. O self
social deste tipo deve ser chamado de self refletido ou self-espelho
(looking glass self),
explica Cooley (1902, p. 181):
Da mesma forma que ao vermos nossa face e roupas no
espelho ficamos interessados neles porque são nossos, e satisfeitos ou não
com eles se eles respondem ou não ao que nós gostaríamos que eles
fossem; na imaginação nós percebemos na mente do outro algum pensamento
de nossa aparência, maneiras, objetivos, ações, caráter, amigos e
assim por diante, e somos afetados por isso de diversas formas.
Em
resumo, a idéia-self é constituída por três elementos
principais: a imaginação de nossa aparência para outra pessoa; a
imaginação do julgamento dessa pessoa sobre nossa aparência; algum tipo
de auto-sentimento, como orgulho ou mortificação.
Contemporâneo
de Cooley, e igualmente sociólogo, Mead ofereceu uma descrição do self
social na qual a ênfase recai em na habilidade do indivíduo de tomar o
lugar do outro, através do uso da linguagem. Em outros termos, o indivíduo
só aparece em seu próprio comportamento como um self quando ele
é capaz de tomar a atitude do outro e torná-la parte essencial do próprio
comportamento. Essa “ação conjunta” (co-action) com outros selves
é denominada conversação de gestos, isto é, a situação na qual o ato
de um self torna-se o estímulo para uma resposta dada por outro self.
Para Mead (1934), contudo, o self não é um processo no qual a
conversação de gestos foi internalizada em uma forma orgânica. Nesse
processo, que não existe por si mesmo, a organização do ato social é
importada para dentro do organismo e torna-se a mente do indivíduo. A
mente inclui também as atitudes dos outros, agora altamente organizadas,
que se tornam as atitudes sociais:
Esse
processo de relacionar o próprio organismo aos outros nas interações
que estão em andamento, na medida em que ele é importado para a conduta
do indivíduo com a conversação do “eu” e o “mim”, constitui o self
(Mead, 1934, p. 128).
Essa
importação da conversação de gestos para a conduta do indivíduo
resulta em uma “co-ordenação” superior obtida pela sociedade como um
todo, bem como em uma elevação da eficiência do indivíduo como membro
do grupo. Tais resultados diferenciam o processo que ocorre em um grupo de
ratos, formigas ou abelhas, e o processo que ocorre em uma comunidade
humana. Nesta última, o processo pode ser caracterizado em termos de
“eu” e “mim”, definindo este último como o grupo de atitudes
organizadas às quais o indivíduo responde como um “eu”.
O
que Mead (1934) buscou enfatizar, em seus próprios termos, foi a pré-existência
temporal e lógica do processo social para o indivíduo consciente de si
que cresce nele. A conversação de gestos é uma parte do processo social
e não algo que o indivíduo sozinho torna possível. O desenvolvimento da
linguagem, especialmente o símbolo significante (significant
symbol), tornou possível para o indivíduo controlar essa situação
social externa através de sua própria conduta. O indivíduo agora é
capaz de prever a resposta dos outros indivíduos, e de se ajustar
antecipadamente a ela. Tal conduta, por sua vez, produz uma mudança na
situação social que é novamente refletida no que Mead (1934) denomina o
“mim”.
Mead
desempenhou um importante papel como sociólogo de orientação psicológica.
Porém, embora ele tenha se associado durante algum tempo com Dewey e
Angell nas Universidades de Michigan e Chicago, os tratamentos iniciais do
self em um contexto social foram largamente ignorados por psicólogos
acadêmicos por causa da separação entre a psicologia e a sociologia
(Hilgard, 1987).
Nas
décadas seguintes, o advento do comportamentalismo fez as discussões
sobre o self declinarem até tornar o tema uma espécie de tabu. O
responsável pelo retorno do conceito de self à psicologia foi
Gordon Allport, e seu artigo “The
ego in contemporary Psychology” (1943) seria eventualmente citado
como um marco (Hilgard, 1987).
