Silva, P.J.C. (2003). Medicina do corpo e da alma:
os males corporais e o exercício da palavra em escritos da antiga
Companhia de Jesus. Memorandum, 5,
55-68. Retirado em / / , do World Wide Web:
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos05/silva01.htm
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Medicina do
corpo e da alma:
os males
corporais e o exercício da palavra em escritos da antiga Companhia de
Jesus
Body
and soul’s medicine: corporal illness and word practice in Early
Society of Jesus writings
Paulo
José Carvalho da Silva
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Brasil
Resumo
O
sofrimento físico de santo Inácio de Loyola (1491-1556), bem
como seus serviços médicos são imagens de efeito edificante em
seu relato biográfico. Examinar usos do mesmo lugar retórico na
produção escrita de expoentes da antiga Companhia de Jesus
presentes nas missões brasileiras, como José de Anchieta
(1534-1597) e Antônio Vieira (1608-1696), permite compreender o
significado dos males do corpo para um jesuíta no início da
Idade Moderna e auxilia a repensar os desdobramentos da
interdição inaciana de se ensinar medicina nas escolas da
Companhia. Conclui-se que a arte médica não somente é praticada,
como fornece um repertório de comparações que dão
inteligibilidade e sustentação metódica para procedimentos
centrais da ação missionária, desde a organização cotidiana da
evangelização até a pregação entendida como medicina da alma.
Palavras-chave:
medicina da alma; medicina; jesuítas; missões; pregação. |
Abstract
The physical suffering and medical services of Saint Ignatius of
Loyola (1491-1556) are images of pedagogical effect in his
autobiography. Inquiry about the uses of the same topos
in writings by the first Jesuits who worked in Brazil, such as
José de Anchieta (1534-1597) and Antônio Vieira (1608-1696),
could explain the meaning of the illness of the body for a
Jesuit from Early Modern Age and also help in rethinking the
consequences of strong recommendation for the teaching of
Medicine in Jesuit schools. It could be argued that medical arts
were not only practiced but its language was used to give
intelligibility, and to legitimate main missionary action
practices, from the organization of pastoral daily works
to preaching, which was also known as soul’s medicine.
Keywords:
soul’s medicine; medicine; Jesuits; missions; preaching. |
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O corpo de Inácio
É bastante célebre a imagem do ferimento da perna
direita do então jovem fidalgo Iñigo de Loyola, no cerco de Pamplona, na
primavera de 1521, que viria a se tornar motivo recorrente na iconografia
do santo ao longo dos séculos, devido às meditações e resoluções
espirituais do período de convalescença, considerados posteriormente como
modulares da conversão de Inácio e da própria germinação da vocação
espiritual da Companhia de Jesus. O relato biográfico, elaborado a partir
da perspectiva de Inácio pelo padre Luís Gonçalves da Camara, entre 1553 e
1555, enfatiza a descrição da gravidade do ferimento e das dores
torturantes, que teriam servido de ocasião para o exercício de paciência e
coragem exemplares
(1). Descreve-se,
ainda, que desacreditado de uma possível melhora pelos médicos e
cirurgiões, Inácio teria se confessado e recebido os devidos sacramentos e
na mesma noite recobrado sua melhora.
Este não seria, contudo, o único momento em que a
postura de paciência e fé devota, prescrita desde o cristianismo
primitivo, combinada com a eficácia benéfica dos sacramentos assumiriam
uma expressão edificante na narrativa biográfica de Inácio e forneceriam
um modelo de conduta quanto ao sofrimento físico e suas exigências
espirituais, sistematizado em outros escritos. Conta-se que, tempos depois
do incidente em Pamplona, quando afligido por intensa febre, em Manresa,
Inácio enfrentaria o sofrimento físico trazendo ao pensamento suas
supostas ofensas a Deus e realizaria um trabalho de purgação destes
pecados, conferindo um valor de justiça à própria dor. Na intensificação
do sofrimento, recorreria ainda ao pensamento da morte, o que teria efeito
consolatório
(2).
Embora a ênfase seja dada ao quanto a enfermidade do
corpo incita à prática de “cosas spirituales”, lê-se que os
serviços médicos não são de todo desvalorizados e devem ser procurados a
fim de se remediar todas as causas que possam eventualmente intervir, o
que ficaria regulamentado nas Constituições da Ordem. A presença da
atenção médica e cuidados de auxiliares é bastante pronunciada no relato
da vida de Inácio, acometido várias vezes por diferentes e inconvenientes
males: ferimentos, febres, dores no estômago, etc. Em sua experiência,
porém, a medicina não basta para restabelecer completamente a saúde, o que
exige, de um lado, um trabalho do próprio enfermo, envolvendo a virtude da
paciência e o uso da razão, e, de outro lado, entra em atividade o
sacerdote, na consolação do aflito e na administração do sacramento, que
curaria corpo e alma.
