Vive-se, na atualidade, um momento histórico marcado por mudanças que decorrem tanto de uma nova configuração assumida pela economia mundial, que se convencionou chamar de “globalização”, pelas exigências educacionais, sociais, profissionais, afetivas e culturais que são impostas às pessoas, em decorrência dos novos modelos de sociedade, trabalho e família com os quais se tem de conviver.
Uma ciência como a Psicologia, que persegue a compreensão do comportamento humano e sua melhor adequação à realidade, não poderia permanecer indiferente a todas essas pressões. Como as funções tradicionais de atendimento pela Psicologia Clínica não são mais suficientes para enfrentar os desafios de uma realidade em transformação, novos campos de aplicação da Psicologia têm surgido e a constante atualização dos campos existentes tornou-se necessária.
A criação de melhores condições de trabalho, de educação e de convivência para aqueles que buscam atendimento psicológico depende do desenvolvimento de novas estratégias de atendimento psicológico a nível social e pessoal. Faz-se, então, necessária a formação de profissionais que possam atuar nesta área, levando em consideração sua complexidade, a partir de uma abordagem ao mesmo tempo interdisciplinar e especializada. Para isto, impõe-se, em nossos dias, um significativo investimento na formação dos psicólogos em exercício e em processo de formação.
A Fenomenologia apresenta-se como um método de abordar a realidade diferente do método das ciências naturais, que visam a entender o seu objeto por meio de explicações formais. Aqui, a novidade está, em que o fenomenólogo não busca explicar as razões que suscitam determinada atitude, mas compreender um comportamento a partir do seu interior, do ponto de vista da intenção que o anuncia. Trata-se, portanto, de um método compreensivo, pois busca explicitar a intenção específica da "visada" (a maneira de como o homem dirige sua atenção implicada na percepção) que cada ser humano tem ao entender algo. A Fenomenologia apresenta-se, dessa maneira, como um método de abordar o fenômeno, como uma metodologia da compreensão, e não da explicação.
Enquanto a Fenomenologia é compreendida pelos discípulos como um método, o Existencialismo é entendido como uma doutrina filosófica sobre o homem. As filosofias da Existência surgiram como uma oposição a toda filosofia clássica a qual é entendida como o estudo das essências, cuja ideia principal seria a compreensão das dimensões estáveis. Os filósofos da existência vão redirecionar as perguntas sobre o homem. Em vez de se perguntar: o que é o homem, se perguntará: quem é o homem?
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterápica proposta inicialmente por Frederick Perls, cuja fundamentação filosófica se baseia no Existencialismo, no Humanismo e na Fenomenologia. Concebe a pessoa de forma integrada, ou seja, não fragmentada, e como um ser-no-mundo, em constante interação com ele e consigo mesma. Propõe todo o trabalho clínico baseado no diálogo e enfatiza a relação terapêutica como um de seus principais pilares.
Sendo o Existencialismo um dos componentes de sua base filosófica, a abordagem gestáltica também concebe o homem como dotado de liberdade para escolher sua essência, a qual se constitui a partir de sua relação com os outros e com o mundo, construindo-se durante seu existir até sua morte. O processo de escolha é constante, um eterno vir-a-ser, contínuo fluxo de movimento no decorrer de toda a vida. Para entender o ser humano nessa visão, deve-se olhar para o seu próprio modo de existir no aqui-e-agora, presentificando sua experiência com toda a gama de sentidos vivenciados no momento presente. Por ser o próprio homem quem escolhe seu destino, sem garantia ou certeza, essa liberdade desperta uma angústia inerente ao fato de haver sempre a dúvida e de não se ter nada como eternamente certo e imutável.
Outra repercussão do pensamento existencial na abordagem gestáltica refere-se à concepção do homem como um ser-em-relação constante, o que confere especial importância ao inter-humano, ao encontro e ao diálogo tanto na sua constituição quanto na relação terapêutica. Isso tem implicações diretas na prática clínica, no sentido de que o psicoterapeuta precisa assumir uma postura de abertura e de acolhimento em relação à pessoa do cliente, sem concepções prévias, estabelecendo-se como uma presença confirmadora, de modo a propiciar um clima de confiança para que a pessoa possa descrever suas experiências e entrar em contato consigo e com suas vivências.
Por sua vez, de acordo com a Fenomenologia, a Gestalt-terapia concebe o homem como possuidor de uma consciência intencional, que dota todas as coisas do mundo de um sentido. Ela só existe para um objeto. Portanto, não há como se pensar um objeto isolado, sem um sujeito que o apreende ou um Eu puro essencial que não esteja inserido num meio. Busca-se sair de uma atitude dita natural, sem questionamento, e que considera o mundo como dado e independente do sujeito e da percepção, para uma atitude fenomenológica, caracterizada por questionar o senso comum e suspender os pressupostos teóricos e conhecimentos prévios. Em suas bases teóricas e metodológicas, a Gestalt-terapia sofreu influência de diversas outras abordagens, dentre as quais se destacam a Psicologia da Gestalt, a Teoria de Campo e a Teoria Organísmica.
Por outro lado, hoje, tem se firmado no mundo da psicologia a Análise Existencial como uma forma de tratamento clínico. De forma simples, podemos dizer que a Daseinsanalyse (Análise Existencial) designa a descrição dos fenômenos que se mostram concretamente na história de vida de um ser humano, isto é, em terminologia heideggeriana do Dasein. A visão de homem dessa abordagem pode ser resumida da seguinte maneira: o homem não é uma coisa no sentido de algo que subsiste, mas um Dasein, isto é, um existente, um ser que é, na medida em que o seu ser é, uma abertura no Ser.
Ludwig Binswanger e Medard Boss são considerados os pais da Análise existencial. Todos os dois tiveram um contato direto com Heidegger, embora MedardBoss tenha desenvolvido em sua casa em Zurick, no bairro de nome Zollikon, encontros com um grande número de psiquiatras, onde Heidegger expunha aspectos de seu pensamento que pudessem ajudar o trabalho dos médicos. Esses encontros que ocorreram durante 10 anos são conhecidos como os “Seminários de Zollikon” e mais tarde foram publicados por Boss.
Binswanger teve um contato mais distante com Heidegger e por isso mesmo mais independente. Enquanto Boss comungava na cartilha de Heidegger, Binswanger se inspirava no pensamento do filósofo e elaborava um pensamento mais próprio e original. Entretanto, o caminho de afirmação dessa corrente em psicologia não foi tão claro e fácil. Existiram algumas dificuldades epistemológicas e terminológicas.