Introdução
O caratê, hoje, é praticado por
aproximadamente 20 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil há
aproximadamente 1 milhão de praticantes segundo a Confederação
Brasileira de Karate.
O seu surgimento como forma de
luta é milenar e suas origens incertas. Todavia, o seu desenvolvimento
mais acentuado ocorreu nos últimos séculos e o caracterizou como uma
luta própria da ilha de Okinawa no arquipélago japonês. Sua prática
nessa ilha era secreta até o século XIX e tornou-se pública a partir da
Era Meiji através de Gichin Funakoshi (1868 – 1957). Este mestre
okinawano foi responsável pela introdução do caratê no resto do Japão
e iniciou o processo de sua divulgação e expansão pelo mundo.
As artes marciais japonesas eram
acompanhadas de um conjunto de valores considerados virtuosos e o ensino
de caratê, que era permeado por moralidade e religiosidade bastante
intensas até então, tenderia a ater-se mais à técnica no decorrer
desse processo de expansão. Gichin Funakoshi considerava essa arte uma
forma de aperfeiçoamento da personalidade do praticante. Em sua obra
escrita sempre enfatiza a conduta que o carateca deve ter. Foi o primeiro
a chamar a arte de karate-do, o "caminho das mão
vazias", ao invés de somente "mãos vazias", dando um
caráter doutrinário à arte. Por seu trabalho é considerado o fundador
do caratê moderno.
Funakoshi vive em um momento de
grandes transformações na estrutura social e política do Japão. Com a
abertura ao Ocidente, fim do feudalismo e fim da classe samurai na Era
Meiji (1868), várias mudanças ocorriam na vida da população e a
necessidade de adaptação às novidades tornava-se mais urgente. Em sua
autobiografia escreveu sobre a época em que foi professor escolar:
O
Japão vivia um momento de grande efervescência; mudanças importantes
ocorriam em todas as partes, afetando cada faceta da vida. Como professor
sentia a obrigação de ajudar a geração mais jovem, que um dia forjaria
o destino de nossa nação, a preencher as enormes lacunas que se
escancaravam entre o Japão velho e o novo (Funakoshi, 1994, p. 18).
Funakoshi aparentou maleabilidade
em lidar com a adaptação aos novos tempos. Sem se desfazer dos valores
advindos de sua descendência de samurais, com o rígido código de honra
dessa classe, o bushidô, possibilitou a inclusão de sua arte nos
tempos modernos.
Seu pensamento acerca do caratê
como método de aperfeiçoamento da personalidade, é advindo não apenas
da prática desta arte marcial por si só. O professor Yasutsune Azato
iniciou-o na arte marcial e no confucionismo. Outras relevantes
influências que permeiam o pensamento de Funakoshi são o xintoísmo,
religião nativa do Japão que tem como marca o culto e respeito aos
ancestrais, o zen-budismo e o já citado bushidô (caminho do
guerreiro). São esses os alicerces de suas concepções morais e
espirituais e, portanto, do conjunto de sua visão do mundo que engloba
também idéias psicológicas.
Objetivos
O objetivo desse trabalho é
realizar um resgate teórico das idéias psicológicas (1)
e morais próprias do caratê, contextualizando-a à luz dos paradigmas
culturais de maior influência no pensamento de Gichin Funakoshi. Tal
resgate teórico possibilita a compreensão em nosso contexto ocidental
contemporâneo, das origens do código moral do caratê que pode, assim,
ser avaliado adequadamente por seus praticantes.
Com efeito, Funakoshi, segundo
sua autobiografia, tinha consciência de que o caratê iria evoluir
modificando-se tecnicamente e enfatizou que, acima de tudo, fosse mantida
justamente a sua essência que é relacionada ao aperfeiçoamento de
características de personalidade, moralidade e também espiritualidade.
As evoluções e modificações técnicas se confirmaram, assim como a
importância que os praticantes ainda hoje dão a valores que vão além
da prática esportiva, graças à divulgação de seu trabalho. Todavia,
com a internacionalização, esses valores, que fazem a essência do
caratê como entendido por Funakoshi, diluiram-se e se descaracterizaram
na medida em que foram recortados do contexto cultural em que se inseriam.
Material e Método
A metodologia dessa pesquisa
segue a abordagem da historiografia da psicologia e das idéias
psicológicas: a contextualização do pensamento a ser investigado não
busca a "tradução" de conceitos mas a compreensão global do
pensamento de acordo com suas origens.
A leitura da obra de Funakoshi
buscou evidências de seu pensamento moral sobretudo focalizando sua
visão acerca da atitude do praticante da arte marcial. Realizada esta
etapa procurou-se na literatura histórica, os referenciais teóricos que
fundamentam seu pensamento.
A obra escrita de Gichin
Funakoshi e os referenciais teóricos, documentos esses utilizados como
fonte primária e secundária nessa pesquisa, serão relacionadas nas
referências bibliográficas.
Resultados
O caratê começa e termina com
cortesia
"Na
verdade, a essência da arte foi resumida nestas palavras: O caratê
começa e termina com cortesia" (Funakoshi, 1994, p. 44).
