Com grande pesar, a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG comunica o falecimento do professor Michel Marie Le Ven, no dia 22 de janeiro último, reconhecendo a importância de sua presença e o pioneirismo de seu trabalho nesta instituição e na cidade de Belo Horizonte.
Nascido em 1931, na França, tornou-se padre jesuíta e adotou o Brasil como sua pátria desde 1965, quando passou a atuar na assistência religiosa da Juventude Operária Católica. Foi preso em dezembro de 1968 e ficou em poder do exército por quase um ano, até outubro de 1969. Seguiu vigiado pelo Serviço de Informações até 1988, conforme comprovou dossiê apresentado à Comissão de Anistia.
Produção de conhecimento e engajamento social sempre caminharam juntos em sua trajetória – que bordou com “afeto e política”, título de um de seus últimos livros. O vínculo construído com a comunidade da região do Horto, como pároco, continuou inspirando sua ação profissional e cidadã. No início dos anos 1970, realizou pesquisas pioneiras sobre as classes populares em favelas de Belo Horizonte. Estudou o sindicalismo e a vida de fábrica em metalúrgicas e siderúrgicas, tendo sido um dos fundadores da Escola Sindical 7 de Outubro, no ano de 1987, e seu colaborador constante.
Também na década de 1970, tornou-se professor do Departamento de Ciência Política da FAFICH/UFMG, onde fundou, com Magda de Almeida Neves, o Núcleo de Estudos sobre o Trabalho – NEST (ainda hoje ativo na FAFICH, com o nome de Núcleo de Estudos sobre o Trabalho Humano – NESTH, até recentemente conduzido por Bebeto Horta). Em 1989, foi um dos fundadores de um pioneiro projeto interdepartamental da FAFICH, o Programa de História Oral – hoje Núcleo de História Oral do Laboratório de História do Tempo Presente. Em nossa instituição, construiu uma história de trabalho coletivo, a serviço da sociedade, e mostrou pendor admirável em semear iniciativas institucionais duradouras.
Aposentou-se, mas nunca deixou de trabalhar com a escuta das narrativas pessoais como uma forma de cuidar dos sujeitos e das comunidades. Na fronteira da história oral e da sociologia clínica, defendia as ciências humanas como forma de “re-ligação”. Foi também um militante pelo direito à memória e à verdade.
Fazemos a ele nossa homenagem, com o reconhecimento devido a seu trabalho e o registro de nossa gratidão. Temos a convicção de que seus familiares – os filhos Mônica, Jean e Pedro, a companheira Rosely e os netos – trarão consigo a forte serenidade de Michel para viver este momento.
Aqui seguimos, Michel, com suas lições de altivez na luta contra o arbítrio, pela democracia, em prol do humano. Imersos na política, que cinge nossos destinos; cientes e orgulhosos de nossos afetos.