: Histórico

As mudanças ocorridas no mundo do trabalho e seus impactos sobre a sociedade constituíram o universo de estudos e de ação de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, desde 1979.
Formado, inicialmente, no Departamento de Ciência Política daquela universidade, o grupo teve, durante seus primeiros anos de atividade, o nome de Laboratório de Movimentos Sociais Urbanos e procurou, desde o começo, acompanhar as transformações que vinham ocorrendo no modo de organizar e desenvolver os movimentos, as greves, a formação de lideranças, as variadas formas de articulação que empolgavam os movimentos de trabalhadores e outros atores da sociedade civil brasileira, numa época em que ainda se vivia o período dos governos militares vindos do golpe de 1964.

Na sua primeira fase de atividades, o grupo realizou, junto aos trabalhadores da FIAT brasileira, cuja fábrica de automóveis havia iniciado sua produção em 1976, uma importante pesquisa, “Processo de Trabalho e Transferência de Tecnologia na Indústria Automobilística e de Autopeças: o caso FIAT em Minas Gerais”.
A pesquisa realizada com a ajuda dos trabalhadores da FIAT trouxe uma nova característica no trabalho dos pesquisadores da UFMG. Tanto os pesquisadores visitavam o sindicato, recém conquistado pela oposição sindical, após anos de intervenção e controle governamental, quanto os trabalhadores ali compareciam também para reuniões com os pesquisadores, discussões, em grupo, sobre seus problemas ou para serem entrevistados, como previa a metodologia utilizada na pesquisa.

A partir de 1984, a experiência do grupo de pesquisadores ganhou legitimidade, na medida em que as mudanças ocorridas no país, com os processos de abertura democrática, viabilizavam a ampliação dos enfoques e a proximidade com os movimentos sociais não era mais vista como ameaça à ordem instituída. É nessa época que o grupo passou a ter existência reconhecida e institucionalizada na universidade, agora com o nome de Núcleo de Estudos Sobre o Trabalho Humano.

O NESTH foi instituído pela Resolução nº 10/85 de 13 de dezembro de 1985, da Coordenação de Ensino e Pesquisa, atual Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE), na gestão do Reitor Prof. José Henrique Santos, como Programa Interdisciplinar vinculado ao Conselho de Extensão.

A criação do NESTH visava dois objetivos fundamentais: possibilitar a interdisciplinaridade das pesquisas e atividades de extensão relacionadas com o tema "Trabalho Humano" e estabelecer intercâmbio com instituições afins.

Vários professores e pesquisadores da UFMG, desde o final da década de 70, vêm desenvolvendo pesquisas relacionadas com a temática do trabalho principalmente nas áreas do processo de trabalho e tecnologia, saúde e trabalho, história e memória operária, mulher e trabalho e sindicato e classe trabalhadora. Dessa maneira, surgiu como necessidade premente a conjugação de esforços acadêmicos, numa relação coletiva e interdisciplinar, centrados no tema do trabalho como conceito central da sociedade moderna.

As formas organizativas de intercâmbio deste núcleo de pesquisa com a sociedade civil foram sendo gestadas progressivamente.

Inaugurou-se na Faculdade de Medicina o Ambulatório de Doenças Profissionais, em contato permanente com os sindicatos da região metropolitana de Belo Horizonte. Através de pesquisas, foram implementadas assessorias a organizações dos trabalhadores, servindo, mais tarde, para a institucionalização da "Escola Sindical 7 de Outubro" (1989).

Atualmente, o NESTH se vê chamado a "intervir" nos chamados "mundos do trabalho", não só com estudos e pesquisas, mas com ações que visem acompanhar os homens e mulheres no trabalho, em intervenções psico-sociais de grupos, terapias no campo de doenças mentais, formação sócio-política e administrativa, transformação dos elementos materiais da situação do trabalho e organização do trabalho.

A proposta do Núcleo amplia-se no âmbito da UFMG, envolvendo professores de diversos Departamentos e Unidades, assim como funcionários e alunos interessados em projetos que privilegiam o "trabalho" como eixo central de análise, tornando realidade a complementariedade dos enfoques. Neste sentido, o NESTH é selecionado para constituir-se como laboratório associado junto ao CNPq, através da Pró-Reitoria de Pesquisa, se afirmando como núcleo consolidado. Dessa maneira, avança no sentido de atingir seu objetivo: dar corpo à produção científica acadêmica e estendê-la para além dos limites da Universidade.