Ao associar a essência do
caratê à cortesia, Funakoshi faz pressupor de que um dos fins da arte
seja a harmonia. Há uma relação direta entre harmonia/arte e
moral/cortesia, referendada no confucionismo, que liga as obrigações
morais à estabilidade e à paz. Dentro desse enfoque compreende-se melhor
a importância dada por Funakoshi à moralidade. A seguir, diversos
exemplos dessa moralidade, que tem por finalidade última a manutenção
da paz:
você
deve ser sempre profundamente solícito com cortesia, sendo sempre
respeitoso e obediente aos mais velhos. Não existe arte marcial que não
ressalte a importância da cortesia e das boas maneiras (Funakoshi, 1998,
p. 50).
Karate-do
não é somente a aquisição de certas habilidades defensivas, mas
também o domínio da arte de ser um membro da sociedade bom e honesto.
Os
jovens, em particular, deveriam mostrar um interesse maior por suas
famílias, e isto, sem dúvida, é uma questão importante, não apenas
para o possível praticante de caratê, mas também para todo membro da
raça humana. A mente do verdadeiro carateca deve estar imbuída de tais
desvelos, antes de voltar a atenção para o seu corpo e para o
aperfeiçoamento de sua técnica. Amor ao caratê, amor a si mesmo, amor
à família e aos amigos: todos levam ao amor à própria pátria. O
verdadeiro sentido do caratê só pode ser alcançado através desse amor
(Funakoshi, 1994, p.110).
A extensão dos conselhos morais
de Funakoshi é ampla: enfatiza-se, por exemplo, a necessidade da
atenção dos jovens para com suas famílias. A importância desse valor,
proveniente seja do xintoísmo seja do confucionismo, tem o mesmo objetivo
final. O xintoísmo dá uma importância religiosa para esse valor moral;
já o confucionismo explica sua importância considerando que "a
piedade filial é a raiz de toda virtude e o tronco do qual nasce todo
ensinamento moral" (Doeblin, 1940, p. 145). Para o confucionismo, os
corpos são aquilo que nós "herdamos de nossos pais e não devemos
atrever-nos a danificá-los ou feri-los. Este é o começo da piedade
filial. Quando formamos nosso caráter mediante a prática da conduta
filial, para tornar famoso nosso nome nas idades futuras e glorificar com
isso nossos pais, este é o fim da piedade filial. Começa com o serviço
de nossos pais, continua com o serviço do governante e se completa pela
formação do caráter" (Doeblin, 1940, pp. 145 e 146). A formação
do caráter é considerada como sendo um dos objetivos do caratê por
Funakoshi, portanto a piedade filial torna-se a maneira pela qual se
origina o desenvolvimento do caráter.
Um aspecto importante do
desenvolvimento do caráter é alcançar o equilíbrio, o equilíbrio
entre material e espiritual. A formação e o exercício de ambos os
aspectos é considerado como essencial para que o homem possa de fato ser
realizador. É também, ainda o equilíbrio, algo que deve ser sempre
buscado para garantir uma preparação constante que impede imprevistos e,
caso aconteçam, se esteja capacitado para lidar com eles. Influi aqui um
aspecto relevado por Funakoshi e que se fundamenta na tradição
histórica japonesa: "Lembrar os tempos de aflição nos tempos de
paz e treinar constantemente o corpo e a mente são as duas atitudes que
formam o espírito orientador e o caráter do povo japonês"
(Funakoshi, 1994, p. 89). Essa constante preparação, que norteia a base
do pensamento nas artes marciais japonesas, serve para que se evite ser
"pego desprevenido por terríveis tempestades e enchentes"
(Funakoshi, 1994, pp. 88 e 89) (2), o que
parece uma espécie de metáfora daquilo que não se deseja ao psiquismo e
surge, no confucionismo, como decorrência espiritual do despreparo do
homem, relacionada a uma espécie de justiça natural, baseada em causa e
efeito. No Zen-Budismo, o equilíbrio é dado como o caminho do meio e o
desequilíbrio tem suas conseqüências:
O
caminho do meio está onde não há nem meio nem dois lados. Quando estais
escravizados ao mundo objetivo, tendes um dos lados, quando estais com a
mente perturbada, tendes o outro. Quando nenhum desses lados existe, não
há parte do meio, e portanto aí estará o caminho do meio (Suzuki, 1992,
p. 71).
Funakoshi atenta para o grande
risco da predisposição mental ao possível uso do caratê em lutas, pois
tal atitude não se coaduna com os objetivos de desenvolvimento a que o
caratê se propõe.
...o
caratê não é, nem jamais foi, meramente, uma forma bruta de autodefesa.
Pelo contrário, quem quer que realmente domine a arte do caratê tomará
cuidado para não aventurar-se em situações ou lugares perigosos, onde
possa ser forçado a usar a arte (Funakoshi, 1994, p. 121).