Allport
(1897-1967) recebeu e incorporou ao seu pensamento uma série de influências,
podendo-se citar entre as principais, a psicologia da Gestalt e os
trabalhos de William Stern (1871-1938), William James e William McDougall
(1871-1938). Sua análise cuidadosa e crítica do ressurgimento do
conceito de self foi uma tentativa de responder à questão sobre a
necessidade de um tal conceito para a psicologia:
Temo
muito que a cômoda tendência de empregar o conceito de eu como panacéia
para reparar os estragos do positivismo fará mais mal que bem (...) O
problema, portanto, é o de saber como abordar o fenômeno que provocou o
ressurgimento do conceito de eu de modo que represente um progresso e não
um obstáculo científico (Allport, 1962, p.55).
A
solução proposta por Allport (1962) foi substituir o que era descrito
como funções do self ou ego por funções da personalidade. Seu
objetivo era evitar a noção de self como um homúnculo ou agente
que organiza e administra o sistema da personalidade. As funções da
personalidade, portanto, não coincidiriam com a personalidade como um
todo, mas constituiriam seus aspectos particulares, isto é, tudo o que o
indivíduo sente como de importância vital em seu desenvolvimento. Esse núcleo
central de funções constitui o proprium,
responsável pela unidade interna da personalidade. A personalidade como
um todo, por sua vez, incluiria, além do proprium,
os hábitos sociais e fisiológicos, que pertencem à periferia da
existência do indivíduo. Em uma espécie de releitura psicodinâmica do
esquema taxonômico de William James, Allport propõe uma distinção
entre as principais funções e propriedades do proprium:
percepção do corpo, auto-identidade, valorização do eu, extensão do
ego, agente racional, auto-imagem, esforços do proprium
e eu cognoscente.
Entretanto,
ainda um pouco antes do self tornar-se novamente proeminente em
psicologia, a psicologia do ego desenvolveu-se dentro da psicanálise,
dando nova importância ao conceito de ego (Hilgard, 1987). A teoria
psicanalítica constitui o segundo pilar da investigação contemporânea
do self mencionado por Gergen (1984). O autor ressalva, contudo,
que os primeiros escritos freudianos sobre o ego
não devem ser superestimados, pois suas inquietações modificaram-se e
tornaram-se populares mais tarde, através, por exemplo, dos escritos de
Horney (1950) sobre amor-próprio, das investigações de Adler (1927)
sobre o sentimento de inferioridade, do tratamento do autodinamismo de
Sullivan (1953), da elaboração do processo de individuação por Jung
(1939) e das explorações de Erikson (1950) sobre o desenvolvimento da
identidade.
Entre
1940-1960 a maioria da pesquisa psicológica sobre o self pode
remontar suas raízes teóricas a uma das três fontes seminais citadas.
Entretanto, embora por volta da década de 1950 qualquer tabu nas discussões
do self estivesse quebrado (Hilgard, 1987), a investigação do self
naquele período era largamente um derivativo do paradigma neo-behaviorista
que predominou de forma mais geral nas ciências psicológicas (Gergen,
1984). Por conseguinte, o renascimento do self na psicologia,
especialmente na psicologia social, afirma o último autor, deve ser
remontado à revolução cognitiva na psicologia. Nos termos de Gergen
(1984), o conceito de self evoluiu do autoconhecimento à construção
comunitária, do mecanicismo para a ação (agency),
da estrutura para o processo, e finalmente, a pesquisa em psicologia
social sobre o self fez emergir a imagem da ação humana (human
action).
A
investigação psicológica do self: o self enquanto corpo
Nos
últimos dez anos, a ênfase na ação e no processo como pressupostos
fundamentais da teorização psicológica do self reflete-se no
entrecruzamento de duas grandes áreas de pesquisa em psicologia: memória
autobiográfica e desenvolvimento. As evidências fornecidas por estes
estudos delineiam um conceito de self profundamente marcado por sua
condição de corpo situado em e influenciado por um ambiente. O self
passa a ser definido como o resultado de um desenvolvimento gradual do
indivíduo em permanente interação com seu meio.
