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TÍTULO: Versões do Ponto de Basta
RESUMO: Nesta tese, apresenta-se o conceito de Ponto de Basta, enquanto estabilizador da realidade discursiva, e sustenta-se a hipótese de que tal conceito nunca foi abandonado por Lacan, possuindo uma continuidade em sua obra. Com base no pressuposto de que o significante só adquire sentido a partir de sua posição em uma cadeia, a significação sempre resta para além, isto é, a cada adição de um novo significante, há a modificação retroativa do sentido da frase. Diante dessa propriedade, foi deduzida a necessidade de se criar um Ponto de Basta, conceito concebido por Lacan no seu terceiro seminário, relacionado 2) àquilo que não engana, elemento de autoridade, com o qual não se discute, e que está apagado do campo que ele organiza; 2) ao campo pulsional: estaria atrelado a Bejahung, com a representação libidinizada introjetada pelo sujeito inaugurando o funcionamento psíquico. Enquanto palavra que forja um ponto de encontro entre significante e significado, é o Ponto de Basta que confere a coerência interna do discurso. Refletir sobre a evolução desse conceito implica considerar com o que o sujeito pode contar para se ancorar no campo movediço do significante. A partir de uma revisão bibliográfica da obra de Lacan e comentadores, foi possível observar que o Ponto de Basta, é inicialmente atrelado ao conceito de ‘significante puro’ e ‘significante valor zero’, presentes na teorização levi-straussiana. Demonstra-se também, nesta tese, que esses últimos dois conceitos foram primordiais para a criação da ideia lacaniana de Nome-do-Pai, que teve seu estatuto modificado a partir do momento em que se percebe a impossibilidade de supor a existência de um significante especial que conferiria estabilidade ao campo do Outro desde o lado de fora. Assim sendo, esse significante especial passou a ser atrelado a ideia de significante éxtimo, ao mesmo tempo interno e externo ao campo do Outro em função de sua relação com o real, dimensão pulsional. O significante éxtimo tem um caráter especial porque ele inaugura o campo do significante, do Outro enquanto tesouro significante, a partir do apagamento violento de sua vertente correlativa ao real. A conclusão possível é de que aquilo está na origem do significante também guarda relação com o que pontua a cadeia, o Ponto de Basta. Há ainda uma segunda consequência dessa mudança, coerente com a evolução da teorização lacaniana, em que a ênfase passa a recair sobre a dimensão pulsional. A tese apresenta esse deslocamento teórico em que se passa a sublinhar que para a psicanálise o que permite criar um ponto de capitonagem para o ser falante é o real do gozo.
Comissão Avaliadora:
Prof. Antônio Márcio Ribeiro Teixeira (UFMG)
Prof. Márcia Maria Vieira Rosa Luchina (UFMG)
Prof. Guilherme Massara Rocha (UFMG)
Prof. Marcelo Frederico Augusto dos Santos Veras (UFBA)
Prof. Cleyton Sidney de Andrade (UFAL)
TÍTULO: Qual a perda implicada em um filho que não nasceu?