O mesmo relato constrói uma imagem de Inácio
envolvido com o alívio da dor, respaldada por exemplos, como a passagem na
qual alude-se que o ainda estudante em Paris teria arriscado sua vida para
consolar e animar, tocando uma pessoa que acreditava sofrer da peste. Ação
que viria a ser repetida outras vezes, no hospital de Veneza, onde prestou
serviços junto aos primeiros companheiros, durante dois ou três meses do
ano de 1537. Serviço que, mais tarde, ganharia método e sistema no
interior da Companhia.
Esta narrativa do passado de Inácio apresenta a sua
juventude descomedida em contraste com a realização espiritual da vida
adulta entregue à religião. Suas peregrinações, estudos e encontros são
interpretados conforme as circunstâncias, visões e meditações que
ordenaram seu corpo e sua alma segundo os princípios da vontade manifesta
de Deus que ele mesmo se pôs a decifrar nos diferentes acontecimentos de
sua vida, inclusive em suas enfermidades. São experiências antecedentes à
elaboração dos Exercícios Espirituais e das Constituições,
mas que foram ditadas posteriormente e que em sua forma textual ficariam
em circulação por pouco tempo, uma vez que Francisco Borgia, terceiro
geral da Ordem, teria proibido a sua leitura, dez anos após a morte de
Inácio, substituindo-a pela biografia, supostamente mais completa, escrita
por Pedro Ribadeneyra. Todavia, particularmente neste texto, o corpo e as
ações sensíveis de Inácio convertem-se na figura da vida do religioso, que
atualiza o exercício cristão primitivo de misericórdia e paciência face ao
sofrimento e de busca incessante de um alívio dos próprios males e do
próximo, em espelho ao devotamento à salvação da sua e da alma de todos.
Ainda mais notória que a figura de Inácio convalescendo na Casa y Solar
de Azpeitia ou servindo no hospital de Veneza é a sua determinação que
reiterara o cânon 9 do Segundo Concílio Laterano, de 1139, e proíbe o
ensino da medicina nas universidades da Companhia, no décimo segundo
capítulo das Constituições
(3).
Retomar o emprego da imagem de Inácio, como enfermo transformado em mestre
espiritual, e examinar as recorrências e desdobramentos do mesmo lugar
retórico na produção escrita de expoentes da antiga Companhia de Jesus
presentes nas missões brasileiras pode fornecer elementos para se repensar
perguntas como: o que significava os males do corpo para um jesuíta no
início da Idade Moderna? Em que sentido a comparação com a arte médica
podia instrumentar uma maneira propriamente jesuítica de tratar os
chamados males da alma? Como se dava a dinâmica entre os tratamentos do
corpo e da alma nas missões jesuíticas?
Outros corpos
Logo
na consideração das condições de ingresso de um postulante a membro da
Companhia, contidas no chamado Exame, encontra-se uma definição do dever
do médico em analogia ao ofício do diretor espiritual:
En el tiempo de las enfermidades, no solo debe
observar la obediencia con mucha puridad a los Superiores spirituales,
para que gobiernen su ánima; mas aun com la misma humildad a los médicos
corporales y enfermeros, para que gobiernen su cuerpo; pues los primeros
procuran su entera salud spiritual, y los segundos toda su salud corporal.
Así mesmo el tal enfermo, mostrando su mucha humildad y paciencia, no
menos procure edificar en el tiempo de su enfermidad a los que le
visitaren, conversaren y trataren, que en el tiempo de la su entera salud,
a mayor gloria divina. (Loyola, Constituições, em Iparraguirre, 1952,
par. 89, p. 388).
As virtudes necessárias no momento de uma
enfermidade são a obediência e a humildade, as mesmas virtudes que formam
o caráter de um bom jesuíta. Como fica estabelecido no relato da biografia
de Inácio, o adoecimento é uma ocasião para se cuidar da alma, o que deve
ser feito acatando-se o saber e a autoridade do médico e do diretor
espiritual. Enquanto que o diretor espiritual governa a alma, o médico
governa o corpo. As duas ações são perfeitamente solidárias e se aplicam
às coisas do espírito e às da matéria. Pode-se entender que as
enfermidades são desgovernos e que a saúde perfeita do espírito e a plena
saúde do corpo são resultado do bom governo que o superior e o médico,
cada um no seu lugar complementar, supostamente são capazes de praticar. O
doente, por sua vez, através de sua humildade e paciência, também
empreenderá uma ação para o próximo. Este velará, com seu bom exemplo,
pela edificação dos que com ele interagem durante esta fase de aflições.
