Proponente: Izabel Christina Friche Passos.
Certa feita, um renomado professor de psicologia da universidade brasileira sugeriu a um grupo de jovens professores que retirassem do título da proposta de um curso de Mestrado em Psicologia, em construção, a palavra prática. Poderia soar como coisa menor, menos acadêmica.
Além de insistirmos na palavra, damos-lhe destaque. Queremos retomar o velho e bom sentido grego de Prática, praktké, como ciência ou episteme prática em oposição à ciência puramente especulativa. No Houaiss encontramos muitos sinônimos e variantes de prática: “aprendizado, conhecimento, costume, estudo, exercício, experiência, hábito, saber, tarimba, tirocínio, traquejo, treino; ver tb. sinonímia de ação, conversa, costume e exposição”. Nesta polissemia, o que se evidencia é a aproximação e não uma oposição entre logos, razão e ação, que se juntam nas ideias de praktké e práxis. Práxis, que em Marx, muitos séculos depois dos gregos, será elevada à condição de ação propriamente humana, isto é, ação social e política por meio da qual os homens se constituem como seres autônomos, livres, reflexivos.
Mais que mera ideia em voga, a interdisciplinaridade que propomos é uma forma não apenas de fazer dialogar diferente disciplinas, mas de fazer avançar nossas práticas no sentido de uma transversalidade, interpenetração e transformação dos saberes, aproximando as disciplinas do chamado senso-comum, das tradições, ficções, artes e poesia. A diversidade de saberes incorporados tem sido fundamental para a reconstrução crítica do campo da Saúde Mental Coletiva.
Só o esforço coletivo e uma postura intelectual realmente aberta permitem reconfigurar um campo de práticas sociais tão problemático e, ao mesmo tempo, tão determinante para uma vida, individual e coletiva, com mais bem-estar e menos exclusão social.
Finalmente, queremos pôr em diálogo jovens e veteranos da Academia com outros profissionais de serviços, com a clínica cotidiana, com os usuários, familiares e voluntários da saúde mental. Certamente, temos muitas experiências e histórias a trocar.
Assim definimos o projeto guarda-chuva PRISMA: como o objeto que refrata a luz, possibilitando infinitas combinações, queremos juntar e refratar modos diferentes de conceber, refletir e difundir nossas práticas e paixões – teóricas, clínicas, investigativas, políticas e artísticas – em torno de um novo lugar para a subjetividade. Sadia ou adoecida, racional ou tresloucada, bem-comportada ou irreverente. Cientes, contudo, do risco de um ecletismo vazio, sustentamos posições éticas e escolhas teóricas que se evidenciam nos trabalhos que desenvolvemos.