Nota de pesar
O Departamento de Psicologia e o Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais manifesta profundo pesar pelo falecimento de Gregorio Baremblitt.
Em homenagem a Baremblitt e reconhecendo suas contribuições inestimáveis, compartilhamos nota escrita por Izabel C. Friche Passos, professora titular do Departamento de Psicologia, docente permanente do da Fafich/UFMG e amiga de Gregorio.
GREGORIO FRANKLIN BAREMBLITT nos deixa uma imensa saudade! E um legado incalculável, imprescindível como intelectual, grande mestre, amigo fraterno e companheiro das lutas insurgentes pela democracia, pela liberdade, contra toda forma de opressão e por uma vida digna e não-fascista.
Esse grande cidadão argentino-brasileiro, migrado para o Brasil nos anos de 1970 por perseguições da última, mais cruel e mortífera ditatura militar de seu país, escolheu nossa cidade de Belo Horizonte como morada definitiva, depois de peregrinar como “pensador nômade” por várias cidades brasileiras e estrangeiras, ajudando a formar muitas gerações de trabalhadoras e trabalhadores da Saúde Mental, especialmente profissionais do campo “psi”. Recebeu de nossa Câmara Municipal, em 2009, o título de Cidadania Honorária, que muito nos orgulha.
O Departamento de Psicologia e o Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Fafich/UFMG tem muito a lhe agradecer pela importante colaboração na forma de cursos, palestras, conferências, bancas de defesa de dissertações. Principalmente, nos anos iniciais do Programa, quando tinha apenas o Mestrado, com uma única área de concentração em Psicologia Social.
Baremblitt foi um dos pioneiros a introduzir em nosso país A Análise Institucional e a Esquizoanálise, trazendo até nós pensadores fundamentais do chamado campo institucionalista como René Lourau, Félix Guattari, George Lapassade, Franco Basaglia, Robert Castel, Ervin Goffman, Emílio Rodrigué, Thomas Szasz, Marie Langer, Eduardo Pavlovsky, dentre outros.
Psiquiatra de formação, mestre em sociologia, doutor em psiquiatria e psicanalista crítico-militante, com sua vastíssima cultura intelectual e literária – leu de tudo e mais um pouco –, sempre foi um crítico contumaz do stablishment e do “pensamento herdado”, como dizia Cornelius Castoriadis, incluindo aí as psicanálises ortodoxa e de escolas e o conservadorismo acadêmico. Tinha o dom de ensinar, uma capacidade ímpar de se comunicar, uma militância política incansável.
Deixa uma obra extensa de mais de 15 livros e numerosos artigos publicados. Um dos livros, o Compêndio de Análise Institucional e outras correntes, se tornou referência obrigatória nos cursos de Psicologia país afora, ou quando o assunto é o movimento institucionalista.
Fundou no final de 1970, no Rio de Janeiro, o IBRAPSI (Instituo Brasileiro de Psicanálise, Grupos e Instituições) e nos anos de 1990, em Belo Horizonte, o Instituto Félix Guattari, em homenagem ao filósofo-psicanalista-revolucionário, com o objetivo de formar analistas institucionais, esquizoanalistas e esquizodramatistas, e realizar intervenções klínico-institucionais nos mais diversos campos: da saúde, educação, serviço social, trabalho, comunicação, cultura, artes.
Tendo se inspirado nos conceitos e na obra de Deleuze e Guattari, deu uma contribuição original e pessoal inventado o Esquizodrama. Numa bricolagem de muitos saberes científicos, artísticos, culturais (especialmente o teatro), do senso-comum e dos povos originários, o esquizodrama, como sempre dizia, é um conjunto heterogêneo de estratégias, táticas e técnicas, “uma máquina fundamentalmente energética, destinada a vibrar e a fazer vibrar aqueles que dela se aproximam e a engajá-los em um movimento produtivo, que não passa exatamente pelas ideias nem pelas palavras, passa pelos afetos” (Baremblitt, 1998, p.14). Os associados do Instituto o rebatizaram como Fundação Gregorio Baremblitt e criaram núcleos em Uberaba e Frutal/MG.
Gregorio Baremblitt é uma referência fundamental para a Luta antimanicomial na América Latina, e para a Reforma psiquiátrica brasileira, em especial. Recebeu das Madres de Plaza de Mayo, de Buenos Aires, o título de Doutor Honoris Causa.
Hoje é uma enorme satisfação contarmos, em nosso quadro docente da graduação e da pós-graduação em Psicologia, com professoras comprometidas com o ensino e a prática da Análise Institucional, que nunca deixou de ser conteúdo importante no curso de graduação em Psicologia, desde o trabalho pioneiro do antigo Setor de Psicologia Social – chamado por nós na época (anos 1970 e 80), carinhosamente, de “O Setor”. Nos últimos tempos, as contribuições da esquizonálise e do esquizodrama têm sido mais solidamente introduzidas.
Não podemos deixar de prestar nossa solidariedade e homenagear também aquela que foi sua mais incansável colaboradora, amiga e companheira amorosa de tantos anos, Margarete Aparecida Amorim, a quem cabe dar continuidade ao belo trabalho que fazem na Fundação Gregorio Baremblitt. Margarete é atualmente doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Fafich/UFMG.
Um texto é muito pouco para dizermos de nossa imensa gratidão ao amado “doutor”, “professor”, “amigo” Gregorio. Nosso eterno afeto e gratidão pelo muito que aprendemos com você e pelo que pudemos compartilhar através de sua amizade e incondicional generosidade.
Gregorio Baremblitt, presente!