Não estando preparado nas artes médicas, o jesuíta
terá que, necessariamente, recorrer à competência de um outro no caso de
enfermidades corporais. Entretanto, deve haver na casa alguém que domine
as questões relativas à conservação da saúde, normalmente um oficial
subalterno nomeado pelo reitor, que prestará bastante atenção aos mais
fracos, idosos e já adoentados que, por sua vez, deverão comunicar-lhe uma
eventual alteração em sua saúde. O enfermeiro, ao julgar importante alguma
indisposição notada, avisará o superior. Neste caso, chamar-se-á um ou
mais médicos, conforme a necessidade atestada pelo superior.
Desta forma, fica definido não só em que ocasião e como se deve chamar o
médico, como também o seu lugar na estrutura da Companhia e a relação de
seu saber com o saber e a vocação jesuítas postos em prática através de
seus dispositivos legítimos. A autoridade médica e suas prescrições serão
ponderadas segundo as regras que regem o equilíbrio e identidade da Ordem.
Em outras palavras, o governo do corpo de cada membro deverá ser feito em
concordância com o governo do corpo da Companhia - enquanto conjunto - e
ainda deverá ser ocasião para possibilitar o governo da alma. Desde as
Constituições, decreta-se que não haverá uma “medicina jesuítica”, mas
que sempre haverá um uso particularmente jesuítico do discurso e do
serviço médico.
Cumpre ainda pontuar que as mesmas Constituições que interditam a
formação médica prescrevem aos noviços, contudo, um estágio de exercício
de humildade e caridade durante um mês de prestação de serviços em um
hospital. Os trabalhos prestados pelos primeiros jesuítas no hospital de
Veneza tornaram-se um exemplo a ser seguido pelas gerações sucessivas de
membros da Ordem. Cuidar do conforto material dos doentes além de pregar e
ouvir suas confissões eram as atividades previstas. Entretanto, suas
atuações chegaram a tomar dimensões inesperadas em tempos de epidemias,
como a de Perugia em 1553, de Roma em 1566 e 1568 e de Lisboa em 1569.
Vários jesuítas envolveram-se com o estabelecimento de farmácias e
enfermarias desde os arredores de Roma às mais longínquas missões. Outros
engajaram-se na militância por um tratamento mais eficiente e humano nos
hospitais. De maneira geral, empreitadas difíceis nas quais muitos
jesuítas adoeceram, faleceram ou enfrentaram tantos outros graves
problemas, levando-os a refletir sobre os limites da arte médica e a
importância e risco do comprometimento com os cuidados dos enfermos
(4).
Enfim, o movimento de aproximação e recuo ponderado frente a dor e a morte
tornou-se parte considerável da educação do corpo e da alma dos primeiros
jesuítas, não só nos momentos agudos das devastações provocadas pelas
epidemias européias, mas também frente às necessidades crônicas
encontradas nas missões
(5).
É
igualmente conhecido o envolvimento dos jesuítas na assistência médica no
Brasil colônia. Muito embora, de maneira geral, a responsabilidade pelos
serviços sociais, tais como tratamento dos enfermos, enterro dos pobres,
amparo às meninas órfãs, aos prisioneiros, entre outras medidas
assistênciais e sanitárias, recaía sobre as irmandades, principalmente a
da Misericórdia, que de Lisboa, estendeu-se para a Ásia, África e América
portuguesas. Admite-se, entretanto, que os jesuítas colaboraram, mesmo que
de forma limitada, com o estabelecimento ou progresso destas casas. Senão,
eles contribuíram com cuidados médicos em regiões distantes da capital da
colônia antes do estabelecimento de Misericórdias
(6).
Quanto aos serviços prestados pelos padres da Companhia, Serafim Leite
chega a afirmar que: “Os jesuítas, indo para o Brasil como médicos
das almas, viram-se pois, obrigados, pela fôrça das circunstâncias,
enquanto não vieram profissionais, a ser também médicos do corpo”
(Leite, 1938, p. 570)
(7).