RESUMO: Este trabalho explora o estudo freudiano que conduz o percurso desde o querer ser mãe até a falta de satisfação do bebê. Os textos sobre a organização libidinal da mulher permitiram partir da mãe e da mulher, passando pela adolescente, atente, menina e, por fim, pelo neonato, investigando o que, em cada uma dessas passagens, a mulher perde, bem como os modos pelos quais ela faz suplência, mesmo que parcialmente, a essas perdas. A escolha deste caminho reverso teve o ponto de partida na maternidade. Dessa forma, foi possível explorar o início da relação mãe e filho, ainda na gravidez, considerando a interação entre as manifestações fisiológicas do corpo da mulher e o imaginário da gestante, ou seja, o que antes do encontro de fato com seu filho já opera como conjunção a ele. A pesquisa buscou investigar, a partir do aporte teórico da psicanálise, sobretudo das obras de Freud, os possíveis impactos da perda do filho sobre os investimentos maternos da gestação e problematizar a construção e a elaboração do luto. A investigação se deteve, mais especificamente, na hipótese, muitas vezes aventada pela puérpera, de retorno ao estado gestacional. Supõe-se que esse retorno parece significar, para as mães que perdem seus bebês durante a gestação, uma possibilidade de suplantar imediatamente a dor da perda, como alternativa ao luto que esta mobiliza. Conclui-se que a perda de um filho que não nasceu pode responder pela perda do objeto de satisfação primária.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Angela Maria Resende Vorcaro (UFMG)
Prof. Ariana Lucero (UFES)
Prof. Cristina Abranches Mota Batista (Centro de Atendimento e Inclusão Social)
TÍTULO: RESISTÊNCIA NO TRABALHO PELOS MINERADORES: PROCESSO, FORMAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO
RESUMO: O objetivo geral da tese foi compreender as estratégias de resistência praticadas pelos trabalhadores da extração mineral. A tese foi estruturada em três artigos que enunciam os objetivos específicos. O primeiro artigo, em forma de ensaio, teve o objetivo de conceituar e caracterizar o fenômeno da resistência no trabalho, identificando suas estratégias ocultas, manifestas pelo trabalhador como parte da saúde. Por meio da abordagem psicossociólogica, desenvolvemos uma análise reflexiva que culminou com a proposição de um modelo e definição para a resistência, tendo em vista auxiliar na compreensão de sua elasticidade, dinamicidade e atributos assumidos na sua manifestação no trabalho. Toma as variadas resistências ocultas como expressões singulares do cotidiano do trabalhador e seu grupo frente aos controles gerenciais da organização do
trabalho e a resistência como parte e expressão da saúde, à medida que representa potência de autopreservação, emancipação e indicador positivo de saúde individual e coletiva no/do trabalho. Seguimos com pesquisa empírica que se desdobrou em dois artigos. O segundo artigo teve o objetivo de escrever o processo de formação das estratégias de resistência utilizadas pelos trabalhadores da extração mineral. Como resultados apresentamos: o uso de si, a consciência e o grupo como bases da formação da resistência no trabalho; atributos como parte e expressão da composição da resistência o trabalho; elementos processuais da formação da resistência; contexto e significações da formação da resistência na mineração; atributos da resistência entrelaçados e entremeados na sua constituição e expressão; parte da formação e transmissão de saberes realizada pela validação consensual e tutorização; os processos de formação das estratégias de resistência, com mesmas bases e diferentes modos de articulação dos atributos, são potencializadas pela capacidade de resposta e mobilização do trabalhador/grupo. No terceiro artigo, ao identificar as estratégias de resistência praticadas pelos trabalhadores da mineração, constatamos: o poder disputando atributos com a resistência; o poder nas ações gerenciais; a resistência no cotidiano de trabalho; a percepção dos trabalhadores sobre as estratégias de poder; resistências dos trabalhadores; resistências sindicais; resistências geminadas; estratégias de resistência superadas pelo poder, bem como as repercussões sociais das estrátegias dentro e fora das
empresas. As diversas manifestações de resistência se complementam e buscam preservar o trabalhador pela sobrevivência, proteção e segurança
à saúde. Parte destas podem ser consideradas práticas de vigilância em saúde do trabalhador na mineração, realizadas pelos próprios mineradores. As contribuições e limitações da pesquisa, assim como a sugestão de novos estudos foram apresentadas.