Tal predisposição é tida como
um risco à finalidade da arte, pois facilita a ocorrência de uma atitude
ofensiva. Sua ênfase na importância da solicitude, cortesia, respeito,
obediência aos mais velhos, prudência e humildade, enfim, no que parece
ser sua concepção de boas maneiras, tem como meta a manutenção da paz
e da harmonia, proposta no confucionismo e almejada pelas demais
religiões com as quais teve contato. Nas palavras do filósofo do
confucionismo Tsang, a reafirmação do princípio de causa e efeito
justifica o cuidado a ser tomado com os próprios atos: "Cuidado,
cuidado, o que vem de ti voltará novamente a ti" (Doeblin, 1940, p.
127). Tendo em mente o risco que atitudes ofensivas e orgulhosas podem
denotar, Funakoshi ressalta o perigo último, o risco de vida que as
contendas físicas podem acarretar quando o caratê entra em cena. Nas
palavras de Mêncio, pensador do confucionismo, o auto exame para com suas
possíveis faltas é a primeira atitude a ser tomada:
Há
um homem que me trata de modo perverso e irrazoável. Neste caso, o homem
superior dirá a si mesmo: "Deve haver-me faltado benevolência. Deve
haver-me faltado correção. Como pode ter acontecido isso?"
Examina-se
a si mesmo e é acentuadamente benévolo. Esquadrinha o seu íntimo, e é
especialmente respeitoso à correção. A perversidade e a conduta
irrazoável do outro, no entanto, continuam a existir. O homem superior
voltará a dizer-se: "Não terei feito tudo o que podia?"
(Doeblin, 1940, pp. 85 e 86)
Na concepção de desenvolvimento
do guerreiro adepto do Zen, a visão de Funakoshi também parece
referendada: "Desembainha a espada apenas nos momentos inevitáveis,
porque ela se converteu na sua alma, evitando, porém, lutar contra um
adversário indigno, que se vangloria dos seus músculos, não deixando de
receber, por causa disso, um sorriso que o acusa de covardia"
(Herrigel, 1995, p. 87).
O ditado referido por Funakoshi:
"Tenha
cuidado", escrevi num dos meus primeiros livros, "com as
palavras que fala, pois, se você for arrogante, fará muitos inimigos.
Nunca se esqueça do antigo ditado que diz que um vento forte pode
destruir uma árvore robusta, mas o salgueiro verga-se, e o vento passa
sobre ele. As grandes virtudes do caratê são a prudência e a
humildade" (Funakoshi, 1994, p.102)
pode ser melhor compreendido se
recorrermos ao contexto histórico em que está inserido. As
transformações pelas quais o Japão passava, provocaram o fim da rígida
hierarquia social que predominou durante séculos. O orgulho de classe,
principalmente nas estirpes samurais, foi tão forte em determinados
momentos que uma palavra considerada ofensiva dita a um samurai, podia ser
o suficiente para que esse executasse quem a proferisse. Os descendentes
de samurais tinham que se adaptar às transformações e, não raro –
foi o que aconteceu com a família de Funakoshi – passavam por uma
situação econômica muito difícil, às vezes aliada a um desprezo
social relacionado à classe que oprimiu a população por séculos,
abusando do poder que agora não tinha mais. Portanto, sem a defesa da
posição de classe, mas ainda com os valores samurais predominando nas
famílias de descendentes, era grande o risco de um orgulho
inquebrantável, sendo necessário pois, uma reconsideração acerca do
que é ofensivo.
Tem-se como maneira correta de
agir primeiramente o cuidado com o próprio modo de ser, e em seguida, a
relativização da importância do erro do outro: "você deve
ignorar o que não é bom e adotar o bom" (Funakoshi, 1998, p. 50).
Temos inúmeros exemplos na obra
de Funakoshi, que esclarecem a diferença entre "não bom" e
"bom". No confucionismo há o seguinte trecho que pode nos dar
uma idéia resumida, mesmo que parcial, daquilo que foi referido:
"Encontrar prazer no estudo consciencioso do cerimonial e da música,
encontrar prazer em falar da bondade dos outros, encontrar prazer em ter
muitos amigos dignos, são coisas vantajosas. Encontrar prazer em prazeres
extravagantes, encontrar prazer na ociosidade e na disponibilidade,
encontrar prazer nos prazeres dos banquetes, são coisas
prejudiciais" (Doeblin, 1940, pp. 135 e 136).
A atenção despendida nos
escritos de Funakoshi aos bons modos, com ênfase na prudência e
humildade, parece ser coerente com o que julgava mais urgente destacar,
naquele momento aos praticantes de caratê, conforme podemos observar
quando cita alunos que pensam de maneira diferente. A recorrência a esses
valores não deve, porém, ser confundida com passividade e conformismo.
Há observações claras acerca da obrigação da luta pelo que é justo.
O Mestre Mêncio, na perspectiva
do confucionismo, alerta que se deve recompensar "o mal com justiça
e a bondade com bondade" (Doeblin, 1940, p. 136), através da luz da
razão. Considera ainda que há algo que mais abomina que a morte, algo
que ama mais do que a própria vida, e este algo é a retidão.
