O LHTP resulta da aproximação entre dois núcleos de pesquisa que têm atuação consolidada no Departamento de História e na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG: o Núcleo de História Oral e o Grupo de Pesquisa História Política – Culturas Políticas na História, que agora passam a se abrigar no interior deste Laboratório. Com isso serão reunidos os acervos documentais produzidos em decorrência das atividades dos dois grupos e, da mesma maneira, serão conjugadas as respectivas experiências de pesquisa e de organização de eventos acadêmicos.

Entendemos que a História do Tempo Presente (HTP) fornece uma ligadura adequada para os dois grupos, já que tem a história política e a história oral como marcos essenciais. Por outro lado, a HTP incorpora outros objetos e abordagens, como as relações sociais, culturais e econômicas, o que nos estimula a abrir novos horizontes de pesquisa no futuro.

A formação do conceito da HTP, que passa a instituir um novo campo de pesquisas, remonta aos impactos da Segunda Grande Guerra na Europa, notadamente a partir de iniciativas de historiadores franceses e alemães. O impulso para que historiadores se voltassem para temporalidades mais recentes veio do trauma da guerra, situação que se repetiria em outros quadrantes e contextos. De fato, a historiografia dedicada aos períodos mais recentes é resultado de demandas sociais pela compreensão de eventos marcantes próximos no tempo, o que trouxe novos desafios aos historiadores, anteriormente habituados a investigar apenas fenômenos mais recuados, com os quais eles próprios não tivessem experiência (direta ou próxima). O aprofundamento do debate teórico e metodológico levou a que fossem contornadas objeções tradicionais, sobretudo relativas aos temas da objetividade (que exigiria grande recuo temporal) e da dificuldade com acervos documentais. No segundo caso, ao contrário do que se imaginou de início, os pesquisadores da HTP têm se deparado com abundância de fontes, que cada vez mais se ampliam, gerando novas questões – referentes, por exemplo, às condições de acesso e de organização de documentos de diferentes tipologias, que não raro referem-se a sujeitos ainda vivos. Já a questão da objetividade tem sido pensada em outros termos, tanto na história e nas ciências sociais como nas ciências naturais. Todo pesquisador é influenciado pelo contexto social e seu trabalho é impactado por seus interesses e preocupações, que podem trazer contribuição positiva ao conhecimento. Porém, isso não significa abrir mão do compromisso ético e científico de colocar em perspectiva crítica as próprias opiniões e valores, cotejando-as com as evidências documentais e a própria historiografia.

Talvez esteja menos bem resolvida a questão dos limites – temporais, mas também em termos teórico-metodológicos – da História do Tempo Presente. Tais limites esbarram até mesmo em sua denominação, já que é comum também historiadores usarem a expressão História Recente e/ou questionarem a validade de “Tempo Presente” para se pensar em eventos que, embora próximos temporalmente, não são necessariamente “presentes” contemporaneamente.

Quanto aos limites cronológicos, há o entendimento predominante de que são fluidos e movediços, já que se trabalha com o critério, basicamente, da existência de testemunhas vivas dos processos ou eventos em foco. De qualquer modo, a discussão sobre os marcos cronológicos tem como base, necessariamente, a nossa própria temporalidade, ou seja, o fim da segunda década do século XXI.

Por sua vez, a dimensão do presente é fundamental para pensar os marcos iniciais da história recente, pois, trata-se de enfocar questões do passado próximo, que incidem com maior força na construção da nossa própria experiência no tempo. Ademais, evita-se pensar o tempo de maneira linear, com base no entendimento de que a temporalidade é um fenômeno plural, com alguns autores falando na existência de tempos co-presentes. A singularidade da História do Tempo Presente reside em alguns elementos referentes a essa não linearidade, tais como a contemporaneidade do não contemporâneo, o presente do passado incorporado e a espessura temporal do “espaço de experiência”. Características fundamentais quando se trabalha com história política e história oral, buscando compreender a produção de memórias, representações e valores que constituem sujeitos individuais e coletivos.

Ainda que conscientes do caráter provisório de qualquer tentativa de delimitação, nossa proposta é privilegiar a história recente do Brasil a partir dos anos 1960. É fato que, nos anos 1940/1950, começaram a desenrolar-se conflitos e processos que se radicalizariam na década de 1960, como o incremento de movimentos sociais nas cidades e nos campos, as mobilizações em torno do nacionalismo e das demandas por reformas sociais e o crescimento da sensibilidade de direita que se expressou no anticomunismo, no conservadorismo e no liberalismo autoritário. Entretanto, tais processos e tendências manifestaram-se com maior força nos anos 1960, quando os conflitos se tornaram mais agudos e contribuíram para o golpe militar (com participação civil) de 1964. A ditadura daí resultante tornou-se um horizonte inescapável nos estudos da história recente do Brasil, inclusive por seu lugar chave nos debates políticos atuais.

Ressalte-se, porém, que não se pretende resumir a HTP a temáticas clássicas da política, afinal, importantes fenômenos sociais, culturais e econômicos transbordam os marcos políticos tradicionais, como a organização e/ou fortalecimento dos movimentos de mulheres, dos negros, dos indígenas e das pessoas LGBT, ou os processos de crescimento (e de retração) da economia brasileira. Além de alguns destes temas já estarem contemplados pelo acervo que ora constitui os dois núcleos de pesquisa que se reúnem no Laboratório, temos a intenção, como anteriormente mencionado, de abrir os horizontes de pesquisa para novas temáticas e abordagens, contemplando o amplo espectro de possibilidades que a HTP oferece.

Objetivos:

O principal objetivo da formação do LHTP é fomentar e reunir pesquisas e atividades acadêmicas vinculadas ao campo da História do Tempo Presente, a partir das experiências já constituídas nos Núcleos de História Oral e História Política (antigos Núcleo de História Oral e o Grupo de Pesquisa História Política – Culturas Políticas na História). Nessa direção, o propósito é tanto o de aproximar pesquisadores de diferentes unidades da UFMG, como o de aprofundar a cooperação com centros de pesquisa estrangeiros.

Considerando o escopo mais preciso das atividades do LHTP, as principais iniciativas serão as seguintes: orientar pesquisas acadêmicas; produzir e organizar acervos documentais; dar acesso aos acervos documentais constituídos (via web e no próprio LHTP); organizar eventos acadêmicos; preparar publicações; coordenar grupos de discussão.