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Laboratório de Filosofia I - UFMG - 2° Semestre
de 2007 |
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Aula 1 – Problematização:
•
Introdução ao tema
•
Uso dos recursos complementares – trechos
selecionados de filmes
Aula 2 – Somos livres? NÃO
•
Apresentação de uma sistematização determinista
•
Leitura e análise de fonte primária (Sugestão:
HOBBES, Leviatã, Cap. XIV)
Aula 3 – Somos livres? SIM
•
Apresentação de uma sistematização anti-determinista
•
Leitura e análise de fonte primária (Sugestão:
SARTRE, O ser e o nada)
►
Aula 1 – Problematização
Inscrever o problema liberdade x determinismo no âmbito da
ética – mostrar como o problema é fundamental na
tematização da ação humana.
1.1 - Texto-base – orientação de desenvolvimento do
tema para o professor:
A
questão que se coloca na análise da relação entre
liberdade e determinismo tem seu principal
desdobramento na ética. Isto quer dizer que,
sobretudo, o que se mostra como foco da problemática
que vamos tratar diz respeito às condições do homem
no tocante à ação. Liberdade e determinismo parecem
ser pólos opostos, pontas de uma corda esticada
sobre a qual o homem precisa andar. Mas será que é
assim mesmo? Por enquanto podemos traçar algumas
hipóteses, mas de certo mesmo podemos dizer apenas
que não há resposta simples à pergunta: “somos ou
não somos livres?”
Para respondê-la, talvez sejamos tentados por um
sentimento de liberdade, de reconhecimento de que
podemos sempre escolher, que nos aparece de súbito,
mas é preciso investigar a fundo para que não
sejamos pegos de surpresa. As evidências em favor da
liberdade são percebidas em atos simples como querer
levantar o braço, caminhar, pensar em um sorvete,
etc. Aparentemente somos livres para tudo isso, mas,
será que nossas ações são mesmo livres? Pensemos na
situação de se matar a sede com um grande copo
d’água. Pode-se caracterizar este ato como sendo
livre? Ou devemos atrelá-lo necessariamente à sede
que o ocasionou, em uma relação de causa e efeito
que pode ser observada em todas as nossas ações? Eis
o drama em que nos colocamos.
Para que fiquem mais claras as conseqüências éticas
do nosso problema, lembrando que a ética trata de
tudo aquilo que diz respeito à ação do homem,
imaginemos as seguintes situações: primeiro que
somos todos livres, podemos fazer aquilo que nos der
na telha. Não há quaisquer restrições, leis, normas,
obediências ou autoridades a quem devemos
satisfação. Nesse cenário utópico, conseguiria o
homem construir para si uma sociedade boa e justa?
Teriam todos os mesmos direitos? Basta observarmos
os conflitos diários em uma sociedade regrada para
imaginarmos que a liberdade total e absoluta não
constituiria uma sociedade justa. Essa capacidade de
previsão, isso que nos possibilita imaginar as
conseqüências da suposta utopia, já aponta para
aquilo que devemos imaginar em seguida. Somos
capazes de prever certas conseqüências com um certo
índice de certeza, isto quer dizer que de certos
fatos decorrem outros, e que dessa relação podemos
deduzir um princípio de causalidade, isto é, tomado
um conjunto de causas, podemos afirmar seu efeito.
Sendo assim, reconsideremos a liberdade a partir de
um segundo cenário: imaginemos agora que todos os
nossos atos são condicionados por uma série de
fatores, que tomados em conjunto nos permitem
afirmar com algum grau de certeza quais serão as
nossas escolhas. Nessa perspectiva, nada do que
fizermos ou pensarmos parecerá livre. As causas de
nossas ações, os condicionamentos, podem ser os mais
diversos. Podem ser, por exemplo, de ordem genética,
o que implica que por mais que eu queira não serei
mais alto do que estabelecem meus genes; de ordem
ambiental, que se pode ilustrar pelas influências
que sofremos do círculo de pessoas com as quais
convivemos; de uma ordem divina onisciente, que
implica que tudo já está pré-determinado para nós e
apenas fazemos o que deveríamos fazer, não nos
restando nada a não ser cumprir o destino; ou ainda
da ordem das paixões, das inclinações que sentimos,
como a sede, o medo, o amor, a coragem, antecedentes
causais de atos possíveis de ser previstos, entre
outras causas.
