Pílulas dos acervos do LHTP: entrevista de história de vida com o professor Edgar de Godói da Mata Machado

Posse dos membros do Conselho Curador da Fundação João Pinheiro. Edgar de Godoi da Mata Machado é o sexto da esquerda para a direita. Fonte: Repositório institucional da Fundação João Pinheiro.

No ano de 1991, o professor Edgar de Godói da Mata Machado construiu uma narrativa de história de vida em diálogo com os pesquisadores Lucília de Almeida Neves Delgado, Otávio Soares Dulci e Virgínia Soares, em 29 sessões de entrevistas.

O professor contou, com detalhes, suas vastas experiências: as origens históricas dos sobrenomes Godói Mata Machado; sua formação religiosa e intelectual, perpassando pelos momentos importantes dentro da política estadual e nacional; os grandes impactos das ações realizadas pela Polícia Política nos anos de Ditadura Militar no país que ele e sua família sofreram.

Atuante no campo político desde o Estado Novo, foi redator de um jornal de origem católica, O Diário, no qual, segundo suas palavras, “não escrevia de modo agradável à ditadura”. Quando optou por adentrar no campo do Direito, deu solidez intelectual a seus interesses, sempre voltados para a área social. Segundo ele, tais tendências tiveram sequência em sua atuação dentro da política, como deputado estadual, pela UDN, e federal, pelo MDB, e como secretário de governos em Minas Gerais. Nos governos, procurou manter um bom diálogo com a classe operária, participando ativamente nos sindicatos. Logo em 64, quando adveio o golpe, percebendo o caráter extremista do novo regime, optou por sair do cargo que ocupava no governo de Magalhães Pinto, de Secretário do Trabalho. Elegeu-se Deputado Federal, mas, em 1968, quando foi promulgado o AI-5, o professor Edgar Mata Machado teve seu mandato parlamentar cassado e foi compulsoriamente aposentado como professor na Faculdade de Direito da UFMG. Os tentáculos da Polícia Política estenderam-se também sobre sua família, com o assassinato de seu filho José Carlos da Mata Machado, militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) em 1973. A luta pelo direito à memória justa de seu filho e de tantos outros presos e desaparecidos na ditadura militar marcou sua atuação política e social nos anos subsequentes.

A transcrição das entrevistas de história de vida de Edgar de Godói da Mata Machado está disponível no acervo do Núcleo de História Oral no site do LHTP. Sua leitura – assim como a do livro a que deu origem, de autoria dos pesquisadores que fizeram as entrevistas – e a escuta dos áudios permitem acessar as memórias sobre um passado não tão distante, com o sabor de detalhes e sensibilidades que muitas vezes se perdem no meio das páginas de documentos escritos.

Maria Luísa de Sousa Castro Pena

Bolsista de Iniciação Científica do NHO/LHTP

Graduanda do 5º período de História – FAFICH/UFMG

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