Portanto, a arte do karate-do
é tida como meta e método que depende de seu praticante e de seus atos:
Sempre disse para meus alunos: "A arte não faz o homem, o homem é
que faz a arte" (Funakoshi citado por Sasaki, 1995, p. 90).
Espírito de luta
A atitude ou postura mental,
comumente identificada como "espírito de luta" (3)
no meio carateísta brasileiro, é um caracterizador das artes marciais
japonesas tradicionais. A ênfase é dada nesse aspecto desde o princípio
do ensino nessas artes marciais, tendo-se o uso adequado da técnica como
função dessa atitude mental e de muito treinamento. Como grande parte do
treinamento técnico das artes marciais é feito a partir de exercícios
individuais, sem um companheiro de treino a frente, evidencia-se o uso da
imaginação para que o treinamento não se torne simples repetição de
gestos físicos, sem a seriedade de sentido que se deve dar a eles. O
samurai Miyamoto Musashi escreve sobre o pensamento voltado a um único
golpe como determinante da luta: "Você poderá ter a certeza da
vitória com o espírito de "Um Golpe". É difícil atingir esse
nível, porém, quando a estratégia não é bem aprendida. Se você
treinar suficientemente neste Caminho, a estratégia sairá do seu
coração e você terá condições de vencer à vontade. Mas é preciso
treinar com esforço" (Musashi, 1996, p. 72). Em Funakoshi e em
Musashi, há um sentido comum, "seu espírito se expressará com toda
a plenitude" e "a estratégia sairá do seu coração".
Para tanto, a crença na necessidade da decisão e do acerto do golpe são
sempre enfatizadas: "Quando se pensa que a vitória é certa, e
quando se está mais alto, o golpe saí mais forte; é este o momento do
ataque" (Musashi, 1996, p. 68). A determinação mental no momento do
golpe é considerada como um meio, não só de melhorar a finalização do
golpe, mas de, assim, dar vazão a um uso máximo de potenciais pessoais.
Por isso, diferencia-se a aplicação da técnica, segundo esta
modalidade, da aplicação da mesma em uma atitude sem determinação e
sem o objetivo de finalização do combate: "Mesmo que você talhe
com força, e mesmo que o inimigo morra instantaneamente, você ainda
assim estará talhando. Quando se golpeia o espírito está resoluto"
(Musashi, 1996, p. 67).
Funakoshi, apoiando-se num antigo
dito chinês afirma que "o conhecimento da habilidade e das sutilezas
técnicas de um oponente era metade da batalha" pois "O segredo
da vitória está em conhecer a si mesmo e a seu inimigo" (Funakoshi,
1994, p.29) (4).
Nesse sentido o conhecimento de
si mesmo e do adversário, é tido como necessário, como um meio para
alcançar a vitória e como meio de aperfeiçoamento pessoal,
aperfeiçoamento esse que se dá na interação e no contato com o outro:
Com
o Karate-do, oferecendo sua ajuda aos outros e aceitando-a deles, o
homem adquire a habilidade de elevar a arte ao estado de crença, em que
possa aperfeiçoar corpo e alma e assim finalmente chega a reconhecer o
significado verdadeiro do Karate-do (Funakoshi, 1994, p. 117).
O aprofundamento do conhecimento
de si próprio e o reconhecimento do significado do Karate-do, tem
no outro um importante auxílio, pois é nessa relação de alteridade que
ocorre o desencadeamento de reações pessoais que não poderiam ocorrer
em âmbito apenas individual, sem interação. No contato com o outro
existe a possibilidade de se encarar concretamente o medo e suas
conseqüências. A experiência dos antigos mestres chega a mesma
conclusão, a necessidade da seguinte postura (5):
"Tanto na luta quanto na vida cotidiana você deve mostrar
determinação aliada à calma" (Musashi, 1996, p.56). Preparar-se
sempre, como demonstrado anteriormente, é o caminho para esta postura.
A preparação é algo a ser
reconhecido e levado em consideração inclusive já durante o próprio
momento da luta, indicando a tática a se assumir. Jamais se considera a
possibilidade de desistência, de fuga da luta (essas são palavras que
não aparecem nos textos sobre caratê), considera-se sim, e com
veemência, a necessidade de, porventura, haver recuo para preparação.
Note-se o exemplo abaixo (grifo nosso):
Todos
conhecemos a persistência da habu (ndr: uma espécie de cobra
peçonhenta). Mas dessa vez não foi esse o perigo. A habu que
encontramos parece estar familiarizada com as táticas do caratê e,
quando deslizou para dentro do campo, ela não estava fugindo de nós.
Estava se preparando para um ataque. A habu compreende muito
bem o espírito do caratê (Funakoshi, 1994, p. 58).
Portanto enfatiza-se a perpétua
"determinação e calma" (que advêm ao mesmo tempo que alimenta
a preparação) que permitiriam identificar, ou mesmo produzir, o melhor
momento – recorrentemente atribuído à postura mental adequada – para
si e o pior momento para o adversário: "será vencedor quem,
autopreparado, espera para surpreender o inimigo despreparado" (Tzu
citado por Clavell, 1997, p. 28).
