Atualmente a busca dos estudantes pela formação que lhe garanta inserção no mercado de trabalho muitas vezes passa pelas Empresas Juniores (EJ’s). A experiência prática e o desenvolvimento de características como responsabilidade e proatividade podem ser diferenciais conseguidos nas 16 EJ’s da UFMG, que somam mais de 700 membros. Mas nem sempre elas foram vistas assim. Primeira Empresa Júnior da Fafich (e terceira da Universidade), a RH Consultoria Júnior (RH Jr) foi criada em 1996 e enfrentou resistência na comunidade acadêmica antes de se firmar como uma referência do setor.
Victor Natanael, um dos co-fundadores da RH Jr, conta que já entrou no curso sabendo que queria trabalhar com Recursos Humanos. “Os semestres foram passando e Rubens (outro co-fundador) e eu pensamos ‘tá chegando o final e não vimos nada da área’. Então começamos a fazer disciplinas eletivas na Faculdade de Ciências Econômicas (FACE), foi onde conhecemos a primeira EJ da UFMG”. Com a ideia de criar uma empresa de RH gerida pelos alunos de Psicologia, eles procuraram Departamento e Colegiado, onde tiveram duas negativas. “Não havia muita informação sobre o que era uma empresa júnior e os professores não entenderam a ideia. Acharam que iria concorrer com o Ceap (Centro de Aplicação de Psicologia, que precedeu o SPA) ou seria uma forma de apropriação indevida da Universidade pública para fins particulares”, lembra.
A resistência por parte dos professores não desanimou Victor e Rubens. “Estávamos determinados. Levamos a questão até a Reitoria, que a enviou para a Congregação da Fafich, onde conseguimos a aprovação”. Faltava ainda uma sede e nenhuma sala foi disponibilizada. “Achamos uma que era usada de depósito e informalmente conseguimos que tirassem o que havia dentro para que fosse a nossa sede. Nós mesmos a pintamos e fizemos um contrato de aluguel com a Pró-Reitoria de Administração”, conta. Mais de 20 anos depois, a empresa funciona na mesma sala pintada pelos dois e Victor Natanael se empolga ao contar a odisseia da fundação no seu gabinete na FACE, onde hoje é professor.
“A busca pela própria formação se expressa com mais força na empresa júnior”, acredita Larissa Rodrigues, professora do Departamento de Psicologia e atual coordenadora a RH Jr, junto com a professora Delba Barros. “Nem sempre eles chegam com uma noção clara do que querem fazer dentro do curso. O papel da empresa é também de esclarecimento e a prática favorece para se ter essa clareza”, completa Larissa. Delba destaca algumas habilidades e competências observadas nos alunos que passam pela RH Jr. “Trabalho em grupo, respeito a hierarquias, falar em público, conduzir reuniões, se vestir de forma adequada, fazer bons laudos… São competências comportamentais menos cobradas no meio acadêmico que eles podem desenvolver”, explica. “A empresa permite um diálogo mais próximo do mundo corporativo com o acadêmico, tirando o que há de melhor neles”, ressalta.
A mesma autonomia dos estudantes sobre sua formação que guiou a criação da empresa hoje leva alunos do curso de Psicologia a procurá-la. É o caso de Rayane, Túlio, Thomaz e Natália, membros da gestão atual que estão tendo suas primeiras experiências profissionais na RH Jr. “Na empresa temos a parte prática muito forte, já a parte teórica estamos buscando”, conta Túlio Soares, Diretor de Pessoas. “Nossa ideia agora é criar um grupo de estudos sobre psicologia organizacional”, completa Thomaz Pacífico, que é Assessor de Projetos.
A empresa oferece serviços como recrutamento e seleção de pessoal, treinamento, desenvolvimento e pesquisa de clima organizacional. A carga horária flexível ajuda na hora de conciliar os estudos, estágios e a experiência na empresa júnior. “No final do curso temos menos matérias porém temos que fazer estágios obrigatórios. Aqui na RH tentamos conciliar as atividades para que os membros não tenham defasagem em nenhuma área”, comenta Rayane Couto, Diretora de Marketing e aluna do 9º período.
Natália Marinho, atual presidente, aponta que os benefícios da experiência vão além da formação profissional. “Aqui nós aprendemos muito com nossos erros. Seja nas atividades da empresa ou mesmo na relação com as pessoas, que são todas diferentes, cada um com sua experiência de vida. Além disso, não estamos sozinhos. Temos muito contato com pessoas de outras empresas e do movimento EJ, que é muito colaborativo”, conclui.
Por Victor Maia