Como podemos observar, a questão acerca do
determinismo e da liberdade pode ser colocada de
várias formas sem que, contudo, possamos chegar a
alguma conclusão da qual se possa dizer: “Eis a
verdade!”. O que podemos e queremos fazer é trazer
para as nossas conversas elementos que nos ajudem a
esclarecer duas possibilidades intimamente ligadas à
forma como vemos o nosso mundo.
1.2 - Conceitos básicos a serem tratados, já na
problematização:
Liberdade – Livre-arbítrio
Determinismo – Necessidade
1.3 - Elementos motivadores:
Ampliar a discussão e ilustrar com cenas que mostrem
a expressão do problema no cotidiano. A idéia é
apresentar de forma geral os filmes, minimamente seu
enredo e personagens, fazendo das situações
escolhidas elementos motivadores da discussão.
Filmes sugeridos:
Laranja Mecânica | Diretor: Stanley Kubrick | País:
Reino Unido | 1971
Sinopse:
O anti-herói do filme é Alex DeLarge, umjovem líder
de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite
drogado e música clássica. Tem por diversão bater,
estuprar, matar... Enfim, cometer qualquer
brutalidade que tenha vontade, não se importando com
as leis ou o senso humanitário. Quando finalmente é
pego pela polícia, sofre um tratamento duro de
reabilitação. Quando Alex volta às ruas, totalmente
regenerado, passa a sofrer com aqueles que antes
eram as vítimas.
Possibilidades de discussão:
• gratuidade ou não das ações
• escolha
• coerção / condicionamento
Exemplos:
• Há liberdade nas práticas de violência da primeira
parte do filme? Justifique.
• Após ser “curado”, Alex é mais ou menos livre?
Contextualização => violência nos estádios.
Cenas selecionadas em:
http://br.youtube.com/watch?v=FJsYh6TSYfk
*
Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi
Poderosa Afrodite | Diretor: Woody Allen | País: EUA
| 1995
Sinopse:
Em Nova York, oito anos após adotar um bebê, um pai
adotivo resolve procurar a mãe biológica da criança
e acaba descobrindo que ela é uma prostituta cafona
chamada Linda, que em filmes pornográficos usa o
nome Judy Cum. O homem decide então aconselhá-la a
abandonar este tipo de vida.
Possibilidades de discussão:
• determinismo genético/biológico
• papel da educação/meio
• preconceito
• fatalismo
Exemplos:
• Aquilo que herdamos de nossos pais ao nascer, a
nossa carga genética, nos define?
• Comparação com a perspectiva fatalista dos gregos,
nas tragédias.
Contextualização => aplicabilidade do termo “raça”
aos homens / ponto central da afirmação da
superioridade ariana no nazismo.
Cenas selecionadas em:
http://br.youtube.com/watch?v=8fdGknjoCSY
*
Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi
Bem Vindos | Diretor: Lukas Moodysson | País: Suécia
| 2000
Sinopse:
Bem-vindos é a saga de uma comunidade hippie que
tenta aliar seus ideais anarquistas à convivência
com burgueses e aos próprios conflitos internos. Um
desses conflitos é retratado pela neo-burguesa
Elizabeth, que apanha do marido e resolve se mudar
com seus dois filhos para a casa onde seu irmão Gore
vive. É quando ela encontra um mundo politizado, de
sexo livre que prega marxismo e liberdade
incondicional, embora as crianças sejam proibidas de
assistir à TV e o sexo não seja tão livre assim. Aos
poucos, a fusão dessas duas realidades altera a vida
do grupo e demonstra que, apesar de ser difícil a
convivência, todos são bem-vindos.
Possibilidades
de discussão:
• convenções
• papel da educação/meio
• preconceito
• viabilidade de formas alternativas de socialização
Exemplo:
• É possível vivermos de outra maneira? Há como
negar a organização social na qual estamos
inseridos?
Contextualização => diferenças culturais, sociais e
comportamentais, apontadas em um país estrangeiro.
Cenas selecionadas em:
http://br.youtube.com/watch?v=BhjpgRmGJFk
*
Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi
Obrigado por Fumar | Diretor: Jason Reitman | País:
EUA | 2005
Sinopse:
Nick Naylor é o porta-voz das empresas de cigarro e
ganha a vida defendendo o direito dos fumantes nos
Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde
e por um senador, Nick manipula as informações sobre
o tabagismo nos programas de TV e se alia a um
poderoso de Hollywood para promover o cigarro nos
cinemas.
Possibilidades de discussão:
• o uso retórico da liberdade
• influência dos meios de comunicação
• massificação
• subordinação da verdade a interesses econômicos
Exemplo:
• O que se faz em nome da liberdade, geralmente, a
corrobora?