Porém sugere-se que a
"melhor" atitude é a que, com essas características acima
dadas, atua esquecida de si própria. Essa atitude serviria a determinados
objetivos e intenções. E de fato ela pode servir e bem. Mas esse não é
o propósito no Zen-Budismo. A atitude sugere uma postura diante da
realidade que, independe de fins utilitários, ela é a própria
intenção, o próprio objetivo. Assim compreende-se que a ação, com
tudo o que ela acarreta, importa mais em si própria do que um objetivo
dado a ela. Na realidade, o Zen considera que esse próprio objetivo irá
mais facilmente ser atingido (6). Em uma luta
ou em um jogo, a intenção é a vitória e ela está presente alí, mas
é deixada de lado frente à ação. A finalidade última desse princípio
parece ser o desenvolvimento espiritual.
Vejamos ainda que o aprendizado
técnico e a atitude seguem juntos em desenvolvimento paralelo, um
associado ao outro:
Você
estudará métodos de negacear e penetrar nas defesas do seu oponente, e
reconhecerá como são essenciais um sentimento vigoroso e intrépido e um
forte espírito de luta. Por último, você chegará a uma compreensão
profunda de que além do que pensamos, que é o máximo, sempre há algo
melhor (Funakoshi, 1998, p. 55).
O aprendizado de técnica e de
tática, são colocados mais uma vez como necessários e importantes,
regularmente vinculados a uma atitude mental favorável: "é
indispensável que você sinta necessidade e vontade de abater o
inimigo" (Musashi, 1996, p. 58).
Nota-se, novamente, o surgimento
da idéia de constante preparação, de se evitar a acomodação e de que
o treinamento do caratê proporciona, se praticado como proposto, o
máximo em se tratando de atitude mental, esse máximo está descrito por
Miyamoto Musashi: "O espírito de se derrotar um homem é o mesmo
para se abater dez milhões de homens" (Musashi, 1996, p. 44). Além
disso, considera de maneira semelhante a Funakoshi, que "o guerreiro
tem que treinar dia e noite a fim de tomar decisões rápidas. Na
estratégia, é importante tratar o treinamento como parte da vida normal,
sem qualquer mudança de espírito" (Musashi, 1996, p. 45). Tais
posições são acompanhadas de maneira próxima também no pensamento
chinês clássico: "apesar de termos ouvido falar de precipitações
estúpidas na guerra, a inteligência nunca foi associada a decisões
demoradas" (Tzu citado por Clavell, 1997, p. 22).
Todavia, Funakoshi ressalta que
estar em constante preparação, estar alerta, não significa viver numa
posição de conflito permanente, nem numa atitude ofensiva, significa
estar em condições de avaliar situações, avaliar a si próprio e ao
outro, a fim de tomar a atitude adequada ao que é justo. Desse modo o
verdadeiro praticante do budô é tal que: "Seu sorriso pode
conquistar até o coração das crianças; sua ira pode fazer um tigre
encolher-se de medo" (Funakoshi, 1998, p. 50).
Condutas indesejáveis
Em sua obra, Funakoshi
recorrentemente faz referências a posturas indesejáveis aos praticantes
de artes marciais.
O karate-do
é uma arte marcial nobre, e o leitor pode ter certeza de que aqueles
que se orgulham de quebrar tábuas ou telhas, ou que se vangloriam de
poder realizar façanhas exóticas, como cortar a carne ou quebrar as
costelas, realmente não conhecem nada de caratê. Eles estão brincando
nos galhos e entre as folhas de uma árvore frondosa, sem ter a mínima
idéia do tronco (Funakoshi, 1998, p. 17).
O trecho acima, em que repreende
aqueles praticantes que falam do caratê exagerando seus feitos, ressalta
o sentido profundo que Funakoshi dá à sua arte, um sentido que não deve
se perder na superficialidade e nas banalizações, até porque, como
visto anteriormente, a finalidade utilitária pelas quais se valoriza o
caratê nestes discursos, seria prejudicial ao conceito de desenvolvimento
do Zen, em que isto é tido como "diabólico" (7),
no sentido de tornar-se um obstáculo ao desenvolvimento espiritual. O
risco é perder-se de vista a "natureza" do caratê.
Para Funakoshi, a finalidade
técnica ou a intenção de se fazer uso do caratê, não são suficientes
para manter uma pessoa interessada pela prática e justifica-se a
necessidade de se evitar o uso, principalmente por parte dos jovens:
...sempre
há alguns que têm como desejo único aprender caratê para utilizá-lo
numa luta. Esses quase inevitavelmente abandonam o curso antes mesmo da
metade do ano, porque é quase impossível que qualquer jovem, com
objetivo tão tolo, continue por muito tempo no caratê (Funakoshi, 1994,
p. 112).