Entretanto, o estudo de S. Leite, muito mais interessado em discutir a
contribuição dos jesuítas para a história das ciências médicas e naturais,
não analisa a maneira como a assistência médica tornou-se uma estratégia
de sobrevivência e de concretização do projeto evangelizador no Brasil de
então. Pode-se dizer, valendo-se da afirmação do historiador, que os
jesuítas talvez tenham se encaminhado para a colônia, a princípio, como
evangelizadores, mas se viram na situação de fazerem-se médicos do corpo,
para poderem realizar o que proclamam ser o ofício de médicos das almas.
De
um modo geral, nota-se, na documentação do período, não apenas uma
descrição do aprendizado das práticas médicas, mas também uma assimilação
do vocabulário médico nos escritos jesuíticos, ao longo de sua experiência
missionária no Brasil. Nas cartas e documentos do padre José de Anchieta
(1534-1597), por exemplo, o termo “medicina das almas”, bem como suas
variantes, “remédios para a alma” e “cura das almas” acompanham,
geralmente, os relatos das práticas de cuidados com o corpo,
conferindo-lhes um sentido mais missionário
(8).
Anchieta, enviado para o Brasil na esperança de melhoras para seus rins,
ao escrever para os irmãos da enfermaria de Coimbra, onde estivera
internado, dá notícias de, nas missões, haver superado pouco a pouco os
seus males. Na carta “Aos Irmãos Enfermos de Coimbra, de São Vicente,
1554” ele reafirma, a título de consolação, o preceito do cristianismo
primitivo, recomendado por Inácio, de se servir a Deus mesmo doente,”tendo
grande paciencia nas enfermidades e, nestas, aperfeiçoando a virtude”, e
expressa os votos de que com tal consolação, “outras mais fortes
mezinhas”, possam curar os seus “coenfermos”, já que as “mezinhas
materiais pouco fazem ou aproveitam”, como ele mesmo experimentara
(Anchieta, 1554/1988, p. 72). Anchieta relata que se curou, esquecendo-se
de seus males e dedicando-se à cura dos outros, pois na solidão de uma
terra “mui bôa”, mas sem “purgas e regalos de enfermaria”, urgia-se
adaptar-se aos remédios por ela oferecidos e estender o bojo da caridade
até o ofício de médico: “Neste tempo que estive em Piratininga servi de
médico e barbeiro, curando e sangrando a muitos daqueles Indios, dos quais
viveram alguns de que se não esperava vida, por serem mortos muitos
daquelas enfermidades” (p. 73)
(9).
Nesta mesma carta, o envolvimento dos padres nos serviços médicos,
“ensinado pela necessidade”, é discursado como o que pode manter aceso o
fervor missionário, produzindo um efeito de edificação ao mesmo tempo que
confere sentido e relevância ao cotidiano da empresa missionária. Em suas
últimas linhas, o jesuíta adverte serem grandes os trabalhos da Companhia
nesta terra, e exigirem muitas “virtudes adquiridas”, entretanto os
recomenda aos irmãos “opilados e meio doentes” de Coimbra, fazendo do
exercício da missão um oportuno remédio para as enfermidades do corpo: “As
medicinas são trabalhos e tão melhores quanto mais conformes a Cristo” (p.
74).
O socorro aos
enfermos é apresentado como tarefa árdua e empenhativa, que desafiava as
forças e o ânimo dos jesuítas, muitas vezes eles mesmos indispostos e
necessitados de médicos, mas ganhava significado na entrega resoluta dos
missionários à salvação das almas, como se nota em uma carta de seis anos
mais tarde, consideravelmente mais impregnada de dramaticidade: “Ao Padre
Geral, de São Vicente, a 1 de junho de 1560”.
As
carências do lugar continuavam obrigando os padres a serem
auto-suficientes o máximo possível e dedicarem-se a uma série de operações
sensíveis, que incluíam o cuidado do corpo, tais como “barbear, curar
feridas, sangrar, fazer casas e cousas de barro” (Anchieta, 1560/1988, p.
161)
(10). Embrenhar-se pelos
bosques cerrados e lamaçais para acudir com “a medicina corporal e
espiritual”, adoecendo e curando si e o próximo, era a imagem do cotidiano
destes homens tal como estes o descreviam ao prestarem contas de seus
trabalhos a seus superiores na Europa: “Os Irmãos também adoecem ás vezes,
mas em breve tempo convalescem; os quais com entender com a saúde dos
próximos muito mais trabalham pela sua” (p. 170). Anchieta ainda relata as
dificuldades do trabalho de conversão, sobretudo dos adultos, que “cerram
os ouvidos para não ouvir a palavra da salvação”, e descreve, com
exemplos, o esforço de “os mover, a que queiram receber o batismo” quando
estes adoecem, oferecendo assim seus serviços para que, mesmo não se
restabelecendo a saúde do corpo, garantissem a saúde eterna da alma.