COMISSÃO EXAMINADORA:
Prof. Livia de Oliveira Borges (UFMG)
Prof. Claudia Andrea Mayorga Borges (UFMG)
Prof. Daisy Moreira Cunha (FAE UFMG)
Prof. Vanessa Andrade de Barros (Universidade Federal de Minas Gerais)
Prof. João César de Freitas Fonseca (PUC-MG)
Prof. Elisa Ansoleaga Moreno (Universidad Diego Portales)
TÍTULO: As canções e seus destinos: a gaia ciência em música e em psicanálise
RESUMO: Esta tese é guiada pela pergunta: sobre interpretação, o que pode o psicanalista aprender com o cancionista? Em cada um dos quatro artigos que compõem a tese, encontro uma maneira diferente de responder a essa questão: (1) No primeiro artigo, abordo os processos identificatórios em jogo entre os jovens ligados ao movimento hip-hop, a partir de uma perspectiva atenta ao papel desempenhado pela voz nesses processos. (2) No segundo, discuto as diversas facetas do conceito lacaniano de lalíngua, e evoco canções da música popular urbana brasileira para ilustrar alguns dos aspectos teóricos em jogo nessa discussão, que considero central para a compreensão do modo como se concebe a interpretação analítica nos últimos anos do ensino de Lacan. (3) No terceiro, analiso uma passagem de Televisão (Lacan, 1974/2003) em que o autor se refere ao gaio saber dos trovadores medievais. Procuro, nessa análise, apreciar em que medida esse saber poético-musical constitui um paradigma para a interpretação analítica, bem como reconhecer as conexões desse saber com o fazer dos cancionistas da música popular urbana brasileira, sobretudo em dois aspectos: a oposição ao afeto da tristeza e o saber-fazer com lalíngua. (4) No quarto artigo, redefino a pergunta inicial de modo mais detalhado e me interrogo sobre o que pode o psicanalista aprender sobre interpretação com João Gilberto. O argumento nesse último artigo avança no sentido de
reconhecer, em diversos aspectos da obra e da performance de João Gilberto, pontos de referência para uma apreensão do que está em jogo na interpretação analítica, em três frentes principais: o trato com o real da linguagem; a experiência do final de análise; a constituição de um estilo na práxis do psicanalista.
Comissão Examinadora:
Guilherme Massara Rocha | UFMG |
Ana Lúcia Mandelli de Marsillac | Universidade Federal de Santa Catarina |
José Miguel Soares Wisnik | Universidade de São Paulo |
Antônio Márcio Ribeiro Teixeira | UFMG |
Cleyton Sidney de Andrade | Universidade Federal de Alagoas |
Gilson de Paulo Moreira Iannini | UFMG |
Título: Itinerários terapêuticos de pessoas com TEA e de suas famílias em busca de tratamentos na rede pública de saúde do município de Belo Horizonte/MG
Resumo:
O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades sociocomunicativas, pela presença de interesses restritos e estereotipados e por desafios sensoriais. A intervenção precoce especializada e intensiva é determinante para um bom prognóstico. O TEA pode ser entendido como uma questão de saúde pública em virtude da prevalência (1:54 segundo dados estadunidenses) e não tem cura. A taxa de prevalência no Brasil é desconhecida, mas estima-se que pelo menos 4 milhões de pessoas sejam autistas. A etiologia dessa condição neurodivergente não apresenta causas bem definidas, há evidências científicas que apontam para interação genética e ambiental, sendo que o diagnóstico é clinico. O entendimento do diagnóstico de TEA, historicamente, sofreu diversas alterações e permanece um cenário de controvérsias no Brasil e no mundo. Existem correntes teóricas diferentes sobre a origem do transtorno – ora psicogênica, ora de neurodesenvolvimento, o que faz com que haja diferentes formas de intervenção e diferentes locais da rede pública brasileira para os tratamentos, evidenciando que a clínica do TEA é ainda atravessada por embates políticos e teóricos. A partir de 2012, com a promulgação da Lei Berenice Piana, os autistas brasileiros passaram a ser considerados pessoas com deficiência, passando, assim, a ter todos os direitos inerentes a essa condição, sendo o acesso ao tratamento um direito previsto na Constituição brasileira. Na rede da saúde pública existe uma heterogeneidade de fluxos de tratamentos, o que torna necessário esclarecer como esses direitos estão sendo oferecidos, bem como que a rede pública de saúde oferece os recursos para essas pessoas e para seus familiares. Assim, o objetivo geral desse trabalho é descrever como as pessoas com TEA e ou os seus familiares percebem e descrevem a obtenção do diagnóstico e tratamento na rede SUS/BH. O estudo busca ainda identificar as formas de intervenção dos profissionais, os tratamentos que estão sendo disponibilizados e por quais profissionais, o acesso às orientações, às demandas dos usuários, em quais equipamentos da rede estão sendo tratados e o nível de satisfação ou insatisfação dessas pessoas. Para tanto, buscamos identificar e analisar os itinerários terapêuticos das pessoas com TEA e de seus familiares na rede pública de saúde no município de Belo Horizonte. Deste modo, realizamos um estudo descritivo exploratório de abordagem quali-quantitativa. Os dados foram coletados por meio de análise documental e questionário online respondido por 95 pessoas, moradores do município de Belo Horizonte e de outros locais que fazem ou fizeram uso da rede pública de saúde deste município.