As atitudes indesejáveis
apontadas por Funakoshi demonstram, em seu sentido oposto, atitudes
esperadas para a prática adequada. O praticante deve agir segundo o
costume japonês de ensino marcial, o costume samurai de superar as
dificuldades físicas, a dor, a exaustão, a fim de aprimorar a força da
vontade frente a dificuldades: "A princípio tudo parecerá difícil,
mas a princípio tudo é difícil" (Musashi, 1996, p. 47). No texto
secular de Musashi encontra-se a seguinte metáfora que, por fim, indica
que essa prática não beneficiaria somente o treinamento em si:
"...esteja preparado para remar o quanto for preciso sem as velas. Se
você alcançar este espírito, ele terá aplicação em sua vida
cotidiana" (Musashi, 1996, p. 80). Funakoshi classifica como
ridículas as lamúrias que interfeririam esse processo e refere-se ao
"castigo" como o mais adequado a esses casos. Isso se
representaria, pelo Zen, em um tapa na face, por exemplo, "um fato
direto, uma experiência pura, a verdadeira fundação do nosso pensamento
e do nosso ser." (Suzuki, 1992, p. 73)
Há críticas enfáticas de
Funakoshi à atitude arrogante, pois de acordo com sua noção de
equilíbrio já exposta anteriormente (8),
ambas, atitude e habilidade, devem ser valorizadas.
Funakoshi retira a ênfase na
finalidade agressiva ou violenta do caratê, pois esta não caracteriza o
caratê como entendido por ele. Tais fins afastam o praticante das
finalidades nobres do caratê, quais sejam as referentes ao
desenvolvimento pessoal. Responsabiliza os que ensinam enfatizando a
agressividade ou a violência, pelas preocupações das autoridades quanto
ao seu possível uso violento. Ressalta a necessidade de maior ênfase a
sua natureza "espiritual" do que à técnica. Preconiza que o
caratê seja uma busca do auto-conhecimento, uma maneira de se deter
consigo próprio, de se auto-avaliar interiormente e exteriormente, uma
busca de auto-desenvolvimento pessoal que terá reflexos no
desenvolvimento social.
Funakoshi descreve em sua
autobiografia uma ocasião em que, aos trinta anos de idade, participa de
um confronto de "guerra de braço" com desconhecidos. Segundo
seu relato, após várias vitórias no jogo retira-se, mas no caminho é
atacado pelo grupo, de sete ou oito pessoas. Esquivou-se dos golpes até o
líder do grupo mandar que o ataque fosse interrompido. Assim
posteriormente refletindo sobre a situação, pondera:
Quando
cheguei a Shuri, estava cheio de remorso. Por que havia entrado no
confronto da guerra de braço? Teria sido por mera curiosidade? Mas a
resposta verdadeira me veio a mente: era confiança excessiva em minha
força. Numa palavra era orgulho. Era uma violação do espírito do Karate-do
e me sentia envergonhado (Funakoshi, 1994, p. 65).
A ação induzida pelo orgulho e
que, por algum motivo, provoque uma situação arriscada como a descrita
é tida como não correspondente à moralidade da arte. O orgulho é uma
das grandes barreiras a serem superadas e esta concepção parece ser
advinda do Zen-Budismo que, neste sentido atribuí sim a necessidade de
uma conduta moralmente correta e baseada na humildade, como descreve
Suzuki: "Aqueles que não atingiram ainda a completa compreensão do
Zen podem, irresponsavelmente, cometer todos os excessos e até crimes em
nome do Zen. Por essa razão, os regulamentos dos mosteiros são muito
rígidos e tendem a afastar o orgulho do coração, adotando integralmente
a humildade" (Suzuki, 1992, p. 150). A rigidez dos treinamentos
marciais japoneses, também parece ter como ideal, dentre outras
finalidades, a suplantação do orgulho (9).
Conclusão
Vimos que na obra de Gichin
Funakoshi existem relações entre as idéias morais e as idéias
psicológicas. A estrutura geral dessas idéias, assim como a maneira
pelas quais as principais influências culturais, das quais elas derivam,
se conectam a essas idéias, foram apresentadas. Outras influências, que
porventura nos tenham escapado, certamente não têm a mesma importância
dentro do conjunto de idéias de conteúdo moral e psicológico.
No decorrer do trabalho, foi
possível, após a seleção das idéias que se enquadravam como morais e
psicológicas, localizar grande parte das influências que as originaram e
fundamentaram. Verificou-se que o principal fundamento é, de fato, o
confucionismo em primeiro lugar, seguido pelo bushidô, estando o
xintoísmo relegado a pano de fundo pois sua influência não é evidente
(a não ser no que se refere à piedade filial, onde assume papel decisivo
no pensamento de Gichin Funakoshi).
A moralidade tem como finalidade
a manutenção da harmonia e da paz. Segundo a visão de Funakoshi, o
caratê deve servir a esse propósito. Como origem do pensamento e
sentimento moral no homem, pode-se reconhecer dois tipos de experiências.