A
experiência dos primeiros missionários no Brasil na administração dos
sacramentos exigiu que se regulamentasse a questão no próprio território.
O que se concretizou com a ordem, presente no regulamento do visitador P.
Golveia, de 1586, que não se batizasse nenhum índio adulto sem que se
esteja seguro de que este não voltará para o sertão, devendo ser casado
imediatamente. Não se deixaria, contudo, nenhum índio morrer sem o
batismo, acudindo-o logo com “o remédio conveniente a suas almas”, e, em
caso de “perigo de morte”, esperava-se que este tivesse apenas “bastante
notícia para baptizar-se” (Golveia, 1586, AHSI: Bras. 2, fols.146v-147, em
Leite, 1938, pp. 306-307).
Nas missões brasileiras, o batismo in extremis
era realizado com os índios cativos, prestes a serem mortos e comidos, e,
mais freqüentemente, com os doentes de enfermidades naturais. O que
obrigou os jesuítas a contornarem duas decorrências problemáticas. Muitos
índios acreditavam que o sacramento é que causava a morte. Outros
buscavam o sacramento apenas como remédio corporal, desvirtuando seu
verdadeiro sentido. Esta “confusão” da parte dos índios, chamada por Leite
(1938, pp. 273-274) de “superstição e interêsse, que misturam religião e
medicina”, parece ter sido combatida pelos jesuítas. Porém, não se pode
deixar de considerar o quanto os próprios são responsáveis por ela, uma
vez que eles mesmos combinavam medicina do corpo e da alma, e ainda,
atribuíam um valor curativo ao sacramento, embora esperassem que uma vez
batizados, os índios passassem a viver de maneira cristã.
As cartas de Anchieta expõem várias dificuldades
encontradas pelos padres em administrar os remédios para o corpo e para a
alma na Capitania de São Vicente. O que não significa que este considere
que todos os intuitos de salvar as almas através da assistência médica
haviam sido mal sucedidos. Vide as descrições “Das ocupações e trabalhos
da Companhia”, por Anchieta, Informações do Brasil e de suas Capitanias,
de 1584: “E quando ha doenças gerais, como houve cá muitas vezes de
bexigas, priorizes, tabardilho, camaras de sangue, etc., não ha descansar,
e nisto se gasta cá a vida dos nossos, com que se têm ganhado em todo o
Brasil muitas almas ao Senhor.” (Anchieta, 1988, p. 331).
Por outro lado, a determinação inaciana de se servir
nos hospitais e fazer uma peregrinação durante a experiência do noviciado
parece não ter tido longa carreira no Brasil. S. Leite (1938) descreve
algumas tentativas de variantes conforme às condições da colônia, como
servir nas Aldeias, ou acompanhar padres procuradores pelas fazendas, mas
que, por se demonstrarem contraproducentes, acabaram sendo proibidas, em
1598.
A ação do padre Antônio Vieira
Padre Antônio Vieira (1608-1696) foi o primeiro a
organizar o regime interno da vida das Aldeias e Missões, o qual viria a
perdurar, malgrado algumas tentativas de alterações, como a lei definitiva
durante a permanência dos jesuítas na Amazônia
(11).
Trata-se da “Direção do que se
deve observar nas Missões do Maranhão ordenada pelo Venerável P. Antônio
Vieira, Visitador delas”, também conhecida como “Visita do P. Antônio
Vieira”, de data provável entre 1658, ano em que foi nomeado Visitador, e
1661, ano em que se retirou da região. S. Leite (1943) afirma, contudo,
que Vieira muito provavelmente já havia disposto alguns pontos deste
regulamento logo de sua chegada nas Missões
(12).
Na parte relativa à observância religiosa, Vieira
dedica um parágrafo ao problema da inexistência de hospitais e enfermarias
suficientes nas missões. Nele, está determinado que cabe ao responsável
pela missão decidir sobre a construção de hospital ou enfermaria “aonde se
curem todos os enfermos da Aldeia”. As enfermarias existentes deverão
receber a visita dos missionários todos os dias, para atender as
necessidades do corpo tal como as da alma, conjugando-as, consoante o
costumeiro nas missões jesuíticas ao sul: “os nossos procurarão suprir não
só espiritual, mas também corporalmente como se costuma, socorrendo-os com
os medicamentos, sustento e regalo, quanto a nossa pobreza der lugar.”
