LIBERDADE E DETERMINISMO
   
Desenvolvido por: Adriano Fernandes
  Fabiano Veliq
  John Peter
  Thiago B. de Almeida

Laboratório de Filosofia I - UFMG - 2° Semestre de 2007


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Aula 1 – Problematização:

• Introdução ao tema

• Uso dos recursos complementares – trechos selecionados de filmes

 

Aula 2 – Somos livres? NÃO

• Apresentação de uma sistematização determinista

• Leitura e análise de fonte primária (Sugestão: HOBBES, Leviatã, Cap. XIV)

 

Aula 3 – Somos livres? SIM

• Apresentação de uma sistematização anti-determinista

• Leitura e análise de fonte primária (Sugestão: SARTRE, O ser e o nada)

 

 

  Aula 1 – Problematização

 

Inscrever o problema liberdade x determinismo no âmbito da ética – mostrar como o problema é fundamental na tematização da ação humana.

 

1.1 - Texto-base – orientação de desenvolvimento do tema para o professor:

A questão que se coloca na análise da relação entre liberdade e determinismo tem seu principal desdobramento na ética. Isto quer dizer que, sobretudo, o que se mostra como foco da problemática que vamos tratar diz respeito às condições do homem no tocante à ação. Liberdade e determinismo parecem ser pólos opostos, pontas de uma corda esticada sobre a qual o homem precisa andar. Mas será que é assim mesmo? Por enquanto podemos traçar algumas hipóteses, mas de certo mesmo podemos dizer apenas que não há resposta simples à pergunta: “somos ou não somos livres?”

Para respondê-la, talvez sejamos tentados por um sentimento de liberdade, de reconhecimento de que podemos sempre escolher, que nos aparece de súbito, mas é preciso investigar a fundo para que não sejamos pegos de surpresa. As evidências em favor da liberdade são percebidas em atos simples como querer levantar o braço, caminhar, pensar em um sorvete, etc. Aparentemente somos livres para tudo isso, mas, será que nossas ações são mesmo livres? Pensemos na situação de se matar a sede com um grande copo d’água. Pode-se caracterizar este ato como sendo livre? Ou devemos atrelá-lo necessariamente à sede que o ocasionou, em uma relação de causa e efeito que pode ser observada em todas as nossas ações? Eis o drama em que nos colocamos.

Para que fiquem mais claras as conseqüências éticas do nosso problema, lembrando que a ética trata de tudo aquilo que diz respeito à ação do homem, imaginemos as seguintes situações: primeiro que somos todos livres, podemos fazer aquilo que nos der na telha. Não há quaisquer restrições, leis, normas, obediências ou autoridades a quem devemos satisfação. Nesse cenário utópico, conseguiria o homem construir para si uma sociedade boa e justa? Teriam todos os mesmos direitos? Basta observarmos os conflitos diários em uma sociedade regrada para imaginarmos que a liberdade total e absoluta não constituiria uma sociedade justa. Essa capacidade de previsão, isso que nos possibilita imaginar as conseqüências da suposta utopia, já aponta para aquilo que devemos imaginar em seguida. Somos capazes de prever certas conseqüências com um certo índice de certeza, isto quer dizer que de certos fatos decorrem outros, e que dessa relação podemos deduzir um princípio de causalidade, isto é, tomado um conjunto de causas, podemos afirmar seu efeito. Sendo assim, reconsideremos a liberdade a partir de um segundo cenário: imaginemos agora que todos os nossos atos são condicionados por uma série de fatores, que tomados em conjunto nos permitem afirmar com algum grau de certeza quais serão as nossas escolhas. Nessa perspectiva, nada do que fizermos ou pensarmos parecerá livre. As causas de nossas ações, os condicionamentos, podem ser os mais diversos. Podem ser, por exemplo, de ordem genética, o que implica que por mais que eu queira não serei mais alto do que estabelecem meus genes; de ordem ambiental, que se pode ilustrar pelas influências que sofremos do círculo de pessoas com as quais convivemos; de uma ordem divina onisciente, que implica que tudo já está pré-determinado para nós e apenas fazemos o que deveríamos fazer, não nos restando nada a não ser cumprir o destino; ou ainda da ordem das paixões, das inclinações que sentimos, como a sede, o medo, o amor, a coragem, antecedentes causais de atos possíveis de ser previstos, entre outras causas.