Quando a pessoa adquire conhecimento acerca do outro, isto é, toma
consciência da existência de um outro que pode sentir a mesma dor,
tem-se o primeiro vislumbre da necessidade de consideração e posterior
respeito pelo outro. Na prática do caratê mais moderno – em que o
contato físico e as lutas tornaram-se mais constantes – esta
experiência estaria ocorrendo a todo o momento, servindo para fortalecer
o sentimento da necessidade da moralidade na vivência individual à
coletiva. Já o desenvolvimento e o ensino da moral, tem seu fundamento na
piedade filial. Nesta, irá se basear o respeito que se difunde aos demais
e o serviço aos superiores hierárquicos, considerando-se ainda que aí
está a origem da formação do caráter do praticante. É da piedade
filial que se origina a honra da família e do Estado, sendo uma
obrigação a cumprir, observar esta honra. A piedade filial representa o
princípio da moral social já estabelecida, antes mesmo do nascimento e,
portanto, da experiência individual.
No equilíbrio entre os opostos,
físico e mental, se baseia a necessidade da permanente preparação do
homem, a fim de que ele possa fazer realizações importantes na vida.
Essa permanente preparação do homem, tem como função não somente a
obtenção de realizações produtivas, mas também a prevenção frente
as dificuldades, sejam elas físicas ou psíquicas. Considera-se que ser
tomado de surpresa por perturbações – sejam elas em grande escala ou
em pequena escala, uma guerra ou um sentimento de angústia, por exemplo
– com as quais não se saiba lidar, é uma decorrência do despreparo,
da falta de prevenção. Essa decorrência impõe o treinamento, como
forma de se atingir o equilíbrio.
A grande ênfase na prudência e
na humildade como características morais do carateca, é recorrente em
sua obra. Percebe-se que Funakoshi se preocupa com a procura do caratê
por parte de pessoas que intentem fazer uso das técnicas em luta. Alguns
séculos antes, em que as guerras eram comuns, contexto no qual se
desenvolveu o bushidô, estar sempre preparado, sempre pronto para
a batalha era considerado como uma grande virtude. O bushidô,
mesmo no início do século XX, continuava a ser o ditame moral que
orientava o caráter japonês. Na II Grande Guerra, por exemplo, foi sob
influência desse código que se estabeleceu a ideologia dos pilotos
suicidas, os kamikazes. Todavia, no contexto de ensino no qual se
inseria Funakoshi, cuja finalidade moral era a paz e a harmonia, seus
escritos indicam que a manutenção dessa virtude não deveria tomar o
"preparo para" como "predisposição para" a luta ou
violência. E para lidar com os jovens que chegavam ao seu dojo
entusiasmados pelas virtudes samurais e por uma predisposição à
violência, o ensino de uma moral baseada em humildade e prudência
parecia-lhe mais que fundamental. Funakoshi tinha consciência da mudança
dos tempos e da necessidade de adaptação das novas gerações. Humildade
e prudência, como se viu, eram valores presentes na cultura que
influenciou a classe samurai, mas em alguns períodos históricos eram
eclipsados pela égide bélica. Na sociedade civilizada porém, em que a
guerra não era mais a regra, a ênfase em valores mais tolerantes parecia
à Funakoshi uma necessidade urgente. Talvez esse novo contexto tenha
colaborado para uma possível compreensão por parte de Funakoshi de que
estes deveriam ser valores mais universais no que se refere à sociedade e
às suas classes. Portanto a flexibilidade ou maleabilidade, que geraria
maior tolerância, seria conveniente ao novo contexto. Não se pode perder
de vista que, de acordo com o caminho do meio, essas características não
poderiam ser confundidas com passividade ou complacência frente as
dificuldades ou injustiças. O próprio treinamento exige ímpeto, ímpeto
com humildade, um equilíbrio tido como longo e difícil de ser atingido.
Referências Bibliográficas
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Yamashiro,
J. (1997). Japão Passado e Presente. São Paulo: Ed. Aliança
Cultural Brasil-Japão.
Notas
(1) "A
definição do que é psicológico, nesse caso, deve permanecer
necessariamente indeterminada e vaga, quase como denominação
convencional e provisória a ser substituída no decorrer da pesquisa pela
terminologia e demarcação de campo próprias aos específicos universos
sócio-culturais estudados" (Massimi, 1998, p.12). (voltar)
(2) "A
mudança é a ordem do céu e da terra; a espada e a caneta são tão
inseparáveis quanto as duas rodas de uma carruagem. Assim, um homem deve
abraçar os dois campos se quer ser considerado um homem de realizações.
Se ele for demasiadamente complacente, acreditando que o tempo bom durará
para sempre, um dia será pego desprevenido por terríveis tempestades e
enchentes. Assim é importantíssimo que nos preparemos, a cada dia, para
qualquer emergência inesperada" (Funakoshi, 1994, pp. 88 e 89). (voltar)
(3)
"Primeiramente, como o karate é uma arte marcial, você terá
de praticá-lo com a maior seriedade desde o princípio. Isto significa
fazer mais do que apenas ser aplicado e sincero no treinamento. Em cada
passo, em cada movimento da mão, você deve imaginar-se enfrentando um
adversário que empunha uma espada.
