Tema: “A Loucura atrás dos Muros da Universidade”.
Período e local de realização: 30 de setembro de 2004, na UFMG.
Apresentação:
O Simpósio “A Loucura atrás dos Muros da Universidade” se propôs a trazer para a comunidade acadêmica informações sobre a rede de serviços de saúde mental de Belo Horizonte, em implantação há mais de uma década, focalizando os serviços substitutivos, os novos saberes e olhares sobre a doença mental. O evento teve o objetivo de proporcionar uma aproximação entre a comunidade universitária (acadêmicos, professores e pesquisadores de universidades públicas e privadas do estado) e os profissionais da rede.
Observamos que ainda há uma grande distância entre o que é ensinado nas universidades e a realidade da saúde mental e dos serviços de saúde pública e coletiva. Um exemplo disso é a forma como as entrevistas de apresentação de paciente em hospitais psiquiátricos são conduzidas. Não retratam nem a realidade do portador de sofrimento mental, nem das novas propostas de tratamento, mascarando a problemática realidade deste tipo de estrutura, ainda dominante no contexto psiquiátrico brasileiro. Apesar de todas as deficiências deste “modelo pedagógico”, esta parece ser a forma privilegiada de contato do aluno com o saber psicopatológico, com muito pouca prática concreta de trabalho com os usuários da saúde mental.
Os aspectos da psiquiatria clássica, em relação ao abandono e maus de pacientes, foram a base histórica para a tomada de consciência de que o tratamento nos hospitais psiquiátricos é ineficaz e inadequado para o portador de sofrimento mental. Tendo em vista esse fato, e considerando as novas perspectivas mundiais de mudança na saúde mental (de que são exemplos, o movimento da psicoterapia institucional na França e, principalmente, a psiquiatria democrática italiana), em meados da década de 1980 intensifica-se, no Brasil, o movimento pela Reforma Psiquiátrica.
Esse movimento busca um tratamento ético, menos excludente e estigmatizante para o usuário de serviços de saúde mental, fazendo uma exigência prática de que os manicômios sejam substituídos por outras instituições de acolhimento e cuidado, capazes de garantir a dignidade e a liberdade dos usuários, com base nos seus direitos de cidadania. Um dos lemas do movimento é sensibilizar a sociedade para conviver com a diferença: CUIDAR SIM, EXCLUIR NÃO. Baseado nesse paradigma é que estão sendo organizados os serviços substitutivos da rede de saúde mental, representados pelos CERSAM, CAPS, NAPS, centros de convivência, cooperativas, dentre outros.
Esperamos que, a partir deste simpósio, mais espaços de discussão e busca por novos saberes sejam criados, para que a universidade possa estar mais próxima da realidade da saúde pública e coletiva, e algumas práticas ultrapassadas, ainda utilizadas na graduação, possam ser questionadas e não sirvam de única base para a formação dos novos profissionais.
Coordenadoras: Izabel Friche Passos (docente), Célia Carvalho Nahas (discente), Tatiana Oliveira Moreira (psicóloga) e Liliane Camargos (psicóloga).