A Comissão Permanente de Saúde Mental apresentou na última sexta-feira, 16 de maio, um primeiro olhar sobre os dados coletados pelo 1º Censo de Saúde Mental da UFMG em parceria com a World Universities Group (WUN). Mais de 30% dos estudantes de graduação e pós-graduação responderam ao formulário entre janeiro e março de 2025. As 57 perguntas foram elaboradas pela Comissão, e tiveram como bases testes padronizados sobre ansiedade, depressão, consumo abusivo de bebidas alcoólicas e preocupação geral com a própria saúde psicológica.

resultados preliminares
Mais de 60% dos participantes relatou ter preocupações moderadas a fortes com sua própria saúde psicológica. Por outro lado, a maior parte afirma não ter um diagnóstico profissional. Quando às áreas da vida mais afetadas, os impactos foram mais percebidos pela sensação de isolamento, pela dificuldade nos estudos e pela queda do desempenho acadêmico.
Na hora de buscar ajuda especializada, a maior parte dos estudantes indicou sentir-se mais confortável com atendimento individual presencial ou por vídeo, que com outras modalidades, como atendimento telefônico, atendimento por grupos, aconselhamento e cursos online.
A avaliação sobre depressão da pesquisa (PHQ9) sugere um grau de depressão médio ou severo em mais da metade dos estudantes, com destaque para grupos de maior vulnerabilidade social:
- Formação acadêmica: a situação é pior entre os estudantes de graduação, seguidos por estudantes de mestrado e doutorado
- Gênero: mulheres, pessoas não binárias e “outros” (sic) indicaram ter maiores graus de depressão que homens
- Raça/cor: os que se declararam pretos, pardos, amarelos ou “outros” tiveram resultados consideravelmente mais negativos que brancos e indígenas
- Atividade: estudantes que não trabalham apresentaram os maiores graus de depressão, seguidos por quem faz estágio
- Dependentes: a depressão é maior entre estudantes sem dependentes que entre aqueles que possuem
- Relacionamento: quem marcou “outro” teve, maiores níveis de depressão, em comparação com quem afirmou estar e não estar em um relacionamento
Pouco mais da metade dos estudantes indica não ter sinais de ansiedade ou ter apenas sinais leves, conforme o padrão GAD7. Novamente, os piores resultados emergem em grupos de maior vulnerabilidade:
- Formação acadêmica: a situação é pior entre graduandos, que tiveram maior frequência de ansiedade moderada ou severa
- Gênero: a ansiedade é maior entre mulheres, pessoas não binárias e “outros”
- Raça/cor: as pessoas pretas, pardas e “outros” tiveram grau maior de ansiedade que os demais grupos da pesquisa
- Atividade: a ansiedade é maior entre estudantes que estudam e fazem estágio que entre os que apenas estudam e os que estudam e trabalham
- Dependentes: pessoas sem dependentes têm mais ansiedade
- Relacionamento: a ansiedade é maior entre quem marcou “outro”
Quanto ao consumo abusivo de álcool (padrão AUDIT-C), os resultados sugerem que 35% dos participantes têm problemas com álcool. Quanto ao perfil por grupos sociais, há considerável divergência em relação aos dois temas anteriores:
- Formação acadêmica: a situação é pior entre doutorandos, seguida de mestrandos e graduandos
- Gênero: não foram observadas diferenças significativas
- Raça/cor: os indígenas apresentaram um nível muito maior de problemas com álcool que o dos demais grupos
- Atividade: o abuso do álcool é maior entre quem faz estágio ou trabalha
- Dependentes: pessoas sem dependentes têm mais problemas com álcool
- Relacionamento: o abuso de bebidas alcoólicas é novamente maior entre quem marcou “outro”
Desafios globais, ações locais
A apresentação fez parte da mesa redonda Saúde mental nas universidades: desafios globais, ações locais na UFMG, cerimônia de encerramento da 13ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG. Presidida pelo Vice-Reitor da UFMG, professor Alessandro Moreira, a mesa contou com os dois copresidentes do grupo consultivo de saúde mental estudantil da WUN, referências mundiais no tema: a médica Memory Muturiki (Universidade da Cidade do Cabo) e o psicólogo Myles-Jay Linton (Universidade de Bristol).
Os dados colhidos farão parte de um banco de dados incluindo diversas outras universidades participantes da WUN, trabalho iniciado em 2023. A UFMG é a quinta universidade a contribuir, após coletas no TEC de Monterrey (México), na Universidade Nacional Cheng Kung (China), na Universidade de Rochester (EUA) e na Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul). Entre elas, a UFMG teve o maior número de amostras colhidas e a maior proporção de diagnósticos reportados, conforme apontou Myles-Jay Linton.
Além de participar da mesa redonda, os pesquisadores da WUN acompanharam as atividades da 13ª Semana de Saúde Mental da UFMG, conheceram a estrutura institucional de apoio à saúde mental dos campi e participaram de vários encontros e discussões com pesquisadores e especialistas em saúde mental. Em sua fala, Memory Muturiki destacou o engajamento da comunidade acadêmica na coleta. A médica também ressaltou o modelo dos Núcleos de Acolhimento e Diálogo da UFMG como modelo excepcional de primeiro contato com os estudantes.