A
pesquisa sobre memória episódica na infância indica que o self
autobiográfico é estabelecido através de narrativas conversacionais
entre a criança e os outros; de conversas internas da própria criança
(Nelson, 1997); e do desenvolvimento de um sentido temporal e contínuo de
si mesma (Fivush, 2001). Tal processo toma por base duas aquisições do
desenvolvimento: entender que as memórias são representações do
passado e, como tal, entender que as memórias são subjetivas. Wang
(2001) mostrou a ligação entre memória e self na relação entre
os efeitos culturais sobre a recordação da infância precoce e a
autodescrição. Conforme a pesquisadora, os indivíduos que descrevem a
si mesmos em termos mais autofocados e positivos, fornecem memórias mais
específicas e autofocadas. Tais estudos se inserem na linha das investigações
sobre autonarrativas e narrativas conversacionais e apóiam a formulação
de uma nova compreensão do self, que enfatiza o desenvolvimento e
a dimensão diacrônica do processo.
As
pesquisas em desenvolvimento infantil, como indicado por Butterworth
(1999) e Legerstee (1999), fundamentam a perspectiva ecológica do
desenvolvimento do self, delineada a partir do trabalho pioneiro de
James Gibson (1950) sobre percepção visual, e posteriormente também por
Eleanor Gibson (1969). Para
Butterworth (1999), existem caminhos através dos quais a percepção
fornece informação para o self antes de haver um conceito de si.
O self reflexivo mental é definido como um componente do self
que se desenvolve relativamente mais tarde, embora o conhecimento de si
como uma entidade singular seja fundado e permaneça dependente da informação
que provém da realidade social e física.
As
origens de um sentido mental de self podem ser explicadas através
da taxonomia dos cinco aspectos do self descrita por Neisser
(1988). Embora a descrição não tenha a pretensão de seguir a abordagem
da psicologia do desenvolvimento, os cinco aspectos surgem em diferentes
épocas do desenvolvimento. São eles: 1) o self ecológico
(diretamente percebido com relação ao meio físico); 2) o self
interpessoal (também diretamente percebido e dependente das formas
emocionais de comunicação, bem como de outras formas típicas da espécie);
3) o self extendido (extended self) (está
baseado na memória e na antecipação e implica uma representação do self);
4) o self privado (reflete o entendimento de que nossas experiências
conscientes são exclusivamente nossas, e de que isto também é
dependente da representação); 5) o self-conceito (uma teoria do self
baseada na experiência sócio-cultural). A perspectiva do desenvolvimento
encarrega-se, então, de responder como relacionar os primeiros dois níveis
de self (específicos da abordagem ecológica e inatos) aos níveis
quatro e cinco, através do desenvolvimento da representação de si.
Conforme
Butterworth (1999), os achados em psicologia do desenvolvimento infantil
sobre percepção visual fornecem importantes evidências da fundação
ecológica do self. A proposição de que o self existe
objetivamente “de fora” pela virtude de sua corporificação é
respaldada pela evidência de que o sentido primário do self
corporificado é diretamente, isto é, perceptualmente ligado à
estabilidade do meio visual, especialmente para o terreno percebido na
periferia da visão. O aspecto corporificado do self, afirma o
autor, é constituído através da percepção da identidade entre
processos proprioceptivos cinestésicos e visuais. O princípio de unidade
inerente ao aspecto reflexivo ou cognitivo do self surge, portanto,
do aspecto perceptual-ecológico do self.
Por
outro lado, as origens dos aspectos interpessoais do self são
reveladas mais claramente nos achados sobre a imitação de gestos faciais
de recém-nascidos, como a protrusão da língua. Esses achados demonstram
que os bebês percebem de fora os fatos fundamentais da corporificação
humana e que a emergência do cerne de um sentido humano de self
depende da experiência emocional. Por exemplo, ao imitar as linhas
expressivas do comportamento do bebê, a mãe revela que compreende não
somente as ações da criança, mas também seus sentimentos. Em outras
palavras, as ações da mãe em resposta às ações do bebê fornecem
informações importantes sobre emoções especificamente humanas.