Como podemos observar, a questão acerca do determinismo e da liberdade pode ser colocada de várias formas sem que, contudo, possamos chegar a alguma conclusão da qual se possa dizer: “Eis a verdade!”. O que podemos e queremos fazer é trazer para as nossas conversas elementos que nos ajudem a esclarecer duas possibilidades intimamente ligadas à forma como vemos o nosso mundo.

 

1.2 - Conceitos básicos a serem tratados, já na problematização:

Liberdade – Livre-arbítrio

Determinismo – Necessidade

 

1.3 - Elementos motivadores:

Ampliar a discussão e ilustrar com cenas que mostrem a expressão do problema no cotidiano. A idéia é apresentar de forma geral os filmes, minimamente seu enredo e personagens, fazendo das situações escolhidas elementos motivadores da discussão.

 

Filmes sugeridos:

 

Laranja Mecânica | Diretor: Stanley Kubrick | País: Reino Unido | 1971

Sinopse: O anti-herói do filme é Alex DeLarge, umjovem líder de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite drogado e música clássica. Tem por diversão bater, estuprar, matar... Enfim, cometer qualquer brutalidade que tenha vontade, não se importando com as leis ou o senso humanitário. Quando finalmente é pego pela polícia, sofre um tratamento duro de reabilitação. Quando Alex volta às ruas, totalmente regenerado, passa a sofrer com aqueles que antes eram as vítimas.

 

Possibilidades de discussão:

• gratuidade ou não das ações

• escolha

• coerção / condicionamento

 

Exemplos:

• Há liberdade nas práticas de violência da primeira parte do filme? Justifique.

• Após ser “curado”, Alex é mais ou menos livre?

Contextualização => violência nos estádios.

 

Cenas selecionadas em: http://br.youtube.com/watch?v=FJsYh6TSYfk

* Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi

 

Poderosa Afrodite | Diretor: Woody Allen | País: EUA | 1995

Sinopse: Em Nova York, oito anos após adotar um bebê, um pai adotivo resolve procurar a mãe biológica da criança e acaba descobrindo que ela é uma prostituta cafona chamada Linda, que em filmes pornográficos usa o nome Judy Cum. O homem decide então aconselhá-la a abandonar este tipo de vida.

 

Possibilidades de discussão:

• determinismo genético/biológico

• papel da educação/meio

• preconceito

• fatalismo

 

Exemplos:

• Aquilo que herdamos de nossos pais ao nascer, a nossa carga genética, nos define?

• Comparação com a perspectiva fatalista dos gregos, nas tragédias.

Contextualização => aplicabilidade do termo “raça” aos homens / ponto central da afirmação da superioridade ariana no nazismo.

Cenas selecionadas em: http://br.youtube.com/watch?v=8fdGknjoCSY

* Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi

Bem Vindos | Diretor: Lukas Moodysson | País: Suécia | 2000

Sinopse: Bem-vindos é a saga de uma comunidade hippie que tenta aliar seus ideais anarquistas à convivência com burgueses e aos próprios conflitos internos. Um desses conflitos é retratado pela neo-burguesa Elizabeth, que apanha do marido e resolve se mudar com seus dois filhos para a casa onde seu irmão Gore vive. É quando ela encontra um mundo politizado, de sexo livre que prega marxismo e liberdade incondicional, embora as crianças sejam proibidas de assistir à TV e o sexo não seja tão livre assim. Aos poucos, a fusão dessas duas realidades altera a vida do grupo e demonstra que, apesar de ser difícil a convivência, todos são bem-vindos.

 

Possibilidades de discussão:

• convenções

• papel da educação/meio

• preconceito

• viabilidade de formas alternativas de socialização

 

Exemplo:

• É possível vivermos de outra maneira? Há como negar a organização social na qual estamos inseridos?

Contextualização => diferenças culturais, sociais e comportamentais, apontadas em um país estrangeiro.

 

Cenas selecionadas em:

http://br.youtube.com/watch?v=BhjpgRmGJFk

* Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi

 

Obrigado por Fumar | Diretor: Jason Reitman | País: EUA | 2005

Sinopse: Nick Naylor é o porta-voz das empresas de cigarro e ganha a vida defendendo o direito dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e por um senador, Nick manipula as informações sobre o tabagismo nos programas de TV e se alia a um poderoso de Hollywood para promover o cigarro nos cinemas.

 

Possibilidades de discussão:

• o uso retórico da liberdade

• influência dos meios de comunicação

• massificação

• subordinação da verdade a interesses econômicos

 

Exemplo:

• O que se faz em nome da liberdade, geralmente, a corrobora?