Como se constatava que morriam muitos indígenas “por falta de sangrias”,
Vieira ainda prevê que se “procurem meios de haver sangradores em tôdas as
Aldeias”. Este ofício seria desempenhado por adultos que “tiverem maior
habilidade e inclinação a isso”, e, na falta destes, autoriza-se aos
Irmãos Coadjutores, que souberem sangrar, dedicarem-se a “esta obra de
caridade” (Vieira, em Leite, 1943, p. 109).
O trabalho de “remédio das Almas e satisfação de
nossas obrigações” por meio do ensino da doutrina a cada indígena em
particular e o trabalho de “ajudar a bem morrer”, ambos, de certa forma,
fazendo parte de tradições há muito designadas com a expressão medicina da
alma, estão regulamentados por Vieira na parte referente à cura espiritual
das almas (pp. 112-119). A primeira forma de remédio das almas diz
respeito à salvação através do conhecimento e da prática da doutrina
cristã. Fazer com que a palavra divina seja conhecida e faça frutos é a
tarefa a qual se encarrega o missionário; mais do que isto, é sua
obrigação, o que colocaria o destino de sua própria alma em jogo
(13).
A segunda modalidade de
remédio, que não deixa de ser parte integrante da primeira, concretiza-se
na administração dos sacramentos aos enfermos e moribundos
(14) Vieira reafirma a importância
desta ação, ao determinar que nas visitas às Aldeias, “a primeira coisa
que farão” deve ser procurar se não há enfermos, “acudindo logo aos que
estiverem em algum perigo.” O perigo que os preocupa é muito mais o da
“morte” da alma, ou seja, sua condenação eterna, do que a do corpo, isto
é, as conseqüências do pecado inconfesso e sem perdão, o que se depreende
da continuação do mesmo parágrafo:
Os mesmos padres correrão por si mesmos as casas, e
não sòmente procurarão os doentes, que houver nelas, mas também os que
estiverem pelas roças, mandando-os logo, e tratando do seu remédio
espiritual, e quando se partirem da Aldeia, não deixarão enfermo algum sem
primeiro ficar confessado, ainda que a enfermidade não prometa perigo
(Vieira, em Leite, 1943, p. 114).
A mesma preocupação está documentada em um pequeno
escrito, atribuído a Vieira, intitulado “Modo como se há de governar o
gentio que há nas aldeias do Maranhão e Grão-Pará”. O oitavo parágrafo,
dentre os referentes ao domínio do espiritual, também determina que os
missionários cuidem dos índios enfermos, já que se trata de sua obrigação,
enquanto responsáveis pela administração temporal e salvação da alma dos
mesmos. As regras, de uma maneira geral, enfatizam a responsabilidade, da
parte do missionário que se encarrega de um aldeamento, pelo bem viver e
bem morrer dos índios ali reagrupados e, esta passagem, em particular, dá
a entender que se ocupar da saúde temporal dos índios é tarefa própria do
médico espiritual, o que define o significado e a função maior da
assistência ao corpo como parte integrante da assistência à alma:
Sobre-intenderão também na cura dos índios, quando
estiverem enfermos, solicitando-lhes não falte o remédio temporal, pois
são médicos do espiritual, que administrarão com todo o cuidado,
considerando o prêmio que com isto alcançam, sobre cujas consciências sua
majestade desencarrega todo o seu cuidado e obrigação (Vieira,
s.d./1992, p. 78).
Assim, correr as Aldeias, “como se faz no Brasil”,
para “lhes acudirmos e os curarmos”, também faz parte do cotidiano dos
padres sob o comando de Vieira (15)
Contudo, mesmo um século depois da chegada dos primeiros jesuítas no
Brasil, a tradicional prestação de serviços nos hospitais não poderia ser
feita porque, embora houvesse a Misericórdia em São Luís, não havia ainda
o hospital. Segundo o padre, porém, o socorro poderia ser feito ao menos
com os poucos medicamentos das boticas da Companhia, na expectativa de
serem recompensados com a saúde e a salvação à medida que dão o que têm
para o estado dos brasis (16)
Ao que parece, as exortações de Vieira para que se
construísse tão necessário hospital ainda não haviam dado os frutos
esperados no ano de 1654, devido a uma renovação dos integrantes da Mesa,
responsáveis pelas obras da Misericórdia. Na carta ao provincial do
Brasil, Vieira relata a necessidade de mais negociações, nas quais se
envolvera pessoalmente, para que a construção fosse iniciada. Ele dá então
a notícia do começo de uma “enfermaria de doze camas”, das quais, a
primeira teria saído da casa da Companhia, “muito limpa e concertada,
porque houve um religioso que quis dar a sua para os pobres” (Vieira,
1654/1925, pp. 407-408).