O
self ecológico e o self interpessoal (os dois primeiros níveis
de self) engendram uma consciência de si primária, enquanto o self
estendido e o self privado (os dois últimos níveis) engendram uma
consciência de si secundária. A distinção entre consciência de si de
ordem primária e de ordem secundária é similar à distinção entre a
consciência de si como um produto (proprioceptivo) da percepção e a
consciência de si reflexiva, como um produto de representação, memória
e pensamento (Butterworth, 1999). Contudo, a ponte entre dois níveis
estabelece-se ainda com base em uma última evidência: o experimento clássico
sobre o desenvolvimento da consciência do self no espelho. O
auto-reconhecimento no espelho tem sido considerado como indicador diagnóstico
da emergência de um autoconceito, afirma o autor. Ele ocorre na mesma época
da aquisição do conceito de permanência piagetiano, assim como o
aspecto autobiográfico do self emerge ao mesmo tempo em que a
criança adquire uma teoria da mente, isto é, a habilidade de atribuir
uma vida mental aos outros.
A
análise do desenvolvimento revela muitos elos entre o self
conceitual e suas fundações pré-conceituais e mostra como o self
é dependente das funções proprioceptivas do corpo, das experiências
sociais e afetivas e dos processos do desenvolvimento cognitivo. No modelo
desenvolvimental, a noção do self muda à medida que novas
camadas são colocadas em torno do núcleo fundamental formado pelos
aspectos ecológicos e interpessoais. Por conseguinte, não pode ser
considerada, em essência, um fenômeno puramente cognitivo. “A primazia
do aspecto ecológico do self é o que torna a experiência mental
do self tão real para o adulto”, conclui Butterworth (1999, p.
210).
Legerstee
(1999) compartilha a perspectiva desenvolvimental de Butterworth (1999) ao
afirmar que o problema da autoconsciência não pode ser resolvido
simplesmente adotando-se uma posição que elimina a dimensão corporal ou
uma posição que contesta a noção de consciência de si ou mente. A
consciência de si desenvolve-se de um nível mais primitivo para um mais
complexo, conforme a teoria ecológica do self de Gibson (1969) e
em oposição à distinção piagetiana clássica entre os níveis
perceptual e conceitual. “Em sua origem, o conceito de self
inclui os selves físico e
mental”, afirma Legerstee (1999, p. 214), pois os bebês têm de estar
aptos a representar seus selves
físico e social para reconhecer que eles são similares e diferentes das
outras pessoas, bem como para desenvolver expectativas e predições sobre
o comportamento dos outros, isto é, para desenvolver uma teoria da mente.
Durante
seus primeiros seis meses de vida, os bebês mostram um conceito primitivo
de seus selves físico/social e
mental e imputam estados mentais como intenções e propósito aos outros
(Legerstee, 1999). Embora essas evidências confirmem a teoria de que a
mente tem conhecimento inato, elas indicam que o desenvolvimento é um
processo de construção de conhecimento novo a partir de estruturas
cognitivas prévias em interação com o mundo social e físico. A autora
organiza a apresentação das pesquisas empíricas de acordo com duas
abordagens metodológicas: aquelas que investigam consciência perceptual
ou sensorial e aquelas que investigam consciência conceitual. Os estudos
que fornecem informação sobre a consciência de si perceptual ou
sensorial tomam por base os produtos das percepções dos bebês de si
mesmos ou a experiência direta com os estímulos do ambiente que
identificam o self. Tais estudos, contudo, não dizem respeito a
uma compreensão conceitual do self. Por outro lado, os estudos que
tem por objetivo fornecer evidência de uma consciência conceitual ou
representacional do self devem mostrar que os bebês estão
conscientes de aspectos de si que não estão disponíveis à experiência
sensorial imediata, pois só nesses casos as identificações do self
que os bebês fazem podem ser considerados produtos de suas capacidades
mentais, tais como memória e representação.