Cada golpe deve ser dado com a
força de todo o corpo, com a sensação de destruir o seu oponente com um
único soco. Você precisa acreditar que, se a sua investida falhar, você
pagará com a própria vida. Pensando nisso, sua mente e energia se
concentrarão, e seu espírito se expressará com toda a plenitude."
(Funakoshi, 1998, p. 47). (voltar)
(4) O ditado
transcrito, advêm de um conhecimento chinês clássico, escrito
originalmente da seguinte maneira: "se você se conhece e ao inimigo,
não precisa temer o resultado de uma centena de combates." (Tzu
citado por Clavell, 1997, p. 9). (voltar)
(5) Funakoshi
conta sobre um conselho de seu mestre, Azato: "se o adversário não
se assustar, se permanecer calmo e se procurar a brecha inevitável na
defesa (...), a vitória não é tão difícil" (Funakoshi, 1994, p.
29). (voltar)
(6) "O que
aprendi pela observação desse esporte é que o time que apenas está
decidido a vencer em geral fracassa, ao passo que o time que entra na
competição para divertir-se, sem se preocupar muito em vencer ou perder,
em geral, sai vitorioso. A observação é verdadeira tanto para uma luta
de karate como para um confronto de cabo-de-guerra" (Funakoshi, 1994,
p. 77). (voltar)
(7) "Para o
ambicioso, que só se importa com os tiros certeiros, o alvo não é nada
mais do que um simples pedaço de papel que ele destrói com suas flechas.
Para a Doutrina Magna dos arqueiros, esse procedimento é, no
mínimo, diabólico. Ela ignora o alvo erguido a uma determinada
distância do arqueiro. A única meta que persegue é aquela que de
nenhuma maneira se pode alcançar tecnicamente, e essa meta se chama –
se é que se pode dar algum nome Buda" (Herrigel, 1995, pp. 67
e 68). (voltar)
(8) "O
objetivo do Karate-do é a perfeição da mente e do corpo, e por
isso expressões que exaltem somente a perícia física nunca deveriam ser
usadas em ligação com ele. Como um santo budista, Nichiren disse tão
apropriadamente, quem estuda os sutras deve lê-los não somente com os
olhos que estão em sua cabeça mas também com os olhos da alma. Essa é
uma admoestação perfeita que o treinando de Karate-do sempre deve
lembrar." (Funakoshi, 1994, pp. 117 e 118).
"A fonte dessas
preocupações (ndr: "uso indiscriminado do karate") está numa
concepção errônea do karate, surgida a partir de instrutores de
mau caráter, os quais irrefletidamente, colocaram maior ênfase na
técnica do que nos aspectos espirituais do Dô. Dessa conduta
resulta a pobreza espiritual daqueles que aprendem karate "apenas
como técnica de luta". Existem até casos extremos em que os
instrutores incentivam os alunos a utilizar o karate em suas
brigas.
São prejudiciais advertências
do tipo: "Você não pode progredir, nem aperfeiçoar sua técnica,
se não fizer uso dela em lutas", ou "se você não consegue
lutar com fulano, é melhor desistir de aprender karate".
Essas advertências apenas demonstram falta de bom senso por parte
daqueles que não sabem nada a respeito do que é o karate-do"
(Funakoshi citado por Sasaki, 1995, p. 89). (voltar)
(9) A
valorização de uma atitude mental de intensa determinação poderia
parecer, a priori, algo semelhante à afirmação do orgulho em
oposição à humildade e, portanto, contradiria o ideal exposto acima.
Porém, observemos as já citadas palavras de Funakoshi de que é preciso
"acreditar que, se a sua investida falhar, você pagará com a
própria vida" (Funakoshi, 1998, p. 47) para que possamos fazer o
paralelo com o Zen: "Uma criança está se afogando. Eu mergulho e
salvo a criança. Isto é tudo que tenho a fazer no caso. O que está
feito, está feito. Ando para frente sem olhar para trás e sem pensar
mais no caso. Uma nuvem passa. O céu é tão azul e amplo como sempre o
foi" (Suzuki, 1992, p. 155). "O Zen não abriga qualquer traço
de orgulho ou glorificação, mesmo após a prática de um bem."
(Suzuki, 1992, p. 156). (voltar)
Notas sobre os autores
Marina Massimi é Professora
Associada do Departamento de Psicologia e Educação, Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas de Ribeirão Preto – Universidade de São
Paulo. Linha de Pesquisa: história das idéias psicológicas. Contato:
mmarina@ffclrp.usp.br.
Cristiano Roque Antunes Barreira é Psicológo,
mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas de Ribeirão Preto – Universidade de São
Paulo. Praticante de caratê, é professor e atleta da Associação Tsuyoi
Seishin com sede em Sertãozinho-SP. Contato:
crisroba@usp.br.
- Data de
recebimento: 20/12/2001
- Data de aceite:
08/04/2002
-
- Memorandum,
Abr/2002
- Belo Horizonte:
UFMG; Ribeirão Preto: USP.
- http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos02/barreira01.htm