Cogita-se, a partir de anotação do copista na mesma
carta, que tenha sido ele mesmo que doou a sua cama, o que, de qualquer
forma, ilustraria o caráter interveniente, seja através de exortações,
seja através de ações concretas e simbólicas, que muitas vezes as
circunstâncias das missões demandavam à figura do médico das almas.
Exercício da palavra
Em sua produção sermonária, Vieira emprega a imagem
de Inácio convalescente em panegírico dedicado ao santo, no Real Colégio
de Santo Antão, no ano de 1669. Logo em seu início, o pregador evoca o
relato do ferimento e conversão de Inácio:
Jazia Dom Inácio de Loiola mal ferido de uma bala
Francesa no sítio de Pamplona; e picado como valente de ter perdido um
castelo, fabricava no pensamento outros castelos maiores, pelas medidas de
seus espíritos. (...) Cansado de lutar com pensamentos tão vastos, pediu
um livro de cavalarias para passar o tempo; mas, oh Providência Divina! Um
livro que só se achou, era das vidas dos Santos. (Vieira, 1669/2001, pp.
121-122).
Uma vez imobilizado, a providência teria cuidado
para que as palavras sagradas chegassem aos seus ouvidos. E a leitura da
vida dos santos teria movido Inácio a converter-se em mestre espiritual.
Mais do que isto, a idéia central no sermão é a de que tal leitura teria
transformado o então ferido soldado em síntese de todos os patriarcas das
demais ordens religiosas. Assim, Inácio fez-se espelho de santidade para
seus confrades e constituiu a Companhia à sua semelhança, tornando-a
modelo de conduta para todos os homens.
Já
no “Sermão do Evangelista São Lucas”, pronunciado por padre Vieira na
Misericórdia, em data desconhecida, o exemplo edificante e a ordem de ação
é o imperativo bíblico de que os apóstolos saiam ao mundo e curem os
enfermos. Segundo Vieira, Cristo converteu simples pescadores em
pescadores de homens. Ele diz que os apóstolos tornaram-se pregadores
armados de dois poderes que atingem ambas as vidas: o primeiro seria
conservar e estender a existência temporal e o segundo, de prometer e
assegurar a vida eterna (17)
Padre Vieira diferencia, logo em seguida, a cura milagrosa dos enfermos e
a ciência da medicina e adverte que falará não só da medicina
sobrenatural, como também, da natural. Ao fim, a figura do Christus
medicus domina o sermão, enquanto modelo de humanidade para os
diferentes médicos do auditório (18)
Vieira põe em revista uma série de concepções de medicina, das quais dá
relevo aos aspectos éticos envolvidos na cura do corpo do outro, para, ao
cabo, fazer uma distinção entre a ameaça à saúde temporal e os riscos que
corre a saúde eterna. A primeira resolve-se com a própria cura da
enfermidade, a segunda depende do “desengano da morte”.O médico do corpo ou da alma deve saber que a morte iguala homens e
reis e que a saúde eterna depende do bom juízo e das ações nesta vida:
Aonde não houver este valor, esta liberdade, e esta
verdade de Isaias, é certo que faltarão á sua obrigação (como muitas vezes
têm faltado) não só os medicos do corpo, senão tambem os da alma, tão
enganados nos respeitos humanos, ou deshumanos, de que se deixam cegar,
que eles são os maiores traidores dos reis, e dos reinos; sendo pelo
contrario dignos das maiores mercês, e dos mais avantajados premios, os
que com verdadeiro zêlo e amor, não só os desenganavam livremente do
perigo da vida, senão da certeza da morte (Vieira, s.d./1951, vol. VIII,
p. 438).
Trata-se, de certa forma, de uma advertência aos
médicos do corpo e da alma de suas obrigações. O médico do corpo deve, com
ajuda da luz divina, tratar particularmente cada indivíduo, sem fazer
distinções sociais, cuidando da continuidade da vida temporal. Ambos, o
primeiro e o médico da alma, devem zelar pelas boas obras com vistas na
eternidade, uma vez que a morte é inelutável.