A
consciência de um self físico antes da locomoção independente
refuta a noção de que bebês começam a vida inaptos a separar si mesmos
dos outros. Diversos estudos têm demonstrado que dentro das primeiras
semanas de vida, os bebês usam ou informação visual ou informação
proprioceptiva para controlar sua postura (Berthental & Bai, 1989;
Butterworth & Hicks, 1977); exploram seus próprios corpos, mostram
movimentos coordenados entre mão e boca e abrem sua boca à aproximação
da mão (Butterworth & Hopkins, 1988; Rochat, Blass & Hoffmeyer,
1988); procuram agarrar objetos tridimensionais ao invés de representações
bi-dimensionais (Rader & Stern, 1982); respondem com reações de
evitação a objetos que aparecem de forma ameaçadora, mas não a objetos
que se aproximam indiretamente (Ball & Tronick, 1971; Yonas, Pettersen
& Lockman, 1979); aumentam os movimentos de uma perna na qual está
preso um móbile, a fim de fazê-lo movimentar-se (Rovee-Collier &
Fagan, 1981, citado por Legerstee, 1999), discriminam seu próprio choro
do choro de outras crianças (Martin & Clark, 1982). Esses resultados
indicam que tais comportamentos não são inconscientes ou reflexos, mas
que os bebês percebem a distância entre os objetos e eles mesmos e que o
conhecimento do objeto e o conhecimento de si são inseparáveis, afirma a
autora. Em todos os casos, os bebês parecem agir como indivíduos, o que
sugere que eles estão conscientes de seu self físico enquanto
algo separado do ambiente externo.
Enquanto
as situações que identificam o self físico são continuamente
especificadas pela informação acústica, cinestésica e vestibular, a
consciência (consciousness) do self social torna-se
evidente quando os bebês interagem com o meio social. Estudos demonstram
que bebês de cinco semanas imitam expressões faciais modeladas por
pessoas e não por objetos inanimados simulando esses movimentos
(Legerstee, 1990 e 1997a; Legerstee & Bowman, 1989; Legerstee, Corter
& Kienapple, 1990; Legerstee, Pomerlau, Malcuit & Feider, 1987;
Stern, 1995), indicando que a imitação é um mecanismo social para
promover comunicação interpessoal através do qual o self social
pode ser identificado.
Nenhum
desses estudos, conclui Legerstee (1999), fornece evidência de que os bebês
representem a informação sensorial que percebem. As evidências de um self
representacional, prossegue a autora, têm sido reveladas pelos estudos de
auto-reconhecimento no espelho. Pesquisas recentes utilizando variações
desse clássico experimento (Legerstee, Anderson & Shaffer, 1998;
Fogel, 1993; Stern, 1995) indicam que a consciência de si mesmos como
similar a outras entidades sociais e diferentes de objetos não-sociais
pode existir em bebês de cinco a oito meses.
As
evidências de uma consciência de intencionalidade têm sido fornecidas
pelos resultados de experimentos recentes que investigam o entendimento
dos bebês da causação social e da causação física (Legerstee, 1994).
Tais achados indicam que bebês de seis meses de idade estão aptos a
adotar estratégias mentalistas para interpretar e predizer o
comportamento de outros e possuem uma primitiva teoria da mente, isto é,
atribuem propósito e intenções aos outros.
De
acordo com Legerstee (1999), os achados sobre os níveis mentais, sociais
e físicos como os fundamentos para um conceito de self são uma
evidência de que o self é um fenômeno cognitivo que não pode se
desenvolver alienado das influências físicas e sociais. Sua breve revisão
da pesquisa do desenvolvimento do self permitiu descrever uma
consciência universal dos bebês de seu self físico, social e
mental, durante os primeiros seis meses de vida. Contudo, a autora
ressalta que o self representa algo além dessas descrições
neurobiológicas, físicas/sociais e cognitivas:
A generatividade de nossa própria
inteligência, que forma a fundação de um self único não é
somente o resultado de equilibrações na relação entre o self e
o ambiente, mas também de equilibrações subjetivas. É somente durante
este jogo dialético que formas realmente novas de conhecimento de selves
únicos podem ser criadas (Legerstee, 1999, p. 227).
A
perspectiva ecológica do desenvolvimento, com sua ênfase nas evidências
empíricas de uma relação self/ambiente desde os primeiros meses
de vida configura, indiscutivelmente, um avanço na discussão ontológica.
Essa convergência de pesquisa e teoria resgata a necessidade de
uma abordagem do self que supere a tensão indivíduo-meio, e
reformula a questão da relação entre o self e seu ambiente nos
termos de uma fusão entre os dois extremos, ou mais especificamente, de
uma inserção do self em um corpo. Como conseqüência, a questão
assim reformulada remete a um novo contexto epistemológico, no qual a
relação entre consciência de si e corpo torna-se o nó crucial.