Comissão Examinadora:
Prof. Maria Luisa Magalhaes Nogueira (UFMG)
Prof. Cassia Beatriz Batista (UFSJ)
Prof. Ana Amelia Cardoso Rodrigues (UFMG)
Título: Homens em análise: destinos do falo e travessias da virilidade na psicanálise lacaniana
Resumo:
Neste trabalho, tecido sobre o pano de fundo de uma interface da psicanálise lacaniana com os saberes contemporâneos sobre gênero, raça e sexualidade, buscamos discutir alguns dos destinos que uma experiência de análise oferece ao falo e à virilidade por meio do estudo de casos clínicos e relatos de passe de homens que atravessaram essa experiência. Como ponto de partida, formulamos a noção de uma virilidade cômica, isto é, um modo específico de dar corpo à masculinidade pautada por uma ostentação viril que nega sua própria castração e recusa a feminilidade, fazendo um semblante da posse do falo ali onde um sujeito, no fundo, sabe que não o detém. Buscando localizar as coordenadas subjetivas que subjazem a essa posição do “macho”, desdobramos o lugar da degradação do objeto na vida amorosa dos homens, bem como a (não-)relação entre falo e pênis, que aqui propusemos nomear como uma discordância indexada. Ao longo do percurso, utilizamos passagens de casos freudianos relidos por Lacan – o pequeno Hans, o Homem dos Ratos, o Homem dos Lobos –, assim como casos clínicos produzidos pela literatura lacaniana – o paciente de Ella Sharpe, o paciente impotente de Lacan, os relatos de passe de Jésus Santiago e de Bernardino Horne, entre outros –, a fim de recolher elementos que nos permitam pensar as masculinidades na clínica psicanalítica. Como saldo desse percurso, orientados por duas concepções de final de análise fornecidas pela obra de Jacques Lacan (a desidentificação ao falo e a travessia da fantasia), pudemos situar da seguinte forma alguns dos efeitos de uma análise sobre a experiência da masculinidade. Da perspectiva da desidentificação ao falo, o percurso de uma análise permitiria a um sujeito fazer o luto de ser o falo que completa o Outro, consentindo com a barra que marca a incompletude – ou mesmo a inexistência – desse Outro e se autorizando a assumir a dimensão esburacada do desejo, sem precisar subscrever aos imperativos da virilidade ou aos roteiros da cis-heteronormatividade. Da perspectiva da travessia da fantasia, por sua vez, a operação de uma análise conduziria um ser falante a acessar o modo como interpretou seu lugar como objeto diante do Outro e a forma como respondeu a isso em sua empreitada de tornar-se sujeito, franqueando um processo de dessubjetivação mediante o esvaziamento da consistência imaginária do objeto. Ao fazê-lo, uma análise permitiria a um analisante parar de aspirar à virilidade, abrindo caminho para autorizar-se do feminino que o atravessa à sua maneira. Nesse sentido, a travessia da fantasia pode ser considerada como uma operação de desmontagem do engodo viril, uma vez que, por meio dessa travessia, um sujeito é levado a reconhecer a estrutura de semblante da própria virilidade, franqueando-lhe a possibilidade de consentir com a sua castração e, eventualmente, acessar um Outro gozo mais além do falo, que se permite ser atravessado por algo do furo.
Comissão Examinadora:
Prof. Gilson de Paulo Moreira Ianinni (UFMG)
Prof. Jésus Santiago (UFMG)
Prof. Marcus André Vieira (PUC-RJ)
Prof. Guilherme Massara Rocha (UFMG)