A salvação das almas é a finalidade última da
campanha pela saúde atualizada no púlpito de Vieira. O objetivo do
exercício da palavra pregada é promover a saúde eterna e não a temporal,
que se define como participação proporcional daquela. Isto implica levar
aos ouvidos dos fiéis a lembrança da finitude do corpo, como Vieira faz em
diversos sermões oportunos, e, em especial, no “Sermão do Evangelista São
Lucas.” (19)
Neste caso, a pregação apresenta-se como medicina de cada alma, dentro do
esforço de que cada um se responsabilize pelo seu próprio destino,
empreendendo a arte de bem viver para bem morrer. No entanto, a salvação
individual está sempre articulada à salvação do próximo, e o preceito de
salvar-se salvando os outros, que dá base à entrega à empresa missionária,
justificando muitas vezes o heroísmo requerido dos mesmos, apresenta-se na
forma da arte de curar a si mesmo e ao outro.
Assim como falava aos responsáveis pelo Estado em outros tantos sermões,
Vieira fala no “Sermão do Evangelista São Lucas” aos responsáveis pela
saúde corporal e espiritual advertindo-os de seus deveres enquanto tais.
Neste sentido, o médico do corpo e o da alma aproximam-se e distanciam-se.
Para ambos a morte é um limite. No caso do médico corporal, ela é o limite
final e prova maior do caráter humano e, portanto, imperfeito de sua arte.
Já para o médico dos males da alma, responsáveis pela difusão da palavra
sagrada, a morte é o que anima e justifica sua ação, constituindo-se
também em um limite final para a sua arte, porém inicial para os efeitos
da mesma, que se manifestariam na eternidade.
Curate infirmos
Na escrita de
sua própria história, estes jesuítas atualizam a idéia de que os males do
corpo seriam oportunidade para a conversão ou cura da alma, de si e do
próximo: Inácio, em sua narrativa fundadora e nas leis da Companhia;
Anchieta, no relato de sua translação de enfermo a médico de corpos e
almas e Vieira, nos discursos pelo esforço de concretização dos lugares
complementares dos tratamentos dedicados ao corruptível e ao eterno.
A
medicina, excluída como formação e prática oficial, não somente é retomada
nas lides missionárias, como fornece um repertório de comparações que dão
inteligibilidade e sustentação metódica para procedimentos que superam o
domínio do sensível. A leitura do uso dos topoi médicos nestes
documentos, cartas e sermões evidenciam o pressuposto de que o corpo ou,
de modo mais genérico, a matéria não deve ser desconsiderada, pelo
contrário, deve ser recolocada em seu lugar suposto natural com relação à
razão que lhe confere vida e finalidade. Afinal, o corpo enfermo para os
jesuítas das primeiras gerações é também um corpo de linguagem, que deve
ser escutado, ordenado e transformado numa imagem capaz de engendrar, ao
mesmo tempo, uma ação e uma doutrina.
A
corrupção da saúde ou o silêncio forçado não são desejáveis em si, mas
podem vir a ser ocasião em que a alma fala, como teria posto em carta de
1695, à rainha D. Maria Sofia, padre Antônio Vieira, cuja precariedade do
corpo idoso já colocava obstáculos, mas não impedia o exercício da
palavra:
Havendo porém muitos dias que a extrema velhice me
tem privado dos instrumentos da voz, e achando-me nesta ocasião, como
Zacarias no nascimento do maior dos nascidos, mudo; para obedecer contudo,
aos acenos do nome de V.M., apelei, como ele, para a pena, com que se pode
suprir a falta de língua. Mais ditei do que escrevi, porque me falta
também a mão duas vezes quebrada (Vieira, 1695/2003, p. 500).
Referências
bibliográficas
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Notas
(1) “Y hízose
de nuevo esta carnecería; en la cual, así como en todas las otras que
antes había pasado y después pasó, nunca habló palavra, ni mostró otra
señal de dolor, que apertar mucho los puños.” (Loyola,
“Autobiografia”, em Iparraguire, 1952, p. 32). Inácio nasceu em uma
família nobre no Castelo de Loyola, na atual Espanha, em 1491. Fez
carreira militar, interrompida no sítio de Pamplona em 1521. Após uma
peregrinação para Roma e Jerusalém, empreendeu estudos em Barcelona,
Alcalá e Salamanca, finalizando-os em Paris (1528-1535). Nesta cidade,
junto com outros companheiros, fez os votos da Companhia em 1534, e desde
então dirigiu a mesma até sua morte em 1556. Foi canonizado em 1622. Este
estudo do discurso sobre o corpo nos escritos de Inácio, bem como de
outros jesuítas, teve início em pesquisa doutoral sobre o uso da expressão
medicina da alma, com o apoio financeiro da FAPESP.( | |