Conclusão
A análise
histórica da idéia do self ilustra com propriedade a impressão
de Hilgard (1987) sobre a análise histórica de todo o campo psicológico:
“fica-se impressionado como, tanto em uma área de interesse como em
outra, o mesmo tipo de questão aparece: racionalismo versus
empiricismo, hereditariedade versus
ambiente, pessoa versus situação”
(p. 521). Contudo, a análise da investigação psicológica mais recente
sobre o self torna igualmente evidente o esforço para superar as
classificações fundadas nessas dicotomias. O deslocamento do foco no
autoconceito para o foco na dimensão social e na agência (a capacidade
distintiva do ser humano de agir no mundo através de suas escolhas e
tomadas de decisão), apontado por Gergen (1984), aparece traduzido, nos
últimos anos, nas pesquisas voltadas para a narratividade do self
(a característica distintiva do ser humano de constituir uma narrativa
sobre si mesmo e perceber-se, espacial e temporalmente, através dela),
para sua dimensão corpórea e para a interação com o meio que o
circunda.
Narratividade,
corpo e interação apresentam-se como as novas temáticas da teorização
psicológica, delineando uma problemática também nova, que retoma a
discussão do fenômeno self no contexto da comunicação. De uma
perspectiva ontológica, o self torna-se um processo de interação
comunicativa entre consciência e corpo. De uma perspectiva epistemológica,
conhecer o self é compreender as relações entre consciência e
suas formas de expressão no mundo. Nos termos de Engelmann (1997),
configura-se o estudo da consciência mediata, mais especificamente da
consciência-mediata-de-outros, que é o único tipo de consciência que
pode ser estudada cientificamente.
Essa
ênfase no processo comunicativo determina um foco na relação reversível
entre um organismo (a pessoa) e seu ambiente (mundo vivido) (Gomes, 1997).
Tal processo pode ser entendido tanto como uma comunicação do eu consigo
mesmo, quanto como a comunicação do eu com o outro, que permite
aproximar e explorar uma realidade que tem como intencionalidade a
descoberta de maneiras mais adaptadas e autênticas de expressão. Através
da linguagem, a consciência de uma percepção interpessoal passa a fazer
parte da experiência de uma expressão interpessoal, pois, “a comunicação
é um meio de alimentação e retroalimentação que qualifica a percepção
através dos atos expressivos” (Gomes, 1987, p. 319). E o estudo do self
pode então ser definido como o estudo da experiência consciente, isto é,
do ato comunicativo de um corpo situado em um determinado ambiente.
É
importante notar, ainda, que a ênfase na comunicação como um
pressuposto fundamental na teorização do self será a tônica de
duas recentes abordagens do fenômeno: a dialógica (Hermans & Kempen,
1993) e a semiótica (Pickering, 1999 e Wiley, 1996). Embora tenham se
desenvolvido independentemente uma da outra, ambas as abordagens tratam o
fenômeno self enquanto um signo, engendrado na relação intrínseca
entre a percepção de sentido conversacional (ou dialógica) e a
funcionalidade (ou pragmática) da expressão.
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Notas
- (1) A busca de uma tradução adequada para o termo self nas diversas línguas configura, por si só, uma parte significativa da investigação do fenômeno (conferir Harré & Gillett, 1999 e Toulmin, 1977). Nas traduções para a língua portuguesa no Brasil, self não tem sido traduzido (conferir Damásio, 2000; Harré & Gillett, 1999; Taylor, 1997 e Wiley, 1996). Nas traduções publicadas em Portugal, é possível encontrar o termo self como consciência (Eccles, 2000), eu (Bermúdez, 2000) e si (Damásio, 2003, versão portuguesa do próprio autor).
[volta]
-
- (2)
Psychologia empirica e Psychologia
rationalis, publicadas em latim, respectivamente, em 1732 e
1734. [volta]
-
Nota sobre os autores
Data
de recebimento: 16/05/2005
Data de aceite: 23/09/2005
Memorandum
9, out/2005
Belo Horizonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a09/souzagomes01.htm
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