Contextualização => analisar como a liberdade pode, e é, evocada em nome de ideologias.

 

Cenas selecionadas em:  http://br.youtube.com/watch?v=XXznEuWnVMM

* Clique aqui para baixar o trecho em formato .avi

 

  Aula 2 – Somos livres? NÃO.

 

Conceitos a serem abordados, a partir da contextualização:

 

Determinismos:

• Natural (Biológico)

• Social (Costumes / Leis / Convenções)

• Paixões / Inclinações

 

Leitura de um texto filosófico

 

Thomas Hobbes (1588-1679)

• Inglês

• Principal obra – Leviatã

• Estado de natureza: guerra de todos contra todos

• Homem dominado pelas paixões

• Pacto

 

“Quando um homem pensa no que for, o pensamento que se segue não é tão fortuito como poderia parecer. Não é qualquer pensamento que se segue indiferentemente a um pensamento”.

Leviatã. Cap III - Da conseqüência ou cadeia de imaginações

 

* Baixe o texto de Hobbes em formato ou

 

Noções a serem trabalhadas a partir do texto:

• A razão descobre as leis naturais.

• Estas leis são mandamentos morais, que obrigam o homem a ter certas atitudes, visando sua preservação e a paz.

• O homem justo é aquele que acolhe a lei e age conforme o seu preceito.

• Para que se escape do estado de natureza, e a lei natural se efetive, é preciso a instituição de um poder supremo (pacto).

• Transferência de direitos (renúncia)

• Toda lei é coerção. 

 

 

  Aula 3 – Somos livres? SIM.

 

Conceitos a serem abordados, a partir da contextualização:

Responsabilidade

Existência

Autonomia

Escolha

 

Leitura de um texto filosófico

 

Jean-Paul Sartre (1905-1980)

• Francês

• Dedicou-se também à literatura

• Principal obra de filosofia: O ser e o nada

• A existência precede a essência

• Homem é responsável por aquilo que é

• Homem como criador de todos os valores

 

“O homem não é definível, porque, para começar, ele não é nada. Ele só será alguma coisa mais tarde e, então, será aquilo que fizer de si mesmo”.

O existencialismo é um humanismo

 

* Baixe o texto de Sartre em formato ou

 

Noções a serem trabalhadas a partir do texto:

• Argumento contra a liberdade => impotência

• Diferenciar a perspectiva libertária do “fazer-se” da perspectiva determinista do “ser feito”.

• Coeficiente de adversidade decorre da expectativa a um determinado fim.

• Exemplo do rochedo.

• Liberdade como determinante daquilo que se deve encarar como limite.

 

 

  Aula 4 – Avaliação

 

Escolha e responda uma questão de cada um dos blocos abaixo:

 

Bloco 1

1. Para Hobbes, a liberdade deve ser limitada ou não há liberdade. Explique essa posição, tendo em vista a diferença entre estado de natureza e estado civil.

 

2. Sartre afirma que estamos condenados a ser livres, que seremos amanhã aquilo que fizermos de nós hoje. Explique como estas afirmações se relacionam com as noções de responsabilidade, remorso e angústia.

 

Bloco 2

1. Observe este anúncio:

 

 

Por meio de que recurso a associação realizada entre o produto à venda e a idéia de liberdade é possível? Posicione-se acerca da eficácia do anúncio, caso abrisse mão deste recurso.

 

2. “Mesmo na liberdade, quando escolhia alegre novas veredas, reconhecia-as depois. Ser livre era seguir-se afinal, e eis de novo o caminho traçado.”

(Clarice Lispector – Perto do Coração Selvagem)

 

Com base neste trecho, reflita sobre a possibilidade de se realizar escolhas realmente livres. Será que ao escolhermos livremente não estamos seguindo caminhos já traçados?

 

Bloco 3 (questão única)

Como você se posiciona frente à discussão apresentada? Baseado no seu cotidiano e no das pessoas que o (a) cercam, argumente em favor da liberdade ou do determinismo.

 

Referências bibliográficas:

 

Fontes primárias:

HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 2004 (Coleção Os Pensadores). Págs. 113-114.

SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. 5ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1997. Págs. 593-595.

 

Fontes secundárias:

NAGEL, T. “Livre-arbítrio”. Uma breve introdução à filosofia. Tradução de Silvana Vieira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

   SAVATER, F. Ética para meu filho. Tradução de Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2004.