Contextualização => analisar como a liberdade pode,
e é, evocada em nome de ideologias.
Cenas selecionadas em:
http://br.youtube.com/watch?v=XXznEuWnVMM
*
Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi
►
Aula 2 – Somos livres? NÃO.
Conceitos a serem abordados, a partir da
contextualização:
Determinismos:
• Natural (Biológico)
• Social (Costumes / Leis / Convenções)
• Paixões / Inclinações
Leitura de um texto filosófico
Thomas Hobbes (1588-1679)
• Inglês
• Principal obra – Leviatã
• Estado de natureza: guerra de todos contra todos
• Homem dominado pelas paixões
• Pacto
“Quando um homem pensa no que for, o pensamento que
se segue não é tão fortuito como poderia parecer.
Não é qualquer pensamento que se segue
indiferentemente a um pensamento”.
Leviatã. Cap III - Da conseqüência ou cadeia de
imaginações
* Baixe o
texto de Hobbes em formato
ou
Noções a serem trabalhadas a partir do texto:
• A razão descobre as leis naturais.
• Estas leis são mandamentos morais, que obrigam o
homem a ter certas atitudes, visando sua preservação
e a paz.
• O homem justo é aquele que acolhe a lei e age
conforme o seu preceito.
• Para que se escape do estado de natureza, e a lei
natural se efetive, é preciso a instituição de um
poder supremo (pacto).
• Transferência de direitos (renúncia)
• Toda lei é coerção.
►
Aula 3 – Somos livres? SIM.
Conceitos a serem abordados, a partir da
contextualização:
Responsabilidade
Existência
Autonomia
Escolha
Leitura de um texto filosófico
Jean-Paul Sartre (1905-1980)
• Francês
• Dedicou-se também à literatura
• Principal obra de filosofia: O ser e o nada
• A existência precede a essência
• Homem é responsável por aquilo que é
• Homem como criador de todos os valores
“O homem não é definível, porque, para começar, ele
não é nada. Ele só será alguma coisa mais tarde e,
então, será aquilo que fizer de si mesmo”.
O existencialismo é um humanismo
* Baixe o
texto de Sartre em formato
ou
Noções a serem trabalhadas a partir do texto:
•
Argumento contra a liberdade => impotência
•
Diferenciar a perspectiva libertária do “fazer-se”
da perspectiva determinista do “ser feito”.
•
Coeficiente de adversidade decorre da expectativa a
um determinado fim.
•
Exemplo do rochedo.
•
Liberdade como determinante daquilo que se deve
encarar como limite.
►
Aula 4 – Avaliação
Escolha e responda uma questão de cada um dos blocos
abaixo:
Bloco 1
1. Para Hobbes, a liberdade deve ser limitada ou não
há liberdade. Explique essa posição, tendo em vista
a diferença entre estado de natureza e estado civil.
2. Sartre afirma que estamos condenados a ser
livres, que seremos amanhã aquilo que fizermos de
nós hoje. Explique como estas afirmações se
relacionam com as noções de responsabilidade,
remorso e angústia.
Bloco 2
1. Observe este anúncio:
Por meio de que recurso a associação realizada entre
o produto à venda e a idéia de liberdade é possível?
Posicione-se acerca da eficácia do anúncio, caso
abrisse mão deste recurso.
2. “Mesmo na liberdade, quando escolhia alegre novas
veredas, reconhecia-as depois. Ser livre era
seguir-se afinal, e eis de novo o caminho traçado.”
(Clarice
Lispector – Perto do Coração Selvagem)
Com base neste trecho, reflita sobre a possibilidade
de se realizar escolhas realmente livres. Será que
ao escolhermos livremente não estamos seguindo
caminhos já traçados?
Bloco 3 (questão única)
Como você se posiciona frente à discussão
apresentada? Baseado no seu cotidiano e no das
pessoas que o (a) cercam, argumente em favor da
liberdade ou do determinismo.
Referências bibliográficas:
Fontes primárias:
HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um
estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo
Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo:
Ed. Nova Cultural, 2004 (Coleção Os Pensadores).
Págs. 113-114.
SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia
fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. 5ª
edição. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1997. Págs.
593-595.
Fontes secundárias:
NAGEL, T. “Livre-arbítrio”. Uma breve introdução à
filosofia. Tradução de Silvana Vieira. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
SAVATER, F. Ética para meu filho. Tradução de Mônica
Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2004. |